958. Grão de Areia no Universo: Saddam Hussein
Quero deixar muito claro que considero Saddam Hussein um monstro (pessoa cruel, desumana, perversa). Não pode haver dúvidas quanto a esta consideração.
A questão é: devo estar satisfeito com o enforcamento do ex-ditador e ex-aliado do Ocidente? Ou melhor, nem vou colocar a questão no campo da satisfação mas sim se será que considero que a sua execução foi um marco ("milestone" - George W. Bush)? Foi um marco, sim senhor, mas não sei se é um sinal de civilidade ou sequer de humanidade.
Sou frontalmente contra a pena de morte mas nem é isso que está aqui em questão. A pena de morte é injustificável, na minha opinião, em qualquer cenário (por razões que não vale a pena sistematizar agora). Neste caso em concreto ainda menos lógica tem e não há motivo para qualquer regozijo. O conjunto de sinais que são lançados desta execução não têm qualquer tipo de utilidade na construção de um novo tipo de sociedade no Iraque, são per si também sectários, provocam mais divisões, desconstroem a reconciliação, criam mais radicalismos, criam desconfiança na justiça, criam lendas e, pior, poupam ao ex-ditador o cárcere que bem "merecia".
Se foi julgado pelos iraquianos (vamos partir do princípio que são um só povo) acho isso positivo. Se foi condenado melhor ainda. A pena de morte, para além de inviabilizar o dever de Saddam ser julgado por muitos mais crimes (tantos quantos fossem possíveis julgar), vem manchar a projecção duma imagem de esperança do país Iraque que os seus cidadãos e representantes poderiam dar e deveriam querer dar mesmo numa fase tão difícil como a actual.