509. Ainda a demissão de Campos e Cunha
“Enquanto a demissão de um Ministro do Desporto e da Juventude o levou a dissolver a Assembleia da República, um Ministro das Finanças do PS não. Será um Ministro do Desporto mais importante que um Ministro das Finanças? Estou à espera de explicações.”
Rui Gomes da Silva
Limitar a dissolução da Assembleia da República à demissão de Henrique Chaves é duma total desonestidade intelectual. Mas, infelizmente, é uma tese que tem ganho adeptos e só pode ser explicável por um vírus implacável que anda pelo ar e que deve estar a provocar delírios temporários. A minha opinião sobre este tema está aqui!
E se a política já está descredibilizada que dizer deste frenesim à volta das moções de confiança e censura em reacção a este caso?
Também não deixa de ser irónico que existam, agora, tantas vozes a elogiar o trabalho do Ministro das Finanças. Diria que é surreal assistir a estas cambalhotas de quem está politicamente comprometido com um partido mas ainda é mais estranho observar esse comportamento na blogosfera, onde há (ou devia haver) mais liberdade intelectual. Eu continuo a admirar o trabalho de Campos e Cunha, com excepção do erro (individual e colectivo do Governo) em ter aumentado o IVA.
Mas Campos e Cunha, apesar do bom trabalho desenvolvido na área das Finanças, não era o Primeiro Ministro. Da mesma forma que fez com que o Conselho de Ministros aprovasse algumas das suas sugestões também tinha que ser solidário com as outras sugestões aprovadas por maioria oriundas de outras áreas, independentemente de concordar ou não com elas. Eu, se fosse ministro, tinha a liberdade de votar a favor ou contra determinada decisão mas tinha que acatar a decisão da maioria. Se a minha discordância fosse inultrapassável é óbvio que tinha que me demitir. Nada mais natural numa democracia! Até estou de acordo com Campos e Cunha em relação a certos projectos (megalómanos ou não) porque é natural ter dúvidas quando ainda mal os conhecemos mas ele não é nem era o Primeiro Ministro nem o país pode ser governado a partir das Finanças.
No blogue Velho da Montanha há outra teoria. Segundo o caro Velho, que muito gosto de ler mas que discordo regularmente por termos convicções ideológicas diferentes, Campos e Cunha era um mero “boi de piranha”, isto é, “alguém que é deliberadamente sacrificado para beneficio ou salvação de terceiros”. Não rejeito esta teoria porque, em política, há sempre sacrificados. Mas se essa fosse a intenção (inicial ou não) de José Sócrates esta nunca teria sido a altura da saída de Campos e Cunha. Não tem lógica! O trabalho mal começou e o pior ainda está para chegar. O combate ao défice é longo e a situação do país não permite margem de manobra para sacrifícios prematuros. E mesmo que Sócrates tivesse idealizado uma demissão "sacrificial", este nunca teria sido o momento escolhido para aplicar esse "plano". Por isso a origem desta saída do executivo não deve, com elevado grau de probabilidade, ter tido origem neste tipo de motivação. Não há vantagens reais ou políticas nesta demissão. Muito pelo contrário...
4 Comments:
At 12:14 da manhã, Anónimo said…
Pois é, caro Ricardo. Você tem toda a razão, mas não descure nunca a força do "aparelho" e a concupiscência dos tachistas. Com as autárquicas à porta, mais tarde já teria sido tarde demais.
Repare só nas exultantes declarações de Mesquita Machado logo no dia seguinte. São extemporâneas, de mau gosto e básicamente denunciam o verdadeiro sentimento dos autarcas, para quem uma rotundazita antes das eleições é muito mais importante do que o futuro do País.
Vá por mim, que a teoria não é mada descabida. Um abraço.
At 12:35 da manhã, Unknown said…
Ricardo e Velho,
As vossas teorias não se contradizem.
O Campos e Cunha podia ser realmente um cordeiro para o sacrifício na altura apropriada.
Esta não era obviamente a altura apropriada mas o Campos e Cunha, apesar de ser economista, não era totalmente bronco, percebeu qual o seu papel e desencandeou a sua demissão.
Um abraço aos dois,
At 1:18 da manhã, Ricardo said…
Velho, Raio e Parsec,
As teorias não se contradizem mas dificilmente explicam esta demissão. E com isto não estou a tentar desculpabilizar os polvos dos aparelhos dos partidos porque eles, sem dúvida, são os grandes responsáveis pela situação em que chegamos.
E como diz o Parsec, quando não há pão que venha o circo.
Um abraço,
At 9:19 da tarde, Anónimo said…
Para quem olha os problemas da Nação, com Honestidade, tem de se admirar com estas situações.
Só que, actualmente e em politica, é coisa inexistente ou muito rara.
Não posso adiantar nada ao que já foi dito pelo Velho da montanha, apenas sugiro a leitura do artigo 22.07.05 "Crise total no PS", no jornal O Semanário (on-line).
Continuação de bom trabalho.
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