Filho do 25 de Abril

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segunda-feira, abril 26, 2004

26 de Abril de 2004 (16) – Religião (3)

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Esta viagem espiritual, recordo, procura rotular as minhas profundas crenças de modo a poder apresentar-me ao mundo convenientemente. Não me parece correcto chegar à beira de alguém e não lhe dizer imediatamente quem sou, ou pior, alguém perguntar e eu não saber responder quem sou. A viagem já produziu resultados, não sou nem judeu nem cristão, nem seguidor da religião revelada apesar de ser religioso pela sua via natural. Se não está a perceber nada é porque é burro ou não acompanha este estruturante Blog.

Antes de entrar na viagem definitiva onde convém esclarecer melhor o significado de Ateu, Agnóstico e Laico, convém excluir outros rótulos com os quais não me identifico. O que é ser Budista, perguntam os curiosos leitores? É ser-se seguidor do Budismo, responde a Porto Editora, na sua infinita sabedoria. O que é o Budismo, insistem os intrometidos leitores? É, responde novamente a entidade responsável pelo conhecimento colectivo e aceite da língua Portuguesa, é a religião fundada pelo Buda Gautama da Índia. Esclarecidos? Ainda não, porra? O budismo analisa a origem e as causas da insatisfação inerente a toda a existência, e propõe-se a ensinar o método de libertação dessa insatisfação. Curioso, até brilhante. Mas eu não quero atingir um estado de satisfação, a insatisfação faz-me viver, faz-me ser uma pessoa útil. Não quero, nem que seja no fim da eternidade, ser inútil. Porque quero viver e, quando deixar de o fazer, quero morrer! Ou então, quero viver noutro sítio, sempre insatisfeito com o que me rodeia. Não me quero libertar da insatisfação nunca, quero libertar-me sim do desespero, da incontrolável dor que podemos sentir, mas não da insatisfação. É uma religião que respeito e quero conhecer melhor mas com a qual não tenho afinidade nem crença.

Serei Muçulmano? Ser-se Muçulmano não implica termos nascido obrigatoriamente em certas partes do mundo nem implica necessariamente tratar mal as mulheres. Ser-se muçulmano é sermos seguidores da religião islâmica, adeptos de Maomé. Esta religião está fundada no Corão (religião Árabe). Alá é o deus do Islamismo, único, omnipotente e criador do Universo, assim como o Deus dos cristãos e judeus. Alá é também juiz sobre os actos dos homens mas, ao mesmo tempo, um ente protector e misericordioso. Maomé foi o seu profeta. Eu não acredito em deuses omnipotentes e criadores do Universo.

Acredito, porém, que há um equilíbrio invisível que permite que esta existência seja possível. As leis da física, por exemplo, que permitem que o homem exista tal e qual nos conhecemos, seguem regras que equilibram o funcionamento do Universo, independentemente deste caminhar para um desequilibrio ou não. O constante aparecimento do pi em tantas fórmulas matemáticas, um número repetido em fórmulas tão diversas, também parece apontar para que tudo tem uma lógica, um enquadramento. Este enquadramento parece, aparentemente, não ter surgido do nada, pode até ter sido criado. Não posso provar o contrário! Só não acredito que o homem seja capaz de definir esse enquadramento. Não acredito que o possa compreender, dar-lhe um nome, definir seus objectivos e linhas de acção. Porque terei de acreditar em entidades omnipresentes, omnipotentes, omnitudo, quando tenho a certeza que se existissem não nos conseguiriam explicar seus desígnios. Os Gregos, Romanos, Egípcios, enfim!, todos “criaram” os seus deuses, que serviam objectivos contemporâneos e necessidades de manutenção de poder. A fé é tão só um veículo, na minha humilde e pouco definitiva opinião, para que uma espécie, a humana, que tem uma consciência complexa e um egoísmo maior que outras espécies esteja controlável, motivada e socializável. A “descoberta” dos 10 mandamentos por Moisés não foi mais que uma tentativa de criar regras a milhares de escravos entregues a si próprios.

Em suma, não me identifico com nenhuma das religiões supra citadas, não tenho o conforto da fé! Acredito na possibilidade da existência duma ordem universal, mas não nos constantes aproveitamentos da fé para atingir obscuros objectivos e desconfio daqueles que tentam convencer-me que conhecem o seu deus. Mas ainda não encontrei o meu rótulo, porque tenho que ter um, a sociedade obriga. Assim, continua... há rótulos a explorar. Ateu? Agnóstico? Laico?