877. Jardim e o apelo ao apoio da República
Jardim pede a Sócrates solidariedade da República
O presidente do governo regional da Madeira, Alberto João Jardim, escreveu ao primeiro-ministro, José Sócrates, a pedir o apoio da República para a resolução da grave situação financeira que a região atravessa.
Público, 10 de Julho de 2006
Há políticos que parecem um papagaio apanhado em ventos cruzados. Numa semana Alberto João Jardim (AJJ) critica o Governo ao ponto de pedir a sua demissão por estar a ser prejudicial ao país e, na seguinte, apela à solidariedade nacional porque o seu próprio Governo não sabe lidar com as restrições orçamentais a que está sujeito. Há anos que alerto que o endividamento da região é preocupante, que o endividamento das sociedades de desenvolvimento (que não estão englobadas nas restrições de endividamento mas cujas dívidas vão ter que ser pagas) não são a melhor solução de longo prazo, que a concessão da manutenção de estradas hipoteca o futuro e, agora, finalmente, o Governo Regional (GR) resolve expor a situação dramática das finanças regionais, mesmo que utilize subterfúgios para explicar a situação. A justificação "oficiosa" para a situação financeira da Madeira é a perda de fundos europeus, resultado dum crescimento brilhante da região, mas, sou sincero, só acredita que esta é a razão principal das dificuldades acumuladas da região quem fizer muita força para acreditar.
Vamos por partes.
Solidariedade tem dois sentidos. Se o GR gasta acima das suas possibilidades não pode exigir que o Governo Nacional prejudique outras regiões para que a Região Autónoma da Madeira (RAM) continue a gastar ao sabor do frenesim das inaugurações (ainda mais quando, neste momento, as opções de investimento na região concentram-se em obras na costa de duvidosa utilidade e ainda mais duvidosa concepção).
O investimento público é importante, já o defendi. Não devemos abdicar do investimento - ainda mais em obras co-financiadas - sem esgotar as possibilidades de redução dos gastos correntes de um Estado cada vez mais "gordo". Assim, se por um lado concebo como aceitável o ritmo de obras públicas na Madeira - e a continuidade de algumas (cada vez em menor número) estratégias de investimento - por outro não posso deixar de afirmar que não vejo qualquer tipo de preocupação em cortar despesas correntes nos serviços regionais, já por si desproporcionais na relação dimensão óptima de gastos com serviços prestados. Se a região não consegue manter o ritmo de investimento e os seus níveis de endividamento são altos não resta outra solução senão libertar recursos de outro tipo de gastos para o investimento ou travar esse investimento, mas nunca, e repito nunca, apelar a mais perdões da dívida regional.
Provavelmente muitos dos meus conterrâneos madeirenses não gostam deste discurso mas é preciso não esquecer que não é o Governo Nacional que tem culpa dos gastos da região. Simultaneamente não é sustentável, para a própria região, manter o discurso (ou a ilusão) de que AJJ é óptimo para a Madeira porque desenvolve a Madeira e, ao mesmo tempo, consegue que as dívidas sejam perdoadas. Este tipo de políticas - e mentalidade - não cria um ambiente de exigência e, mais cedo ou mais tarde, a vida na região vai ser negativamente afectada por esta bênção ao facilitismo. Não podemos validar políticas sem sustentação porque essa factura é paga duma forma ou doutra, mais cedo ou mais tarde, concretizando, ou porque podemos estrangular o investimento no futuro ou porque cada vez mais perdemos a credibilidade para exigir solidariedade. Ao Governo de Sócrates cabe, mais do que nunca, não pactuar com esta situação e ser firme na distribuição justa da riqueza nacional. E dizer isto, caros conterrâneos madeirenses, não é "não ter a Madeira no coração" e, muito menos, razão para utilizar palavras como "traidor", expressões muito em voga na região e fruto dum discurso "oficioso" que só serve quem não tem abertura para o contraditório. Agora só falta o Presidente da República apelar a Alberto João Jardim para que tenha "coragem" e "força" para resistir às tentações do furor viciante das inaugurações.
3 Comments:
At 12:19 da manhã, Anónimo said…
VENDE-SE - Ilha bem situada em pleno atlântico com vistas para Norte de Africa.
Boas auto-estradas com tuneis modernos, algumas vilas pitorescas e paisagens deslumbrantes.
Local aprazivel para festejos de Passagens de ano, com esplendoroso fogo de artificio e Carnavais a condizer com desfile de Bobos Politicos.
Com Projecto aprovado para base aerea.
At 11:33 da manhã, Unknown said…
Caro ricardo,
A hipocrisia do AJJ é chocante como é óbvio, às segundas apela quase que à independência da Madeira, às terças pede a demissão do Governo da República porque este está a prejudicar o país, às quartas pede solidariedade ao Governo da República e aí por diante...
Mas o que é grave nisto tudo é que ninguém toca no âmago da questão.
Portugal esvaziou a sua economia com a adesão Á União Europeia. Os centros de decisão fugiram, o Governo perdeu instrumentos de governação muito barco de pesca foi destruído com dinheiros da UE. Até vinhas foram arrancadas com estes dinheiros!
Enquanto isto acontecia Bruxelas ia-nos enviando algum dinheiro para nos sustentarmos e para deixarmos destruir a economia.
Agora que já não temos que fazer, que já não temos barcos de pesca, que espanhóis e franceses pescam nas nossas águas enquanto que a nós nos faltam licenças de pesca, que temos a nossa agricultura destruída, etc., que faz Bruxelas? Corta-nos os fundos!
O problema da Madeira é o problema da Nação, fomos pura e simplesmente destruídos! E, pior, com a colaboração de portugueses que trairam objectivamente o seu país, portugueses esses imunes a qualquer crise e cujos nomes são conhecidos de todos, desde o Mário Soares ao Vitor Constâncio.
Que nos resta?
Às armas, ás armas;
Contra os mandões marchar, marchar,...
Um abraço
At 9:53 da tarde, Rui Pedro said…
Há uns anos, governava o Dr. Durão Barroso, o Dr. Alberto João Jardim teve uma reunião em Lisboa com o Primeiro-Ministro e com a Dra. Ferreira Leite. Nas declarações do Dr. Jardim, o Governo da República tinha um conjunto de dívidas para regularizar junto da Região Autónoma. E ninguém o desmentiu...
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