485. O Balanço dos 100 dias do Governo, versão Sócrates
A entrevista de José Sócrates à SIC foi uma tentativa de dar algum sentido global às inúmeras medidas dispersas que o Governo tem implementado. Não considero de grande utilidade eu estar a afirmar se esse objectivo foi ou não alcançado porque iria ter um grau de subjectividade elevado e uma componente política que neste momento pouco interessa. Ao invés disso vou só fazer uma análise parcial a algumas declarações.
Continuo a considerar que José Sócrates está equivocado na sua linha de raciocínio quando analisa a subida do IVA como um elemento de credibilidade externa das suas intenções em combater o défice orçamental. Acredito que essa medida foi das mais difíceis a nível pessoal (e no campo das convicções) que tomou até porque afectou a sua imagem após as promessas pré e pós eleitorais e, por isso, não questiono que ele não tinha intenção de a implementar quando fez essas promessas. Mas duvido que tenha implementado uma medida correcta para o país. Não acredito que a credibilidade externa do país fosse afectada se o imposto não tivesse sofrido um aumento na sua taxa máxima porque o conjunto das outras medidas do lado da despesa são corajosas e coerentes, apesar de ainda insuficientes (aguardo novidades na Segurança Social, por exemplo). Mesmo que os juros a Portugal fossem agravados estes seriam atenuados pelo crescimento que o Governo acabou por limitar e provavelmente voltariam ao valor inicial assim que as empresas de rating estivessem convencidas que o plano de combate às despesas era mesmo para ser cumprido. E teria a vantagem adicional de lançar um sinal à União Europeia de que o problema do défice orçamental só se resolve através da economia e da competitividade (e da redução das despesas ineficientes do Estado) e não pelo aumento de receitas. Esperava de Sócrates a mesma clarividência na Fiscalidade que teve ao acabar com as Receitas Extraordinárias que “comprometem o futuro”.
Sobre o plano de investimentos acho que é extremamente positivo o sinal que lança à sociedade de que há um conjunto de infraestruturas e apostas onde é seguro que a iniciativa privada invista sem incerteza sobre a sua implementação. Não vou discutir a aposta no TGV, na OTA, no conhecimento e tecnologia e no sector energético porque ia estar a dar opiniões sobre investimentos onde não domino as implicações económicas. Este tipo de investimentos têm efeitos difíceis de medir à partida e não podem, desde já, serem considerados como bons ou maus. Desde que sejam feitos com rigor prevendo os efeitos na economia e com controlo orçamental podem até ter um impacto positivo. Só peço moderação e estudos de rentabilidade sérios, por exemplo, no TGV para evitar projectos megalómanos. Basta a ligação a Madrid e eventualmente a ligação ao Porto com o mínimo de paragens possível.
Com o resto das medidas estou genericamente de acordo e espero que sejam aplicadas sem recuos! Disse!
6 Comments:
At 12:41 da manhã, Anónimo said…
Ricardo,
Já Adam Smith afirmou que qualquer governo quando «legisla a favor dos trabalhadores é sempre justo e equitativo»...
Um beijo,
At 1:00 da manhã, Anónimo said…
Estes gajos andam a brincar mas a brincadeira vai sair-lhes cara, tão cara ou mais que o fato que este títere enverga. Como já afirmei repetidamente, tudo farei para impedir que o meu dinheiro seja empregue em TGVs, OTAs, Armamento e quejandos. Quero Bem-estar, Justiça e Segurança e esses investimentos nada têm a ver com estas funções do Estado. Vide meu último post na hora + absurda.
At 12:55 da tarde, Unknown said…
Ricardo,
Comecei a escrever um comentário a este teu artigo.
Mas, como já estava muito longo optei por o colocar no meu blog.
http://cabalas.blogspot.com/2005/07/scrates-tgv-ota-e-demagogia.html
Um abraço,
At 12:56 da manhã, Ricardo said…
Anastácia,
Sem querer duvidar das tuas palavras confesso que não era essa a ideia que tenho das teorias defendidas por Adam Smith. E legislar a favor dos trabalhadores pode até ser retirar-lhes regalias...
Um beijo,
At 1:00 da manhã, Ricardo said…
TNT,
Temos visões diferentes sobre a forma como o Estado deve investir. Até podes ter razão e estes investimentos serem maus para o país mas defendo que isso só vai acontecer se não os soubermos rentabilizar e não formos rigorosos na planificação e execução dessas obras. Recordo que o plano de investimentos é extenso e vai para além das obras emblemáticas. A área do conhecimento, a investigação e o sector energético também são prioridades.
Abraço,
At 1:04 da manhã, Ricardo said…
Fernanda,
Acho que poupamos bem mais que 30 minutos até Madrid. Considero essa linha essencial para nos ligarmos à Europa porque de Madrid podemos continuar a viagem para outras cidades europeias.
Mas concordo contigo que o transporte de mercadorias devia ser prioritário e tem sido negligenciado.
Quanto à OTA nem vou falar. Desconheço por completo as questões técnicas envolvidas!
Obrigado pelos elogios que retribuo sem esforço! O teu blogue é um sítio que gosto de visitar com regularidade.
Um beijo,
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