Filho do 25 de Abril

A montanha pariu um rato - A coerência colocada à prova - A execução de Saddam Hussein - O Nosso Fado - "Dois perigos ameaçam incessantemente o mundo: a desordem e a ordem" Paul Valéry, "Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa, salvar a humanidade", Almada Negreiros - "A mim já não me resta a menor esperança... tudo se move ao compasso do que encerra a pança...", Frida Kahlo

sábado, maio 20, 2006

846. Sala de Cinema: The Da Vinci Code


Paul Bettany e Audrey Tautou em The Da Vinci Code

Realizador: Ron Howard
Elenco: Tom Hanks, Audrey Tautou, Ian McKellen, Jean Reno, Paul Bettany, Alfred Molina

Não vai ser propriamente uma novidade chegar aqui e começar a defender que o filme é fraco e que não vai causar realmente polémica mas, após o visionamento do filme, sou incapaz de contrariar essa corrente que críticos e espectadores estão a criar porque o filme é mesmo, vou ser simpático, desinteressante. É muito difícil adaptar ideias, histórias e conceitos duma arte para outra e raramente a melhor abordagem numa adaptação é a reprodução do que já existe noutra arte (há excepções como Sin City). O que começa por falhar neste filme é que, apesar do livro de Dan Brown ser bastante cinematográfico, a estrutura da história precisava de ser reinventada e não reproduzida, ou seja, não podemos reproduzir o clímax de cada capítulo numa longa metragem. O livro, ao ser tratado como uma bíblia, como algo que não se deve retocar e alterar (no fundo compreendo que o filme só exista porque o livro foi um sucesso), transformou o filme numa caça ao tesouro com personagens da espessura do papel. Muito pouco mesmo tendo em consideração que já não fui grande apreciador do livro.


A Última Ceia, Leonardo Da Vinci

Tom Hanks é daqueles actores que, na minha opinião, está claramente sobrevalorizado. É verdade que faz lembrar uma forma clássica de representar, muito segura e com um estilo que apesar de já ter caído em desuso continua a ser apelativo, e também é verdade que tem alguma flexibilidade na representação (Forrest Gump continua a ser um marco na sua carreira) mas eu continuo a ser incapaz, pelas suas representações e filmografia, de colocá-lo entre os melhores da sua profissão. Mas mesmo que eu esteja a ser injusto com a apreciação ao actor e à sua carreira concerteza que os que apreciam o seu trabalho concordam que, neste filme, Tom Hanks está longe do seu melhor. Não fiquei com a sensação que no livro a personagem de Robert Langdon fosse tão inexpressiva e que tivesse tão pouca chama ao discutir os seus temas de eleição. Essa interpretação em piloto automático foi visível nas conversas com Ian McKellen (Sir Leigh Teabing) em que os actores pareciam debitar diálogos decorados sem aparentarem a mínima paixão pelo que defendiam. Pareciam... actores! Tenho que acrescentar, sem querer deixar a impressão que persigo Tom Hanks, que também não houve nem um momento de química com a actriz Audrey Tautou.

Após esta dissertação que devo acrescentar à análise do filme? Que Ron Howard (A Beautiful Mind, Apollo 13, Backdraft, Cocoon) é a escolha segura para todos aqueles que pretendem jogar pelo seguro uma vez que é um realizador que não reinventa, que segue as melhores tradições da academia e que geralmente é moralmente neutro. O resultado é um provável êxito de bilheteira, sem sal nem chama, sem subtilezas de qualquer grau ou espécie, esvaziado de qualquer polémica com a excepção das que o livro já levantava. E é pena porque há ideias no livro que merecem ser discutidas – apesar de não apreciar o modo como Dan Brown manipula e descreve as suas histórias – e tidas em conta, mesmo que sem polémica, porque, como já escrevi na minha análise ao livro, a "a fé tem como alicerce acreditar no improvável" e não vai ser a procura de dados históricos que vai abalar essa "fé". Já é tempo – até porque vivemos uma era em que o acesso à informação é cada vez maior – de discutir a história, mesmo a religiosa, de forma adulta, sem tabús, mas parece que a maioria de nós prefere fazer polémica com o superficial e é notório o desinteresse em explorar as nossas raízes. E este filme só ajuda a banalizar essa discussão...

Síntese da Opinião: Um filme para ver num Sábado à tarde num daqueles dias em que não faz mal adormecer no sofá (principalmente nos inúmeros flashbacks). Sobra de interessante no filme uma meia dúzia de pequenas curiosidades históricas.

Memórias do Filho do 25 de Abril: Sétima Arte (todos os textos deste blogue sobre cinema)

Technorati Tags: , , , , ,

7 Comments:

  • At 2:07 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Tenho de discordar. Há muito tempo que me dedico ao estudo das religiões como passatempo, pelo seu interesse histórico e social e, para mim, o livro não foi novidade nenhuma. Dan Brown recorre a factos históricos comprovados, mistura-os com lendas, umas improvavéis e outras mais prováveis, e o resultado é um romance (não um tratado religioso ou histórico). O problema é que a maioria das pessoas não sabe reconhecer as misturas de símbolos ao longo de toda a obra... e depois uns ficam em choque com tamanha blasfémia, outros ficam em choque com a aparente descoberta da verdade. Mas qualquer pessoa com algum conhecimento de história e religião consegue decifrar os símbolos por detrás dos símbolos. Basta ter uma mente aberta.

    Quanto ao filme, tenho de confessar que gostei bastante. Talvez seja por já ter lido o livro há muito tempo e a minha memória para romances não ser das melhores (há muitas partes de que não me lembrava). É um excelente trabalho de fotografia e, na verdade, até acho que consegue manter algum suspense (principalmente em pessoas que não leram o livro, como é óbvio), muito embora considere que há também alguma falta de emotividade nas personagens. Mas todos os filmes adaptados de livros sofrem deste mal...

     
  • At 11:07 da manhã, Blogger Ricardo said…

    CSF,

    No primeiro parágrafo não encontro motivo para haver discordância(s). Utilizando uma frase popular diria que a montanha pariu um rato e a(s) polémica(s) não são, como descreves, propriamente uma novidade. Sublinho, porém, que há um desinteresse generalizado no estudo das nossas raízes e isso também alimenta a tal "surpresa" que acaba por ser uma "polémica".

    No segundo parágrafo fazes considerações sobre o filme em si. A sensibilidade para a arte varia de pessoa para pessoa e eu só emito uma opinião. Na minha opinião e nos meus critérios achei o filme desinteressante com a excepção de uma pequena nota aqui e acolá e um ou outro local de filmagem que despertaram o meu interesse.

    Abraço,

     
  • At 6:34 da tarde, Blogger Nuno Guronsan said…

    Não li o livro. Não faço tenções de ir ver o filme, não porque seja contra ou a favor das questões que levanta (ou que forja, escolham a palavra que preferirem), mas porque os últimos filmes do Tom Hanks e do Ron Howard têm sido, de facto, como o Ricardo aqui comenta, sem chama ou sinais de emoções humanas.

    Quanto a todos os filmes adaptados de livros sofrerem do mesmo mal, discordo, já se têm feito filmes que conseguem divergir do livro e até complementarem-se. Mais uma vez, o exemplo do Sin City é certeiro, assim como seriam o Blade Runner ou mesmo o Senhor dos Anéis ou, noutros contextos, as Vinhas da Ira, por exemplo.

     
  • At 8:23 da tarde, Blogger Ricardo said…

    Nuno,

    Eu não disse que é difícil haver boas adaptações de livros mas sim que raramente o melhor caminho é a reprodução fiel do que se passa no livro. Geralmente o filme só tem a ganhar se reinventar, complementar e inovar em relação à história inicial tentando manter o espírito, não a forma.

    No resto estou perfeitamente de acordo!

    Abraço,

     
  • At 12:40 da tarde, Blogger Unknown said…

    Caro Ricardo,

    Confesso não ter lido o livro mas já vi o filme.
    Quanto ao livro não o li nem faço tenções de ler.
    A razão é simples, há tempos li um livro dp Dan Brown intitulado Digital Fortress. Interessei-me por este livro dado a trama ser baseada na criptografia, assunto que sempre me interessou.
    Tive dificuldade em acabar o livro pois os disparates eram tantos que até metia dó.
    Dan Brown não percebe nada de matemática, não sabe o que é uma chave pública-chave privada, não sabe que o código ASCII tem 7 bits e não 8, não sabe o que é um vírus de computador, não sabe o que é um download, não sabe que Sevilha fica na Andaluzia e não na Estremadura espanhola, etc., etc.,
    Foi um dos piores livros que li e, claro, esta leitura de nenhuma forma me preparou para outros livros dele. Mais, acho inadmissível que um autor com este nome escreva um livro com tanto disparate! Ao menos podia ter dado o livro a ler ao pai, matemático premiado. Só que se o tivesse feito o pai, certamente, aconselharia o filho a deitar o livro para o lixo…
    Quanto ao filme achei-o como o peixe espada, chato e comprido…, além de inconsequente. A meio do filme já tinha percebido quem era o professor (que não se percebe porque é que mata o mordomo) e também quem era a Sophie.
    Francamente custa-me a acreditar as razões do sucesso quer do filme quer do livro.

    Um abraço

     
  • At 8:20 da tarde, Blogger Nuno Guronsan said…

    Ricardo,
    a questão sobre "livros adaptados a filme" era mais uma resposta ao comentário do CSF. Daí concordar em absoluto com o que escreveste.

    Também comungo um pouco da opinião d'O Raio. Eu li "A Conspiração" e sim, como todos os que leram o Código me disseram, lê-se bem e depressa. E depois? O que é que fica? Muito pouco ou quase nada, apenas a sensação que acabei de "visualizar" um argumento que poderia perfeitamente interpretado pelo Steven Seagall, o que não é propriamente um elogio...

    Abraços.

     
  • At 12:18 da manhã, Blogger alice said…

    a prestação do Paul Bettany é brilhante

    escrevi algo sobre este filme, mas sou incapaz de transcrever depois de ler tudo o que foi dito

    boa noite, ricardo

    alice

     

Enviar um comentário

<< Home