Filho do 25 de Abril

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terça-feira, dezembro 26, 2006

952. Em DVD: Superman Returns



Realizador: Bryan Singer
Elenco: Brandon Routh, Kate Bosworth, Kevin Spacey, James Marsden, Marlon Brando

Sou um leitor assíduo - já fui mais - de Banda Desenhada. Acho que, hoje em dia, há uma enorme variedade de publicações que valem a pena ler. Mesmo no parente pobre da Banda Desenhada (em realismo e qualidade), ou seja, no universo dos super heróis tem havido publicações que recomendo. Mas, confesso, nunca percebi o conceito do Super-Homem.

- Qual é a lógica de termos um alienígena a representar o modelo do que deve ser o americano puro? No fundo o Super-Homem é o último escuteiro, o exemplo da pureza de sentimentos, do patriotismo. Não é por acaso que é criado na América profunda (mundo rural) e que combate a corrupção do homem na grande Metropolis (mundo urbano). Nenhuma destas temáticas atrai-me no universo do homem de aço e não é por acaso que muitas poucas histórias adultas têm sido criadas a partir desta personagem (ao contrário do Batman, por exemplo);

- No filme Kill Bill Tarantino expõe uma teoria sobre o Super-Homem. Enquanto todos os outros super heróis criam um disfarce para protegerem a sua identidade enquanto cidadãos, o Super-Homem cria um disfarce para poder ser um cidadão. Mas, convenhamos, os óculos, a mudança de penteado e o estilo desajeitado são um disfarce, no mínimo, irritante. É ridículo e enervante ver Clark Kent a escorregar constantemente e a esconder a sua identidade atrás duns óculos. E será que o seu uniforme enquanto Super-Homem podia ser mais ridículo? Sim, se usasse umas estrelas para compor a bandeira americana que usa como uniforme;

O filme não consegue minimizar as contradições do conceito da personagem que exponho acima. Quanto muito agrava-as com o homem de aço a usar um uniforme que parece saído duma festa do cabedal (nem falo das botas) e com um Clark Kent mais apagado - e desinteressante - que nunca. Fazer um filme dum super herói que é um escuteiro do sistema não é fácil e francamente acho mesmo que é quase impossível criar nuances nas personagens deste universo já que tudo é branco ou preto mas podia-se pelo menos tentar (*) em vez de venerar anteriores versões que, já por si, estavam mal conseguidas. Bryan Singer costuma ser um realizador corajoso que reinventa ideias pré-concebidas nos seus filmes mas neste em particular está muito preso ao ponto de vista de Richard Donner da personagem, mesmo quando parece inovar. Richard Donner deu uma enorme visibilidade a esta personagem mas, mesmo tendo feito um filme razoável na perspectiva do entretenimento, não conseguiu dar densidade à personagem. Nada que pudesse criar ambivalências é explorado por Singer que parecia estar mais interessado em fazer uma cópia menor dum filme que já nem tinha sido uma obra-prima.

O veredicto é fácil de adivinhar, concretizando, personagens bidimensionais, enredo linear e ultra fantasioso, enfim, um filme onde tudo é competente e certinho mas que não deslumbra.

(*) Uma das ideias que têm sido desenvolvidas com personagens similares é explorar a desconfiança que o ser humano tem em relação a tudo o "que vem de fora". Repare-se que somos muito mais implacáveis com as "falhas" de pessoas de outras culturas do que com as nossas "falhas".

1 Comments:

  • At 10:12 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    E dizem que somos sebastianistas!!!!!
    Nos Históricos Americanos há sempre um tipo sobrenatural que no quase caos, acaba com a bandalheira e pôe tudo em pratos limpos. Depois avança para o horizonte e uma virgem chora, chora......

     

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