Filho do 25 de Abril

A montanha pariu um rato - A coerência colocada à prova - A execução de Saddam Hussein - O Nosso Fado - "Dois perigos ameaçam incessantemente o mundo: a desordem e a ordem" Paul Valéry, "Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa, salvar a humanidade", Almada Negreiros - "A mim já não me resta a menor esperança... tudo se move ao compasso do que encerra a pança...", Frida Kahlo

segunda-feira, fevereiro 28, 2005

(346) 77th Academy Award

Ficam para a posteridade alguns apontamentos dos momentos da noite. Destaco:

- Vídeo de Abertura: Vêr Chaplin a interagir com Shrek foi, sem dúvida, um momento de televisão engraçado.

- Chris Rock: Confesso que a gritaria deste comediante não encaixa bem com o meu gosto pessoal. Rock foi irreverente, incontrolável e crú. Os comentários a Nicole Kidman (ironizando o seu sorriso aberto quando perdeu o Óscar para Halle Berry), Tobey Maguire (Não é um actor, "Is just a boy in tights") e Jude Law foram violentos. Sean Penn acabou por deixar uma alfinetada a esta abertura de Chris Rock. Foi implacável nas questões políticas e com Bush tocando num ponto sensível para os Americanos, a guerra. Rock foi mais um comediante de Stand Up Comedy que um apresentador. Uma abertura sem o glamour doutros tempos e com uma duração curta.

- Formato da Cerimónia: As alterações não funcionaram bem. Retiram brilho a algumas categorias e não são momentos televisivos funcionais. As entregas com todos os nomeados no palco, as entregas na plateia e as entrevistas de rua só servem para esvaziar a grande força da cerimónia, a aura de glamour que envolve os prémios. Outra "contrariedade" que não estava habituado a ver foi a quantidade de cadeiras vazias que apareceram nas imagens.

- Actor Secundário: Na talvez mais concorrida categoria ganhou Morgan Freeman. Não preciso dizer nada da qualidade deste actor que à quarta nomeação ganhou o primeiro Óscar.

- Actriz Secundária: A arrepiante interpretação de Cate Blanchett de Hepburn valeu à primeira o seu único Óscar até à data e diria que o quarto para a segunda. Merecido!

- Improviso: De Jeremy Irons quando se ouviu um barulho de fundo, ou melhor, um estrondo ("I hope they missed").

- Argumento(s): Para Sideways e Eternal Sunshine of a Spotless Mind. Uma escolha equilibrada da Academia para não deixar esquecidos os filmes mais criativos do ano.

- Actriz: Annette Benning perde novamente para Hilary Swank num ano em que a Academia não fez compensações por injustiças do passado. Este Óscar era incontornável.

- Actor: Jamie Foxx foi o actor do ano com duas nomeações e o Óscar para melhor actor. Foi a intervenção da noite mais engraçada e emotiva numa cerimónia muito robótica e desinteressante. Para DiCaprio deixo as palavras da filha de Jamie Foxx, "If you don´t win you´re still good"... não porque ache que DiCaprio seja um actor de eleição mas porque está a trabalhar para tentar ser.

- Realizador: O Óscar mais aguardado. Clint Eastwood ganhou. Foi merecido. Os pontos fortes de Million Dollar Baby eram os actores e o realizador que suplantaram um argumento que não seria tão forte sem os primeiros. Uma palavra muito pessoal para Scorsese... não deixas de ser, para mim, o melhor realizador em actividade apesar de nunca teres ganho um Óscar.

- Filme: Ganhou Million Dollar Baby porque foi o filme mais intenso e equilibrado do ano.

- Balanço: Ao mesmo tempo que a cerimónia perde glamour, a Academia aposta num maior sentido de justiça não capitulando a um eterno ciclo de compensações. Com honrosas excepções ganharam os melhores do ano mas sem o brilho de outros tempos. Sugeria que voltassem a apostar numa cerimónia mais "orgânica" e menos "metálica".

domingo, fevereiro 27, 2005

(345) Óscar 2005




Para que serve um Óscar? Desenganem-se aqueles que acham que são para premiar os melhores filmes e actores (entre outros intérpretes do mundo do cinema) dum ano em particular. Cada vez isso acontece menos. Serve para consagrar ou lançar actores e realizadores ou até mesmo para fomentar resultados de bilheteira a filmes em dificuldade. Esta perspectiva doentia de premiar conforme a pressão dos estúdios descredibiliza os prémios e cria um ciclo vicioso de compensações e jogos de interesses.

Veja-se o exemplo de Martin Scorsese. Para que é que ele precisa dum Óscar? Os Óscares é que precisam dele para ganhar credibilidade. Alguém compreende como é que Scorsese não tenha uma única estatueta? Perdeu a estatueta em Taxi Driver para John G. Avildsen (Rocky!?!?) e até mesmo Kevin Costner com Dances with Wolves ganhou a Scorsese com Goodfellas!!! Terá isso afectado a carreira de Scorsese? Acho sinceramente que se afectou foi para benefício deste já que pôde assim manter a sua independência dos grandes estúdios. E o mais irónico é que este pode ser o seu ano porque a Academia tem que compensar Scorsese logo com um dos filmes que nem é dos 5 melhores que ele fez. Não concordo nem nunca concordei em confudir prémios de carreira com prémios a um filme específico. Essa confusão dá vantagem a Scorsese como melhor realizador mas tem sido a principal razão (entre outras) porque ele não ganhou quando devia ter ganho.

Outro bom exemplo é Al Pacino. Não ganhou o Óscar nem com a terceira parte de GodFather e foi logo ganhar com Scent of a Woman, um dos piores filmes da sua brilhante carreira. E como explicar que a categoria de Actor/Actriz Secundário(a) tenha muitas vezes actores principais? Porque é preciso jogar o jogo com as regras da indústria e colocar nessas posições actores que precisam ser promovidos ou aproveitar uma categoria “menor” para premiar quem nunca foi premiado. É uma enorme hipocrisia, é um voto de simpatia!

Este ano o grande “combate” é entre Clint Eastwood e Martin Scorsese. Acho o filme de Eastwood mais consistente apesar de não ser um filme perfeito mas como pode haver compensações por injustiças anteriores nunca se sabe quem pode vencer. Paradoxalmente Eastwood tem contra si o facto de já ter ganho um Óscar por Unforgiven. Outra curiosidade está no Óscar de melhor actriz. Hilary Swank (Million Dollar Baby) volta a concorrer contra Annette Benning (Being Julia) já que em 1999 o seu desempenho em Boys Don´t Cry foi o preferido da Academia em detrimento do magnífico desempenho de Benning em American Beauty. Provavelmente as estatuetas estariam mais bem entregues se trocassem a ordem dos prémios com Benning a ganhar em 1999 e Swank este ano. Mas os membros da Academia já têm uma vasta experiência na sua política de compensações.

Apesar de tudo é um ano com bons filmes e muito equilíbrio ao contrário do ano passado onde houveram poucas surpresas e o Return of the King “limpou” todas as categorias que estava em competição. Repito que a importância destes prémios é muito relativa.

Mas agora como é que eu vou explicar, perante o que acabei de dizer, que nunca perdi uma cerimónia dos Óscares e que continuo a ser influenciado pelas suas escolhas? Porque encaro os Óscares como mais um (e só mais um) festival de cinema que procura promover um certo tipo de filmes. Esta atribuição de prémios não é, para mim, mais importante que outras como o FantasPorto porque tudo é relativo e nós, espectadores de cinema, temos é que saber filtrar a verdadeira importância de cerimónias como esta. Apenas servem para alimentar os mitos do cinema com muito glamour e as nossas escolhas só devem ser condicionadas com alguma inteligência da nossa parte. É que no fundo qualquer um de nós sabe que na vida nada tem valor absoluto. Assim sendo este festival é só mais um entre centenas que nos ajudam a filtrar os filmes que vamos ver e dessa conclusão advém a importância de sabermos os “truques” dos mecanismos de escolha dos prémios. Só assim pode ser (mais) um contributo para separar o trigo do joio cinematográfico.

O importante é que cada um de nós dê prémios a quem mais gostamos para aproveitarmos ao máximo o prazer de ir ao cinema. Todos os outros prémios valem bem menos que os “nossos” prémios... e são esses prémios que nos devem influenciar quando fazemos as escolhas cinematográficas!

(344) Sala de Cinema: The Aviator, de Martin Scorsese




"Joins 'Goodfellas,' 'Casino' and 'Gangs of New York' in what could be called Scorsese's 'American History' series of epics about fatally flawed, even criminal visionaries..."
John Beifuss, COMMERCIAL APPEAL (MEMPHIS, TN)

A parceria Scorsese/ DiCaprio está a (re)vitalizar a carreira de ambos. Scorsese “empresta” todo o seu talento (e obsessão) a DiCaprio e este produz e atrai investimento para os filmes de Scorsese além de construir uma carreira de actor “adulto” ultrapassando o “estigma” de Titanic. “Gangs of New York” foi a primeira cooperação e o resultado final é um filme com uma carga visual impressionante retratando um período importante da história da cidade e do país. Após “The Aviator” já há uma nova colaboração agendada, o drama criminal “The Departed”.

“The Aviator” narra a vida de Howard Hughes (Leonardo DiCaprio), ou para ser mais exacto, uma das fases mais interessantes da vida deste multimilionário. Não é fácil fazer uma biografia e muito menos no grande ecrã sobre Hughes mas o projecto caiu em boas mãos. O argumentista tinha um dilema. Ou escrevia toda a sua vida ou ficcionava sobre uma parte e decidiu optar pela segunda hipótese o que foi uma decisão inteligente. Tem um argumento eficaz.

O filme concentra-se na relação de Hughes com o cinema, a aviação e as mulheres não se dispersando noutros negócios como o petróleo, casinos e hoteis. O comportamento obsessivo de Hughes é bem gerido e nota-se a progressão de forma natural desde o criador frenético de cinema com Hell´s Angels até ao destruidor paranóico que se encerra numa sala de projecção.

Scorsese é, como sempre, perfeccionista e este filme está repleto de grandes planos, pormenores técnicos curiosos e passagens entre cenas magistrais. Só os efeitos digitais atrapalham um pouco esta estética porque Scorsese não é um cineasta que os saiba usar bem. As interpretações estão à altura das celebridades que encarnam. Leonardo DiCaprio ultrapassa definitivamente a imagem de actor sem espessura que o filme Titanic ajudou a criar. As cenas na sala de projecção são visualmente poderosas (com o filme a interagir com a personagem) e DiCaprio entrega-se de corpo e alma nessas cenas (como em todo o filme), resultando em imagens que ficam para a posteridade. Mas não é só DiCaprio que brilha neste filme...






Já sabíamos que Cate Blanchett é uma excelente actriz mas poucas vezes tem a oportunidade de mostrar todo o seu talento como neste filme que interpreta magistralmente Katharine Hepburn. Não sei se é uma cópia fiel da original mas também não me interessa, o que sei é que o seu carisma e energia são uma lufada de ar fresco num filme que retrata as décads de 30 e 40 em Hollywood, décadas onde o glamour estava no seu apogeu. A cena da viagem de avião durante a noite onde Hughes e Hepburn partilham uma garrafa de leite (ele era germofóbico) é intensa. Kate Beckinsale também está “cintilante” na pele de Ava Gardner. As festas e as estreias são o cenário perfeito para enquadrar estas “estrelas” no filme.

O final distorce um pouco a vida de Hughes mas dá consistência ao filme como um todo.

Para mim os filmes de Scorsese nunca são fáceis de digerir no primeiro visionamento mas têm a faculdade de envelhecerem bem. Tenho a certeza que este filme também vai saber envelhecer e ser cada vez mais interessante à medida que vamos notando em mais pormenores. A ver e a rever com regularidade!

(343) Sala de Cinema – FantasPorto 2005: Natural City, de Byung-chun Min




O Fantasporto é uma oportunidade única de acompanhar as tendências do cinema internacional não norte americano. Passam por este festival muitos filmes que não estream no circuito comercial. Muitos deles não são cinema fantástico. Há espaço para cinema de autor, para o lançamento de novos realizadores, para filmes de baixo orçamento e para cinema de todos os cantos do globo. Adicionalmente permite assistir aos filmes com um ambiente refrescante com figurantes, convidados, exposições, música e muitos aplausos.

Mas a realidade é que esta opção também pode ser arriscada para o espectador. Não há filtros entre o filme e o público o que pode ser bom (os críticos portugueses são muito conservadores nas suas opções cinéfilas) mas que também pode ter um lado perverso e ser uma penosa experiência para quem assiste aos filmes. É o caso deste filme Sul Coreano realizado por Byung-chun Min. Não deve ter sido indiferente para este realizador, que esteve presente na exibição do filme, a reacção “fria” ao seu filme. Nos últimos anos a internacionalização do “Fantas” tem como lado negativo a imprevisibilidade da qualidade dos filmes. Mesmo assim acho a opção legítima e defensável.

Natural City vai beber a sua inspiração a filmes como Blade Runner e aí está o seu calcanhar de Aquiles. Quando se faz uma “cópia” (ou pelo menos uma revisitação) corre-se sempre o risco de haver uma comparação com o original. E é aí que o filme perde em toda a linha. No ambiente, nos intérpretes, nos efeitos, na realização, no argumento e por aí fora. A história de amor que sustenta o filme é desinteressante e por vezes o filme é por demais desconexo. Mesmo as cenas de acção são confusas e de qualidade duvidosa. De qualquer forma é um filme que está bem inserido num festival com as características destes e não critico a organização pela escolha do filme para fazer parte da programação do “Fantas”.

Nota Final: A dupla legendagem adoptada é um erro. Para já de sincronização e até de tom e depois porque não vale a pena ter legendas portuguesas só por ter quando estas não têm o mínimo de qualidade.

sábado, fevereiro 26, 2005

(342) Martin Scorsese (6 de 6)




É já neste século que Scorsese começa a sua colaboração com a Miramax e com Leonardo DiCaprio, o seu novo actor fetiche. Gangs of New York (2002) passa-se durante a Guerra Civil Americana e retrata o desenvolvimento da cidade de Nova Iorque numa época conturbada de incerteza. Desta vez não há lugar para complicadas relações de força subtis como nos seus anteriores filmes sobre a criminalidade organizada nos Estados Unidos. Aqui tudo é explícito e crú. Daniel Day Lewis é excelente no papel de Bill "The Butcher" Poole, um papel claramente preparado para Robert DeNiro mas que este recusou representar por não querer passar tantos meses na Europa.






A cena que abre o filme é arrasadora com a luta entre os diferentes gangues numa Nova Iorque coberta de neve. Inesquecível! Depois Scorsese comete um erro ao tentar contar duas histórias paralelamente, a de Amesterdam (Leonardo DiCaprio) e a da cidade, uma personagem viva neste filme. Um erro porque Scorsese nunca decide a qual das histórias dar mais importância. No fim não se percebe onde está o clímax com tanta coisa a acontecer ao mesmo tempo. Também é pena Cameron Diaz não estar à altura do desafio que foi este filme.

A relação entre o “Butcher” e Amesterdam é intensa porque os sentimentos de vingança e os sentimentos paternais andam em constante conflito. A cena em que Amesterdam acorda e está a ser observado por um “Butcher” enrolado na bandeira americana é uma das cenas mais intensas do filme e uma das mais conseguidas relações entre personagens que já vi no cinema de Scorsese. “Butcher” mostra aí todo o seu lado humano criando uma empatia imediata com o espectador mesmo que este ainda não tenha esquecido as atrocidades anteriores da personagem. Também não vou esquecer a cena em que “Butcher” entra em cena "montado" num carro dos bombeiros acompanhado pela banda sonora do filme. É a violência que abre o filme, é o motor do filme e é através dela que regressa a tranquilidade.

Scorsese não é uma garantia de receitas nas bilheteiras onde muitas vezes fracassa mas o sucesso de um homem não se mede pelo dinheiro que faz nem pelos prémios que recebe. O sucesso deste realizador mede-se pela quantidade de filmes que criaram emoções fortes nos seus espectadores e na forma como deixa marcas duradouras na Sétima Arte.


Este é o meu pequeno elogio à obra de Martin Scorsese!

"I just wanted to be an ordinary parish priest."

(341) Martin Scorsese (5 de 6)




Em 1995 Scorsese revisita os filmes sobre a Mafia em Casino. Novamente com Robert DeNiro e Joe Pesci, descreve a criação de Las Vegas e a influência que a Mafia teve no seu funcionamento. Como sempre Scorsese gosta de filmar o apogeu e o declínio do homem porque tudo na vida tem obrigatoriamente um fim. É impressionante como a vida da personagem de Robert DeNiro muda ao longo do filme conforme vai perdendo o controlo sobre tudo o que o rodeia, inclusivamente da sua família. Sharon Stone tem aqui aquele que foi provavelmente o melhor papel da sua carreira. As filmagens no deserto são de uma beleza visual incomparável. Foi a última colaboração até à data com DeNiro.






Dois anos depois realiza Kundun (1997) sobre a vida do Dalai Lama. É uma viagem espiritual com poucos meios mas onde se nota que os pormenores técnicos de cada cena foram optimizados para criarem uma atmosfera mística. É um dos primeiros filmes de Scorsese que a religião católica não tem o papel de guia moral das personagens. É talvez um dos seus projectos menos conhecidos até porque parece ser um filme intimista, um projecto pessoal. Sem dúvida um dos seus filmes mais conseguidos no aspecto visual.

Nem sempre é uma boa ideia revisitar o passado e copiar as fórmulas de sucesso do passado. Scorsese voltou a colaborar com Paul Schrader (Taxi Driver) no filme
Bringing Out the Dead (1999), com Nicolas Cage no principal papel. Substitui o taxi por uma ambulância e vagueia pela noite de Nova Iorque. Apesar da beleza visual habitual nos seus filmes também estar aqui presente o filme ficou muito aquém das expectativas. Até porque era inevitável a comparação com Taxi Driver. Um dos filmes menos bem conseguidos de Scorsese...

sexta-feira, fevereiro 25, 2005

(340) Sala de Cinema: Constantine, de Francis Lawrence




"The biggest problems with Constantine all seem to stem from Keanu Reeves. The problem is that Reeves really can’t act. Sorry, Keanu, but the truth hurts."
Kevin Carr, 7M PICTURES

"Lawrence keeps the story on track and doesn't cheat the world of Constantine, which embraces good, evil, unforgiving judgment and the human ambiguities that offer the possibility for forgiveness."
Sean Axmaker, SEATTLE POST-INTELLIGENCER

"Add Constantine to the list of movies that took comic-book concepts, but left the soul on the page."
Josh Bell, LAS VEGAS WEEKLY

"Hellacious, audacious, visually stunning and deeply wiggy, Constantine is a miracle, a comic-book movie for smart people."
Colin Covert, MINNEAPOLIS STAR TRIBUNE


Basta pensar que é um filme baseado numa Banda Desenhada para descrever o filme? – pergunta o atento leitor. Não. Porque este filme mistura vários géneros de cinema. É também uma comédia ligeira e um filme noir. Confusos? Eu acrescentava ainda que é um filme de terror com um toque de espiritualidade. Esta mistura de géneros resulta em bom entretenimento, para quem gosta dum filme de terror “cool”.

Estarei a aconselhar o visionamento deste estranho filme sobre um homem (Keanu Reeves) que viaja entre dois mundos? – insiste o leitor. Nem por isso! – responde o autor do texto. Apenas aqueles que já viram o Aviator, o Million Dollar Baby e Sideways e que, adicionalmente, gostem dum filme de terror sem grandes sobressaltos é que estão aconselhados por mim a ir ver este filme.

Talvez por ser mesmo um filme ligeiro não tenho mais nada a acrescentar. Bom cinema!

quinta-feira, fevereiro 24, 2005

(339) Martin Scorsese (4 de 6)



In the November 2004 issue of Premiere Magazine's ranking of "The 50 Most Disturbing Moments in Movie History", the editors ranked Martin Scorsese losing the 1991 Best Director Oscar (for Goodfellas) to Kevin Costner who directed Dances with Wolves.

In Raging Bull, Joe Pesci beats the hell out of Frank Vincent, which he does again in GoodFellas. In Casino, the situation is reversed.


Outra das obras primas de Scorsese é o filme
Goodfellas (1990). A par com a triologia de Copolla (GodFather) trata-se do melhor que já foi alguma vez feito na Sétima Arte sobre o submundo do crime organizado nos EUA. Tudo está perfeito neste filme desde o ambiente até aos actores sem esquecer o argumento poderoso que suporta esta aventura cinematográfica. Ray Liotta e Joe Pesci têm aqui o papel das suas vidas assim como Lorraine Bracco é magistral neste filme. Robert DeNiro é espantoso sempre que trabalha com Scorsese e este filme não é uma excepção.

Este filme serviu de inspiração a um novo tipo de filmes sobre a máfia que, durante os anos seguintes, dominou parte do cinema americano. O conceito de honra e lealdade dão uma visão humana a estes criminosos e isso é levado ao limite. Por isso a traição da personagem de Ray Liotta é dramática e isso é sentido no filme. Era o fim do mito e dum modo de funcionamento que suportava o crime organizado. De certa forma Scorsese vinca que, depois disso, o crime ficou amoral e passou a estar envolvido com o mundo das drogas. Quem não seguia os códigos da máfia como a personagem explosiva de Joe Pesci sofria as consequências. Já DeNiro corria à margem por não ser italo-americano e nunca, aos olhos da máfia, ia conseguir compreender algo que não se explica, algo que permite com que o crime organizado tenha um sentido muito sui generis de honra e moral. Já nos filmes de Copolla via-se a resistência da velha guarda da Máfia em aderir ao tráfico de droga. Os Sopranos também são fruto desta obra prima.






For cinematography for Cape Fear, Scorsese chose Freddie Francis, BSC. "The main thing was Freddie's understanding of the concept of the Gothic atmosphere," Scorsese explained. "He knows the atmosphere that I want for this picture. He knows the lighting — whatever it takes to get that incredible, Gothic thriller look. He understands the obligatory scene of a young maiden with a candle walking down a long hall towards a door. 'Don't go in that door!' you yell, and she goes in! Every time she goes in! So I say to him, ‘This has to look like The Hall,' and he understands that."

Depois deste filme Scorsese filma um remake de Cape Fear (1991) colaborando novamente com Robert DeNiro. Este thriller faz com que o actor fetiche de Scorsese volte a fazer uma transfiguração física impressionante. Desta vez a personagem principal não é o anti herói, é um criminoso sem redenção nem alma. O ambiente claustrofóbico que a família de Nick Nolte é sujeita é deveras impressionante. Este filme tem o seu apogeu numa cena memorável num barco de recreio.

Para muitos realizadores estes filmes já seriam razão suficiente para não arriscarem mais. Mas a carreira de Scorsese estava ainda começando e faltava experimentar muitos conceitos. Em 1993 faz um filme de época com Daniel Day-Lewis, Winona Ryder e Michelle Pfeiffer com o nome
The Age of Innocence. Este filme é um festival de beleza cinematográfica com planos extensos onde Scorsese mostra que conhece as técnicas de cinema melhor que ninguém. A cena do baile é inesquecível pela maneira como a câmara consegue contemplar toda a extensão da cena de forma visualmente perfeita. Nesta fase Scorsese já transpira confiança para arriscar planos tecnicamente difíceis. Não é um filme visceral como os anteriores de Scorsese mas mostra que este também é capaz de fazer uma história de amor com mestria.

quarta-feira, fevereiro 23, 2005

(338) Sala de Cinema: Million Dollar Baby, de Clint Eastwood


Muitas pessoas devem perguntar se este é o mesmo Clint Eastwood dos tempos de Dirty Harry. Eu próprio pergunto-me muitas vezes o que é que aconteceu a este actor/realizador para sofrer uma metamorfose tão profunda. A realidade é que aqui está ele, cada vez melhor e mais surpreendente. Já é um lugar comum mas nunca é demais dizer que Eastwood envelheceu bem e ganhou uma dimensão humana impressionante.




Clint Eastwood por Alain Duplantier


Tenho que confessar que ia desconfiado ver este filme. Um filme sobre boxe não costuma ser a minha praia mas depois pensei, Scorsese também já seguiu esta estrada e não se deu mal. Fiquei também curioso com as excelentes críticas ao filme que lia em todo o lado uma vez que achava difícil este filme ser melhor que o anterior de Eastwood, Mystic River.
Lá fui ver o filme e...

...UAU...


... mesmo tendo em conta a carreira recente de Eastwood tenho que confessor que não esperava tanto. Mystic River era duma dor quase visceral, Million Dollar Baby é duma dor tranquila. Se o primeiro chocava pela crueza das imagens este vai até à alma das personagens. É um filme intimista que até parece que estamos na mesma sala que as personagens. O trio de actores está perfeito para este filme.

Nenhum filme é perfeito e este também não é. Nem sempre podemos ter os dois mundos, ou seja, nem sempre podemos levar os sentimentos ao extremo e manter uma dignidade quase higiénica. Mas Eastwood é assim, há-de morrer com a sua dignidade e verticalidade intocadas. Só ele para conduzir a narrativa desta forma. Depois há a lutadora alemã cuja caricatura é um pouco tosca, ganhando desde já a corrida para a "Darth Vader" desta década. Mas todo o resto é tão perfeito que estes pormenores são isso mesmo, simples pormenores.

Eastwood aposta cada vez mais num estilo minimalista a filmar o que funciona como um trampolim para os actores. As cenas dos combates estão excelentes e Hilary Swank faz um impressionante trabalho físico e dramático, num trajecto de superação inesquecível. Aqui sim há um papel merecedor dum Óscar já que em Boys Don´t Cry não fiquei rendido á sua actuação. Morgan Freeman está igual a si próprio mas no máximo do seu potencial transmintindo uma serenidade madura ao filme. Falta dizer que o actor Eastwood não fica atrás do realizador Eastwood. A sua personagem vive com culpa e nunca a supera, num ciclo frenético de acontecimentos que deixam cicatrizes até ao osso, daquelas que não podemos fechar.

O ano passado fiquei tocado com a leveza refrescante de Lost in Translation e o poder demolidor de Mystic River. Este ano fico atordoado, até mesmo siderado, com a força intimista deste filme...

(337) Martin Scorsese (3 de 6)



“I can never do what they do because they’re of this modern world, I’m not.”

Depois de Taxi Driver há mais três colaborações consecutivas com Robert DeNiro em
New York, New York (1977) com Liza Minnelli, Raging Bull (1980) e The King of Comedy (1982). No filme Touro Enraivecido Robert DeNiro passa por transformações físicas impressionantes. Não é um dos meus filmes favoritos de Scorsese mas não deixa de ser um filme intenso e visualmente impressionante.





Se Scorsese já era um realizador polémico o seu projecto seguinte ainda ajudou mais a alimentar esse título. The Last Temptation of Christ (1988) teve que ser adiado diversas vezes porque era considerado demasiado polémico e financeiramente arriscado sendo, por isso, constantemente recusado. Scorsese não desistiu e passou por um período onde teve que angariar dinheiro para o seu projecto. Realizou Comedy After Hours e The Color of Money (1986). Este ultimo filme, com Paul Newman e Tom Cruise, é um filme menor na sua carreira mas foi o seu grande sucesso de bilheteira. Mesmo assim conseguiu retirar o melhor duma mistura de actores consagrados com actores em ascensão. Paul Newman volta a representar "Fast" Eddie Felson e apadrinha Tom Cruise num dos seus primeiros papeis “sérios”.

Finalmente em 1988 consegue realizar
The Last Temptation of Christ com Willem Defoe. A sua visão de Jesus Cristo é brilhante. Hoje em dia o filme não seria tão polémico e, por isso, considero que este filme abriu caminho para que hoje seja possível falar de religião com menos tabús. Eu considero este filme arte e não um filme histórico. Sem ser convencional também não considero um desrespeito à figura de Jesus Cristo.

Scorsese, nesta fase, continuava a gerir a sua carreira de forma coerente reservando para a década de 90 mais um conjunto de filmes inesquecíveis que começa com “Tudo Bons Rapazes”. Continua...

(336) Sala de Cinema – FantasPorto 2005: Hipnos, de David Carreras Solè



O melhor festival de cinema nacional recomeçou! O FantasPorto tem vindo a ganhar o lugar de um dos melhores festivais do cinema Fantástico sendo uma oportunidade única para visionar as diversas tendências mundiais deste género cinematográfico. Este ano comemora 25 anos! Parabéns!

Apesar de ser uma edição simbólica pelos 25 anos de existência não tem a melhor programação de sempre. Tem-se notado, especialmente nas últimas três edições (que coincidem com Rui Rio ter tomado posse na Câmara Municipal do Porto) um decréscimo nos apoios. Mas o impacto não tem sido significativo na qualidade do festival que aposta cada vez mais na promoção de filmes internacionais com pouca divulgação comercial de cinema fantástico. Além das ante-estreias (destaco Constantine e Sideways) tem uma programação que inclui o melhor do género com produções espanholas, japonesas, coreanas, brasileiras, entre outras. Há também a oportunidade de rever clássicos do terror e fantasia no Pequeno Auditório. Este ano também aposta na venda de DVD´s a preços bastante apetecíveis que até já contou com a minha modesta contribuição ao comprar, a 10€, o filme de terror The Ring (versão original japonesa).

Hipnos é um filme típico de “Fantas”. É um thriller psicológico com suspense e sangue quanto baste. O cinema espanhol tem apostado cada vez mais no cinema fantástico e fiquei impressionado com a qualidade dos cenários, da fotografia e dos actores neste filme. Para filme de estreia David Carreras está de parabéns e promete ter uma carreira deveras interessante. O argumento, como muitas vezes também é habitual neste tipo de filmes, é que deixa a desejar.

Só quem conhece o “Fantas” sabe que este festival tem um ambiente muito próprio e único. Longos anos de vida para este festival...

terça-feira, fevereiro 22, 2005

(335) Martin Scorsese (2 de 6)


Mean Streets



A primeira longa metragem de Martin Scorsese foi Who's That Knocking at My Door? (1968) onde já era possível observar algumas das características que marcam a sua carreira. Neste filme com Harvey Keitel (que colaborou com o realizador em vários filmes) já é possível observar a sua obsessão pela inovação visual do cinema, com uma estética muito personalizada. A moral e a religião são sempre a base da vida em constante confronto com os sentimentos e a natureza dos homens.

Só em 1973 Scorsese faria um filme com distribuição comercial.
Mean Streets foi a primeira colaboração com Robert DeNiro que durante muitos anos foi o seu actor fetiche. Note-se que Robert DeNiro fez os seus melhores filmes ao comando de Scorsese já que o resto da sua carreira foi bem mais irregular e pobre. Este actor foi a personificação perfeita das características do anti herói que Scorsese queria retratar nos seus filmes. E sejamos sinceros, o anti herói é sempre uma personagem bem mais interessante que o herói. Foi também neste filme que os "gangsters" começaram a ser retratados com uma moral sempre ligada à religião católica (que Coppola também explorou).

Tom Hanks on a rewarding cinematic experience: "To me, it's like off the scale. One of the best endings for any movie I've ever seen is at the true end of Taxi Driver where Travis Bickle is just kind of hanging out driving a cab after it's all done. I remember having rabid discussions about it in college: 'How could it end in this glorious violence?' And I said, 'It didn't end like that. The end of the movie was the guy in the third act of his existence.' That was an incredibly satisfying experience, but it's a huge, huge gamble."




Depois filmou o ainda hoje interessante filme Alice Doesn't Live Here Anymore (1974) antes de começar a trabalhar com Paul Schrader no meu filme favorito (não só da carreira dele mas também de todos os filmes que já vi), Taxi Driver. Este filme é a personificação perfeita do anti herói, o filme que fez Robert DeNiro brilhar com o papel dum taxista que não consegue a integração numa sociedade que já não está preparada para o acolher. Aqui não há concessões quando é necessário mostrar a violência urbana. A história centra-se num solitário taxista que vagueia pelas ruas de Nova Iorque à noite. Há longos planos nocturnos onde Travis Bickle enfrenta a decadência urbana de Nova Iorque ao som da composição de Bernard Herrmann. Simplesmente magnífico!






Neste filme a câmara não acompanha o actor porque, por vezes, a câmara desaparece e distrai-se com o ambiente que rodeia a personagem. Muitas vezes é o actor que tem que procurar a câmara para apoarecer e não o contrário. Isto porque o ambiente é mais uma personagem do filme, talvez a principal. A decadência do ser humano é visível e progressiva culminando na famosa cena em que Robert DeNiro já não ambiciona a redenção e com um comportamento lunático olha para o espelho e pergunta: “Are you talking to me?”. Depois surge a hipótese de redenção na polémica personagem interpretada por Jodie Foster (uma prostituta de 14 anos).

A sequência final é duma violência sem par onde Scorsese opta por ser crú e apocalíptico. Guardo a amargura da parte final do filme ter sido escurecida para esconder parte da violência e já não ser possível, segundo Scorsese, recuperar as cores originais. O filme acaba como começou, com Travis a vaguear solitariamente pela noite Nova Iorquina mas já em paz consigo mesmo. A ver e rever sempre e a qualquer hora!

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

(334) Martin Scorsese (1 de 6)




Scorsese turned down Silence of the Lambs and told an interviewer: "I always know that if I did [blockbusters] they wouldn't have become big hits. What I mean by that is it would have been a different way. They gave me the book, Silence of the Lambs. I couldn't see myself doing the autopsy scenes, you know. I think the way I would do them would be so crude. I'd be like, ‘I've got to do it, so I've got to open this, see the inside.' I mean, I dunno. It's a blurring of what is taste, what to show, what not to show, and I'm not sure. And how could I get past that autopsy scene? I just couldn't do it."


Martin Scorsese é o melhor realizador no activo e um dos melhores de todos os tempos! Esta é a minha humilde opinião de cinéfilo. É muito subjectivo fazer uma hierarquia de realizadores mas as preferências e gostos são sempre algo subjectivo e eu não hesito em nomear Scorsese como o meu realizador favorito.

Há bons realizadores em actividade (Brian DePalma e Francis Ford Coppolla são bons exemplos) mas nenhum tem uma carreira com tanta longevidade em quantidade e qualidade. Não é a quantidade o factor mais importante mas sim a quantidade de filmes com qualidade, sempre com uma marca de autor coerente ao longo do tempo. É um realizador que anda sempre desencontrado com a linha comercial dos grandes estúdios e é esse o seu grande trunfo.

A sua paixão pela Sétima Arte é arrepiante e a sua obsessão pelos pormenores é compulsiva. Não há um plano que não tenha sido cuidadosamente reflectido e que não tenha uma beleza visual e técnica acima da média. Ele é defensor da restauração dos filmes e faz sempre a ponte entre o antigo e o moderno como se fosse obrigatório haver uma linha coerente entre o passado e o futuro do cinema.

A sua vida pessoal foi sempre errática e o seu trabalho foi sempre o seu refúgio. Nasceu em Nova Iorque em 1942 e os seus problemas de asma fizeram com que devorasse filmes na sua infância. Chegou a pensar ir para padre mas, para contentamento geral, acabou por optar pelo cinema. Já foi casado três vezes e teve problemas com dependencias várias ao longo da vida mas conseguiu ultrapassar essa fase negra da sua vida.

Scorsese nunca ganhou uma estatueta dourada (
Oscar) e isso só tem sido um estímulo para manter uma carreira longe dos objectivos comerciais puros. Para ele o importante é fazer Cinema e não enlatados comerciais. Não é Scorsese que precisa dum Óscar mas sim a Academia que precisa de se libertar do fantasma de nunca lhe ter dado um. Não sei se 2005 vai ser o ano de consagração na Academia mas isso pouco interessa porque a sua carreira esmaga qualquer necessidade de ovação.

É o momento certo de reflectir sobre alguns dos filmes que fizeram da carreira de Scorsese uma das mais belas da Sétima Arte. Não vou escrever sobre toda a sua filmografia mas apenas sobre os filmes que mais me marcaram.

(333) Sala de Cinema: Elektra, de Rob Bowman


Elektra por Moebius



Com tantos (bons) filmes em exibição porque é que fui ver logo este? - pergunta o céptico leitor. Os mais “malandros” nem se vão dar ao trabalho de perguntar dada a presença de Jennifer Garner. Mas a realidade é que o horário dos filmes ditou esta escolha. Também é verdade que sou fanático por Banda Desenhada (BD) e acabo por também ser masoquista ao ir ver as suas inúmeras más adaptações cinematográficas. Muito raramente a Sétima arte consegue captar o espírito da BD.


Elektra por Sienkiewicz (1)



Elektra Natchios é, juntamente com o DareDevil, uma das personagens que Frank Miller (Sin City) imortalizou. Frank Miller foi o responsável por uma revolução no universo dos super heróis na BD. Tornou-os mais densos, mais intensos e negros. Foi o primeiro autor de “comics” a dar aos anti heróis o protagonismo. Para a história ficam álbuns como Ronin, Dark Night Returns, DareDevil: Born Again e... personagens como Elektra. Conhecedor da cultura japonesa criou uma ninja, uma mercenária, uma anti-heroína com uma relação de amor/ódio com Matt Murdock (DareDevil). Espero que a colaboração estreita de Miller com Robert Rodriguez resulte numa adaptação digna do seu trabalho em Sin City. Pelo que já tive oportunidade de observar parece que vai ser um filme à altura da obra original. Para quem não conhece Miller basta dizer que Tim Burton inspirou-se na sua obra para fazer Batman.


Elektra por Sienkiewicz (2)



Quanto ao filme propriamente dito... horrível, mal coreografado, sofrível! Basta dizer que é parecido com a adaptação de Daredevil ao grande ecrã e acho que não preciso dizer mais...

*Tópicos Relacionados:
Memórias do Filho do 25 de Abril: BD
Memórias do Filho do 25 de Abril: Sétima Arte

(332) Semana do Cinema



Na véspera de mais uma semana de consagração de muitas personalidades ligadas ao cinema (Óscar) e do maior festival de cinema nacional (FantasPorto) nada melhor que dedicar esta semana, em exclusivo, à Sétima Arte.

Espero contribuir para que a Sétima Arte (no seu melhor e pior) continue a irradiar fantasia e magia. Uma boa semana cinéfila para todos...

(331) Vencedores e Vencidos

Será que Portugal quis uma mudança à esquerda ou será que quis punir quem estava no poder? É difícil responder a esta pergunta e medir o peso de cada um dos argumentos. Aqui estão os Vencedores e os vencidos destas eleições:

Vencedores:

José Sócrates: Conseguiu o melhor resultado de sempre do PS. É o próximo Primeiro Ministro com toda a legitimidade e com toda a responsabilidade. Tem um desafio complicado pela frente: estar à altura do cargo e reformar Portugal. Agora tem que esquecer que as Autárquicas e as Presidenciais estão próximas porque os próximos seis meses são absolutamente decisivos...

Jorge Sampaio: Apesar de todas as trapalhadas pré dissolução deve estar aliviado com a maioria absoluta do PS. O risco de novo pântano político era real...

Jerónimo de Sousa: A CDU é a terceira força política nestas eleições. Contra todas as previsões, inclusive as minhas, a sua linha ortodoxa foi vitoriosa. Mas houve maioria absoluta do PS...

Francisco Louçã: O BE teve uma dupla vitória. Mais que duplicou os seus deputados e pode continuar a ser o partido anti-sistema. No caso do BE, ao contrário da CDU, é beneficiado pela maioria absoluta do PS porque assim pode continuar a sua estratégia de crescimento...

Vencidos:

Santana Lopes: Reduziu o PSD à sua influência, isto é, a uma percentagem bem menor que o valor do partido que lidera. É o resultado da personalização do partido ainda por cima personalizado na irregularidade, no populismo, na deriva de objectivos. O seu futuro é como o homem, também incerto. Voltará a Lisboa, continuará secretário geral, será candidato nas Presidenciais? Cai mais um mito das eleições nacionais...

Durão Barroso: Será que desta vez percebeu a mensagem das eleições? É o grande responsável pela queda vertiginosa do PSD após terem passado apenas três anos da saída de Guterres. Em primeiro lugar porque nunca conseguiu reformar Portugal. Em segundo porque ao sair matou as suas próprias políticas e nunca vai poder provar que tinham sentido. E por último porque entregou o PSD e Portugal a um homem sem perfil para o cargo. Barroso pediu sacrifícios e foi o único a não fazer nem um...

Paulo Portas: O PP não teve uma derrota absoluta. Mas Portas subiu a fasquia porque já estava a preparar o fim do seu ciclo político. É um excelente político mas não deixa saudades o moralismo que introduziu no PP. Depois de representar inúmeras versões de si mesmo sai de cena sem mais papeis por representar...

(330) Maioria Absoluta

Os resultados são claros e absolutos! Não vou festejar porque o futuro ainda é incerto e Sócrates ainda tem que provar o que vale. Vou estar atento. Mas confesso o meu alívio por Santana Lopes e Paulo Portas saírem do Governo.

Agora é importante pensar no futuro. É a primeira maioria absoluta dum partido de esquerda em Portugal e é a maior responsabilidade que um secretário geral do PS alguma vez teve. É também um enorme desafio para o novo Primeiro Ministro que tem o dever de retirar Portugal deste impasse.

Boa sorte, engenheiro josé Sócrates. Os próximos quatro anos são cruciais para Portugal e nos próximos seis meses espero muita coragem de Sócrates mesmo tendo em consideração que estamos nas vésperas de eleições locais...

Nota 1: Jacinto Serrão (PS Madeira) insiste em chamar de excelentes os resultados negativos do PS na Madeira. Ficar a 10 pontos percentuais do PSD neste contexto (mesmo com empate de deputados) é tudo menos excelente. Mesmo no Funchal perdeu apesar de por apenas 85 votos.

Nota 2: Em Espanha o "Sim" ao Tratado Constitucional foi claro. 78.5% dos eleitores votantes votaram "Sim" e 16.2% votaram "Não". A participação neste Referendo foi baixa, sendo de apenas 41.5%.

(329) Como é agradável...

(c) Copyright Aviação



... viajar numa noite sem nuvens num avião quase vazio sabendo que Portugal encerrou um capítulo "negro" da sua história!

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

(328) Cenários

Chegou a hora de dramatizar o discurso! Não porque só exista uma solução para o país mas porque temos que reflectir qual é a melhor solução para Portugal antes de votarmos. Ninguém votou ainda e não é justo construir cenários com base em sondagens e intenções de voto mas a verdade é que já há indicações claras do que pode acontecer a 20 de Fevereiro.

1. Já é consensual que Santana Lopes dificilmente vai ganhar estas eleições. Em condições normais diria que na noite das eleições o candidato do PSD, depois de ter sido Primeiro Ministro, afasta-se do PSD abrindo caminho para uma nova liderança. Não estou certo que isso vá acontecer e o PSD ainda vai ter um penoso trajecto até ao regresso à normalidade...

2. Uma dúvida paira no ar. Será que o PS vai ter ou não maioria absoluta? Lanço ainda uma reflexão adicional. O que será melhor para o país? Não sei responder a nenhuma das questões. Mas posso e devo especular sobre isso. Uma maioria absoluta nem sempre é aconselhável e nem sempre é boa para o país. Por exemplo a segunda maioria absoluta do Cavaco foi um enorme retrocesso para o país. Uma maioria relativa também não é necessariamente má já que no primeiro Governo de Guterres houveram importantes avanços estruturais na economia portuguesa. Mas uma maioria relativa também pode ser desastrosa como foi o segundo mandato de Guterres que estragou grande parte do legado deixado pelo seu primeiro mandato. Aparentemente não estou a ajudar nada na reflexão...

3. Aqui entra a análise à futura oposição (com respeito pelas intenções de quem realmente vai votar porque estou a fazer futurologia com base em sondagens). Se houver maioria relativa e o PS só depender dum partido (pode acontecer depender de dois) que reformas pode fazer? Com o PCP e o BE (fora do Governo) só poderá aprovar leis que não choquem com o eleitorado destes partidos. Com o BE haverá sempre um problema resultante deste partido ser um partido anti sistema logo não haverá liberalização de sectores que precisam ser liberalizados e haverá compreensão na estatização dos sectores que o PS quer tornar públicos (Saúde e Segurança Social). Atrevo-me a dizer que isso já está contemplado no programa de Governo do PS e só vai travar outras reformas. Com o PCP como negociar a moderação salarial e cortes na despesa? Parece-me difícil porque o PCP defende o aumento das receitas, não o corte nas despesas. Podia haver um mix de aprovações com o PP a aprovar as medidas liberais e a esquerda a aprovar as medidas sociais. Cheira-me a desastre e pouca clarificação...

4. Há uma grande incógnita numa maioria relativa do PS. Que papel vai representar Paulo Portas? É sempre imprevisível já que a evolução política do PP é irregular e incoerente.

5. Não estou entusiasmado com Sócrates mas tenho a certeza que será um melhor Primeiro Ministro que Santana. Permitam-me esta arrogância porque já tive a oportunidade de conhecer o Santana Primeiro Ministro e só conheci episódios de avanços e recuos e muita confusão quanto ao que quer para o país.

6. Por tudo isto porque não arriscar numa maioria absoluta do PS? Porque não responsabilizar o PS por tudo o que de bom e mau fôr feito a Portugal? Pode correr mal mas se isso acontecer será clarificador. Se houver maioria relativa que políticas podemos esperar para Portugal? Ninguém sabe responder a esta questão, é um verdadeiro tiro no escuro...

Faço um apelo à reflexão! Pela primeira vez faço um apelo tão claro num partido porque estou preocupado que daqui a dois anos haja novas eleições com o país ainda em pior estado que agora. Sabemos a posição de todos os partidos e, nestas circunstâncias, vai ser difícil haver estabilidade. Eu quero apostar na primeira maioria absoluta dum partido de esquerda. Se o PS não conseguir a maioria absoluta haveremos de encontrar novos caminhos de desenvolvimento mas tudo será mais incerto. Quando formos votar também temos a obrigação de reflectir sobre a Governabilidade do país...

A minha escolha está feita. Respeito todos os cenários mas quero que Portugal tenha um rumo clarificador... no dia 20 está muito em jogo... não tenham ilusões quanto a isso! Acima de tudo é importante votar!

quarta-feira, fevereiro 16, 2005

(327) O "Debate Final"

"Já percebemos que Paulo Portas foi o único ministro que criou empregos neste Governo"
José Alberto Carvalho

Fiquei ansioso quando ouvi José Alberto Carvalho e Judite de Sousa anunciarem "O Debate Final"... pensei que o actual Governador da Califórnia fosse participar no debate do "juízo final". Afinal o Debate não era "o" Final mas tão somente "o" Último...

O grande vencedor do debate, permitam-me a ironia, foi Jerónimo de Sousa. Conseguiu criar uma imagem de simpatia sem ter de apresentar as sua ideias com mofo.

A primeira parte do debate foi demolidora (no pior sentido) para Santana Lopes. Começou, de forma até hilariante, a rebater a ideia de que o Governo dele foi o pior desde 1944 porque afinal, segundo ele, só foi o terceiro pior (fica mesmo assim no pódio dos piores). Acossado na primeira parte por Francisco Louçã foi incapaz de formular uma única resposta coerente (a da Educação foi um rol de inutilidades e o da Segurança Social caíu na armadilha de Sócrates por não ter feito previamente nenhum estudo). Melhorou na segunda parte (com a ajuda dos assessores ao intervalo) e as respostas sobre a Saúde e Coligações foram bastante razoáveis.

José Sócrates esteve mais descontraído e criou sérios problemas aos candidatos de direita. Os ataques foram certeiros e a ironia da Sociedade Anónima (PSD não se responsabiliza por nada) versus Sociedade por Quotas (PP só quer saber da parte que fez) até tirou Paulo Portas do sério. O pior foi tentar explicar as medidas do PS, foi falar do futuro. A declaração final foi mais eficaz do que a do debate a dois.

Francisco Louçã tem a estratégia da denúncia e, até certo ponto, isso foi eficaz ao embaraçar Santana Lopes e Paulo Portas. Quando tenta estruturar as propostas é que nada de realista aciontece. Acho que foi particularmente eficaz ao expor a demagogia de algum combate à droga.

Tenho dificuldade em analisar a prestação de Paulo Portas porque é complicado acreditar na sua autenticidade. O líder do PP é um verdadeiro camaleão que até a quem costuma estar atento à política, fica com dúvidas se pertenceu ou não ao Governo. Atrapalhou-se na Sociedade por Quotas e na explicação do todo do Governo PPD/PP mas recuperou nas Educação e Saúde.

O debate no global e neste formato permitiu uma discussão viva mas sem novidades. A Europa e a Justiça continuaram fora do debate e os outros temas foram debatidos sem rigor. Sem vencedores claros (além do referido ausente) acho que quem esteve mais tempo sem rumo no debate foi Santana Lopes, chegando a dar respostas sem estar sequer a pensar no que estava a dizer tal era a deriva mental com que estava no debate. Morno e sem ser dramático... fará diferença no "final"?

terça-feira, fevereiro 15, 2005

(326) A Madeira e os Fundos Comunitários

O Governo Regional da Madeira não capta a minha simpatia. Foi, é e será alvo das minhas viscerais críticas pelo modelo de desenvolvimento adoptado, pela Democracia sui generis que implementa e, principalmente, pela mentalidade que acarinha e promove na Madeira. Mas tenho que ser justo e elogiar o que o Governo Regional chefiado por Alberto João Jardim faz de bom.

Quem conhece a Madeira sabe que, independentemente da análise à situação financeira actual e ao modo como os financiamentos são garantidos, esta região é uma das regiões que mais se desenvolveu nas últimas três décadas. O desenvolvimento não é sustentado mas a qualidade de vida tem melhorado (multiplicação dos espaços de lazer, renovação das cidades e dos seus espaços públicos) e as distâncias encurtaram-se abruptamente (os túneis, pontes e vias rápidas crescem a um ritmo imparável).

Uma das razões para este forte investimento público vem explicado no suplemento de Economia do Público do dia 14 de Fevereiro. A "Madeira é a região com maior taxa de execução dos fundos comunitários" sendo que o valor dos projectos aprovados até finais de 2004 já é superior às ajudas que o terceiro Quadro Comunitário de Apoio (QCA III) tem destinados para a Região Autónoma da Madeira (2000-2006). Segundo o Público a taxa de execução é de 101,5% absorvendo fundos que outras regiões não aproveitam (por exemplo o Alentejo tem uma taxa de execução de 77,5% e o Algarve de 68,9% sendo a média nacional de 83,4%). Portugal executou cerca de 15,9 mil milhões dos 19,1 mil milhões de euros disponibilizados.

Quero ainda destacar que apesar da despesa aprovada ser de 101,5% da dotação inicial da Madeira, até à data ainda só foi entregue 56,6% dos valores aos promotores dos projectos. A nível nacional, só o programa da Sociedade de Informação tem melhor taxa de execução (103,1%) que o programa do QCA III para a Madeira. A pior taxa de execução é o das Acessibilidades e Transportes (53,8%) o que mostra bem a paralisia do investimento público em Portugal nos últimos anos.

O que vou defender é uma opinião pessoal porque não posso comprovar a correlação entre Região Administrativa e taxa de execução do investimento. Acho que estas taxas de execução jogam a favor da Regionalização (ou pelo menos da descentralização) já que parece que as regiões administrativas podem ser úteis na organização regional do investimento. Mas uma Regionalização com um estatuto diferente das Regiões Autónomas da Madeira e Açores com uma fiscalização democrática mais forte, com limitação dos mandatos e mais poderes ao Tribunal de Contas...

* Tópicos Relacionados:
Memórias do Filho do 25 de Abril - Madeira

segunda-feira, fevereiro 14, 2005

(325) Ministro Independente

Paulo Portas afirmou que respeita os Tribunais, que o caso Freeport é um assunto da Justiça, o que só lhe fica bem! O ainda Ministro da Defesa, ao contrário de outros políticos com menos sentido de Estado, é um homem sério e com princípios.

Cuidado, Paulinho... não sejas demasiado moralista, não vá alguém lembrar-se o quanto eras parecido com quem olhas agora do alto do teu cargo e dos teus galões! Podes agora ser Ministro da Defesa mas já foste o mais cruel jornalista político português, já foste o populista Portas, e até o Paulinho das Feiras antes de seres o respeitável homem de Estado que é o exemplo da moral e dos bons costumes democráticos...

Paulo Portas tem tantas versões que até os camaleões devem ficar confusos...

(324) A Última Frase...

Era uma vez...

... um Primeiro Ministro que foi para Bruxelas. Chamava-se Durão, chama-se José Manuel. Deixou o seu (confuso) legado ao menino guerreiro. Esse menino precisava de amor e Sampaio, aprovou a união de facto do menino Santana com o país. Ferro, sentindo-se desamparado e carente, legou o partido ao pouco filósofo Sócrates e com ele chegou todo o seu pragmatismo sem chama. O problema era que o menino guerreiro precisava de mais e mais amor, queria ser amado pelo mundo... e o seu encanto era pouco! O país fartou-se e de traição em traição a união de facto acabou!

E agora?

Agora só falta escrever a última frase desta narrativa, colocar-lhe um ponto final.

P.S. Corre um boato que estou doente! É mesmo só um boato... valerá a pena fazer um desmentido? Não deixa de ser engraçado... e obrigado pelos desejos de melhoras!

quarta-feira, fevereiro 09, 2005

(323) Para Reflexão

Vou actualizar o blogue com pouca (ou mesmo nenhuma) frequência até às eleições. Deixo aqui alguns dos posts que escrevi relacionados com política! Só para reflexão...

(121) A Refundação da Democracia

(248) O Dilema de Sócrates

(269) Dissecando a Dissolução

(282) Balanço de 2004: Política Nacional

Vou estar atento à evolução da campanha mas não vou poder comentar com regularidade. Até breve e votem em consciência...

(322) Sondagem

Duvido que o blogue Margens de Erro faça a média aritmética usando esta sondagem mas de qualquer forma aqui fica a minha declaração de voto após cuidada reflexão!

PS .................... 100%
PSD ...................... 0%
PP ........................ 0%
CDU ..................... 0%
BE ........................ 0%
Voto Nulo ............ 0%
Voto em Branco ... 0%


Amostra: 1 pessoa, por contacto telepático

terça-feira, fevereiro 08, 2005

(321) Campanha de "ideias"






Porque é que Santana Lopes tem que importar tudo o que é mau das Democracias de alguns países? Costumo ter divergencias ideológicas com alguns partidos e faço as minhas opções ao votar! Mas pela primeira vez na vida eu, uma pessoa que se considera tolerante dentro das minhas intolerâncias, sinto um sentimento de desconforto pessoal com um candidato. Já sei que a Demagogia e o Populismo são frequentes e não é por isso que criei anticorpos ao homem por detrás do político! Tenho é a convicção que este homem é mesquinho e tem um egocentrismo perigoso para todos nós. Não estou a querer dramatizar, apenas estou a ser sincero! Um desabafo da alma...

(320) Páginas Soltas (12): O Dragão de Fumo, de João Aguiar




“É tão fácil, tão horrivelmente fácil despertar os dragões adormecidos e perder os caminhos das nossas várias santidades. É tão fácil. Basta um insignifante estímulo.”

Há muito tempo que não lia um livro tão bem escrito dum escritor português. Digo isto porque a linguagem é moderna e simples, sem abusar de adjectivos inúteis! Adicionalmente não tem o filtro das traduções, o que torna o livro ainda mais aliciante.

“Macau, explica então, macau é um pequeno universo difícil de aprisionar dentro de modelos que não sejam o seu próprio. Dificilmente cabe nos nossos preconceitos lusitanos e não cabe de todo nos outros preconceitos, orientais ou ocidentais. Esse universo, podemos ignorá-lo, desprezá-lo, mascará-lo, podemos fazer tudo excepto capturá-lo dentro dos limites estreitos da lógica comum. E até mesmo fisicamente, ninguém lhe pode reter a memória certa. É um dragão, porque a China é terra de dragões. E é feito de fumo porque basta-lhe um momento ou um sopro para que a sua forma se altere e o que ontem foi deixe hoje de ser.”

O pano de fundo da história é Lisboa e Macau, antes da transição para a China. As personagens são introduzidas em diferentes fases da história mas essa sequência não significa obrigatoriamente que as personagens centrais sejam as que aparecem primeiro. O autor consegue dar a impressão que todas as personagens são importantes, mesmo antes de terem aparecido na narrativa.

“Porque ele, contra a sua vontade e contra a sua racionalidade, não consegue libertar-se da ideia de uma Rita demasiado jovem, demasiado inexperiente e indefesa. Quem instalou em nós o sistema do instinto paternal não lhe programou a desactivação automática, o que só confirma as minhas ideias sobre as deficiências da Criação.”

Cada acontecimento é narrado conforme as várias perspectivas e mesmo o estilo de escrita adapta-se à personagem. Adriano, o escritor, é mais filosófico, sempre com uma reflexão na manga. Já Rita, a professora, filha do primeiro, é mais pragmática e é sempre curiosa em relação ao mundo. Cada um deles tem uma história comum e separada e, por vezes, nem parece que estou a ler o mesmo livro nas suas diferentes fases.

“Fala-se tanto em liberdade mas é ridículo, uma vez que não dispomos da única liberdade fundamental, que é a de nascer ou não nascer.”

“Afinal de contas, não se pode andar sempre com a cabeça cheia de grandes desígnios, aliás isso não faz bem á saúde. Uma cabeça permanentemente ocupada com grandes desígnios ou pertence a um santo ou a um fanático e o mundo, que parece ter esgotado a sua capacidade para produzir santos, anda a parir fanáticos em excesso.”

O livro não é perfeito. A sua faceta de livro policial é eficaz mas tem dificuldade em concretizar a sua utilidade para o livro e parece haver uma discrepância entre a sua real importãncia para a cidade de Macau e a importância que o autor lhe quer dar. As relações pessoais estão bem construídas mas são, muitas vezes, inconsequentes. Há uma certa nostalgia presente nas personagens e no autor que afecta os dois, porque parece que só o passado altera significativamente as vidas...

“Com um gesto de rendição irónica, declara: não quero engalfinhar-me filosoficamente ou teologicamente consigo, só acrescento uma coisa. Houve tempo em que eu pensei: muito bem, aceitemos que o mundo parece absurdo, mas há a considerar a procura da transcendência, que é também a procura de um sentido, e essa é uma constante, é uma obssessão do Homem, e só isso tem já um significado, talvez andemos todos, por vias diversas, à procura da matriz, ou da origem, ou da pátria inicial e invisível, e portanto essa obssessão faz parte da nossa natureza, foi inscrita no ADN de toda a gente, o que prova que ela encerra um objectivo e uma verdade qualquer. Mas basta olhar à nossa volta para entender que a tal obssessão desapareceu. A transcendência, quando muito, é agora um efeito especial em certos filmes que misturam sabiamente, porque bilhiteira obriga, a mística, o kung fu e a queca, salvo o devido respeito.”

Recomendo a leitura!

(319) Campanha Eleitoral

Acabei de ser avisado que a Campanha Eleitoral começou! E eu a pensar que tinha começado no dia em que Santana tomou posse e declarou guerra ao país e arredores, vítima eterna de tudo e todos! Tenho que estar mais atento...

(318) Ausência

Depois do meu contacto por três dias e três noites com um estabelecimento de saúde fiquei ainda mais revoltado por a saúde não ter sido um dos temas do debate. Já os boatos...

P.S. Não vou fazer a terceira parte da análise do debate por já ter deixado de ser um tema actual.

P.S. (2) A análise do Público ao debate revoltou-me. Bem sei que é preciso manter a campanha animada para vender jornais mas argumentar que a campanha ficou relançada porque o debate correu bem a Santana dadas as expectativas baixas da prestação deste ultrapassou os meus limites de seriedade. É que quem precisava duma vitória clara não era Sócrates... enfim...

P.S. (3) Alguém reparou no forte desmentido de Vasco Pulido Valente a mais uma inverdade nas declarações de Santana Lopes?

sexta-feira, fevereiro 04, 2005

(317) O Debate (2)

Caricato: Quase vinte minutos a discutir boatos e nem um segundo a discutir Educação, Saúde, Justiça e Europa!

Impostos: Muito estranhas as propostas de Santana Lopes e José Sócrates. Ficamos a saber que a única alteração nas receitas é o combate à evasão fiscal. Santana Lopes falou em baixar alguns impostos o que acho que nem devo comentar. Sócrates não falou na fiscalidade diferenciada que tantas vezes sublinhou que estava no seu programa o que não deixa de ser estranho.

Pensões: Aqui estiveram os dois desastrosos. Aumentar despesa não é saudável nesta fase. Caricata foi a frase de Santana criticando a perspectiva Socialista de ajudar os necessitados e não ajudar na inserção no mercado de trabalho, porque falava-se de ... idosos! Em tom de brincadeira, já estou a ver o meu avô de martelo na mão a ajudar o Estado para poder ser ajudado! Não gosto muito de tiradas demagógicas e aquela do Sócrates que «Não peçam a um socialista para virar a cara para o lado quando existe pobreza», pode ter sido eficaz mas não sou grande adepto.

Função Pública: O debate foi tão averso a compromissos que fico quase sem assunto em todos os temas. Vou destacar o que retirei de positivo dos dois candidatos. Santana Lopes realçou a Central de Compras e deu a entender que ia manter o mesmo número de funcionários (após criticar o Governo Socialista por o ter subido) optando por reorganizar serviços. José Sócrates falou em moderação salarial, em modernização e rejuvenescimento, na redução de efectivos e no combate à burocracia. Muito pouco da parte de candidatos que tinham como obrigação a Reforma da Administração Pública: nada sobre promoções por mérito, prémios de produtividade, concursos nacionais, flexibilização dos despedimentos! Nada!

Continuo a análise no próximo post...

(316) O Debate




É engraçado analisar os debates. Para já porque eu não consigo ser imparcial e depois porque acabo por comparar as prestações com as expectativas subjectivas que fui criando! Eu estava ansioso porque estava á espera dum Santana Lopes sem nada a perder e porque queria ser esclarecido quanto aos programas dos dois partidos. Não aconteceu nem uma coisa nem outra!

Estava à espera que José Sócrates fosse mais defensivo e a sua entrada nervosa podia anunciar isso. Mas não! Santana Lopes foi quase sempre defensivo e reactivo! O debate até começou mal porque Santana Lopes continua a não conseguir ser claro nas insinuações que lança, mesmo de forma indirecta. Relembrou que a vítima é ele porque tem “20 anos de boatos em cima” e que tinha amigos homossexuais e divorciados afirmando no fim que a sua vida privada era pública. Para bom entendedor meia palavra chega!

Mas o que Sócrates ganhou em iniciativa, Santana ganhou em serenidade! Mas ambos foram vagos quando o programa tinha que ser aprofundado. Preferiram falar mal do Guterrismo, do Barrosismo e do Santanismo a serem claros na exposição das suas propostas. Santana ainda teve tempo de prometer baixar o Imposto Automóvel e os impostos directos na segunda parte do mandato o que faz-me pensar que este homem vive no País das Maravilhas. Já Sócrates foi vago demais na política de emprego e na forma como vai baixar a despesa!

Tenho a minha opinião de quem esteve melhor mas não consigo ser imparcial por isso nem vale a pena analisar se houve ou não vencedores. Fica aqui, mesmo assim, o ponto alto político de cada um dos candidatos:

Santana Lopes
Quando conseguiu colar Sócrates ao pior do Guterrismo escolhendo uma fase do debate onde não havia hipótese adicional de réplica.

José Sócrates
Quando conseguiu deixar clara a mensagem que Santana Lopes não tem nada a ver com a herança política do PSD.

Ainda pretendo dissecar mais algumas partes do debate...

quinta-feira, fevereiro 03, 2005

(315) Tiago Monteiro na Fórmula 1

É sempre positivo ter um piloto português na Fórmula 1. Deixo aqui os parabéns ao Tiago Monteiro pelo seu contrato com a Jordan! Espero é que os portugueses já comecem a estar calejados nestas coisas e não tenham aquela tendência de tirar os eventos da sua devida proporção! Até porque não é nenhum feito nacional e muito menos uma garantia de protagonismo internacional, como nós tanto idolatramos! Vamos encarar estes contratos com naturalidade e sem provincianismos! Ainda lembro-me da histeria que foi Pedro Lamy entrar na Fórmula 1 como algo completamente fora de contexto!

(314) Esquecer Mourinho




Estranha época esta a do Futebol Clube do Porto! Entre “Apitos Dourados” e retretes de árbitros, vive-se uma época desportiva cheia de altos e baixos! Três treinadores numa só época, um que nem jogou um jogo oficial, outro que não deixa saudades e agora mais um, um clone do que andavam à procura desde o início da época, um clone do Mourinho. Vejamos, é de Setúbal, tem licenciatura na área do desporto, veste fato, é jovem, quer trazer jogadores do Setúbal, tem um arzinho arrogante... enfim... é o mini Mourinho! Talvez só falte uma coisinha... será tão competente como o original? Prognósticos só no fim...

Pessoalmente acho que o Porto só vai voltar a ter sucesso quando deixar de procurar treinadores em função da semelhança ou diferença em relação a Mourinho!

Pedroto disse em tempos (cito de cor) que um brasileiro era bom, dois era óptimo mas que três já era uma escola de samba! O Porto já vai em sete ou oito. O que Pedroto chamaria a isto? Aceito sugestões...

Biba o Puerto, carago!

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

(313) Boatos

Tenho que admitir que tenho estado doente e com pouca vontade para ser politicamente correcto! Recebi alguns comentários interessantes por causa do meu último post sobre as "insinuações" da campanha! Todos a condenarem as declarações de Santana Lopes mas um comentário a chamar à atenção que não devemos alimentar boatos e outro que o próprio também é alvo de boatos.

Eu não tenho por hábito alimentar boatos. Os boatos já correm há meses no meu mail e envolvem situações por demais caricatas. Mas a atitude que eu tive durante meses em que é que contribuíu para que o boato não se espalhasse? Em nada ou em muito pouco! Depois chega a um ponto em que todos sabem, todos discutem mas ninguém pode escrever sobre isso! Ninguém pode criticar ou simplesmente dizer: "o que é que isso interessa"? E depois chega-se a outro ponto em que todos acham-se no direito de insinuar e o copo transborda! Nessa fase quem insinua sabe que o assunto vai chegar à opinião pública mas não quer ser responsabilizado por isso! Parabéns, Santana... chegou à opinião pública! Desculpa, não vou deixar de responsabilizar-te por isso! Já não estou a espalhar o boato, já estou a criticar quem o trouxe à opinião pública!

Mas estarei a contribuir que o boato cresça? Talvez! Por isso também digo aqui preto no branco, confio na maturidade do cidadão português para perceber que mesmo que o boato seja verdadeiro não faz diferença nenhuma no que estamos a discutir, o futuro do país. Se fizer diferença, ainda temos que evoluir muito em termos de mentalidade! E acrescento que duvido que alguém tenha descoberto a existência do boato pelos meus posts, uma vez que só o revelei depois da discussão estar a ser feita nos orgãos de comunicação sexual (leia-se social)! O problema de fundo é que Portugal discute os temas de natureza sexual de forma envergonhada contribuíndo para a ignorância e desinformação. O (pre)conceito só é tão forte porque andamos todos com medo de discuti-lo! Parece que são assuntos que não merecem ver a luz do dia, banidos para programas de serviço público a altas horas da madrugada!

Em primeiro lugar um ponto que é consensual, todos têm direito à sua privacidade! Em segundo lugar ninguém deve nem pode abdicar dela! Por isso o segundo argumento que Santana também é vítima de boatos e eu tenho duplicidade de critérios custa-me a engolir! Santana sempre abriu as suas casas à Caras e eu posso ter chamado à atenção para os perigos disso mas nunca achei que isso dava o direito à invasão de privacidade. Recordo as minhas palavras quando a Folha de São Paulo, há uns meses atrás escrevia sobre Santana:

"Sinceramente acho este tipo de jornalismo dispensável! As palavras que eu utilizaria para definir Santana Lopes seriam incompetente, megalómano, oportunista e incoerente. O que faz na vida privada só a ele diz respeito, o seu serviço público é que deixa muito a desejar e muito dinheiro nos tem custado."

Por isso não será aqui que falarei da vida privada de Santana Lopes. Não será aqui que também vai passar em branco que quem "insinue" não seja responsabilizado! Esta moda recente tem que começar a ter consequências para que pessoas como o Carlos Candal, o João Soares, o Francisco Louçã e o próprio Santana Lopes não se sintam "autorizados" a lançarem a vida privada para a praça pública! E terão todos o mesmo tratamento da minha parte... não alimentarei os boatos e quando e se estes tornarem-se públicos defenderei até ao fim que haja consequências para quem se acha no direito de utilizar isso como arma de arremesso político!

terça-feira, fevereiro 01, 2005

(312) Difícil de comentar!

Após uma ausência forçada de alguns dias regresso às lides bloguistas! Há já algum tempo que ando desapontado pela forma como a liberdade que os blogues conquistaram tem sido utilizada. É tão bom escrever sem regras formais, sem regras morais, sem olhar para o politicamente correcto, sem a obrigatoriedade de identificação. Mas, infelizmente, os blogues também têm aproveitado essa liberdade para insultar, lançar boatos e denegrir a imagem das pessoas sem descanso! Há que reflectir sobre tudo isto até porque este meio refrescante de discutir a vida política (e não só) pode estar a ser seriamente prejudicado pela acção de alguns.

Mas não pensem que são só os blogues que têm contribuído para o degradar da discussão pública. Veja-se Santana Lopes, descrito por Ana Sá Lopes, no Público, após mais um apoteótico comício:

"A pantomina da democracia portuguesa iniciada em Julho passado assume agora foros de irrealidade: o homem já não tem nada para vender. Resta-lhe o currículo conhecido do eleitorado através das "revistas do coração", onde se passeava semana sim semana não - foi casado várias vezes, namorou algumas raparigas. Ontem lançou o mais estranho mote da campanha eleitoral: votem em mim porque eu gosto de raparigas. Chegámos ao patamar que nunca pensámos atingir na política. Só um miserável - e quem é Santana Lopes, neste momento do campeonato, senão um pobre despojado de qualquer bem válido para a polis? - pode utilizar em comícios, como aquele em que ontem participou, com 1000 mulheres, em Braga, o facto de ser aquilo a que se chama, em alguma gíria, "um femeeiro". Já tínhamos visto o absurdo de políticos desesperados a utilizar a estabilidade familiar como argumento de campanha - que foi o que João Soares fez contra o próprio Santana Lopes na campanha de Lisboa. Agora, vem o primeiro-ministro de Portugal rodear-se de mulheres que dizem que ele é "conhecido pela sua natureza sedutora" e "ainda é do tempo em que os homens escolhiam as mulheres para suas companheiras".

O fervor homofóbico é espantoso e quase irreal. Num comício de Lopes grita-se: "Bem hajam os homens que amam as mulheres!". E o primeiro-ministro candidato a novo mandato diz que "o outro candidato tem outros colos" e que "estes colos sabem bem"."


Não tenho por hábito lançar ou alimentar boatos! Resolvi comentar este infeliz incidente porque o nosso Primeiro Ministro resolveu retirar do anonimato dos blogues este assunto e lançá-lo para a praça pública! Tem-no feito das mais diversas formas (os meninos que não brincam, lançar o casamento de pessoas do mesmo sexo para a agenda política, os colos) e faz-me vir aqui, contra tudo o que defendo, dizer também: Basta! Desta vez também ajudo a alimentar um boato porque há um candidato que acha que é interessante discutir isto na praça pública! Não haverá ninguém que cale este senhor?