448. Mais um prego na credibilidade dos políticos
Eu fico preocupado quando ouço o nosso antigo Ministro das Finanças, Bagão Félix, criticar o Governador de Portugal por este ter optado por calcular o valor previsto do défice às centésimas. Eu já desconfiava que ele gostava mais de tratar os números com pouco rigor...
Adicionalmente descubro que o Conselho de Ministros de Santana Lopes já sabia que o problema orçamental estava bem mais grave do que parecia. Então resolveram votar se divulgavam ou não o número. Com excepção de três ministros (salvo erro) o discurso oficial do Governo era o de ir ao encontro dos números de Ferreira Leite.
Conclusão 1: O problema orçamental agravou-se na gestão de Durão e Santana;
Conclusão 2: O Conselho de Ministros já vota o valor do défice que vai divulgar e protege ou crucifica os políticos que os antecederam conforme os partidos a que estes pertencem.
8 Comments:
At 6:17 da tarde, Anónimo said…
Só se pede um resquicio de pudor a muito politico, para bem da sanidade mental deste pobre povo.Não apareçam, não falem e mais do que isso,... se tiverem que aparecer na TV não sorriam.A mim que ainda há dias vi o Bagão, considerei que nos estava a tomar como ignaros e parvos.
At 7:10 da tarde, Ricardo said…
Viva, C. Indico...
Estamos a viver tempos de enorme desconforto com a classe política. Sinto-me não representado e tenho cada vez mais a sensação que se mente deliberadamente.
Apesar do mau começo deste Governo nesse aspecto, eu espero que a coerência das medidas (que na generalidade concordo) restitua alguma da confiança perdida. Mas não ponho a mão no fogo, ainda por cima depois da subida dos impostos indirectos.
Abraço,
At 1:23 da manhã, Unknown said…
Em todas as medições há sempre uma margem de erro. Calcular um deficit previsto, mesmo às decimas é um pouco ridículo pois a margem de erro é, de certeza, largamente superior a uma décima.
às centesimas, nem sequer é ridículo, só prova é a incapacidade técnica de quem o faz. Aliás, a Ferreira Leite já o tinha feito e foi criticada por isso.
Este cálculo é semelhante ao de uma família que ganhe 400 contos por mês (5.600 por ano) e calcule quanto vai gastar até ao fim do ano com uma margem de erro da ordem dos 500 escudos!
At 9:21 da manhã, Ricardo said…
Raio,
Tens razão em achar que os 500 escudos fazem pouca diferença no quadro geral mas quando me encomendam um trabalho técnico e eu alcanço determinado valor porque é que vou arredondá-lo?
O que me fez confusão era Bagão já saber que o défice estava bem pior do que em 2001 e ter optado por insistir que aquela política estava a trazer resultados positivos. E acho que a recente divulgação da votação no Conselho de Ministros sobre que valor divulgar é surrealista.
Abraço,
At 5:10 da tarde, Unknown said…
Ricardo,
"quando me encomendam um trabalho técnico e eu alcanço determinado valor porque é que vou arredondá-lo?"
Porque é cientificamente correcto arredonda-lo!
Acho que deves ser economista e um dos principais problemas dos economistas é não terem formação em cálculo numérico e teoria dos erros.
Se fosses paleontologista e fosses determinar a idade de um esqueleto por meio do Carbono 14 e chegasses a 1.234.156 anos, 7 meses e 5 dias, ías publicar este resultado? Claro que não, ías determinar qual a margem de erro do cálculo e entravas em conta com esta margem de erro. Isto é, se fosse, por exemplo, de 10%, portanto 120.000 anos, publicavas que a idade do esqueleto era de 1.200.000 anos.
No caso do trabalho do Vítor Constâncio acho que o máximo que ele poderia indicar era que o deficit se situaria entre 6 e 7 por cento. Acho difícil ter uma precisão superior a esta.
Mas se o publicasse até às decimas, vá lá... mas agora às centesimas! Qualquer pessoa que tenha o mínimo de conhecimentos de calculo numérico e teoria dos erros (até já leccionei esta cadeira) faz o mesmo que eu, ri-se e passa um bocado a insultar a inteligência do Senhor Vítor...
E, claro, o trabalho do senhor Vítor perde toda a credibilidade...
Um abraço,
At 7:20 da tarde, Anónimo said…
Esta história das centésimas, que por mim não tem importancia nenhuma, faz-me lembrar quela em que:
-O Coronel Jonh Grant da 3ª Com. de Cavalaria Yanque estava a preparar-se numa pradaria do Arkansas para enfrentar os Apaches comandados pelo Bufalo Sentado.
-Como não sabia quantos redskins eram mandou o clarim subir a uma colina para avaliar.
- O clarim foi,olhou,correu para o Coronel e disse:
-Sir, são mil e um !
-Mil E UM????
-Sim, um áfrente e uns mil atrás!
At 7:52 da tarde, Ricardo said…
Raio...
As centésimas, neste caso, representam valores elevados. Mas eu também acho essa discussão sem nexo. A questão principal e mais grave, para mim, é Bagão ter feito um orçamento completamente irreal com base em mais de 3,5% de receitas extraordinárias (segundo as contas de Bagão) e já haver votações entre ministros para ver que valores revelam como se o défice fosse algo elástico.
Abraço,
At 7:54 da tarde, Ricardo said…
C. Indico...
A história está hilariante! O principal é que o défice está alto, sejam 1000 ou 1001 homens, concordo!
Abraço,
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