(61) “O Jornalismo Actual altera profundamente as Regras da Democracia”
A entrevista de João Almeida Santos à Pública de 23 de Maio de 2004 é impressionante e facilita-me a tarefa. Identifico-me com o ponto de vista fundamentado deste filósofo e basta-me transcrever algumas das ideias transmitidas.
João de Almeida Santos “estudou a maneira como os 'media' italianos colocaram Berlusconi no poder em 1994 e a forma como os 'media' em Portugal entraram em conflito com a votação que reelegeu Guterres em 1999”.
Os resultados eleitorais, recordo, foram de 44 por cento no PS, elegendo 115 dos 230 deputados à Assembleia da República, mais 34 deputados que o PSD (81). Estudados os comentários por parte de jornalistas nos jornais de referência, “65,3 por cento consideraram os resultados eleitorais negativos (...). No caso do Governo (...) consideraram o Governo mau: estamos ao nível dos 72,54 por cento!”. Os “comentadores se pronunciaram sobre um Governo que ainda não tinha tomado uma única medida: foi julgado antes de ter feito o que quer que fosse. Isto é ilegítimo!”. Continua, “Dizer 'eu já os conheço e são maus' é um preconceito. (...) os personagens em causa não são maus do ponto de vista democrático, uma vez que foram eleitos com uma larga maioria.”
A entrevista vai ao fundo da questão. “O poder dos 'media' tende a transformar os cidadãos em espectadores. (...) É o exemplo perfeito [o caso Berlusconi] da transformação da democracia representativa em democracia do público. Ele ganhou, em nove meses, as eleições. (...) Isto mostra que o poder dos 'media' é de tal ordem que pode modelar uma democracia à sua imagem e semelhança.”
Mas também tenho alguns aspectos negativos a comentar. As eleições são soberanas e não devem ser comparadas com sondagens nem devem ser branqueadas. Por mais que a informação seja manipulada, e é!, não podemos contestar os resultados eleitorais em Itália nem em qualquer outro país. Podemos é criar mecanismos para que não haja abusos nas campanhas eleitorais e no exercício do poder.
O fenómeno do futebol misturado com a política é bem exemplificativo e devo acrescentar vergonhoso da manipulação do cidadão. Depois dos cartões amarelos e vermelhos dos outdoors dos partidos verifiquei que agora já existe um cartaz com um cachecol erguido por uma mulher num estádio de futebol com a mensagem “Força Portugal”. Que campanha eleitoral é esta? Que mensagem está a passar? Em ano de “Apitos Dourados” onde futebol , política e empresas trocam “favores” não será um contra senso estas mensagens? E que dizer dos consecutivos painéis de comentadores desportivos (para não falar dos outros) que são sempre do mesmo partido. Fernando Seara, Pôncio Monteiro e Santana Lopes e mais recentemente Dias Ferreira e Guilherme Aguiar são de que partido?
A reflexão vai ter de ser séria. Respeitem os cidadãos, sejam sérios por favor! Mais uma machadada na Democracia! O Jornalismo cada vez informa menos e emite mais opiniões... que efeitos terá na Democracia? Comentem...
1 Comments:
At 2:46 da manhã, Unknown said…
A importância da Comunicação Social é cada vez maior e influência as nossas escolhas políticas.
Basta ver a protecção que este Governo tem da parte da Comunicação Social.
É um facto que a Manuela Ferreira Leite tinha tentado fugir um pouco ao fisco. Nada de especial, tinha-se esquecido de declarar o equivallente a uns 15.000 shampoos (para utilizar o exemplo que ela deu ao jornalista que a interrogou sobre o assunto).
Pois bem, vivemos numa democracia, o assunto foi relatado, mas aparentemente acabou.
Nenhum jornal (ou TV) foi investigar o assunto. Que propriedade foi vendida, a quem, quem tinha ido à assinatura da escritura, etc.
Não estou a defender que se façam coisas destas, mas se ela fosse Ministra do PS não duvido que o teriam feito. E se o tivessem feito, podia-se não saber mais nada, mas mantinha-se o tema vivo, assim não, morreu!
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