713. Presidenciais 2006: Notas de Rodapé
- Estou com a estranha sensação que a partir de Domingo a palavra legitimidade vai passar a ser usada com mais frequência pelos comentadores e políticos;
- Parece que Domingo há um jogo de futebol uma vez que leio em muitos blogues um discurso parecido ao do Pinto da Costa ou do Luís Filipe Vieira depois de um clássico em que o vencedor procura humilhar o vencido com uma atitude de soberba. Despreocupem-se pois nenhum candidato vai sair humilhado ou rebaixado. Humilhação é passar a vida sem arriscar. Humilhação é não ter passado. Todos os candidatos têm um passado e uma vida política recheada de vitórias e derrotas e nenhum perdeu o seu papel na história por causa disso. Por isso aqueles que escrevem alarvidades e insultos pessoais mesquinhos lembrem-se que os políticos ganham e perdem, lembrem-se que o que é verdade hoje é mentira amanhã e sobretudo que não são as derrotas e as vitórias dos homens e dos partidos que constroem Portugal. Por isso quando Cavaco Silva perder não sejam alarves (hehe);
- Eu tenho a certeza que o país não necessita de homens providenciais! Até porque quanto maior a crença que é o Presidente que vai passar a gerir as orientações globais do país mais desencantamento vai haver. Sem falar que Portugal não pode dar-se ao luxo de ter mais instabilidade política;
- Um país não se encerra na sua economia. A cultura e a língua, a sociedade e as suas formas de organização, a educação na sua pluralidade, a qualidade de vida e a qualidade dos espaços públicos, a mobilidade e a ecologia, a defesa da democracia e da liberdade são factores que impulsionam os países! Pensar que não há vida para além do défice ou que é a produtividade que automaticamente impulsiona tudo o que é realmente importante numa sociedade é uma falácia. A economia e as finanças públicas são apenas factores a ter em atenção, não nos podemos encerrar neles.
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7 Comments:
At 11:05 da tarde, Eduardo Leal said…
Gostei deste artigo.
De facto parece mesmo que se trata de um jogo de futebol, em que a maioria dos Portugueses apoia este ou aquele candidato por razões que não têm nada a ver com a sua base ideológica.
Os Portugueses funcionam numa base clubística em que votam no clube da sua simpatia, ou, pior ainda, naquele que acham que vai ganhar.
Mas porque importa escolher um Presidente que Presida, realço a sua frase que diz que a política não é só economia. Aliás, desconfio sempre de economistas na política. Na política prefiro políticos, sérios e com ideologias bem claras.
At 11:54 da tarde, Politikus said…
a não ser que a abstenção se mantenha, ainda vamos ter a supresa de uma segunda volta... Oh larilas...
At 1:49 da manhã, Ricardo said…
Eduardo,
O que eu quis dizer com o futebolês é que leio textos duma agressividade pessoal tão grande em relação aos candidatos que é desproporcionada. E as tentativas de humilhação em relação em quem está mal nas sondagens também não tem muita lógica, até porque as pessoas que o fazem também são pessoas que cometem erros e que também já tiveram situações profissionais menos gloriosas. São os mesmos que andaram semanas a usar a palavra senil gratuitamente e fotografias que até fizeram capa em semanários (e outras ainda piores) mas que depois que o seu candidato fez umas expressões desajustadas acharam que, afinal, não era nada importante.
Divergências e simpatias políticas temos todos. Mas a expressão disso não deve ser mesquinha!
Não vejo problemas em ter economistas na política - eu acho que daria um político razoável, hehe - mas temos que, em qualquer profissão, saber ver para além do que fazemos. Não nos podemos encerrar na economia para fazer avançar um país.
Obrigado pela participação!
Abraço,
At 1:52 da manhã, Ricardo said…
Polittikus,
Tenho as minhas sinceras dúvidas mas tenho esperança!
Repito... não me revejo nesta escolha aparente dos meus compatriotas nem no Portugal que estamos a construir.
Abraço,
At 10:24 da manhã, A. Cabral said…
Se a economia enche as paginas dos jornais e domina o debate politico nao e por conta das personalidades dos politicos. Nao e porque os deputados ou os ministros sao economistas.
A economia tornou-se centro por razoes ideologicas. O liberalismo que agora e' partilhado pelo PS e PSD, exige a demoralizacao e desmantelamento do Estado. E' por isso que vem a obcessao do defice, e da economia, que e inevitavelmente ume economia liberal de mercado desregulado.
A Presidencia do Cavaco seria uma celebracao da vitoria do liberalismo. Ele e o pai simbolico do liberalismo portugues (ainda que na realidade tenha sido tudo menos liberal, foi paternalista e intervencionista).
At 2:30 da tarde, Ricardo said…
A. Cabral,
Quanto ao liberalismo acho que é um bom tema de discussão mas não para uma caixa de comentários. Eu sou defensor de mercados liberais com um Estado forte. Parece um contra senso? Talvez! Mas a globalização está, mais uma vez, a provar a necessidade de fortes mecanismos reguladores na economia.
Quanto a Cavaco Silva não há ideologia que não pisque o olho e a área liberal não é excepção. Pelo menos tem o cuidado de não dizer "O Povo é quem mais ordena", cantar "Grândola Vila Morena" e defender o liberalismo ao mesmo tempo. Nem eu sei bem que ideologia tem Cavaco Silva e ele esteve 10 anos no Governo.
Se é o pai é mesmo simbólico. Pai, pai só de uma coisa (Miguel Cadilhe dixit).
Abraço,
At 3:11 da tarde, A. Cabral said…
A discussao do liberalismo pode nao caber numa caixa de comentarios. Nao queria aqui ensaiar grande analise so notar que as obcessoes economicas seguem a par o ascenso neoliberal na politica portuguesa. A tecnocracia economica no contexto portugues so tem servido para legitimar uma ideologia politica.
O passado, o que foi, interessa pouco, mais relevante e' a interpretacao que temos deste. No grande panteao liberal, do PPD-PSD, quem pontifica e o martir Sa Carneiro e o grande lider Cavaco Silva. Nao se pede verdade (ou rigor) historico, as estatuas nao sao erigidas pelos estatuados mas por quem os segue.
Abraco...
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