774. A OPA da Sonae à PT - Segundo Episódio
Conforme os contornos da Oferta Pública de Aquisição vão sendo revelados mais dados há para fazer cenários mais credíveis!
Positivo
- Telefonica Espanhola fora da corrida: É sempre positivo, do meu ponto de vista, que empresas que se querem concorrentes não adquiram capital uma da outra. Olho para esta notícia com optimismo não por causa da origem do capital, ou seja, não é por ser capital estrangeiro que acho positivo a Telefonica estar fora da corrida pelo controlo da PT mas sim por estar no mesmo sector de actividade;
Assim assim
- Banco Espírito Santo prepara OPA para concorrer com a Sonae: Eu já referi que o preço oferecido por acção da PT pela Sonae parece-me insuficiente. Por isso para os investidores é bom que apareça um concorrente mas, tenho que confessar, que a parceria BES/Patrick Monteiro de Barros (e Ilídio Pinho) não me deixa particularmente optimista. Para já há o risco duma dispersão do capital da PT e que não fique uma liderança clara no grupo e, por outro, confesso que olho com desconfiança para as decisões de investimento de Patrick Monteiro de Barros (central nuclear, refinaria de Sines). Este homem, não por ter motivos para duvidar da sua seriedade, deixa-me com uma pulga atrás da orelha porque fico com a sensação que não sabe bem onde gastar o dinheiro que possui;
Negativo
- Anúncio da intenção de venda da Vivo Brasil por parte da Sonae: Esta notícia tem uma dupla carga negativa, ou seja, por um lado a expansão da PT no estrangeiro fica condicionada e, por outro, cheira-me que este negócio vai servir, indirectamente, para financiar esta operação. Adicionalmente a Telefonica - que já manifestou a intenção de comprar a Vivo - ganha, assim, o mercado sul americano. Andamos anos a fazer um tratado de tordesilhas na América do Sul com a Telefonica e a cruzar participações para acabarmos assim, ou seja, sem nada;
- Anúncio da intenção de fusão da TMN com a Optimus: Escusado será dizer que fundir a primeira e a terceira operadora do mercado móvel (63 por cento) não é uma boa notícia para os utilizadores de telemóveis;
- Manutenção de alguns direitos do Estado apesar de revistos: Eu já defendi que ou o Estado comporta-se como um investidor privado como qualquer outro ou, no limite, nacionaliza as empresas se quer realmente mandar nas empresas. O que não tem lógica é ter direitos especiais sobre empresas com 500 acções. É uma enorme deturpação do que deve ser uma empresa cotada em bolsa. Os direitos especiais que o Estado tem e deve utilizar é a regulação que entende fazer a nível nacional em qualquer sector de actividade e não o que faz actualmente, ou seja, obrigar as empresas onde tem os tais direitos especiais a investirem em projectos públicos de retorno duvidoso e a nomearem administradores.
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15 Comments:
At 2:37 da tarde, Politikus said…
Não a telefónica espanhola não está fora da corrida, assim como acabou de entrar o BES... ainda a procissão vai no adro.
At 3:27 da tarde, Fernando said…
Viva,
Não me parece que a OPA seja boa. Não é com a compra pela Sonae ou pela Telefónica, Bes, Patriks que vai melhorar a qualidade de serviço prestado ou diminuir os preços no consumidor, pelo contrário. Com esta concentração das telecomunicações a concorrência na rede fixa deixa de existir (quase não existe), na rede móvel passamos a ter um duopólio (tendem a haver concertações mais fácilmente)a separação do cabo do fixo é um processo inevitável com OPA ou sem OPA. Com menos concorrência, perdem os consumidores, perde o investimento em tecnologia,perde-de em formação técnica, em I&D ( será que se irá manter a PT Inovação uma das empresas do grupo com melhores resultados, basta a ver o lançamento dos pré-pagos - saíu da forja da PTI). Perdem os trabalhadores (desemprego [chocou-me a insensibilidade do Ricardo sobre isto], provável perda da sistema de saúde e fundo de pensões)perde o consumidor (menos concorrência, pior serviços)ganha quem então? Os accionistas que deixam de ser uns e passam a ser outros. A PT tem pouca eficácia. Deixou de ter estratégia. A falta de liderança tem a ver com as indefinições estratégicas ou vice versa, não me parece que seja pela desconcentração accionista. O que precisa é de um rumo e estabilizar. Por isso acho mesmo importante que o Estado não perca a Golgen Share e o controlo da empresa e das alianças estratégicas,( o Belmiro diz que não vai mexer nessas acções doirados, porque será? Confia no Estado-estratega). O Ricardo não concorda diz que ou estado nacionaliza ou entrega. Eu acho que está bem assim. A nacionalização parece-me impraticável e o Estado não deve entregar este sector estratégico de mão beijada.
At 4:51 da tarde, Ricardo said…
Fernando,
1. Não sei se a OPA é boa. É muito cedo para julgar! Os novos dados não são muito positivos mas continuo a defender que a empresa precisa de accionistas estáveis e maioritários;
2. Na rede móvel ainda não há certezas. Se a Sonae pretende uma fusão entre a Optimus e a TMN vai ter que ter a aprovação da Autoridade da Concorrência. Se não a obtiver pode ou desistir da OPA ou ser obrigada a alienar uma das companhias, ou a TMN ou a Optimus;
3. Não é certo que haja menos investimento em I&D. Como bem sabes este sector está cada vez mais susceptível a concorrência global conforme as tecnologias deixam de estar presas às fronteiras de um país. O investimento em I&D vai continuar quase de certeza podendo é haver fusões entre departamentos da Sonae e da PT, caso a operação seja um sucesso (mas ainda há muitos se's porque o preço parece-me baixo e ainda faltam muitas licenças e autorizações);
4. "Perdem os trabalhadores (desemprego [chocou-me a insensibilidade do Ricardo sobre isto]"! Fernando, sempre trataste-me por tu e, por isso, não precisas de fazer um comentário na caixa a falar na terceira pessoa do singular. Eu já sabia que a minha opinião ia parecer insensível mas tens que compreender que não tem nada a ver com insensibilidade mas sim com visões diferentes do emprego. Sei que tens, como a minha mãe também tem, ligações fortes com quem lá trabalha. Eu compreendo isso e percebo o teu choque. Mas, repito, não tem nada a ver com insensibilidade mas com a convicção que é possível criar mais e melhor emprego se as empresas optarem por terem uma gestão de recursos humanos eficaz. Por não se querer mexer em postos de trabalho em empresas com produtividade abaixo do seu potencial é que há tantas falências, pouca produtividade e baixos salários. Compreendo a tua posição e espero que compreendas a minha ou pelo menos que a aceitas não como um resultado de insensibilidade;
5. "A PT tem pouca eficácia. Deixou de ter estratégia."! De acordo! Pessoalmente acho que precisa duma liderança clara mas há vários modelos possíveis;
6. "Por isso acho mesmo importante que o Estado não perca a Golgen Share"! Acho que as golden shares só têm prejudicado a PT. Se o Estado queria um controlo estratégico da empresa devia ter ficado com % suficiente do capital para isso. Mas não, foi guloso e resolveu vender tudo mas manter o controlo. Isso não é nem justo para os investidores nem saudável para a empresa. Temos administrações por nomeação política e a instrução indirecta aos administradores que queiram ser nomeados que têm que apoiar as aventuras do Governo na área, por exemplo, dos transportes. Isto é ridículo e tem que acabar!
Só espero, e isto é uma sincera preocupação, que o Fundo de Pensões da PT tenha futuro! Como sabes este encontra-se em risco sério de ruptura. Cada vez mais acho que a Segurança Social não pode sair das mãos do Estado tendo este é que a administrar bem melhor.
Abraço,
At 6:13 da tarde, A. Cabral said…
Ricardo,
Falas como um estratega da PT! Lamentas as perdas de possiblidades de expansao que se esvanecem no Brasil com a venda da Vivo, consideras a eficiencia na gestao dos recursos humanos...
Onde discordamos e' que acho que a PT com a OPA vai deixar de existir. Se ficar nas maos da SONAE sera somente SONAE. Parte seguramente sera vendida com brevidade, outra servira para consolidar o mercado da empresa-mae. E o principio nao e' a optima productividade da economia portuguesa ou o seu investimento alem fronteiras, e' tao somente as margens de lucro que em sectores de actividade que sao (em termos classicos) "monopolios naturais" crescem a par com o espremer do consumidor. Sectores destes pedem mais e nao menos intervencao estatal.
P.S. A telefonia espanhola nao consideras uma boa opcao porque ja esta activa no sector, mas a SONAE como indicas tb esta, Clix, Optimus, et al...
Abraco
At 7:37 da tarde, Fernando said…
Ricardo, deixa-e dizer mais umas sobre os dois post's:
1- A gestão dos recursos humanos, da PT no que se refere à adequação dos efectivos, posso considerar como tendo sido muito boa. Repara que desde que a empresa se privatizou, em 91/92, salvo erro, a empresa reduziu os seus efectivos em mais de 50% na rede fixa. À custa de programas específicos de antecipar saídas para a reforma ou através de generosas rescisões. Houveram dois ou três DL, o último o 127/97 terminou em 2005.
2- Práticamente a PT ficou "limpa". Alguns dos actuais AD (incluindo o actual presidente da TMN e mais uns 3 ou 4 entre os quais fala-se o próprio Presidente Horta e Costa. A concentração é que poderá criar novos focos de desemprego.
2- Os novos operadores durante muito tempo "encostaram-se" ao proteccionismo do Estado e em vez de investirem em infraestruturas, estavam à espera que a anacom lhes facilitasse a vida. Claro mais de 80 % deles não aguentaram a pedalada, restando a ONI, a Novis e mais um outro na rede fixa. Mas curiosamente, com toda a desorganização, confusões, trapalhadas, erros estratégicas, preços mais altos que os concorrentes a empresa andava rolava à força da inércia. Ainda hoje passados estes anos, a PT é lider em todos os segmentos do negócio. Inacreditável,só no móvel a Vodafone se aproxima. É claro que a posição dominante e detentor do cabo e conbre ajudava, mas foram dadas tantas facilidades aos novos operadores que até custa acreditar, tanta ineficiência dos "outros".
3- Daí o assalto à PT. Não deixo de enaltecer o talento de Belmiro para o negócio. Vê-se que é alguém com visão estratégica e com capacidade liderante.
4 - A concorrência apesar da "liderança clara" não conseguiu sair da mediania. Por isso não creio que seja esse "o factor" que vá melhorar o desempenho. O fundamental do negócio está na sua própria natureza. É um sector altamente rentável e por isso fortemnete apetecível.
5 - A perda da Golden Share é por isso para mim o factor decisivo. E pelo que parece não é impeditivo do negócio (o que acho estranho).
6 - A Telefónica nunca estará de fora, creio eu. E parece-me até desejável desde que não detenha o controle. Uma PT forte e uma Telefónica parceira no negócio, parece-me ser uma boa aposta estratégica para penetrar em força noutros mercados.
7 - O Fundo de pensões da PT ao que se sabe e ao contrário do que acontece ou aconteceu com outros (banca, ctt) já está devidamente aprovisionado. Os trabalhadores que entraram no quadro a partir de 93 já estão na SS o que também acho bem.
8 - Neste momento é de facto a questão dos "despedimentos" que mais preocupa. De resto há para aí é muita especulação bolsista. Quantos já não enriqueceram com as última mexidas na bolsa (ontem chegou aos 10 euros). Espero ganhar também um pouquito com as minhas 100. ;)
At 8:12 da tarde, Paulo Jorge Ribeiro said…
Parece-me é que o BES é que não está na corrida nem tenciona fazê-lo.
At 9:34 da tarde, Ricardo said…
A. Cabral,
Não tenho acções da PT. Essa não é a questão. Por exemplo a expansão no Brasil é uma garantia de melhores serviços em Portugal pois a I&D, a experiência adquirida, as economias de escala, entre outras vantagens, são benéficas para os utilizadores portugueses.
"Onde discordamos e' que acho que a PT com a OPA vai deixar de existir."
Realmente não concordo. Suspeito que, a haver concretização da OPA (que com os dados que tenho para já não me parece um negócio garantido), vai haver alienação de alguns negócios da PT mas presumo que nem tudo seja sujeito a uma fusão. As marcas e certas estruturas desvalorizam se forem objecto duma fusão. Mas mesmo que, no limite, a PT deixe de existir quem garante que, em 10 anos, a actual Sonae também não está dividida em 3 ou 4 empresas?
Eu defendo a intervenção estatal mas num mercado liberal. No fundo defendo uma regulação forte por parte do Estado. Não te esqueças que o Estado tem favorecido esses "monopólios" (que já não são naturais como referes) que tanto criticamos.
Abraço,
At 9:53 da tarde, Ricardo said…
Fernando,
1. Se os recursos humanos da PT estão na dimensão óptima então os trabalhadores não têm que se preocupar a menos que hajam fusões ao nível de empresas ou departamentos. O problema das fusões é a concentração mas cada mercado tem um número de concorrentes que pode ser muito variável. Cabe à Autoridade da Concorrência pronunciar-se. Quando as fusões melhoram a produtividade duma empresa os ganhos indirectos no emprego são positivos (por exemplo se o custo com as telecomunicações baixar nas empresas estas podem contratar mais funcionários). Mas por isso acho que as fusões t~em que ser muito bem estudadas pela Anacom e pela AC para garantir que não há uma subida e/ou perda de qualidade dos preços aos consumidores. Não te esqueças que, actualmente, temos preços nas telecomunicações dos mais elevados da Europa;
2. "Os novos operadores durante muito tempo "encostaram-se" ao proteccionismo do Estado e em vez de investirem em infraestruturas, estavam à espera que a anacom lhes facilitasse a vida." - Isto é verdade! Mas se as telecomunicações já não são, como já foram, monopólios naturais a rede fixa continua a ter obstáculos naturais à concorrência e, por isso, dificulta investimentos em infraestruturas;
3. Concordo;
4. Vou acreditar nas tuas palavras de que a PT é bem gerida ao nível da gestão corrente apesar de ambos concordarmos que tem faltado visão estratégica;
5. Eu sou contra a Golden Share pelas razões que já enunciei anteriormente. Por exemplo, quanto é que vai a PT investir no TGV e na OTA? Se o Estado quer controlo de uma das empresas tem que investir como qualquer investidor. O papel do Estado, no meu entendimento, deve ser de forte regulador do mercado e no mercado deve ser apenas mais um;
6. Esta cooperação com a Telefónica é, para mim, uma das razões porque já estou a não gostar desta OPA. Não acho positivo perder o mercado brasileiro para que uma empresa possa financiar esta operação;
7. Eu na Segurança Social defendo, como tu, um controlo exclusivo por parte do Estado. Com mais exigência de gestão, claro;
8. A especulação bolsista ainda vai começar. Até agora a PT só atingiu o seu preço alvo previsto há meses. A partir de agora é que vai haver especulação. Acho que ou a Sonae revê em alta o seu preço de compra das acções da PT ou dificilmente vai conseguir fechar o negócio. Já agora boa sorte - isto é mesmo sorte - com as tuas acções.
Abraço,
At 9:55 da tarde, Ricardo said…
Paulo,
O BES, segundo dá a entender, ainda deve estar na fase de analisar a capacidade de financiamento para uma operação desta envergadura.
Abraço,
At 11:50 da tarde, psac74 said…
Caro Ricardo,
Vamos ver em que é que tudo isto vai dar!
Concordo com o poittikus..."ainda a procissão vai no adro".
PS - Parabéns pelo blog (bastante interessante e enriquecedor).
PS2 - Com que então adepto das opções do Co? Caiu-lhe bem o "Paciência" oferecido no tasco do nosso amigo Pedro Oliveira?
Um abraço
At 12:51 da manhã, Ricardo said…
Psac74,
Obrigado pela visita!
Quanto ao futebol entramos em mais um terreno pantanoso. Co Adrianse tem muitos defeitos e limitações como treinador - uma delas é a sua leitura de jogo - mas, no geral, tem sido um treinador que eu acho indicado para esta fase de reconstrução da equipa! Estávamos a precisar de mais disciplina e de travar a sangria de jogadores novos e este treinador parece-me adequado.
O jogo com o Braga, por exemplo, foi um excelente jogo em que não tivemos sorte. É óbvio que podia ter entrado o Cech em vez do Bruno Alves mas agora é fácil criticar. E irrita-me que os adeptos do FCP deixem-se influenciar pelas claques que bem sabemos como são dirigidas.
Abraço,
At 1:44 da tarde, Unknown said…
Caro Ricardo,
Esta OPA tem uma vantagem, correr com a Telefonica e uma desvantagem, largar o Brasil.
Mas creio que largar o Brasil era inevitável pois a Vivo fundindo os interesses da PT e da Telefonica no Brasil foi ruinoso para a PT e, pior, a PT soube-o mas não o conseguiu evitar devido ao peso que a Telefonica tem na PT.
Tinha um amigo que tinha um cargo importante no PT do Brasil e que se veio embora quando se formou a Vivo pois disse-me que não estava para aturar os espanhois. É que estes, segundo me disse, tinham já tomado conta de tudo.
E aqui é que está o principal problema. A Telefonica queria a PT e era uma questão de tempo até o conseguir. Bruxelas, claro, em nome da concorrência e de outras alarvidades do género iría facilitar o trabalho à Telefonica.
Quanto á Telefonica estar fora da corrida, não sei. Toda a gente se esquece de Bruxelas e do Señor Duron Barroso.
Acho muito provável que Bruxelas coloque problemas a esta OPA e que, no fim, a PT caía é nas mãos da Telefonica.
Um abraço
At 1:59 da tarde, Fernando said…
Ricardo, não venho falar da OPA. É apenas para te dizer que te incluí numa treta de uma corrente. Se puderes ou quiseres responde.
At 2:25 da tarde, Ricardo said…
Raio,
Como sabes também não gosto muito destas parcerias com congéneres de outros países - ainda mais vizinhos - porque, no limite, só servem para atenuar a saudável concorrência.
Sobre o Brasil confesso que é com desilusão que verifico as intenções da Sonae e o estado actual do nosso investimento no Brasil.
A Telefónica, neste momento, está a sorrir com esta operação. Ou avança para a Pt ou fica com o VIvo.
Abraço,
At 2:29 da tarde, Ricardo said…
Fernando,
Obrigado pelo convite. Vou tentar responder no fim de semana. Já o caro Velho da Montanha desafiou-me para essa mesma corrente. Estou a ver que a curiosidade sobre as minhas manias está em alta.
Abraço,
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