Filho do 25 de Abril

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terça-feira, março 06, 2007

1034. Análise política, económica e financeira da Região Autónoma da Madeira (3): O e(E)stado da expressão

Será que o custo da ultra-periferia é viver refém do Estado? Basta pensar que num contexto em que a actividade económica depende do Estado para ultrapassar as distorções da concorrência provocada pela localização geográfica que a crítica a esse mesmo Estado pode afectar a saúde financeira do indivíduo. E se, para além da ultra-periferia, esse mesmo Estado concentrar em si toda a responsabilidade do desenvolvimento - quer através dos gastos públicos quer através do seu duplo peso de fornecedor e cliente duma grande parcela da actividade económica - e transformar a região no Estado ou o Estado na região então há ou não há constrangimentos adicionais para contornar o pensamento único?

Se à inevitabilidade de constatar que a Madeira é um meio pequeno juntarmos a inexistência de alternância democrática então não será também inevitável que haja um ambiente em que o unanimismo e o seguidismo são leis? Se o Estado é o centro de toda a economia, se é esse mesmo Estado que gera a grande maioria dos empregos (mesmo os indirectos), se é o Estado que colocou nas mãos dos gastos públicos a responsabilidade do desenvolvimento e se esse Estado está sempre identificado com as mesmas pessoas então que tipo de liberdade de expressão é possível alcançar numa região com estas características? A resposta é simples, ou seja, a liberdade vai ser proporcional àquela que o próprio Estado quiser dar.

Tudo isto para fundamentar que não é fácil ser oposição na Madeira porque ser oposição ao Estado é estar a lançar sinais que estamos também a ser oposição ao grande aglomerador de toda a vida económica da região. Não é por acaso que esse mesmo Estado - que se confunde com um partido ou será ao contrário? - pela voz do seu representante de sempre - alguém se lembra de quem o precedeu? - quando é criticado acusa os críticos de "traidores" ou de "colaboracionistas" com as forças estrangeiras que tentam diminuir esse mesmo Estado (ou pelo menos os seus gastos).

Não sei se é possível culpar o Estado pelo contexto ou se posso afirmar que o contexto foi moldado pelo Estado mas haverá uma real liberdade para expressar opiniões que choquem com a linha seguida pelo Estado que nunca sentiu o sopro de ar fresco que é a alternância? Sei, e isso reconheço, que a oposição é tolerada. Tolerada até ao ponto que o Estado - devia dizer Estado? - quer que seja. Essa tolerância vai ao ponto de proporcionar cargos a essa mesma oposição, de os domesticar no sentido do bem-comum. Não é fácil ser "traidor" - devia dizer oposição? - na Madeira. É certo que é o Estado - ou devia dizer Governo ou partido no poder? Ajudem-me... - que cria uma linha de pensamento - mas isso é normal - mas será o contexto que obriga que essa linha tenha que ser única ou é o Estado que assim o quis?

Será também inevitável que se misturem, num meio pequeno, políticos e empresários? Será que para se ser um temos que deixar de ser o outro? Dito de outra forma será sensato presumir que, numa região ultra-periférica, num meio pequeno, num meio dependente dos gastos públicos, haja o altruísmo de dar aos não alinhados o poder do desenvolvimento? Então não são esses mesmos, os não alinhados, que criticam o Estado? E não é esse Estado que promove o desenvolvimento? Será natural esse mesmo Estado não se rodear dos que acreditam nesse Estado? Tantas perguntas, meu Deus, e afinal, será que devo perder tempo a sonhar com um outro contexto? Ou devia dizer Estado? Ou Governo? ....

Continua...

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