Filho do 25 de Abril

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terça-feira, julho 05, 2005

484. Produtividade: Fiscalidade (4)


Salvador Dali - St peters in Rome Explosion of Mystical Faith in the Midst of a Cathedral

A Fiscalidade não é uma varinha mágica para aumentar a produtividade e, na maior parte das situações, só resolve problemas conjunturais. A Fiscalidade deve fornecer um enquadramento saudável aos empresários mas não é uma garantia que isso aconteça porque mesmo que um Governo decretasse o não pagamento de impostos às empresas estas podiam reagir muito timidamente ao nível do aumento da produtividade. Mas, mesmo assim, há muitas notas que convém deixar aqui e que podem originar várias reflexões.

(IVA) Para além da Justiça Social, considero que a Fiscalidade deve estar ao serviço da competitividade e que as despesas é que se têm que adaptar a essa competitividade. Em Portugal fez-se ao contrário! Há 3 anos a Espanha tinha 16% de IVA e nós 17%. Hoje a Espanha continua com 16% e nós temos... 21% de IVA. Este é um exemplo claro de como podemos perder competitividade facilmente. A Espanha fez a consolidação orçamental em períodos de expansão e não usou a fiscalidade na recessão. Convém referir que a perda de competitividade, per si, não afecta a produtividade laboral mas torna o produto final menos competitivo e isso estrangula recursos que poderiam ser usados no aumento da produtividade.

(IRS/IRC e Fiscalidade Selectiva) Por isso a medida de Santana Lopes de baixar o IRS era extremamente polémica. Era uma medida de curto prazo porque incentivava o consumo e não a produção. Mas baixar o IRC não é garantia de que a produtividade vai aumentar. Para que isso seja verdade é necessário que a folga concedida pelo Estado fosse usada em capital ou formação dos recursos humanos. Por isso desconfio sempre da mexida das taxas no sentido da alta ou da baixa. Acho que as taxas não devem acompanhar as necessidades orçamentais ou sociais mas devem tender a serem relativamente constantes. Por isso defendo mais uma Fiscalidade selectiva, isto é, em vez de baixar o IRC considero mais útil dar incentivos fiscais a quem investe em tecnologia, inovação e recursos humanos (factores potenciadores da produtividade). Mas duma maneira simplificada para que a fiscalização seja simples. De burocracia estamos todos fartos.

(Exportação/ Importação) Por fim quero realçar, no campo da competitividade e não da produtividade, que o nossa Fiscalidade está desadequada dos nossos objectivos. Um funcionário da Alfãndega num fórum que assisti advertiu que a Espanha ao incentivar a burocracia nas importações estava a cometer um erro porque só estava a aumentar a contrafacção. Sublinhou que esse não era o caminho. Mas acrescentou que a política das exportações espanhola funcionava muito bem porque os empresários só tinham que ter uma encomenda sinalizada e dispensavam a burocracia das garantias bancárias e afins. Isto porque o Governo Espanhol responsabiliza-se por todos os pagamentos que não são efectuados e por cobrar essa dívida. É um verdadeiro motor para as exportações retirando o problema da aversão ao risco dos empresários.

Esta análise simples demonstra que a nossa Fiscalidade podia estar muito mais adequada aos objectivos de produtividade e competitividade sem afectar a Justiça Social.

(Continua...)

8 Comments:

  • At 2:35 da manhã, Blogger Unknown said…

    O problema é que os nossos políticos, por incrível que pareça, ainda não perceberam que Portugal está na União Europeia.
    Não há fronteiras com Espanha e, a política correcta era a de tentar que os espanhóis viessem cá fazer compras, encher os depósitos dos seus automóveis, comprar a dose semanal de nicotina (vulgo tabaco), que as empresas espanholas ao pé da fronteira mudassem para cá as suas sedes, etc., etc.
    Mas não, faz-se exactamente o contrário... os espanhóis agradecem, escusam de baixar os seus impostos para os seus produtos serem mais baratos, nós subimos os nossos...
    É evidente que uma política de concorrência fiscal com Espanha, numa primeira fase, estoirava com o nosso deficit mas, numa segunda fase seria extremamente compensadora.

    E isto é válido em muitos campos.
    Aqui há uns tempos Bragança estava cheia de meninas. Fazia-se negócio e muitos espanhois davam um pulinho a Bragança quando as mulheres estavam distraídas.
    Depois saíu uma reportagem, foi um escândalo, as senhoras respeitáveis de Bragança, com o padre à frente, correram com as meninas.
    Resultado, várias lojas tiveram problemas (segundo os jornais a começar pelos cabeleireiros) e as meninas mudaram-se para o lado de lá da fronteira. Ninguém se escandaliza e o negócio passou todo para lá...

     
  • At 11:53 da manhã, Blogger Ricardo said…

    Raio,

    É das primeiras vezes que leio um comentário teu onde acusas directamente os nossos políticos de não saberem adaptar-se à UE. hehe

    O IVA é o melhor exemplo do falhanço da nossa concorrência fiscal com Espanha. Mas acrescento que não íamos ser nós que íamos provocar alterações no IVA Espanhol (só se fosse França).

    Mas acho que devíamos seguir o exemplo espanhol nas exportações porque aí é que estávamos verdadeiramente a incentivar a nossa competitividade retirando o pesadelo fiscal de cobrar dinheiro internacionalmente.

    Quanto às meninas de Bragança aí está uma área que desconheço a especialização, competitividade e produtividade. E como não conheço mais pormenores calo-me...

    Abraço,

     
  • At 12:20 da tarde, Blogger Unknown said…

    Ricardo,

    Eu nunca disse que os nossos políticos se sabiam adaptar à UE.
    Sinceramente acho que não pois nalguns raciocínios invocam o sagrado nome da Ue (geralmente em vão). Noutros agem como se estivessemos isolados.

    "Mas acrescento que não íamos ser nós que íamos provocar alterações no IVA Espanhol (só se fosse França)."

    Claro, claro, essa seria a nossa vantagem. Se conseguissemos que dois milhõoes de espanhóis viessem cá fazer compras isso representava só 5% da população espanhola e 20% da portuguesa.
    Concordo com o exemplo das exportações.

    As meninas de Bragança, tal como o jogo e o tabaco pertencem à classe de negócios do pecado.
    Mesmo sem legalizar a prostituição é possível manter muitos negócios nestes campos e rendosos.
    No estado em que estamos devemos atacar em todo o lado.

    Um abraço,

     
  • At 1:46 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Antes de mais, sem ser economista, entendo que os impostos são, qualquer que seja o nome que se lhe dê, pagos pelo consumidor. O IRC, IVA, IRS, SISA, PISA, são todos pagos pelo Zé pagode. As empresas têm mais ou menos lucro conforme a carga fiscal no seu todo fôr baixa ou alta, respectivamente.
    Quem disser o contráro é para baralhar o Zé pagode. Ao Zé interessa pagar o menos possível para que o Estado cumpra as suas obrigações: Justiça, Segurança e Bem-estar.

     
  • At 11:14 da tarde, Blogger Ricardo said…

    TNT,

    Entendo a tua ironia e simplificação mas não sei se o Zé Pagode paga IRC. Se considerares a ineficácia da máquina fiscal talvez mas, por exemplo, a banca apesar dos inúmeros "descontos" do Estado é o sector que mais contribuí para as receitas do Estado.

    Obviamente que para as empresas o ideal é que os impostos (todos) sejam baixos mas isso pode não ser necessariamente bom para a economia por duas razões. A primeira é porque eu continuo a achar que o Estado tem um papel social e que tem que arrecadar impostos em valor suficiente (desde que isso seja sustentável pela competitividade). A segunda é porque não controlamos a forma como esses lucros são utilizados (podem só ser usados para importar bens de luxo como viaturas para os seus donos). Por isso defendo que as taxas devem ser mais ou menos constantes ao longo do tempo e que se use fiscalidade selectiva.

    Quanto às obrigações do Estado considero que este devia fornecer serviços públicos de melhor qualidade com os recursos que já tem ou até com menos.

    Abraço,

     
  • At 12:46 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    A política fiscal deve ser justa, isto é, é um mecanismo que permite ao Estado zelar pela Justiça na distribuição dos rendimentos. Tanto me faz que se chame IRS, IVA ou o que quer que seja. O que me interessa saber é se há justiça entre casados e solteiros, jovens e velhos, patrões e empregados, vendedores e consumidores, trabalhador por conta de outrém e por conta própria, etc. A grande injustiça actual, mas não a única, é a que existe entre os trabalhadores por conta de outrém e os trabalhadores por conta própria. Os primeiros não fogem ao fisco porque não podem. Os segundos fogem (médicos, empresários) quando podem e alguns (advogados principalmente) pagam por estimativa quando é sabido que só os advogados famosos que defendem pedófilos e similares é que fogem ao fisco. Bardamerda para a política fiscal. Nesta situação eu até concordo que seja abolido o IRS por completo e se deixe só o IVA, nem que seja de 50%, sensivelmente o que pagamos no conjunto dos impostos.

     
  • At 10:59 da manhã, Blogger Unknown said…

    TNT,

    Gostei do que escreveste sobre o IVA.
    Na minha opinião um dos grandes problemas é tentar que a fiscalidade faça Segurança Social.
    Normalmente isto saí o tiro pela culatra.
    Por exemplo, vamos imaginar dois contribuintes, um nos 42% de IRS e outro nos 20% de IRS.
    Ambos têm, num dado ano, mil Euros de despesas médicas não reembolsadas e, portanto, ambos abatem este valor à massa tributável. Portanto ambos abateram mil Euros aos seus rendimentos.
    Logo, o primeiro contribuinte poupa 420 Euros nos impostos que paga enquanto o segundo poupa só 200 Euros.
    Em resumo, o primeiro passou a ter 580 Euros de despesas médicas não reembolsadas e o segundo, o que tem menos recursos tem 800 Euros de despesas não reembolsadas. É isto justo? Duvido.
    Um imposto progressivo só é justo se não admitir abatimentos à matéria tributável pois estes abatimentos representam uma progressividade ao contrário. Quanto mais rico menos se paga...
    Por outro lado o sistema fiscal deveria ser simples, quanto mais simples, mais facilmente se controla.
    A ideia de abolir todos os impostos excepto o IVA (aumentando-o) claro parece-me muito positiva.
    Para já nem iria fazer subir muito os preços, se é que os não baixavam, pois as empresas poupariam nos outros impostos que deixavam de pagar e o cidadão comum veria o seu ordenado subir.
    Todo o sistema se tornaria muito menos burocrático e fácil de controlar.
    Claro que uma medida deste tipo tinha de ser acompanhada por um reforço da segurança a proporcionar aqueles que têm menores recursos, principalmente pessoas idosas ou miúdos em idade escolar.

     
  • At 12:54 da manhã, Blogger Ricardo said…

    TNT e Raio,

    Duvido muito que a subida do IVA em detrimento dos outros impostos fosse positiva para a justiça social e para a competitividade dos nossos produtos. Apesar de concordar com a injustiça inerente da aplicação de alguns impostos directos não me parece que esse seja o caminho. Só seria boa para evitar evasão fiscal.

    Abraço,

     

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