1032. Análise política, económica e financeira da Região Autónoma da Madeira (1): Introdução
R (...) Temos uma política de transporte marítimo que onera fortemente o frete e coloca os produtos aqui muito mais caros. O porto da Madeira é três vezes mais caro que a média dos portos de Espanha e cinco ou seis vezes que o porto dos Açores. Isto porque há um monopólio nos transportes marítimos que o Governo pôs nas mãos do grupo Sousa que tem também o exclusivo na ligação marítima Porto Santo - Madeira.
P Mas não reconhece que a Madeira se desenvolveu?
R É verdade que teve um grande crescimento, mas não de forma sustentada e sustentável. Se assim fosse não estaria a gerar desemprego a um ritmo alucinante, falências quase diárias e o Governo não estaria a braços com uma gigantesca dívida administrativa aos fornecedores. Grande parte das obras, algumas faraónicas, estão por pagar. E, além da dívida directa e indirecta há os avales concedidos a empresas criadas pelo Governo.
P Que empresas são essas?
R As quatro Sociedades de Desenvolvimento, que vão contrair dívidas à banca, com o aval da região para fazer obras na orla costeira - Marina do Lugar de Baixo, que não tem um barco atracado, campos de futebol, parques industriais às moscas -, sem qualquer retorno económico. Ou, por exemplo, a Via Litoral e a Via Expresso, duas empresas criadas para fazer a manutenção das vias rápidas e custam por ano ao orçamento mais de 10%, nos próximos 25 a 30 anos.
P Mas os madeirenses são beneficiados com essas obras.
R Não. O que está subjacente a este investimento público é uma fúria de betão armado e todos sabemos quem são os grandes empresários que estão à volta da estrutura partidária do poder. Têm feito fortunas à custa dos negócios do betão e do alcatrão.
P E quem são?
R Parlamentares, deputados e alguns dirigentes do PSD.
P Mas, quem são?
R Jaime Ramos é sócio, não sei em que percentagem, da maioria das empresas de construção, bem como Avelino Faria Agrela. Todos entram no negócio do betão e na compra de património. Não estou contra as grandes obras, mas grande parte delas não têm estudos de viabilidade económica. O União, clube de Jaime Ramos, tem 13 campos. São estas as prioridades? O Governo move-se em função desta teia de interesses que ele próprio alimentou e montou durante anos. O 'Jornal da Madeira', de Jaime Ramos, por exemplo, recebe anualmente um subsídio de cinco milhões de euros.
Jacinto Serrão, líder do PS/Madeira, em entrevista ao Expresso, 03 Março 2007
Esta entrevista do líder do PS/Madeira, Jacinto Serrão, personalidade política que não é da minha incondicional simpatia, aborda muitas das questões que já aqui abordei e que são, no mínimo, pertinentes e que necessitam de maior visibilidade. E este é um excelente ponto de partida para analisar o modelo de desenvolvimento da Madeira, a relação do poder com as empresas e a situação financeira da região.
Continua...
P Mas não reconhece que a Madeira se desenvolveu?
R É verdade que teve um grande crescimento, mas não de forma sustentada e sustentável. Se assim fosse não estaria a gerar desemprego a um ritmo alucinante, falências quase diárias e o Governo não estaria a braços com uma gigantesca dívida administrativa aos fornecedores. Grande parte das obras, algumas faraónicas, estão por pagar. E, além da dívida directa e indirecta há os avales concedidos a empresas criadas pelo Governo.
P Que empresas são essas?
R As quatro Sociedades de Desenvolvimento, que vão contrair dívidas à banca, com o aval da região para fazer obras na orla costeira - Marina do Lugar de Baixo, que não tem um barco atracado, campos de futebol, parques industriais às moscas -, sem qualquer retorno económico. Ou, por exemplo, a Via Litoral e a Via Expresso, duas empresas criadas para fazer a manutenção das vias rápidas e custam por ano ao orçamento mais de 10%, nos próximos 25 a 30 anos.
P Mas os madeirenses são beneficiados com essas obras.
R Não. O que está subjacente a este investimento público é uma fúria de betão armado e todos sabemos quem são os grandes empresários que estão à volta da estrutura partidária do poder. Têm feito fortunas à custa dos negócios do betão e do alcatrão.
P E quem são?
R Parlamentares, deputados e alguns dirigentes do PSD.
P Mas, quem são?
R Jaime Ramos é sócio, não sei em que percentagem, da maioria das empresas de construção, bem como Avelino Faria Agrela. Todos entram no negócio do betão e na compra de património. Não estou contra as grandes obras, mas grande parte delas não têm estudos de viabilidade económica. O União, clube de Jaime Ramos, tem 13 campos. São estas as prioridades? O Governo move-se em função desta teia de interesses que ele próprio alimentou e montou durante anos. O 'Jornal da Madeira', de Jaime Ramos, por exemplo, recebe anualmente um subsídio de cinco milhões de euros.
Jacinto Serrão, líder do PS/Madeira, em entrevista ao Expresso, 03 Março 2007
Esta entrevista do líder do PS/Madeira, Jacinto Serrão, personalidade política que não é da minha incondicional simpatia, aborda muitas das questões que já aqui abordei e que são, no mínimo, pertinentes e que necessitam de maior visibilidade. E este é um excelente ponto de partida para analisar o modelo de desenvolvimento da Madeira, a relação do poder com as empresas e a situação financeira da região.
Continua...
Etiquetas: Madeira, Política Local/ Regional
6 Comments:
At 11:04 da tarde, Nuno Raimundo said…
bOaS!
Ouvi dizer que na Madeira está uma empresa aí sediada que é das maiores da Europa. Mas nunca vi uma fábrica de cimento na Madeira. Será que funciona como offshore?!
;)
abraços!
At 11:44 da tarde, Nuno Raimundo said…
O que quiz dizer é que se encontra sedeada na Madeira uma das maiores cimenteiras da europa e que eu nunca vi uma fabrica de cimento na madeira.
At 12:45 da manhã, Ricardo said…
Viva Profano,
Como também não conheço com pormenor a indústria do cimento na Madeira convido-te a descobrires, ao mesmo tempo que eu, essa realidade...
http://www.cimentosmadeira.com/
Abraço,
At 1:04 da manhã, MB said…
o gravador do jornalista deve tar a funcionar muito mal ou então... tenho acerteza q o jacinto serrão não disse que o união tinha 13 campos de futebol (são 3) nem que o jaime ramos era o dono do jornal da madeira... qt muito o noticias da madeira mas esse já la foi...
At 1:40 da manhã, Ricardo said…
MB,
Talvez tenha sido o gravador, talvez não.
Confesso que gostei da entrevista - foi certeira em muitos argumentos - mas sou o primeiro a duvidar que Jacinto Serrão seja uma boa alternativa. Mas, neste momento, preocupa-me mais a espiral descendente da qualidade do desenvolvimento da Madeira, e pior, a falta de perspectivas para o futuro. A região está num impasse e o modelo de desenvolvimento baseado na criação de dívida pública esgotou-se. Numa economia baseada no sector público quando este deixa de conseguir gerir o grau de endividamento que criou não pode haver boas notícias.
Abraço,
At 12:03 da tarde, Nuno Raimundo said…
Obrigado pelo link. Abraços profanos!
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