Filho do 25 de Abril

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quinta-feira, julho 07, 2005

487. Sala de Cinema: Sin City



Realizador: Robert Rodriguez e Frank Miller
Elenco: Mickey Rourke, Bruce Willis, Benicio Del Toro, Clive Owen, Brittany Murphy, Nick Stahl

Eu sou admirador do mundo violento de Frank Miller desde que este revolucionou a forma como os comics eram encarados com a sua visão do Daredevil e do Batman. Desde o princípio da sua já longa carreira a visão que tinha das cidades nos seus álbuns era cruel e negra (Dark Night Returns, Ronin). O passo mais lógico deste trajecto artístico era criar uma cidade à medida do seu universo. A própria cidade é uma das suas "personagens" angustiadas. E assim foi. Sin Ciy, a cidade do pecado, é a personagem principal dum conjunto de álbuns que criou com completa liberdade criativa. Esta cidade é a síntese de todos os males dos tecidos urbanos densos. Quem visita esta cidade tem a oportunidade de conhecer pessoalmente a decadência da moral e da dignidade.

Robert Rodriguez ficou apaixonado por esta visão cínica da sociedade onde a moral adapta-se ao contexto. Resolveu não filmar uma interpretação da obra de Miller mas a própria obra, página a página. E para isso utilizou técnicas revolucionárias que já tinham sido usadas em Sky Captain utilizando a tecnologia digital para manter a bidimensionalidade e o aspecto gráfico da BD (o filme é bastante estilizado). E ao contrário do que tenho lido por aí acho que esta fórmula funcionou na perfeição até porque Miller co-realizou e garantiu que a sua visão não era desvirtuada. E até acabou por ser relativamente barato fazer este filme pois foi todo (ou quase todo) filmado na casa de Rodriguez sobre um fundo verde (ou azul). Houve actores que lutam no filme mas que só se conheceram na estreia o que demonstra as potencialidades desta técnica.

O filme é um cruzamento de histórias, personagens e vivências que só têm em comum o pano de fundo, leia-se, a Cidade do Pecado. É um mundo de desespero e solidão onde a dor é descrita com intensidade em voz off. O filme tem que ser considerado como puro entertenimento porque não há moral nesta cidade ou se há ela é completamente distorcida. São todos aqueles que estão à margem do sistema ou que não o respeitam que merecem ser salvos nestas histórias. Esta sempre foi a imagem de marca de Miller, leia-se, retirar os heróis do seguidismo cego ao sistema. A violência é desproporcionada, a acção irreal quanto baste e a relação homem mulher bastante datada (apesar das mulheres não serem objectos de porcelana) mas é isso que torna a Cidade do Pecado única. James Ellroy vai gostar de certeza do filme. Destaque ainda para Mickey Rourke que está surpreendente.

Síntese da Opinião: Não tenho culpa! Adoro o universo de Frank Miller!

2 Comments:

  • At 12:17 da tarde, Blogger gonn1000 said…

    Uma boa adaptação, mas não uma obra-prima...7/10

     
  • At 12:23 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Eu gostei imenso deste filme- óptimos actores, óptima realização, óptimas histórias... é impossível ficar indiferente.
    Claro que é um filme violento(a BD de Frank Miller é assim...), mas temos também a presença do Amor forte, pungente, sublime, em que alguém dá a vida para proteger quem ama, em que alguém ama platonicamente outrem durante muitos anos, em que alguém procura incessantemente o amor, o qual só vislumbrou numa noite tão efémera...

     

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