1160. Baixas Fraudulentas
O número das baixas fraudulentas com que me deparei nesta notícia, referente aos primeiros quatro meses do ano, deixaram-me, confesso, atónito. Das 60 mil baixas que foram objecto de Junta Médica, foram detectadas 15 mil baixas fraudulentas só nos primeiros quatro meses do ano. Sou, assim, obrigado a concluir que a atitude cívica de muitos portugueses deixa muito a desejar e não quero lançar no limbo do esquecimento a conivência de muitos médicos para a perpetuação desta situação. Assim fica difícil criar condições para uma fiscalidade e redistribuição mais justa. Da mesma forma que exijo dos políticos um maior respeito pelos compromissos que assumem, não posso deixar de sublinhar que a atitude cívica de muitos portugueses também tem que mudar, até porque este tipo de atitude é uma clara apropriação de recursos alheios.
10 Comments:
At 9:44 da tarde, Anónimo said…
Não sei se fique assim tão surpreendido... Nem os médicos nem os empregados envolvidos devem deixar de ficar impunes a confirmar-se a fraude.
At 9:51 da tarde, Nuno Raimundo said…
bOas...
Por coincidência acabei de fazer um post sobre o mesmo assunto.
é deveras grave este assunto, tão digno da pequenez e da esperteza saloia que tanto português tem...
Abr...Prof...
At 12:49 da manhã, Pedro Morgado said…
Desculpa, mas não concordo com a análise que fazes. Faz parte da relação médico-doente a confiança naquilo que o paciente nos diz.
At 1:19 da manhã, Ricardo said…
Pedro,
A questão da confiança levava-nos longe. Se um paciente disser que precisa de uma operação ao coração o médico pode ter isso em conta mas vai decidir conforme o seu julgamento. Se um paciente diz que precisa duma baixa e que não pode trabalhar esse mesmo médico tem que avaliar o que o paciente disse de forma criteriosa. É evidente que em algumas situações o médico, no momento, não tem condições para uma análise exaustiva mas não acredito que grande % destas baixas fraudulentas não aconteçam com conivência dos médicos.
Abraço,
At 2:25 da tarde, Bruno Gouveia Gonçalves said…
"Desculpa, mas não concordo com a análise que fazes. Faz parte da relação médico-doente a confiança naquilo que o paciente nos diz."
De facto, julgo que a análise do Ricardo foi um pouco redutora. Este é um ponto a ter em conta.
At 4:50 da tarde, Ricardo said…
Fernando,
Há sempre, independentemente do cancelamento dos subsídios, um problema ético, nem que seja em relação à empresa e colegas.
Abraço,
At 4:54 da tarde, Ricardo said…
Bruno,
Aguardo uma elucidação sobre a responsabilidade (ou ausência de) do médico ao passar uma baixa. No meu entendimento, expresso no comentário, o médico tem o dever de não passar baixas a pessoas que não se encontrem incapacitadas para trabalhar ou que não tenham necessidade médica de ficarem na sua residência por determinado período de tempo. Mas estou aberto a esclarecimentos adicionais.
Abraço,
At 12:50 da manhã, Pedro Morgado said…
Caro Ricardo,
Cabe ao médico avaliar, em conjunto com o paciente, a necessidade de uma operação ao coração. Cabe ao médico verificar se existem razões para realizar a operação, o que se baseia em critérios mais ou menos objectivos.
Já a dor, por exemplo, embora existam escalas é um sintoma altamente subjectivo. Quem é o médico para duvidar do paciente que se queixa de dores que o impedem de trabalhar?
At 7:24 da tarde, Ricardo said…
Pedro,
Obrigado pelo esclarecimento. Parece que desta vez quem critica os médicos és tu, nem que seja os das Juntas Médicas.
Abraço,
At 9:49 da tarde, MJTovar said…
Sobre o artigo do Diário Económico de 22/5/2007, pgs 11/12 intitulado "Cortadas 15 000 baixas fraudulentas" ( http://pt.cision.com/online/oo/OOtiffpdf/2007522238298504262.pdf ): " Dizem que a estatística é como os biquínis, esconde o essencial. Mas às vezes não é bem assim. Vejam esta questão que surge no artigo do DE acerca das «baixas u»: «quase 107 mil baixas por doença, sendo a maioria (64 690) atribuída a mulheres. Segundo dados da Segurança Social, a maior parte dos beneficiários de subsídeos de doença (cerca de 14.700) tinha em Abril idades compreendidas entre 50 e 54 anos.» Como é que vocês explicam isto? ao chegar aos 50 as mulheres (e os homens) tornam-se mandriões e fraudulentos? Pois eu conto-vos como é que acontece. Trabalho em Águeda, uma zona caracterizada pela pululação de pequenas empresas, onde ainda há bem poucos anos o desemprego era mitológico. Naturalmente, a oferta de emprego fácil atraía miúdos para quem a escola era uma chatice e uma frustração, facilmente trocável por um ordenado e estatuto de adulto. Operários não diferenciados ganhando o dia a dia em troca da força física, nas fábricas de tijolo ou, geralmente em melhores condições mas ainda à base de força física, na metalurgia. Aos 40 anos, mais marcadamente nas mulheres, começam as algias daqui e dali, os «não aguentar o ritmo» uma ou outra baixa curta com forte penalização económica, mais uns comprimidos e umas injecções e vai-se aguentando. Aos 50 estão arrumadas, impossível aguentar o ritmo numa cadeia de produção que não permite atrasos. São um estorvo, como os encarregados não se escusam de explicitar em piropos: «pensas que estamos aqui a alimentar mandriões?» «achas que estás numa instituição de caridade»? » «se não podes trabalhar vai para casa!» . Vêem ter connosco, lavadas em lágrimas, destruídas por dentro e por fora, ficam de baixa. São chamadas a uma junta médica, são de novo insultadas e maltratadas (e nós também, embora não estejamos lá para ouvir) e cortam-lhes a baixa. Onde está a fraude? Bem sei que a despropósito, mas não me saem da cabeça aqueles versos do «D. Jaime»: «Mentis, Senhor D Alcaide, mentis, senhor D. Vilão! El-Rei de Castela é nobre, não manda insultar um velho. Pode mandá-lo ser pobre. Matá-lo à mingua de pão. Mas mandar que um pai entregue o seu próprio filho, isso não!» Bolas! Fraudulenta? eu? Maria José Tovar (médica de família)
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