719. Sala de Cinema: Caché
Caché - Michael Haneke
Realizador: Michael Haneke
Elenco: Daniel Auteuil, Juliette Binoche
Caché é um filme de produção francesa que conta com Daniel Auteuil e Juliette Binoche como protagonistas. Este casal que vive numa casa das ruas de Paris com o filho começa a ser psicologicamente torturado com o sistemático envio de cassetes de vídeo com filmagens da casa onde habitam dia e noite. A tensão psicológica cresce o longo do filme e as respostas escasseiam. Quando parte da história por detrás desta perseguição começa a ser revelada o casal começa a desunir-se e o outrora ambiente familiar construído nas rotinas e no comodismo começa a ficar seriamente abalado.
E se nós temos – nós portugueses – o fantasma da guerra colonial, este casal vê-se envolvido nos fantasmas pessoais e nacionais da guerra entre a França e a Algéria. Esta temática é actual e reflecte algum mal estar em França e algumas feridas mal curadas. Mas este é o contexto porque o foco está na forma como estes eventos afectam o casal e as gerações vindouras. Aliás como pano de fundo há imagens da Euronews a relatar outros conflitos como o do Iraque como que a antever que várias gerações vão ter problemas mal resolvidos. É nestas subtilezas que o filme está bem conseguido.
Caché - Daniel Auteuil e Juliette Binoche
Há duas cenas do filme que são marcantes. Para não revelar o que não devo não posso falar nelas. O final do filme é muito ambíguo e só acessível a quem esteve muito atento às subtilezas. Mas novamente o importante é a próxima geração e novamente podemos fazer paralelos com o Iraque. Até que ponto os “pecados” e os “erros” dos pais transportam-se para a geração seguinte? É uma história de culpa, de vingança, racismo, xenofobia, tragédia. E a beleza sublime do filme é que é tudo tão subtil que dificilmente há uma só teoria sobre o que realmente aconteceu no filme. Se algum dos leitores deste texto viu o filme e tem uma teoria sobre ele pode escrever para o meu correio electrónico para discutirmos isso sem revelar o que não devemos a quem ainda não viu o filme.
Michael Haneke é o realizador do também absolutamente magistral La Pianiste.
Síntese da opinião: É um filme cheio de segundos significados, paralelos e subtilezas. E como as dores da nação afectam o quotidiano dos seus cidadãos e das gerações vindouras. A ver e a rever com muita, mas muita, atenção porque não é um filme de fácil compreensão e de chave única!
Memórias do Filho do 25 de Abril: Sétima Arte (todos os textos deste blogue sobre cinema)
Technorati Tags: Caché, Michael Haneke, Cinema
2 Comments:
At 3:28 da manhã, Anónimo said…
Ainda não vi, mas fiquei interessado.
Quanto à guerra colonial, é espantoso como se trata de algo tão pouco falado no nosso país. O número de pessoas que ficou marcado, física e/ou psicologicamente, por essa guerra é elevadíssimo. No caso das cicatrizes psicológicas, penso que um estudo exaustivo e rigoroso ainda estará por fazer (eu pelo menos não o conheço) mas tenho a sensação que, se fosse realizado, a extensão e profundidade do problema surpreenderia muita gente...
Abraço
At 3:49 da manhã, Ricardo said…
Fernando Bravo,
Tenho sempre dificuldade em recomendar filmes porque depende muito do nosso gosto pessoal. E este filme em particular - que achei sublime - é um filme difícil de recomendar porque depende muito da nossa sensibilidade em relação a reflectir sobre o próprio filme após o visionamento.
Todas as guerras deixam marcas. O que faz este filme especial é transportar essas marcas de forma geracional.
Abraço,
Enviar um comentário
<< Home