Filho do 25 de Abril

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segunda-feira, julho 03, 2006

874. Anti-Ninguém

Cada vez mais acredito na máxima que descreve a sociedade em que estamos inseridos como o reflexo das nossas acções individuais e que o impacto que essas acções têm no colectivo são cruciais para a definição da mesma. Deste modo admiro cada vez mais quem não se resigna e luta contra a maré só porque tem convicções e porque acredita que está certo.

O atento leitor, nesta fase do texto, indaga sobre o propósito destas palavras. Quem costuma ler este blogue sabe que sou muito crítico com a forma como a sociedade madeirense evoluiu. Já escrevi que há um "medo invisível" que cerceia as liberdades individuais, que abafa o saudável espírito crítico e que impede o indispensável contraditório - independentemente das razões válidas para o voto na continuidade. Mas será que esse "medo" tem fundamento? Arrisco dizer que tem algum mas, em larga medida, só existe uma mordaça porque os cidadãos interiorizaram que ela - a mordaça - está presente na boca de cada um deles.

Por isso não posso deixar de admirar a coragem de quem, mesmo vivendo num meio fechado e imerso em seguidismos de vária espécie, tira a mordaça, seja ela real ou induzida, e fala livremente. Destaco, por admiração, dois habitantes da ilha que exibem um espírito crítico e exigente com aquilo que os rodeia. Estou a falar do Vítor e do Nélio que escrevem, respectivamente, no Estranho Estrangeiro e no Olho de Fogo. Falar à distância é fácil - é o que eu faço - mas estar lá e expor sem máscaras o que defendem por convicção, mesmo que esses assuntos sejam tabús e prejudiciais aos mesmos, é o melhor contributo que podem dar à própria região e à sociedade que os alberga. E, mais importante, como o Nélio gosta de referir, é anti-ninguém, ou seja, criticar construtivamente e apontar caminhos não é uma tentativa de denegrir alguém mas sim um contributo para um futuro colectivo melhor.

1 Comments:

  • At 11:18 da manhã, Blogger Unknown said…

    Caro Ricardo,

    Claro que concordo com o que dizes.
    Embora já há uns anos que não vou á Madeira já lá estive muitas vezes quer em férias quer mesmo a trabalhar e o que vi ajusta-se à tua opinião e concordo com os elogios que fazes ao Vitor e ao Nélio.
    Uma vez estava numa reunião com um grupo de residentes quando, já não me lembro a propósito de quê, um dos presentes se referiu depreciativamente ao AJJ. Fez-se imediatamente um silêncio gélido...

    Mas, o que é importante, é que a maior parte dos residentes na Madeira nem sequer têm coinsciencia disto. O "ambiente" já está interiorizado...

    E é exactamente o que também acontece em Portugal no respeitante à opção da integração europeia. Esta opção não é criticável e as pessoas já nem o percebem tal como na Madeira em relação ao AJJ.

    Já me aconteceu estar num grupo qualquer e referir-me depreciativamente à União Europeia e acontecer exactamente o que me aconteceu na reunião no Funchal que referi acima, nenhum comentário, só um silêncio gélido...

    Enquanto não se percebe que se vive em ditadura não há revolta possível... e a ditadura continua... quer em Portugal no referente à União Europeia quer na Madeira referente ao AJJ.

    Um abraço

     

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