Filho do 25 de Abril

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sábado, junho 18, 2005

459. A Europa em Crise Profunda



"A Europa está numa crise profunda"
Jean-Claude Juncker

[Situação] "patética, para não dizer trágica"
Jacques Chirac

O Conselho Europeu chegou ao fim sem resultados palpáveis e dando sinais de profunda desorientação. Na minha humilde opinião três sinais foram emitidos:

Um de cegueira: O adiamento do Tratado Constitucional é ridículo! A única opção sensata era enterrar o texto, por mais virtuoso que seja. Dá a ideia que os líderes europeus ou querem repetir os referendos só nos países onde o "Não" venceu (o que não tem lógica com ou sem pequenas alterações) ou simplesmente adiam qualquer tipo de resolução por imobilismo completo.

Um de falta de espírito europeu: A Europa só pode ser forte se houver um espírito de solidariedade entre as nações europeias. A falta de acordo na distribuição das verbas comunitárias para 2007-2013 é um sinal forte de que o alargamento não vai ser acompanhado por um esforço de coesão significativo. Desta forma o futuro da Europa é negro até porque promete ser de longa decadência. É que é preciso não esquecer que se este projecto de integração falhar todos os países que o integram vão ser "engolidos" pelos fenómenos de globalização. Muito dificilmente a Europa vai conseguir manter os modelos sociais que tem se não criar sinergias e estratégias combinadas para enfrentar a competitividade internacional. A menos que consiga travar a globalização o que nem considero positivo nem possível. Só uma Europa competitiva e coordenada pode conseguir guiar a globalização para um trajecto mais social.

Um de falta de rumo: Após os resultados dos referendos a UE foi incapaz de dar o mais ligeiro sinal de que tem uma estratégia. Eu sei que Durão teve algum azar no contexto em que assumiu as funções na Comissão Europeia mas é impressão minha ou ele está a demonstrar uma profunda inabilidade política. Parece um "líder" que nasceu fraco e que não tem ou não consegue ser proactivo. Neste momento era tão simples travar a crise europeia. Bastava relembrar que antes do Tratado ser Constitucional pretendia ser um documento simples que tornasse possível a UE funcionar a 25. Reformar o sistema de votação é a prioridade e isso era fácil aprovar. Mas para isso era preciso um líder forte que tivesse a coragem de admitir que o Tratado falhou e seguir em frente impondo uma reflexão mas aprovando, entretanto, um novo sistema de votação. Duvido que Durão dure muito tempo no cargo onde está e se durar que não seja por imobilismo da UE mas porque começa a mostrar qualidades que eu admito nem sequer vislumbrar...

4 Comments:

  • At 1:07 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Ricardo,

    A crise adensa-se, a UE vai enfrentar um novo embate com a desvalorização do dólar face ao Euro.
    Quanto a Durão Barroso, acredito que a sua ida para a Comissão se deve, precisamente, ao facto dele ter essa inabilidade política que referes. Como diz o Raio, «não acredito em cabalas, mas que as há, há!»

    Um abraço,

    "O" anónimo

     
  • At 2:26 da manhã, Blogger Unknown said…

    Ricardo,

    Um dos problemas da própria génese da União europeia e que acabará por a liquidar é, como dizes:

    "A Europa só pode ser forte se houver um espírito de solidariedade entre as nações europeias."

    É que a coesão não é solidariedade, a coesão é no interesse de todos. Quanto mais rico for Portugal, ou a Grécia, ou a Polónia, mais ricos serão a França e a Alemanha, por exemplo.
    Infelizmente, para nos convecerem a entrarmos na CEE/CE/UE vieram com esse embuste da tal solidariedade.
    Como não existe nem povo europeu nem opinião pública europeia torna-se difícil convencer alemães, holandeses, suecos, etc., a gastarem dinheiro com solidariedade de povos que não lhes dizem nada.
    O resultado disto tudo vai ser extremamente trágico, vai ser o de Portugal, por exemplo, que já paga para estar na União Europeia ir passar a pagar ainda mais. Isto é, vermos os países ricos da Europa a viverem à custa dos mais pobres.
    Isto é polvora e tarde ou cedo dará em revolução ou guerra...

    Um abraço,

     
  • At 10:50 da manhã, Blogger Ricardo said…

    Caro "O Anónimo"...

    Problema resolvido! Ninguém assume o teu lugar agora, hehe

    Realmente o nome nada acrescenta! Apenas um reconhecimento mais imediato que o "O" já resolvia até aparecer outro "O".

    Se há uma "cabala" ela certamente nos vai prejudicar a todos. Como escrevia ainda agora num comentário no blogue do Raio:

    "O futuro tem que passar por economias integradas profundamente enquanto o mundo se mantiver globalizado. Não temos fuga a isso. Se não fôr o EURO haverá sempre outros factores que nos obrigarão a sermos competitivos. Isso é o que tu te esqueces..."

    Abraço de "O" Ricardo,

     
  • At 10:58 da manhã, Blogger Ricardo said…

    Raio,

    Finalmente de acordo num ponto em relação à UE:

    "a coesão não é solidariedade, a coesão é no interesse de todos"

    Felizmente consegui constatar que nos países de Leste que aderiram agora não são prometidos milagres! A UE permite, para esses países, um factor de estabilidade e segurança porque a Russia colocava, de novo, em perigo a autonomia desses países. Mas é obvio que a UE não é um milagre económico. No fundo a UE tem que promover a competitividade porque só assim consegue competir globalmente.

    Achei bem mais grave não termos assistido, por parte de ninguém, à defesa de um rumo pós referendos. Os países europeus definham perante um mundo muito competitivo que abdica dum Estado Social forte. E dificilmente vai conseguir, desta maneira, peso internacional suficiente para influenciar o rumo do planeta para ter mais preocupações sociais.

    Abraço,

    P.S. Não era bem mais pragmático defender uma alteração do sistema de votação e abandonar o Tratado Constitucional? Não parece óbvio para todos?

     

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