Filho do 25 de Abril

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terça-feira, maio 17, 2005

(411) Sala de Cinema: Kingdom of Heaven



Realizador: Ridley Scott
Elenco: Orlando Bloom, Eva Green, Jeremy Irons, Edward Norton

É inevitável comparar Kingdom of Heaven com Gladiator. Depois do sucesso do segundo era de prever que Sir Ridley Scott voltasse aos filmes históricos mais cedo ou mais tarde. O realizador inglês sabia que as expectativas seriam muito mais altas desta vez. E caíu na tentação de tornar tudo mais grandioso. E é aqui que o filme peca.

O erro mais comum nos filmes históricos é tentar fazer com que o protagonista participe em todas as batalhas que interessam para a história. E lá está Orlando Bloom a enfrentar tudo e todos com heroísmo e coragem. E lá está ele a conquistar com um olhar a mulher mais importante da história. E é ele a tornar-se amigo dos principais adversários num mero acaso do destino. E lá está ele a trazer água para quem necessita. E é ele que comanda o exército para defender o primeiro cerco e depois é ele que lidera a resistência cristã no segundo cerco. Mais do que uma péssima representação (como tenho lido por todo o lado) a sua personagem não estava tão bem conseguida como a de Russell Crowe. E a sua juventude também não ajuda.

Nota-se também que os sucessivos cortes, num filme que tinha uma duração bem maior do que nesta versão que chegou às salas de cinema, prejudicaram o melhor que o filme tinha a nível narrativo, leia-se, os secundários (Eva Green, Jeremy Irons, Liam Neeson, David Thewlis, entre outros). Destaque especial para o actor Ghassan Massoud, fenomenal no papel de Saladino e para o irreconhecível Edward Norton. Estes cortes prejudicaram a história que limitava-se a saltar de evento para evento histórico.

O tema das Cruzadas tem muito potencial e a perspectiva de Scott é interessante uma vez que os muçulmanos aparecem construídos sem os estereotipos que Hollywood gosta de utilizar. Já os cristãos, principalmente nos membros do Clero e alguma Nobreza, estão pobremente construídos já que eram personagens onde o argumentista concentrou todos os defeitos e preconceitos. Mesmo assim a obsessão de fazer pontes com a actualidade resulta num patético discurso de Bloom antes do cerco a Jerusalém.

Mas nem tudo é mau. Ridley Scott, ao contrário das críticas que tenho lido, duma agressividade incompreensível em relação à sua obra, continua excelente no aspecto visual. O toque negro e de decadência que Scott sabe fazer como ninguém está lá. É um género de “realismo visual” que torna as batalhas mais “gore” e violentas.

Síntese da Opinião: Um filme que tenta ser grandioso mas que é só mediano. Só para quem gostar do aspecto visual dos filmes de Ridley Scott.

1 Comments:

  • At 10:31 da manhã, Blogger Ricardo said…

    Micróbio,

    A cena da "água" para além de historicamente incorrecta está ridícula. É um bom exemplo de como o factor comercial dum filme desvirtua a História (a da humanidade) e a qualidade dos filmes.

    Temos que reflectir porque é que o cinema cada vez mais é um mau veículo para mostrar a realidade e a história.

     

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