Filho do 25 de Abril

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segunda-feira, maio 22, 2006

847. Congresso do PSD


Marques Mendes

Este congresso do PSD, ao contrário do que parece, foi dos mais interessantes congressos dos últimos anos. Não, não foi Alberto João Jardim que falou nos "comunas", espera, até falou, mas o mais interessante nem foi isso. O que se passa no panorama político português é bem mais fracturante do que parece à primeira vista.

O PS de Sócrates, independentemente da qualidade (ou falta dela) das suas medidas, colocou-se num espectro ideológico bastante incómodo para o PSD e, em certa medida, até para o PP. É muito difícil a direita criticar medidas que visam emagrecer ou tornar mais eficiente o Estado com a agravante da linha de governação, com algumas nuances (e algumas são importantes), ser muito parecida àquela que o PSD/PP implementou na "estadia" no Governo. Este esvaziamento da possibilidade da crítica ideológica à direita criou um problema sério a estes partidos que optam, agora, por criticar o processo e não o objectivo.

Esta deriva ideológica começava a ser relativamente grave no PSD de Marques Mendes. De repente este político de convicções - pausa para ensaiar um sorriso irónico - estava a defender medidas mais à esquerda do que alguma vez o próprio PS defendeu, mesmo na oposição. Começava a ser hilariante ouvir Marques Mendes debitar discursos sobre o proletariado e pouco faltava para começar a tratar os seus pares de camaradas. Por isso considero que este congresso foi importante uma vez que Manuela Ferreira Leite veio pôr ordem à casa e lembrar que o PSD não pode criticar medidas que são condizentes com a sua matriz ideológica como o caso do fecho das maternidades à semelhança do que já tinha feito na altura da aprovação do Orçamento. Posso ter muitas críticas à Manuela "corta tudo em percentagem" Leite mas não há dúvidas que foi essencial, para o partido e para o equilíbrio ideológico do país, o aviso que fez à navegação da liderança de Marques Mendes. Assim o secretário geral do PSD voltou a posicionar-se em terrenos mais familiares propondo um conjunto de medidas coerentes com o partido onde está. Não hajam dúvidas, temos um homem cheio de convicções... (mais uma pausa para ensaiar mais um sorriso irónico)

E chamei à atenção que podemos estar na presença de uma "fractura" no posicionamento ideológico dos partidos porque parecem estar abertas as portas para que o PSD assuma uma identidade mais liberal. O peso que Ferreira Leite e António Borges ganham paulatinamente no partido e o condicionamento que Marques Mendes parece ter perante a voz destes faz prever que, quando este Governo começar a diluir-se, avancem para a liderança do PSD um conjunto de nomes que poderão colocar o PSD longe da sua tradição ideológica. Como defende o Bruno - do blogue Bodegas - "aproveitem a oportunidade e assumam-se de uma vez por todas como um verdadeiro partido de direita liberal"! Esta opinião junta-se a muitas outras que estão a criar uma maior pressão para que no PSD haja uma mudança ideológica mais profunda.

Acho que o país só tem a ganhar com verdadeiras alternativas e com um tipo de alternância que seja de facto fracturante e que não tenha nada a ver com a actual alternância comprometida entre PS/PSD que é sempre mais do mesmo embrulhado em papel de oferta diferente. Só não sei se a população portuguesa - e o "centrão" - quer votar massivamente num partido liberal. Eu, pelo menos, não estou disposto a isso mas também nunca fui um eleitor flutuante entre o centro esquerda e o centro direita. Se houver viabilidade para que esse projecto "liberal" alcance o estatuto de alternativa de poder - sinceramente duvido pelo menos em moldes liberais muito definidos - dou as boas vindas à alternância e digo presente para combater uma visão hiper minimalista do Estado.

3 Comments:

  • At 7:25 da manhã, Blogger pedro said…

    Mas primeiro terão de tirar o "Boliqueime Cavaco" da Presidência...

     
  • At 11:20 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Caro Ricardo,

    Li com atenção este texto, à semelhança de todos os outros que tens publicado, porque este blogue tenho-o nos meus favoritos, e por momentos suspirei com a imagem de "Alternância" que se poderia desenhar no quadro politico nacional.
    Estou seguro que o problema de identidade que o PS, PSD e PP partilham é apenas reflexo do cizentismo de ideias que emanaram neste partidos de à 12 anos a esta parte.
    Para mim é obvio que as medidas económicas e sociais que devem ser tomadas são o cerne da questão. Jamais este país poderá crescer (financeiramente) se não houverem incentivos que facilitem investimento, assim como jamais evoluirá se a população produtiva não estiver minimamente MOTIVADA.
    Em tudo na vida a MOTIVAÇÂO é o impulso para despoletar a acção.
    Hoje estou desempregado, após 16 anos de entrega, num grupo internacional da industria de plásticos, o Estado suporta 1050 euros de subsidio e nunca me deu possibilidade de "arquivar", "atender", "conduzir", "produzir" algo de util. O estado não incentiva nem convida! Já procurei no centro de emprego onde me inscrevi mas não têm nada adequado ao meu "perfil"!
    Ontem percebi porquê, vi uma reportagem a abordar o imposto sobre os produtos petrolíferos e a escalada dos preços de combustivel.
    Não foi ontem que descobri a pólvora mas ajudou-me a entender o porquê da oscilação (indecisão) do eleitorado, e mais grave ainda a ausencia de 40% dos eleitores dos actos eleitorais, este sim motivo suficiente para os Partidos discutirem Identidades, reverem estatutos e linhas de orientação politico-estratégica.
    Aos 39 anos estou preocupado porque não encontro a médio prazo medidas para contemplar EMPREGO sustentável nem para MIM, nem para JOVENS, nem para LICENCIADOS, nem para ninguém, a não ser os Clientes do costume em HOSPITAIS DISTRITAIS, INSTITUTOS, CONSULTORES ESTATAIS e OUTROS SECRETÁRIOS bem relacionados com os BOYS!
    O meu "projecto liberal" é eleger Gente Credível e Competente com sentido HUMANITÁRIO e AMBIENTAL. É quase utópico mas no minimo tenho de votar.
    Desculpem mas hoje estou DESMOTIVADO.

     
  • At 5:56 da tarde, Blogger Ricardo said…

    Netwalker,

    Um grande abraço de solidariedade! Espero que encontres a tua "motivação" o mais breve possível...

    Quanto ao resto perfeitamente de acordo! Mas, como sempre, sublinho que a "culpa" pela falta de perspectivas no país não é exclusiva dos políticos...

     

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