Filho do 25 de Abril

A montanha pariu um rato - A coerência colocada à prova - A execução de Saddam Hussein - O Nosso Fado - "Dois perigos ameaçam incessantemente o mundo: a desordem e a ordem" Paul Valéry, "Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa, salvar a humanidade", Almada Negreiros - "A mim já não me resta a menor esperança... tudo se move ao compasso do que encerra a pança...", Frida Kahlo

segunda-feira, junho 20, 2005

462. A Política Económica e o Défice




Será correcto dizer que défices altos (ou a subir) são sinónimo de políticas expansionistas e que défices baixos (ou a descer) são sinónimo de políticas restritivas? Não!

Numa análise estática o défice não nos diz nada sobre a política económica. Um défice de 6% pode evidenciar políticas mais restritivas do que um défice de 2% porque não sabemos a estrutura da despesa. E numa análise temporal (ou dinâmica)? Também pouco ou nada nos diz! Apenas nos diz se estamos a gastar mais ou menos em relação às receitas mas não nos diz no que é que estamos a gastar.

Por isso fico preocupado quando ouço que só com défices altos podemos sair da crise porque é o caminho mais fácil, não necesariamente o melhor! O problema está nas despesas com a massa salarial e nas transferências correntes (saúde, educação, justiça) em proporção à riqueza que produzimos, ou seja, em função da nossa produtividade. Por isso há a necessidade de adequar os nossos gastos não reprodutivos à nossa riqueza.

É óbvio que as políticas económicas não devem ser contra cíclicas! Deve-se ser expansionista durante a recessão e restritivo durante a expansão. O que tem falhado em Portugal é que andamos sempre a remar contra as marés. No período de expansão usamos políticas expansionistas e no de recessão usamos políticas restritivas, agravando a crise. E o défice (real)? Devia ter sido encarado num contexto de médio prazo estando em superavite nos períodos de expansão e em zero ou com ligeiro défice nos períodos de recessão para permitir investir mais nesses períodos e, no fim do ciclo, não gerar dívida pública!

É inevitável só termos o grau de salários e de protecção social que seja adequado ao nosso nível de arrecadação de impostos e produtividade.

P.S. Peço desculpa pela linguagem mais técnica mas é necessário acabar com o tabú que só é possível ter políticas expansionistas com o défice alto! O valor do défice só nos diz quanto é que vamos ficar a “dever”, não como ficamos a “dever”! É por isso perfeitamente possível ter défices baixos e políticas expansionistas ao mesmo tempo.

3 Comments:

  • At 12:51 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Penso que muito em breve poderemos sentir os efeitos perniciosos de uma filosofia de vida fortemente economicista. A economia devia estar ao serviço da humanidade e não o inverso!
    Certo é que todos os países envidam esforços para elevar o nível da produtividade e fomentar o crescimento económico, mas, apesar disso, a esmagadora maioria da população mundial - e este número sim, parece ter uma grande probabilidade de crescimento - vive de uma forma miserável, uma forma indigna para o que se possa considerar como estatuto de "ser humano". Certo é que em nome de tão elevados objectivos, se vai destruindo o emprego e praticando a exploração - antes, dava-se o nome de escravatura - aos que ainda conseguem ter a sorte de aceder ao estatuto de escravos (salvo algumas excepções).
    Se os estados deixaram de ter qualquer papel em políticas sociais (entre elas, a criação de emprego), então, passaram a ser mais um ónus para quem participa no processo produtivo e, neste caso, elimine-se, de vez, os estados! Dentro dos valores dominantes, passaremos a ter uma autêntica ditadura do capital, ou seja, o ser humano perde toda a réstea de valor que ainda possa ter e passa a ser apenas uma simples peça do sistema! Quem tiver alguma imaginação poderá antever as consequências de uma tal sociedade.
    Creio não ser correcto que, em tempo de "aperto de cintos", sejam sempre os mesmos a pagar a factura, mesmo porque estas medidas não vão impedir o descalabro que se avizinha, muito pelo contrário, ninguém está a salvo! AS medidas que estão a ser tomadas, em tudo, são idênticas às que são impostas pelo FMI (o famigerado ajustamento estrutural) que, como se sabe, defende com "unhas e dentes" as grandes empresas - mais do que grandes, ciclópicas - e, por isso mesmo, foi ele que deu o primeiro passo para a globalização!
    Pensar que a salvação da pátria vem pela redução das despesas com a função pública, educação, saúde e justiça é estar alheado aos mecanismos subtis, mas nem por isso menos sórdidos, que o capitalismo selvagem vai tecendo.
    É hora do ser humano começar a ter consciência do seu real valor e de lutar pelo valor mais elevado a que pode almejar: a liberdade!

     
  • At 1:17 da tarde, Blogger Ricardo said…

    Anastácio,

    Estamos basicamente de acordo! A minha postura perante a sociedade também varia conforme as circunstãncias em que vivemos. Eu tenho um grande respeito pelo papel do Estado e continuo a defender que deve ter um papel fortemente regulador. Mas eu não quero ser o Dom Quixote do século XXI porque tenho consciência que o contexto mundial é péssimo para o modelo de sociedade que a Europa construiu.

    Nós, europeus, temos o melhor sistema de Segurança Social do mundo. Temos saúde universal! E agora surge o dilema! Como manter isso tudo sem continuarmos a perder competitividade para os países que têem mão de obra barata sem regalias sociais? Não sei!

    Sei é que não podemos parar a Globalização mas que podemos tentar influenciá-la! Mas para chegar a esse patamar precisamos de crescer comercial e politicamente. Essa é a base do meu raciocínio...

    Quanto mais fragmentados estiverem os países mais as multinacionais têem poder e quanto menos regulação internacional houver mais monopólios haverão à escala mundial. Por isso defendo que temos que prosseguir com a integração e utilizar o défice como um factor de crescimento, isto é, gastando menos e melhor nos serviços públicos adequando-los ao nosso produto final e libertar recursos para investimento e para potenciar a iniciativa privada. Não é a defesa do liberalismo, é a ambição de tornar o liberalismo à escala mundial mais regulado!

    Abraço,

     
  • At 1:12 da manhã, Blogger Unknown said…

    Ricardo,

    Artigo interessante que me originou um artigo que escrevi no meu blog (http://cabalas.blogspot.com/2005/06/politica-econmica-o-deficit-e-destruio.html).
    Peço desculpa por ter roubado o porquinho que acho muito giro.

    Aqui só vou comentar uma frase tua:

    "Quanto mais fragmentados estiverem os países mais as multinacionais têem poder e quanto menos regulação internacional houver mais monopólios haverão à escala mundial."

    Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Entre países "fragmentados" e um único país controlado pelas muitinacionais, as multinacionais preferem a segunda hipótese.
    Claro que se os países se unirem todos contra as multinacionais, isso seria-lhes muito prejudicial.
    Só que isto não passa de sonho de uma noite de Verão. Nada indica que esse caminho está ou venha a ser seguido.
    O mesmo para a regulamentação. Pode ser ou não prejudicial aos monopólios, depende da regulamentação.
    Mais uma vez, o que vejo é uma regulamentação que no mínimo, favorece duopólios...

    Um abraço,

     

Enviar um comentário

<< Home