557. Pontos de Vista
Há um ponto de vista defendido em vários blogues de que o Estado só está com problemas porque o sector privado encontrou formas de não contribuir para o bem comum através dos impostos. E concluem que não devemos afectar os “direitos que chamam de adquiridos” mas sim que devemos intensificar o combate à evasão e aos paraísos fiscais.
Eu defendo que devemos obrigar o sector privado a contribuir mas ninguém vai conseguir convencer-me que os “direitos que chamam de adquiridos” devem manter-se tal como estão, independentemente do sucesso ao combate à evasão fiscal (ou da inversão do modelo de Globalização actual)! O problema da diminuição das receitas públicas é uma oportunidade de ouro para corrigir determinadas injustiças estruturais da nossa economia.
Estou farto de assistir a várias corporações/ classes profissionais defenderem o indefensável. Vejam as ligações que deixei de exemplo no post anterior (do blogue Câmara Corporativa) como o regime de reforma dos militares, os direitos de saúde aos (inúmeros) familiares dos polícias e o regime de isenção fiscal do subsídio de compensação aos juízes.
Quanto ao problema da diminuição das receitas fiscais só temos um caminho: apostar em nós, nos recursos humanos e tecnologia, de forma a inverter a tendência da fuga do investimento. É necessário, simultanemamente, diminuir a burocracia na criação de empresas, acelerar a atribuição de licenças e simplificar o processo ligado às exportações (quem leu no Público de ontem o estudo do Banco Mundial - Doing Business - consegue perceber bem que estamos envoltos numa teia de burocracia). E, claro, reforçar o combate à fuga e à evasão fiscal, a ilegal e a legal, sem tréguas!
4 Comments:
At 3:22 da tarde, Anónimo said…
Isto só pode ter sido ditado pela ingenuidade.
Ivan, o terrível.
At 9:30 da tarde, Ricardo said…
Ivan,
Não sei se te referias ao que eu defendo como ingénuo!
De qualquer forma é o que eu defendo! Não vale a pena pensar que vai ser Portugal a mudar o mundo e temos que encontrar formas realistas de combate á fuga dos capitais e do pagamento de impostos. Simultaneamente o esforço de contenção das regalias tem que continuar a ser feito, pelo menos naquelas que são claramente desadequadas a um Estado justo.
Abraço,
At 10:41 da tarde, Anónimo said…
Ricardo:
A instabilidade institucional é um factor negativo para investimento, como bem sabes. Os batedores das grandes empresas preocupam-se com o clima político e estabilidade institucional.
Tens razão, dever-nos-iamos bater por um Estado justo e, por isso, insurgir-nos contra a corrupção e o compadrio. A existência de certos privilègios está relacionada, justamente, como um travão a maiores níveis de corrupção. Contudo, a nível do desempenho de cargos políticos, aqueles (níveis de corrupção e compadrio) são um atentado à inteligência de quem trabalha para sustentar tantos criminosos de "colarinho branco".
A tentativa de desmoralizar grupos profissionais que devem deter uma certa autoridade tem objectivos muito obscuros e tenebrosos. Assim, não vamos lá...
Abraço.
Ivan
At 11:50 da tarde, Ricardo said…
Ivan,
Não podemos subjugar a tentativa de criação de uma sociedade mais justa à estabilidade institucional. Eu não quero que haja uma revolução neste país para que todos fiquem mais pobres ou mais corruptos mas não podemos continuar com esta vertiginosa paralisia enquanto caminhamos para o abismo. Não é desejável ter o Estado tal como está. Não há capacidade para manter tanta burocracia, tantos funcionários excedentários e tantas regalias no sector público.
Vamos aos factos:
- Segundo um estudo do Banco Mundial o nosso país é uma verdadeira rede de burocracias inúteis por parte do sector público. É difícil abrir uma empresa (em média 11 passos e 54 dias), o dobro das horas gastas a pagar impostos do que a média e com menor capacidade de cobrança, 6 documentos e 18 dias para poder despachar produtos para exportação e por aí fora. Por mais voltas que se dê é necessário combater a burocracia e os funcionários excedentários que esta cria ou manter os funcionários e proporcionar melhores serviços públicos;
- As famílias dos servidores da PSP e da GNR são mais numerosas do que as da generalidade dos funcionários públicos em mais do dobro. Há um verdadeiro esquema de aproveitamento das regalias de saúde que o Estado oferece a estes por intermédio dos sub sistemas de saúde completamente abusivo. Não vejo lógica em não tranferir os polícias para o ADSE ou manter o sub sistema com menos regalias para familiares. Não percebo porque devemos manter este sistema;
- os militares apresentam situações de reforma aos 45 anos com imensas regalias perante os funcionários públicos que o fazem na mesma idade. Será justo?
- os juízes auferem dum subsídio de compnsação por não lhes terem agradado as casas mobiladas que o Estado coloca à sua disposição e decidiram (isto é, um juiz decidiu) que este subsídio nem deve estar sujeito a impostos. Se um juíz for casado com uma juíza acumulam na mesma este subsídio que existe desde o antigo regime;
Estes exemplos visam contestar que devemos alimentar isto para desincentivar o compadrio e a corrupção. Prefiro que os salários sejam aumentados que criar esta bola de neve que cresce exponencialmente todos os anos.
Por isso devemos combater a corrupção e o compadrio e estarei na primeira linha da defesa de novas regras, simplificadas para serem facilmente controláveis. É a burocracia que cria corrupção e são regras e regalias pouco transparentes que criam ineficácia. E é isso que temos que combater urgentemente para libertar meios para poder reforçar a qualidade das infra estruturas e equipamentos de apoio a estas mesmas classes profissionais.
Como estamos é que não podemos continuar...
Abraço,
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