Filho do 25 de Abril

A montanha pariu um rato - A coerência colocada à prova - A execução de Saddam Hussein - O Nosso Fado - "Dois perigos ameaçam incessantemente o mundo: a desordem e a ordem" Paul Valéry, "Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa, salvar a humanidade", Almada Negreiros - "A mim já não me resta a menor esperança... tudo se move ao compasso do que encerra a pança...", Frida Kahlo

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

771. OPA da Sonae sobre a PT




A Portugal Telecom, a empresa mais transaccionada na Euronext Lisboa, vai ser alvo de uma Operação Pública de Aquisição (OPA) por parte da Sonae. A Sonae vai oferecer 9,5 euros por cada acção da Portugal Telecom e esta é uma operação conjunta entre a Sonae SGPS e Sonaecom, tendo como intermediário financeiro o Banco Santander.

Esta OPA vai incidir sobre a totalidade das acções da PT e, para além do preço nominal de 9,5 euros, comporta uma oferta de cinco mil euros por cada obrigação convertível. Se tivermos em atenção que a cotação da PT terminou hoje a valer 8,18 euros este valor representa uma valorização de 16,1 por cento (o que pode não ser um preço muito ambicioso uma vez que o potencial de crescimento da cotação da PT pode ser maior).

Se olharmos para o actual panorama accionista da empresa nota-se que as suas acções estão bastante dispersas o que poderá facilitar o sucesso da operação uma vez que a Sonae comunicou que esta operação está condicionada à obtenção de 50,01 por cento do capital. Neste momento o principal accionista da PT, espantem-se, é a Telefónica Espanhola com 9,96 por cento (e não sei se pode obter, por lei, muito mais capital), o BES com 8,36 por cento (que também não deverá tentar reforçar a sua posição) e a CGD com 5,14 por cento (também duvido que o Estado entre nesta disputa). É preciso não esquecer que o Estado ainda dispõe da sua "golden share" mas que a possibilidade de ter de abdicar dela é real uma vez que a Comissão Europeia, e bem, já deu indicações para o fim deste tipo de controlo abusivo e distorcido pela parte dos seus Estados membros. Esta realidade accionista coloca a empresa extremamente vulnerável a este tipo de operações e a possibilidade de sucesso desta operação é real!

Um dos calcanhares de Aquiles actuais da PT é o seu fundo de pensões que, segundo li recentemente, foi sendo utilizado para investimentos na América do Sul e a sua viabilidade vai requerer uma enorme contenção financeira. Mas recordo que o Resultado Líquido do Exercício de 2004 foi de 577 milhões de euros, com Resultados Operacionais de 5960 milhões de euros o que a torna uma empresa apetecível.

Há duas considerações a fazer nesta fase: em primeiro lugar este anúncio parece vir confirmar que o desinvestimento do grupo Sonae na rede de supermercados no Brasil trouxe a este grupo capacidade de investimento (aliás este negócio já devia estar a ser planeado desde essa altura) e, em segundo lugar, uma aposta forte num sector em que a Sonae não conseguiu uma quota de mercado significativa na rede fixa mas que pode resultar numa excessiva concentração na rede móvel (Optimus e TMN). Esta diversificação da Sonae (centros comerciais e telecomunicações, sem esquecer o turismo e a distribuição) é positiva na perspectiva do fortalecimento do grupo mas ao nível da rede de telecomunicações móveis pode provocar uma ainda maior concentração do mercado com prejuízo para os utilizadores e aí a Autoridade da Concorrência ainda pode ter uma palavra.

Uma coisa é certa, isto é, esta operação vai agitar vários sectores de actividade em Portugal e olho com agrado, apesar de ter algumas preocupações na área da concorrência e logo dos preços ao consumidor, que haja um grupo nacional com capacidade financeira para colocar a PT num rumo mais exigente uma vez que as constantes intervenções do Estado e as parcerias com uma empresa que devia ser sua concorrente não têm sido particularmente felizes. Por outro lado é quase certo que esta operação, a ter sucesso, vai provocar um redimensionamento da empresa (não só na TMN que poderá ser alvo de fusão, quem sabe, com a Optimus) que pode ser bastante forte. Mais do que nunca o Estado português vai ter que saber ler os sinais desta operação e, se esta tiver sucesso, vai ser obrigado a ter uma postura menos interventiva mas mais reguladora, o que pode ser uma excelente notícia. Mas ainda é muito cedo para fazer mais cenários!

Technorati Tags: , , ,

12 Comments:

  • At 4:41 da tarde, Blogger Politikus said…

    Concordo contigo, mas vejoa coisa por outro prisma. de facto parece que sempre se irá efectuar a OPA. mas sendo assim e com o excesso de funcionários da PT, quantos virão para a rua??? A questão é essa, serão muitos...

     
  • At 10:46 da tarde, Blogger a.castro said…

    Esta OPA pode ter sido há muito apalavrada com o Governo. As declarações dos Belmiros (pai e filho), e do primeiro-ministro, parecem sugerir (nas fatais entrelinhas) algo nesse sentido. Se assim for, pode estar meio caminho andado para a concretização da operação, estando afastada a hipótese "hostil".
    Seja como for, a PT é um colosso, pelo que há que esperar por contornos mais definidos.
    Abraço,

     
  • At 11:10 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    A PT chegou á dimensão VENDÁVEL. Acabou. Será francesa ou castelhana. Tanto faz. As outras empresas seguirão o mesmo caminho. O Belmiro dá a Tanga das mãos portuguesas!O Horta está ultrajado! Os comentadores da TV babam-se.
    É tudo mentira.

     
  • At 12:06 da manhã, Blogger H. Sousa said…

    Bem, uma vez mais me considero visionário. A PT? Quem diria? A que faz publicidade nas camisolas dos futebolistas, essa mesma?
    Já se pode comentar no post anterior? Vou experimentar.

     
  • At 12:09 da manhã, Blogger H. Sousa said…

    Não! Não se pode comentar. Guantanamo é tabu! E bardamerda para os todos os Guantanamos. Todos.

     
  • At 3:06 da manhã, Blogger Ricardo said…

    Polittikus,

    A questão dos despedimentos não me choca e não quero parecer desumano. Não é que não me importe com as pessoas e os seus empregos mas tenho consciência que empresas como a PT não têm uma boa gestão de recursos humanos. É o resultado dum sector empresarial do Estado que nunca soube, mas devia saber, comportar-se de forma mais eficaz.

    Se as empresas tiverem boas políticas de recursos humanos sobe a produtividade, melhoram os salários e, mais importante, gera muitos mais empregos indirectos. E, no global, ganham todos. Não me chocam os despedimentos mas também não quero empresas baseadas em baixos salários. Os salários devem ser justos e estar interligados à produtividade.

    Abraço,

     
  • At 3:10 da manhã, Blogger Ricardo said…

    A. Castro,

    Não é só o Governo que pode ajudar a que esta operação não seja hostil. O Governo - ou melhor o Estado - só possui a tal "golden share" (500 acções) e pouco mais que 5% através da CGD. O resto dos accionistas têm uma palavra a dizer.

    Quanto a este negócio estar "combinado" não me surpreende e deve estar interligado ao fim da "Golden Share" e ao medo que a PT se tornasse numa nova Galp.

    Resta mesmo esperar...

    Abraço,

     
  • At 3:15 da manhã, Blogger Ricardo said…

    Carlos,

    Não me preocupa a origem do capital. Folgo saber que ainda há capacidade de liquidez para uma empresa portuguesa fazer uma operação desta envergadura mas é-me algo indiferente. O importante é o Estado ter um forte papel regulador ou até agir como investidor privado e não que continue este desastre de interferências com capital minoritário em empresas que só servem para nomear administradores todos os anos.

    Só estou preocupado é com a concentração em certos sectores de actividade.

    Abraço,

     
  • At 3:16 da manhã, Blogger Ricardo said…

    Henrique,

    O blogger anda estranho! Realmente não se pode comentar no texto anterior. Censura ou não, isto anda muito estranho!

    Abraço,

     
  • At 5:59 da tarde, Blogger A. Cabral said…

    Ricardo,

    A questao do politikus nao se resolve com a evocacao da "eficacia." Os despedimentos quando ocorrerem, porque se se der a OPA e' uma questao de tempo, vem por ordem da insercao da empresa na holding SONAE, no aproveitamento de economias de escala. Nao e' por causa de ineficiencias que a empresa agora tem e que o Estado, esse bode espiatorio de todos os males, nao deixa resolver...
    Como tambem notas o resultado mais significativo da OPA e' uma posicao de hegemonia no mercado, na rede fixa nao ha mais ninguem e na rede movel fica com a fatia maior. Qual vai ser a traducao nos precos? Esperamos despedimentos e subidas de precos, que belo modelo economico! Prefiro ficar com as "golden shares" e com os alegados males da intervencao estatal.

    Abraco

     
  • At 9:22 da tarde, Blogger Ricardo said…

    A. Cabral,

    Como já tive oportunidade de defender não defendo a concentração em nenhum sector de actividade. Defendi que esta OPA tinha como positivo, a concretizar-se, uma liderança clara na PT. Mas conforme os pormenores t~em vindo a lume tenho envocado muitos aspectos negativos (como no texto que escrevi depois deste sobre este tema).

    É preciso separar as águas do teu comentário: se este modelo proposto pela Sonae não for bom não é por isso que vou começar a achar as Golden Shares uma boa solução. Só uma pergunta inocente (ou então não): quanto vai a PT investir na OTA e no TGV?

    Abraço,

     
  • At 9:54 da manhã, Blogger A. Cabral said…

    Em resposta a pergunta inocente, se as mais valias da PT sao resultado da sua posicao monopolista (monopolio natural ou nao e' discutivel), se sao rendas pela sua posicao no mercado, entao nao acho mal que seja investidas em obras de utilidade publico (se gostaria que fosse a Ota ou o TGV nao vamos discutir...). E' preferivel ver estas rendas a ser usadas pela SONAE para investir na Polonia?

     

Enviar um comentário

<< Home