714. Presidenciais 2006: A Recta Final
- Manuel Alegre tem empreendido uma campanha original porque teve que montar, em pouco tempo, uma enorme logística. Sem as "máquinas partidárias" tem confiado na sua longa experiência em campanhas - e de quem o acompanha - para criar um outra "máquina não partidária". Mas as regras são as mesmas. E isso é a grande desilusão da sua candidatura. Ora são as "arruadas", ora são os comícios, ora são as palavras de ordem! Acompanhei parte do comício que Manuel Alegre fez no Rivoli no Porto e, apesar de haver mais discrição porque também a adesão é menor, nada muda em relação às regras duma campanha organizada por uma "máquina partidária". Gostei de parte do conteúdo dos discursos no Rivoli mas isso já tinha gostado no Coliseu do Porto com o Mário Soares. A sua visita pela nossa história - e os seus mortos - foi a única novidade desta campanha. E fazê-lo, por exemplo, a Álvaro Cunhal foi de um tremendo mau gosto em campanha eleitoral. Podia fazê-lo noutro período mas neste em concreto - sabendo as firmes posições de Cunhal em apoiar os "seus" candidatos - não foi um momento alto da sua destemida campanha. O mesmo acontece com Sousa Franco entrando num diálogo com a sua viúva que em nada enobrece a campanha, por mais que concorde que a história não pertence a ninguém. Muito pouco para quem pretendia fazer um inovador exercício de cidadania;
- Na recta final da campanha os candidatos afinam estratégias. Manuel Alegre, por exemplo, fez mais uma inflexão desagradável que já lhe tinha custado votos em Dezembro. Em vez de comentar vou transcrever: "uma conhecida empresa de sondagens pode vir a fazer uma vez mais o milagre das rosas", [podem acontecer] "coisas mirabolantes", [o PS usará] "todos os ministros e todos os aparelhos partidários", "sondagens encomendadas". Não seria mais útil que tanto Manuel Alegre como Mário Soares preocupassem-se menos em quem fica atrás de quem e sim em quem fica à frente de Cavaco?
- Já Mário Soares parece, que no fim da campanha, já não tem a obsessão de atacar Cavaco Silva. Ele, que durante semanas, alimentou ainda mais um mito (já que por detrás do mito há muito, mas muito, pouco discurso com conteúdo em Cavaco Silva) agora aparece, na recta final, sereno. Eu só pergunto porque não fez isso mais cedo e porque não deixou a "desmontagem" do mito sebastiânico para as outras candidaturas e os convidados nos comícios e, porventura, para os blogues? Parece que, só agora, acertou no tom adequado para a campanha de quem devia ter, desde o primeiro minuto, aproveitado as suas mais valias pessoais para ser o centro da campanha. Fala agora em "paz social", "serenidade", "tranquilidade", "alegria", "confiança", "nova cultura empresarial, porque o modelo baseado na mão-de-obra barata está esgotado", quando já o devia ter feito desde a primeira hora. "Não assobiem, porque eu não disse o nome, nem recordo já o nome dele" [referindo-se indirectamente ao seu adversário];
- Não posso deixar de sublinhar que vou sentir saudades do estilo de Mário Soares em campanha. Como ele próprio afirma faz "campanha sem rede" e é impressionante a sua coragem física e intelectual para enfrentar multidões desfavoráveis, ouvir elogios e insultos, esgrimir argumentos com todos, sempre com combatitividade e boa disposição. É o que faz a diferença em campanhas em que os candidatos comportam-se como máquinas ou "vendem-se"como produtos de cosmética. Onde está a autenticidade quando as campanhas não são de proximidade mas sim num pelotão encoberto por militantes dos partidos ou em cima de um palco?
- Quanto a Cavaco Silva não tenho nada a acrescentar. Não que não tenha feito campanha nestes dias mas porque continua, obediente e calculista, a caminhar para a recta final a repetir as mesmas frases com nuances estudadas, com a rigidez habitual, sem riscos nem brilho. O importante nesta fase é passar a imagem de "vencedor", rodeado por um número significativo de pessoas. E, verdade seja dita, Cavaco Silva é mesmo um político profissional. Realmente nunca se engana e raramente tem dúvidas...
6 Comments:
At 2:48 da tarde, Politikus said…
Repito o que disse ontem , com a oscilação da abstenção,áinda vamos para a uma segunda volta entre Cavaco E alegre...Basta 5% dos indecisos votarem em qualquer candidato, menos no Cavaco.
At 9:45 da tarde, Bruno Gouveia Gonçalves said…
Bem, terminas com um elogio a Cavaco Silva... Nada mau, de quem será a influência? ;)
Ab
At 9:51 da tarde, Ricardo said…
Bruno,
Se achas que termino com um elogio a Cavaco Silva então é melhor nem reveres os textos em que critiquei ;)!
Abraço,
At 10:20 da tarde, Fernando said…
O campeonato da primeira divisão aqui comentado. Espero pelo da segunda divisão. Tadinhos de nós os pequenos. Vai haver segunda volta, em minha opinião e Cavaco vai ganhar à segunda. Infelizmente!
At 10:31 da tarde, Ricardo said…
Fernando,
Aceito a crítica apesar de não ter obrigações de serviço público!
Nem sempre falo sequer dos três candidatos que ainda têm hipótese!
Abraço,
At 12:04 da manhã, Anónimo said…
01:26 2006-01-11ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS EM PORTUGALFazendo uma volta pelas ruas de Lisboa, se vê confrontado com vários nomes nos cartazes: Mário, Francisco, Jerónimo, António, Manuel...e Cavaco. Se quatro candidatos se apresentam com frontalidade, utilizando seu nome, por quê é que o outro tenta se esconder atrás de um sobrenome supostamente composto por duas palavras, quando seu nome de família é Silva e o nome dado - Aníbal? De facto, o nome Cavaco Silva é nada mais do que um mito elaborada e inteligentemente construído ao longo destes últimos dez anos, quando esse político (que finge não o ser) se viu fora do poder ao qual ele se tinha habituado. Qual será esse mito e qual a verdade atrás do nome Cavaco Silva? Primeiro de tudo, há que admitir que o candidato Aníbal Silva é admiravelmente melhor preparado para a presidência comparado com aquela triste figura de 1995, derrotado por Jorge Sampaio, que demorou horas a sair do seu gabinete e cumprimentar o vencedor, tal como na altura da primeira guerra do Golfo, quando se refugiu num bunker nas entranhas da terra debaixo de Lisboa, pronto para o Armageddon. Só faltava perguntar ao Saddam se era zangado com Portugal também. Aníbal Silva com certeza já saberá quantos cânticos têm os Lusíadas, já saberá comer em público, já saberá começar com os talheres de fora e acabar a refeição com os de dentro. Esperemos que saiba já dizer algo quando vai a uma reunião, pois ser presidente tem tudo a ver com isso e esperemos que saiba desenhar a bandeira de Portugal, seu país. A campanha dos adversários de Aníbal Silva tem sido atacada por alguns porque passam algum tempo a atacar o primeiro. Não é verdade. Têm estado a defender seu próprio espaço (Mário Soares e Manuel Alegre dentro do espaço PS, Jerónimo de Sousa – PCP/CDU, Francisco Louçã – Bloco de Esquerda e António Garcia Pereira – Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses) mas também tiveram de dedicar algum tempo ao Aníbal Silva porque o próprio, com medo de ser apanhado comas calças na mão, se recusa a falar. Sabe que quando abre a boca, estraga tudo. É o caso de uma absurda candidatura de um homem que tem medo de falar e espera passar o teste por não fazer erros. Por isso evidentemente que alguém tem de falar de Aníbal Silva para que o eleitorado saiba quem é e o que representa. Para saber isso, basta falar com qualquer pessoa com memória activa que tenha tido a sua vida atingida pela mancha de Cavaquismo entre 1985 e 1995. Aníbal Silva era então Primeiro Ministro, depois de ter sido antes Ministro das Finanças (mas teima em dizer que não é político, esse que anda na vida política em Portugal há quase trinta anos, então é o quê?) e durante esse período deu umas provas claras sobre quem é. É um mito que Aníbal Silva é um economista competente. É medíocre. Foi primeiro ministro numa altura em que o dinheiro jorrava pelas fronteiras dentro e na época imediatamente após a adesão de Portugal à Comunidade Europeia. Preparou o país para esse desafio? Não, não foi capaz. Os males económicos de Portugal têm seu raiz nos anos em que Aníbal Silva dirigia a economia portuguesa. É um mito que Aníbal Silva é bom dirigente. Tão bom foi, que teve de fugir do seu partido no final do seu mandato. O PSD era então um caos, era o partido mais odiado em Portugal e deixou-o em queda livre. É um mito que Aníbal Silva sabe dirigir equipas e que está a vontade entre as pessoas. Até a imprensa estrangeira na altura em que era primeiro ministro o descrevia como “ríspido” e “espinhoso”, o seu grupo no parlamento europeu foi descrito como uma cambada de “mafiosos” por um MEP inglês e ele era conhecido como aquele que entrava mudo nas reuniões internacionais e saia calado. Em fim, o candidato Cavaco Silva é um mito. Nem usa o seu próprio nome, nem é competente como economista, não sabe dirigir instituições, politicamente e um falhado, anda na política há trinta anos e depois diz que não é político. Afinal, o candidato Aníbal Silva é um homem qualquer que pensa que vai brincar com os interesses do país como andou a brincar durante dez anos duma vergonhosa legado em que levou o tecido social de Portugal à beira da ruptura e criou todas as bases durante a década após a adesão de Portugal à CE para deixar Portugal no lamentável estado em que está. E mais uma coisa. Quem começou a mania dos primeiros ministros fugirem do seu lugar foi ele. O candidato Cavaco Silva não tem quaisquer qualidades pessoais, nem o perfil, para ser bom presidente de Portugal, como se verá muito cedo se porventura for eleito. Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru
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