Filho do 25 de Abril

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segunda-feira, junho 07, 2004

(74) Porto e o Euro 2004

Antes do Euro 2004 pode-se fazer um balanço do que vai perdurar na cidade do Porto após o evento terminar. Há aspectos positivos e negativos que têm de ser realçados.

O actual Presidente da Câmara do Porto já é conhecido pelos seus fundamentalismos. Mas esse fundamentalismo também tem um reverso da medalha que beneficia a cidade. As obras foram bem planeadas e os prazos e orçamentos cumpridos. Aqui fica um corte radical com o evento anterior, o “Porto, Capital Europeia da Cultura 2001”. O planeameno e execução das obras (insuficientes mas importantes) pareceu-me ter outro nível de exigência e qualidade.

Os acessos ao Estádio do Dragão ficaram prontos atempadamente (o projecto foi herdado e parece-me que tinha bastante qualidade) apesar dos sobressaltos iniciais. O Viaduto das Andresas vem encerrar um ciclo de obras no Porto (falta apenas a calamitosa Rotunda da Boavista) que estão mais viradas para a cidade do Porto no futuro e não apenas para a realização do evento. Isso é de louvar! Serve o Bessa mas também foi feita uma intervenção mais ampla na Via de Cintura Interna.

O Metro, e seus prazos de execução, adaptaram-se bem ao evento e a prioridade foi dada à ligação com o estádio do Dragão via Trindade e Bolhão. Fica por fazer a ligação ao AeroPorto e a Campanhã, falhas gigantescas de planeamento. Estas novas estações são subterrâneas (com excepção da última) e são essenciais para a melhoria da qualidade de vida no Porto.

Mas o Euro 2004 foi uma oportunidade perdida a nível nacional e o Porto não é excepção. Faltam outras intervenções de fundo, não de cosmética, nos Hospitais, no Aeroporto, nos acessos ferroviários e nas estruturas culturais da cidade. É deprimente que o Aeroporto já esteja em obras há tantos anos, que não haja manutenção dos espaços públicos e do património da cidade, que não haja dinamismo cultural na cidade.

O Porto é uma cidade lindíssima, podia potencialmente ter tantos turistas como a Catalunha ou até Lisboa. Mas não! As praças não têm animação, as ruas estão sempre desertas, a hotelaria não tem a qualidade necessária, a promoção turística é quase amadora. Como compreender que se deixe o Porto definhar na sua vitalidade não criando espaços públicos de qualidade e condições para a proliferação de comércio de qualidade? Como compreender o divórcio crescente da cidade com a Ribeira? Aqui está a “face lunar” (como tão bem canta Rui Veloso) do fundamentalismo economicista que sopra no nosso país. É preciso sentir o Porto, perceber o seu ritmo, ouvir os seus apelos para pô-lo a mexer. Não basta contar os tostões (que nisso Rui Rio tem sido bem mais brilhante que Manuela Ferreira Leite), é preciso pensar as cidades como espaços que visam proporcionar bem estar, animação, qualidade de vida. Espreitem Barcelona e vejam como tudo é conciliável. A qualidade urbanística e o pulsar de vida dão as mãos e criam um efeito “bola de neve” que a todos arrasta, cidadãos e comerciantes. Disse!