Filho do 25 de Abril

A montanha pariu um rato - A coerência colocada à prova - A execução de Saddam Hussein - O Nosso Fado - "Dois perigos ameaçam incessantemente o mundo: a desordem e a ordem" Paul Valéry, "Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa, salvar a humanidade", Almada Negreiros - "A mim já não me resta a menor esperança... tudo se move ao compasso do que encerra a pança...", Frida Kahlo

sábado, maio 01, 2004

01 de Maio de 2004 (22) – 1 de Maio: Dupla Comemoração

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Feriado costuma ser, mas desta vez o dia não pertence só aos trabalhadores. O 1 de Maio simboliza a luta pelo máximo de oito (8) horas de jornada máxima. Esta luta custou a vida de muitos e deve ser respeitada! Este episódio marcante do sindicalismo (que ocorreu em 1886) ficou conhecido como os “Mártires de Chicago”.

Já o 1 de Maio de 2004 vai ficar conhecido por outras razões. A União Europeia tem dez novos membros: Chipre, Eslovénia, Estónia, Hungria, Letónia, Lituânia, Malta, Polónia, República Checa e República Eslovaca. Parabéns aos aderentes, sejam bem vindos. Para 2007 haverá novo alargamento com as entradas da Roménia e da Bulgária. Adiada parece estar a entrada da Turquia. Este conjunto de países merece estar na União, são democracias estáveis e economias de mercado viáveis. Com excepção da Turquia, respeitam os Direitos Humanos.

Mas não há ainda motivos para festejar. As instituições não foram reformadas ou suficientemente alteradas de modo a permitir um melhor funcionamento da União. Os consensos, já por si difíceis, ganham uma dimensão dramática maior. Há ainda outras polémicas como Chipre (a adesão não é inocente e pode intensificar a tensão diplomática entre a Grécia e a Turquia) e a Polónia (cuja agricultura dificilmente se vai adaptar ao PAC criando uma permanente disputa com o maior benefeciário deste, a França). A Europa corre o risco, sério e real, de paralisar. Não está em questão o direito de entrada de novos países mas sim a incapacidade dos Estados nacionais cederem para o todo não gripar.

Há um problema adicional (que não pode ser utilizado para impedir ou criticar o alargamento), as ameaças para Portugal são claramente maiores que as oportunidades. A produtividade Portuguesa é baixa e o custo da Mão de Obra é superior ao dos países recém entrados. É preciso não esquecer que, apesar do Comunismo ter ruído e deixado marcas em muitos destes países, também deixou algumas vantagens competitivas. O ensino foi sempre gratuito ou residualmente financiado pelos próprios, a tradição das licenciaturas tem gerações, a disciplina profissional é visível. Portugal dificilmente vai resistir a este choque sem sequelas. Veremos é se a longo prazo leva o país a reagir, a desenvolver-se.

Sou um Europeísta convicto, quero uma Europa solidária e forte. Devemos ser Europeus entusiásticos e perceber que temos mais a ganhar abdicando de certos interesses nacionais em detrimento de desígnios europeus. A história tem provado isso mesmo. Ser pró Europeu também não é aceitar tudo como sendo um dado adquirido, os países têm de defender as suas especificidades num contexto de benefício mútuo. O interesse nacional tem de ser defendido sem encravar o todo, porque se o todo desintegra-se as partes têm de rever as expectativas de futuro em baixa. Na minha opinião o alargamento veio cedo demais, primeiro começava-se (já!) a ajudar a Europa de Leste a desenvolver-se (com acordos preferenciais e subsídios), depois fazia-se uma verdadeira reforma das instituições europeias (revogando os vetos, por exemplo) e só depois vinha o alargamento. O futuro da Europa? Glorioso ou decadente, nós escolhemos!