712. Presidenciais 2006: O Perfil e o Contexto
Mário Soares fala em "sementeira de ideias", Cavaco Silva em "ideias para Portugal", "...ideias...", "...mais ideias..."! Será que nós - cidadãos - precisamos desse logro? Numas eleições presidenciais, no actual quadro constitucional, a real utilidade de discutir estas pretensas ideias parece-me deveras mínima. Um Presidente da República pode discutir, em abstracto, um rumo para o país. Mas entendamo-nos, qualquer discussão sobre um rumo para qualquer país não pode sair da mais completa banalidade tal é o conjunto de inflexões que terão que ser feitas conforme as circunstâncias forem-se alterando. E terão que ser rumos gerais com chave universal, ou seja, ideias consensuais como que o país tem que defender a sua língua no mundo. Não é que o Presidente não tenha poderes mas estes não são nem legislativos nem executivos e, também por isso, as ideias nunca podem ser específicas. Prometer estar atento à corrupção, ao défice, ao ensino ou ao desemprego não é uma "sementeira de ideias" nem está na categoria de "ideias para Portugal". Está quanto muito para o planeta!
O que realmente está em jogo numa campanha eleitoral para as Presidenciais é o perfil do candidato. Nem mais nem menos! Apelo aos candidatos que não me aborreçam mais com "ideias para Portugal"! E é por isto, e só por isto, que a campanha já vai longa demais! O perfil dos candidatos já era conhecido desde o primeiro momento - à excepção de Manuel Alegre que sempre foi um político discreto - porque candidataram-se dois senadores do país e dois secretários gerais dum partido (e para a carocha não me acusar de discriminação acrescento mais um secretário geral dum partido).
Se o perfil já é conhecido só falta conhecer o contexto. Porque o mesmo perfil pode ser, em diferentes contextos, o mais desejado ou o menos desejado pelos cidadãos. E o contexto também é, desde a primeira hora, conhecido. E então os vários candidatos falam em "...crise...", "...crise de valores...", "...crise nos partidos...", "...crise no emprego...", "...crise se o outro for eleito...", enfim, "...crise..."! O contexto político, económico e social também é, repito, conhecido desde a primeira hora.
Então se os cidadãos já conhecem o perfil e o contexto o que andam os cinco (sim, os seis, carocha) candidatos a fazer há tanto tempo? Andam a falar do perfil e do contexto...
Technorati Tags: Presidenciais, Política, Portugal
4 Comments:
At 10:06 da manhã, Senador said…
O mal é que a as "ideias" de que falas foram logo esgotadas na pré-campanha e quando veio a campanha já nós estávamos cheios até a cima dos discursos repetitivos dos candidatos! Não há nada mais aborrecido por estes dias do que ver o tele jornal ou ler um jornal embora aqui eu reparta as responsabilidades entre os candidatos e a comunicação social.
Devia-se arranjar um novo modelo para as campanhas de modo a que tivessem mais interesse para os cidadãos e os cativasse mais para a discussão de assuntos públicos em vez de resultados e posições nas intenções de voto.
At 4:52 da tarde, armando s. sousa said…
Olá Ricardo,
Para mim tornou-se insuportável ouvir qualquer um dos candidatos.
Não consigo mais ouvir falar de "nada".
Um braço.
At 9:58 da tarde, Joao Serpa said…
Peço desculpa por discordar, mas não é apenas o perfil do candidato que interessa. A ideia que cada um tem do tipo de país que quer ver construído vai, concerteza, reflectir-se no modo como se relaciona com os restantes orgãos de soberania. Isso foi patente nos anos de Cavaco/Soares, em que o segundo, por não ter a mesma visão, ou ideal, de país que o primeiro, acabou por criar situações de atrito e dificuldades por vezes extremas.
Aquilo que vimos durante esta campanha foi, infelizmente, um deserto de ideias. Se da parte de Cavaco não surpreende, da parte de Soares e, principalmente, de Alegre, foi uma completa desilusão.
At 12:13 da manhã, Ricardo said…
João,
De acordo! Mas os "atritos" não nascem das ideias da campanha, nascem das circunstâncias. Há 15 anos Cavaco apoiou Soares na campanha eleitoral e não foi aí que nasceram os tais "atritos"! Como disse e continuo a defender o perfil e o contexto são o mais importante.
Quanto à campanha esta foi uma profunda desilusão. E cada vez menos revejo-me no tipo de opções que os cidadãos deste rectãngulo e ilhas tomam.
Abraço,
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