458. Manuela Ferreira Leite em Grande Entrevista
A entrevista de Manuela Ferreira Leite (MFL) à RTP teve vários momentos de interesse. Não estive de acordo com a política financeira de Ferreira Leite mas não vale a pena chover no molhado. A minha opinião sobre o que MFL continua a defender com orgulho como bandeiras da sua governação (congelamento admissões, redução percentual das despesas dos ministérios) são medidas que considerei e considero destrutivas para o país (a que devemos adicionar a política de receitas extraordinárias).
Mas houve, na sua argumentação, algumas posições que têm lógica:
- A subida dos impostos nesta fase, em que há mais anos para combater o défice, é má para a economia (a diferenciação que justificou em relação ao que fez é que não me pareceu nada convincente);
- Também concordo que o défice da maneira como foi apresentado deixa marcas negativas na economia (claro que o discurso da "tanga" também não ajudou muito);
- Também concordo parcialmente que perseguir a acumulação de reformas e vencimentos dos políticos é uma demagogia. Eu defendo que as regalias e situações de excepção devem acabar em toda a Função Pública mas concordo com MFL que os vencimentos têm que ser aumentados. Não é sério pensar que podemos ter homens de qualidade em certos cargos sem regalias, salários baixos e alta exposição mediática;
De resto nada de novo. Muitas críticas (veladas e directas) a Durão e Santana (mais ao segundo) e a sensação que muito pouco foi feito (por falta de eficácia das políticas ou por falta de tempo, conforme a visão clubística, digo, partidária) até porque admite um défice de 5,4% sem receitas extraordinárias (valor mais alto do que a "herança guterrista").
Achei curioso um pormenor que revela o que falhou na governação "aos tostões" de Ferreira Leite e que pode acontecer a este Governo. Quando confrontada com valores (reais ou previstos) altos do défice disse que algo cheirava mal porque não era sério dizer isso. Porque, segundo a sua lógica, subir impostos e combater as despesas (como congelamento dos salários) não podia, seriamente, dar défices mais altos (as palavras exactas são "é uma ideia absolutamente absurda"). Eu não tenho o prestígio da nossa ex Ministra das Finanças mas digo categoricamente que pode. Basta a economia crescer menos (menos receitas mesmo com aumento da taxa de imposto) e aumentarem as transferências sociais (aumento de despesa via subida do desemprego). É por ninguém olhar para a economia como olha para as finanças que Portugal chegou ao ponto em que está!
9 Comments:
At 11:49 da manhã, armando s. sousa said…
Não vi a entrevista de Manuela Ferreira Leite mas ao ler o teu post fiquei claramente esclarecido.
Um abraço.
At 12:13 da tarde, Unknown said…
"- A subida dos impostos nesta fase, em que há mais anos para combater o défice, é má para a economia (a diferenciação que justificou em relação ao que fez é que não me pareceu nada convincente);"
Acho que até foi convicente.
O que eu percebi era que, na altura, Portugal era o único país da UE com mais de 3% declarados (não declarados havia mais...) e, a Comissão iría saltar sobre Portugal que nem gato a bofe para dar o exemplo e arranjar um precedente.
Portugal veria os fundos decoesão cortados e teria de fazer um depósito da ordem das centenas de milhões sem juros no BCE, depósito esse que poderia ser perdido se não se baixasse para menos de 3% o que certamente não aconteceria.
Por outras palavras, os crápulas da Comissão Prodi não se incomodaram de impor a destruição da nossa economia para obterem vantagens noutros lados.
"É por ninguém olhar para a economia como olha para as finanças que Portugal chegou ao ponto em que está!"
Exacto, exacto, e donde vem a culpa destes crimes? Da União Europeia, claro.
Desculpa, Ricardo, mas o que acho mais espantoso em ti é que tens todos os instrumentos e também a percepção dos malefícios da adesão à União Europeia mas, quando toca a conclusões, recusas dar o salto. O apelo ideológico por uma Europa Unida (mesmo que isso nos separe do Mundo) é mais forte, obrigando-te a fazer malabarismos de raciocínios para mostrar que o que é, não é.
Um abraço,
At 12:16 da tarde, Ricardo said…
Armando,
É só uma opinião num mar de interpretações...
Abraço,
At 12:22 da tarde, Ricardo said…
Raio,
Sabes porque é que não tenho que fazer malabarismos de raciocínio? Porque eu não defendo cegamente os benefícios da UE mas considero que estamos melhores na UE neste momento e contexto.
Basta leres a minha opinião sobre o PEC. Nunca mudou e sempre defendi estas alterações. A grande diferença é que eu quero que Portugal mude e a UE também no que está mal e tu queres simplesmente uma aventura de acordos bilaterais num mundo glogbalizado.
Vou repetir o que sempre defendi: A economia (o crescimento) é prioritário. As Finanças permitem que este primeiro item cresça de forma sustentada. O PEC é um mecanismo natural porque não permite que se gaste mais do que se tem em recursos. O que está mal é a estrutura de despesa em Portugal e isso Portugal tem todos os instrumentos para manipular.
Abraço,
At 12:38 da tarde, Ricardo said…
Raio,
Esqueci-me de responder porque não achei convincente o contexto em que MFL aumentou os impostos.
Se o défice era prioritário (levou o défice artificialmente para valores inferiores a 3% com receitas extraordinárias que são sempre nocivas a prazo e aumento de impostos que, segundo ela, são maus para a economia) porque é que depois votou contra as sanções a quem não fez esse esforço? Que credibilidade esta acção pode ter?
Isto é ... implementou políticas que considera más para o país para atingir um objectivo artificialmente mas achou que quem não prejudicou a sua economia não fazia mal, porque afinal o défice nem é assim tão importante. Hoje em dia compreendo que Durão não queria antagonizar França e Alemanha mas não admito que se prejudique o país (e a credibilidade da própria UE) por razões que não compreendo.
Ou foi falta de personalidade política ou complexo de inferioridade ou incompetêcia ou incoerência ... é só escolher!
Abraço,
At 12:36 da manhã, Ricardo said…
Adryka...
Obrigado pela visita! A minha opinião é uma opinião meramente de "treinador de bancada" mas considero que, às vezes, as soluções até são simples e ao alcance dos políticos que tenham realmente vontade de mudar o estado do país!
At 11:49 da tarde, Ricardo said…
Lazuli,
Estás convidada a fazer parte dos "treinadores de bancada". Todos são bem vindos para escrever sobre o que lhes passa na alma.
Beijos*
At 2:16 da manhã, Unknown said…
Ricardo,
Uma frase tua permite responder a tudo:
"Ou foi falta de personalidade política ou complexo de inferioridade ou incompetêcia ou incoerência ... é só escolher!"
Só consideras estas explicações.
Infelizmente não são as únicas possíveis.
Há outra, muito importante e, que a meu ver é a verdadeira explicação, a de que foi falta de poder, isto é, o governo português já não manda nada, limita-se a obedecer.
Quando tu te referes a "aventuras de acordos bilaterais" esqueces que estando Portugal inserido na UE, também há acordos dentro da UE e, esses acordos, são totalmente diferentes de um acordo bilateral pois, esses acordos estão sempre submetidos ao poder que a UE tem sobre nós, poder financeiro e legal.
Esse poder obviamente limita, e fortemente, a liberdade de actuação do governo português.
Mas, o pior é que tu reconheces quase isto tudo. Só que te agarras à esperança, vã, de uma evolução da UE que, de certeza, não vai existir.
Por outras palavras, vemos muito sinais de que a UE não evolua no sentido que pretendes e não vês um único sinal (excepto talvez o Não francês) de que evolua como queres...
Um abraço,
At 10:28 da manhã, Ricardo said…
Raio,
"o governo português já não manda nada, limita-se a obedecer"
A "tua" resposta está incluída nas minhas, isto é, "falta de personalidade política ou complexo de inferioridade ou incompetêcia ou incoerência". Então um Governo a que nada o obriga a obedecer (no limite, após reflectir sobre uma monstruosa cabala, iam dar-nos menos dinheiro) e obedece apesar de isso ser contrário ao fundamento da sua política que deve ser chamado?
Há algo que continuamos a não nos entender. Eu não estou agarrado a uma vaga ideia duma Europa Unida. Eu luto por ela, que é bem diferente. Mesmo a situação de integração actual é, na minha opinião, bem melhor para nós do que qualquer outra que eu vejo te defender. Eu não tenho soluções milagrosas para Portugal porque sempre disse (e digo) que, dentro ou fora da UE, Portugal vai ter gigantescas dificuldades. O problema é que defendes um oásis fora da UE que não consegues explicar nem em teoria. Ainda não percebi o que queres que Portugal seja num mundo globalizado. Que voz ia ter? Que controlo ia ter sobre a sua taxa de cãmbio? Como vai ser autónomo? E por aí fora...
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