(439) A Fuga em Frente da “Europa”
Há três teorias que têem sido defendidas para reagir aos referendos na França e na Holanda que eu acho preocupantes.
1) A teoria de que eu também tenho que ser ouvido: Eu acho esta teoria engraçada. Apesar de já haver duas rejeições ao Tratado de Constituição há quem defenda que também devemos dar a opinião e não estarmos reféns da opinião de dois países. Concordo que a nossa opinião é tão válida como a “deles” mas alguém devia avisar-nos que aprovar uma Constituição que depois não vai entrar em funcionamento é capaz de não ter muita lógica. Ou será que estamos à espera que na França e na Holanda se vá repetindo os referendos até dar “Sim”? Ou então alteramos uns pormenores do Tratado e os que já aprovaram nada dizem e os que rejeitaram fazem novo referendo acabando todos por aprovar um texto diferente! Ou há ainda a posibilidade de fazermos vários referendos. Escuso de repetir que acho isto tudo absurdo e que só fragiliza a União! Mais vale admitir a “morte” da Constituição antes que ela mate o principal, ou seja, a própria União Europeia.
2) A teoria do adiamento do referendo: Também adoro esta teoria sugerida pelo pai dos “monstros” que andam aí à solta, Aníbal Cavaco Silva. De que serve adiar os referendos se isso mantém a incerteza quanto ao futuro e não resolve nada? Ficamos à espera de quê? Que a França e a Holanda digam que “Sim” nos parlamentos para depois voltarmos a discutir o texto? Repito que o melhor é criar um documento simples, regulador das instituições e relações entre os países para que a UE não paralise!
3) A teoria que a União Europeia morreu: Agora é moda fazer referendos em que é válido discutir tudo (quando sempre me ensinaram que os referendos eram sobre assuntos muito específicos e por isso é que as perguntas tinham que ser directas) e, pior, também é moda retirar dos referendos consequências sobre o que se perguntou e sobre o que não se perguntou. A UE só "morre" se insistirem no erro monumental de manter ad eternum a discussão duma Constituição que já "morreu". A ideia que a UE "morreu" com estes referendos é descabida. Simplesmente mantemos o modo de funcionamento actual com as adaptações ao alargamento a serem mais lentas. Relembro que os próprios adeptos do “Não” rejeitavam a “chantagem” que a UE acabava no caso do “Não” vencer.
Diria que há teorias para todos os gostos! Pena é que não tenha vontade para rir...
O “Não” em síntese neste blogue (posts desta semana sobre este tema): (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7)
9 Comments:
At 7:25 da tarde, Ricardo said…
Lazuli,
Antes de mais quero que saibas que as tuas palavras sensibilizaram-me.
Eu percebo o que queres dizer. A União Europeia parece algo distante e incompreensível. Talvez seja!
Mas não será que os procedimentos do Estado português também um pouco distantes e incompreensíveis para a maioria de nós?Também são.
O que nos leva a algo mais instintivo, concordo! E levanta outro problema. Provavelmente nós não sentimos (colectivamente) que somos europeus. Cada país está numa união de conveniência com uns países vizinhos.
Eu tenho que respeitar isso mas, porque eu penso de maneira diferente, tenho o direito de lutar por uma Europa que consiga crescer na diferença. Uma Europa que saiba criar sinergias para salvar o seu estilo de vida, estilo esse que eu me identifico. Por isso reajo com vigor a algumas tendências suicidárias dos nossos líderes.
Tudo o que temos damos por adquirido e tudo o que não está bem usamos bodes espiatórios e, neste momento, a UE é um alvo fácil. Eu acredito que continuamos a depender só de nós, portugueses, para sermos cada vez melhores (sem perder a nossa identidade) e que podemos ir ainda mais longe inseridos numa Europa de sinergias que saiba defender, em bloco, um estilo de vida cada vez mais difícil de manter num mundo cada vez mais globalizado.
Beijos,
At 3:52 da manhã, Unknown said…
Lazuli,
"Também é evidente que pertencer à UE é irreversível".
Sabes, gosto muito de História e se estudarmos História descobrimos uma coisa muito interessante, nada, mas mesmo nada é irreversível.
Já passei muito tempo a ler livros, jornais e revistas, portugueses e estrangeiros do período de entre as duas guerras.
É uma leitura fascinante.
Nessa época o fascismo parecia irreversível. Todos os países europeus iam tendo regimes fascistas e, nos que ainda resistiam, havia fortes movimentos fascistas como Les Croix de Feu em França ou o movimento de Sir Oswald Mosley no Reino Unido.
Hitler, por exemplo tinha muitos admiradores em França (e não só).
Na segunda metade do século XIX havia na Europa uma união monetária irreversível, a União Latina. França, Bélgica, Suiça, Grécia, Bulgária, Itália e creio que Espanha partilhavam a mesma moeda, o Franco. E no entanto essa irreversabilidade durou só até 1920...
Eu não estou a advogar o fim da União Europeia mas choca-me a imensa máquina de propaganda que nos apresenta todas as realizações europeias como irreversíveis.
Nos anos sessenta a marcha para o comunismo parecia irreversível. Quanto muito substiia a dúvida, comunismo estilo soviético ou estilo chinês?
Na História tudo teve princípio, meio e fim. O mesmo acontecerá com a União Europeia. Pode durar mil anos como Hitler dizia que o seu Reich duraria, mas certamente que acabará.
At 4:02 da manhã, Unknown said…
Ricardo,
Neste momento a União Europeia está ferida de morte.
E está ferida de morte porque não pode continuar dirigida pelos mesmos políticos que a meteram neste burado.
Politicos sem o menor sentido democrático, políticos que queriam salvar o povo quer este o quisessem quer este o não quisesse.
Claro que concordo contigo que continuar com os referendos é um perfeito suicidio. A UE sempre fez os referendos usando a teoria do dominó, primeiro os mais favoráveis e no fim os menos favoráveis.
Começaram por Espanha e, em Espanha foi uma vitória amarga, muito mais de metade dos eleitores nem se dignaram a ir votar.
Depois foi a França e a Holanda onde imperou um impensavel "Não".
Agora se continuarem com os referendos talvez só consigam o "Sim" do Luxemburgo... e mesmo este com muito menos "Sim" do que se esperaria.
No fim teremos uma data de "Nãos" que lançaram grandes dúvidas sobre a bondade dos "Sim"´s obtidos nos parlamentos nacionais.
Sim agora funcionará a teoria do dominó, só que ao contrário...
A lógica era para tudo e abrir um grande debate sobre a UE.
Mas não, os políticos actuais não farão isso, os políticos actuais comportar-se-ão como aqueles animais cujas mães comem as crias para as proteger...
A UE acabará às mãos dos seus mais entusiasticos apoiantes...
At 8:02 da manhã, Ricardo said…
lazuli, Micróbio e Raio...
O "debate" já "saíu" das minhas mãos e ainda bem. Só umas pequenas notas...
lazuli... De facto não é fácil promover um estilo de vida europeu porque "ele" não existe porque somos todos tão diferentes e existe precisamente por causa disso. Fiz-me entender? Mas, ao mesmo tempo, há noções de sociedade (saúde universal, solidariedade inter geracional, educação universal) que são comuns a todos os países. Beijos
Micróbio... Neste momento não importa as razões do "Não" para salvar ou não a Constituição. Nós que acreditamos nesta UE não podemos contribuir para a sua morte insistindo num erro e criando o efeito dominó que o Raio fala. Pensa nisso...
Raio... Hoje estamos em sintonia o que é raro, temos que convir. A UE é irreversível, concordo. Resta só saber se é o que interessa fazer o que claramente não é a minha opinião. E estamos de acordo que continuar com os referendos é inútil. Mais vale, de facto, debater a UE do que referendar algo que já morreu.
Obrigado pela participação,
At 5:35 da tarde, Ricardo said…
Lazuli...
Quanto ao primeiro comentário... nem todos temos os mesmos "gostos" e certamente que há muitos temas que estás bem mais informada que eu. Sobre a Europa não gosto de pensar que sou um idealista, porque acho que com realismo estaremos, pelo menos neste futuro próximos, melhores na UE que fora dela...
Eu não disse que me resumia a "números", hehe ... mas confesso que tenho dificuldade de escrever sobre sentimentos. Não tenho nem jeito nem vontade para o fazer. Tu, por outro lado, escreves sobre o teu íntimo (real ou ficcionado) muito bem.
Beijos e retribuindo os elogios com carinho,
At 11:09 da tarde, Unknown said…
Lazuli,
Lamento dizer-te (sério que lamento) mas estás enganada. Eu devo ser da tua geração. Estive na guerra em Angola e até conheço Caxias por dentro...
E, é talvez por conhecer estas coisas todas que o Ricardo me chama saudosista, coisa que não sou.
Mas se me meto a pensar, dói-me, dói-me muito, porque vejo muitas semelhanças entre a situação actual e situações do passado.
Claro que há diferenças. Actualmente (que se saiba), não há PIDE (nem DGS) e há mais protecção dos nossos direitos melhor do que havia (ou não havia) dantes.
Mas, na minha modesta opinião, esta aparente evolução é só por actualmente não haver a força (e o ambiente) que havia dantes. Ao ver a fúria de muito político situacionista contra quem discorda da situação actual e que quer evoluir para um Mundo (onde se insere a Europa) melhor, penso cá para os meus botões que, no intimo estes políticos pensam "que falta que cá faz uma polícia que meta estes gajos na ordem.
Como eu já escrevi, Salazar dizia "Portugal não se discute", agora diz-se "A Europa não se discute" e quem se atrve a fazê-lo é um inimigo da democracia, um militante da extrema-direita, um saudisista de Hitler que obviamente merece a cadeia...
Quanto à integração europeia ser irrevesível ou não só te quero dizer o seguinte.
Creio já ter escrito por aqui ou no meu blog de que sempre achei que a Constituição Europeia acabaria por destruir a União Europeia. Quando dizia isto pensava num prazo de anos, ou mesmo décadas. Nunca me passou pela cabeça de que a Constituição europeia pusesse a União europeia em causa a meados da primeira década do Século XXI.
É o que está a acontecer.
Os holandeses votaram contra a Constituição não por medo da Turquia ou por não gostarem do seu governo como a nossa Comunicação Social diz. Estas duas razões foram minoritárias.
Os inquéritos feitos após o referendo dizem que votaram "Não" porque acham que Bruxelas já se mete demasiado nas suas vidas ou porque temem perder a sua identidade (foram estas as principais razões apontadas).
Pela primeira vez na União Europeia um povo coloca em cima da mesa e com estrondo, a questão da soberania.
A semana que passou ficará na História, foi a semana em que os integracionistas Uber Alles foram derrotados.
A União Europeia terá dificuldade em recompor-se.
Que se saiba a primeira reacção vinda da Comissão ao "Não" francês foi um documento publicado logo no dia seguinte e intitulado "Recomendações sobre o bem-estar das galinhas para consumo humano"...
Acho que é urgente começar-se a pensar no pós-UE
At 12:35 da manhã, Ricardo said…
Raio...
Nem vou comentar as comparações que fazes de tão surrealistas que são. Eu respiro liberdade, eu tenho total liberdade em gritar "não à Europa" (só não o quero fazer), eu sinto que como consumidor e cidadão nunca tive tantas garantias dos meus direitos (como o direito à informação, à segurança alimentar, à liberdade de expressão e de imprensa). Claro que há políticos que se excedem nas declarações mas não passa disso mesmo, um excesso na argumentação sem consequências de maior. Confesso que fico espantado com comparações destas...
Quanto à Constituição e o fim da UE a minha opinião está expressa no ponto 3) deste post. Só repito que só se houver o monumental erro de insistir no que está "morto" (o tratado) é que a UE poderá tremer seriamente. Confio que vai haver o bom senso de não fazer isso...
At 2:49 da manhã, Unknown said…
Ricardo,
Dizes que "eu tenho total liberdade em gritar "não à Europa" (só não o quero fazer)".
Exacto não o queres fazer portanto achas que tens essa liberdade. Porque se o fizeres talvez mudes de opinião.
Já fiz algumas considerações sobre este tema no texto que escrevi no meu blog em resposta ao teu comentário.
At 11:01 da manhã, Ricardo said…
A minha resposta a esta inacreditável sugestão de comparaçãoo do Raio está neste link:
http://cabalas.blogspot.com/2005/06/coligao-destrutiva.html#comments
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