Filho do 25 de Abril

A montanha pariu um rato - A coerência colocada à prova - A execução de Saddam Hussein - O Nosso Fado - "Dois perigos ameaçam incessantemente o mundo: a desordem e a ordem" Paul Valéry, "Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa, salvar a humanidade", Almada Negreiros - "A mim já não me resta a menor esperança... tudo se move ao compasso do que encerra a pança...", Frida Kahlo

domingo, outubro 31, 2004

(218) Simplesmente... Um Passeio no Domingo

Ao Domingo nada acontece. E quando acontece geralmente são más notícias. Neste Domingo nada aconteceu!


Serralves Posted by Hello


Serralves Posted by Hello

De manhã mais uma visita a Serralves. Tinha de rever os quadros de Paula Rego e aproveitei para visitar a nova exposição, a de Susan Hiller. A quantidade de pessoas era inacreditável o que é um sinal da vitalidade do museu mas tornava a visita pouco agradável.


Grijó Outlet Posted by Hello

A tarde foi bem diferente, bem menos cultural! A sugestão de visitar o Outlet de Grijó levantou-me uma dúvida existencial: o que é um Outlet? A resposta foi curiosa, "é um conjunto de lojas com roupa de marca a bons preços". Após a visita vou dar a minha definição de outlet, "é um armazém gigantesco de várias lojas com várias marcas por loja que vende roupa fora de época ou de colecção a preços mais baixos". Mas a questão dos preços é polémica! Há de facto algumas oportunidades de consumo mas nem todos os produtos têm uma boa qualidade/ preço! Até porque este complexo comercial não tem o exclusivo nacional dos descontos e nem sempre convém andar com roupas que os nossos amigos usaram há vários anos atrás. Agora que já voltei a encher chouriços retorno ao conforto do meu sofá, neste Domingo igual a tantos outros...

sábado, outubro 30, 2004

(217) Centro Multimeios Espinho


Centro Multimeios Espinho Posted by Hello

Hoje fui a Espinho. Visitei, pela primeira vez, o Centro Multimeios Espinho. Sem ter ficado deslumbrado achei o espaço agradável. O Centro é composto por uma Sala de Cinema, um Planetário, uma Cosmoteca, uma Galeria de Exposições, uma Cafetaria, um Cyber Espaço e uma sala com tecnologia IMAX. Assisti a um filme no Planetário de qualidade duvidosa para adultos mas uma vez que sempre tive o complexo do Peter Pan não houve problema. A adesão ao espaço pareceu-me bastante razoável.

sexta-feira, outubro 29, 2004

(216) Nick Cave & The Bad Seeds: Abattoir Blues e The Lyre of Orpheus


Abattoir Blues Posted by Hello

A FNAC realmente tem um efeito estranho nos facilmente influenciáveis visitantes. De repente nós, meros mortais sem real necessidade de comprar alguma coisa, fazemos uma grande quantidade de compras não planeadas. E se aliarmos o apelo consumista da FNAC ao lançamento dum novo álbum do Nick Cave temos o caldo entornado. Se esse álbum fôr duplo não há mortal que resista. Ainda bem que a FNAC não aceita como meio de pagamento a nossa alma porque senão não tenho dúvidas que a venderia em suaves prestações.


The Lyre of Orpheus Posted by Hello

Nem preciso dizer que este álbum duplo não foi a única compra do dia porque a FNAC também tem uma secção de Livros e outra de DVD´s. Por isso passei a área dos jogos informáticos em passo de corrida e dirigi-me directamente para a caixa. Como são saborosas as futilidades que este mundo nos oferece.

P.S. Do Nick Cave & The Bad Seeds recomendo o já antigo álbum Murder Ballads que, como o nome indica, descreve sobre a forma de Baladas vários crimes grotescos (lembram-se do famoso dueto com a Kylie Minogue, "Where the wild roses grow"?). Acompanhar com a música uma leitura atenta das letras é uma experiência extremamente interessante. Recordo também a sua participação no já mítico filme de Wim Wenders, "Asas do Desejo". A ouvir e a ver!

quinta-feira, outubro 28, 2004

(215) Six Feet Under, Second Season


Six Feet Under Posted by Hello

A Série: A HBO revolucionou a forma de fazer séries nos Estados Unidos da América. E Six Feet Under é a prova cabal que é possível fazer televisão com qualidade. Quanto à segunda temporada era inevitável que a qualidade da série caísse um pouco mas cada episódio continua a anos luz em qualidade de todas as outras séries que são exibidas actualmente. Aqui há personagens tridimensionais, não bonecos maquilhados com lugares comuns e caricaturas exageradas da realidade.


http://www.afamilyplot.com/ Posted by Hello

Ruth Fisher (Frances Conroy): Todas as mulheres desta série têm um ar ausente e esta não é excepção, o que não quer dizer que não esteja presente. E que presença! A busca desta mulher por um novo papel no mundo é emocionante. Só o facto de estar a tentar, independentemente da solidão, é um forte sinal que está viva no sentido menos literal da palavra (não está só a respirar).


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Nate Fisher (Peter Krause): Nesta temporada esta personagem vive um desafio intenso. A morte aperta o cerco e Nate é obrigado a lidar com ela. A ironia é que vive rodeado de morte e nem assim ela torna-se mais fácil, apenas mais natural.


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David Fisher (Michael C. Hall): Na primeira temporada tinha de lidar com a sua sexualidade, agora apenas tem os problemas que todos têm, ou seja, tenta ser feliz. Curiosa a serenidade que tem nesta temporada em oposição ao David completamente perdido da anterior temporada.


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Claire Fisher (Lauren Ambrose): A minha personagem favorita. É impossível descrever as suas expressões e formas de estar. Tem uma presença quase etérea com uma visão do mundo muito original. A forma como interage com a mediocridade e o embaraço fazem dela uma personagem única. Nesta temporada faz uma busca interior da sua vocação da forma peculiar que já nos habituou.


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Brenda Chenowith (Rachel Griffiths): Esta é a personagem mais difícil de descrever. Forte e insegura, meiga e distante, livre e dependente. O seu olhar tanto é um livro aberto como um sarcófago inviolável. As mulheres nesta série quebram tabús, são intensas e representam uma nova luz na forma como são encaradas na Televisão (e também no cinema).


http://www.afamilyplot.com/ Posted by Hello

Nathaniel Fisher (Richard Jenkins): O morto que continua a exercer a sua influência. Aqui prova-se que há "vida" após a morte através da eterna influência na vida das pessoas que tocamos em vida, e a todas que estas também tocam. O único tipo de eternidade que conheço.

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quarta-feira, outubro 27, 2004

(214) Marcelo a fazer render o peixe

É impressionante a capacidade de Marcelo Rebelo de Sousa queimar em lume brando os seus adversários. Notável a forma como este assunto tem conseguido dominar as atenções dos portugueses faz já três semanas. Se eu fosse Santana já contratava o Professor para a novíssima Central de Comunicações do Governo, mais conhecida pela Central dos Méritos Governativos em nada fazer e tudo anunciar . O que até é uma boa notícia já que prefiro este executivo inactivo do que a fazer o que tem anunciado. Mas não quero desviar-me do assunto principal.

No caso Marcelo, a guerrilha política já tomou conta do debate em detrimento duma discussão séria do papel da Comunicação Social. Prefiro deixar assentar o pó para analisar mais friamente o que deve ser feito no futuro. Acabadas as notas preliminares, passo aos assuntos do dia (a organização mental do Professor que dá o nome a este caso é brilhante e nada como organizar este post segundo a sua eficaz estrutura). Quero destacar neste caso algumas conclusões óbvias:

1. A convivência actual entre o Estado e a Comunicação Social não é saudável. O Estado ao deter os meios que permitem a sobrevivência e o crescimento dos grupos de Comunicação Social faz com que nem tenha que fazer pressão directa sobre o Grupo para este moderar as críticas à sua actuação. Mas, mesmo assim, houve pressão directa;

2. Os mecanismos de controlo aos Governos necessitam de reflexão. O actual Regime Democrático não fiscaliza convenientemente os abusos de poder. O papel dos partidos é até nefasto para a Democracia com as suas democráticas disciplinas de voto e os seus fanatismos clubísticos. Em Maioria Relativa ninguém governa, em Maioria absoluta ninguém controla. Até as Comissões de Inquérito são tão ridículas que, nestes moldes, mais vale não ter esta aparência de fiscalização. Se Marcelo contou a Sampaio o que disse hoje na Alta Autoridade para a Comunicação Social mais uma vez não compreendo o silêncio deste último. Mas sobre Sampaio não quero fazer mais comentários porque posso perder o apetite;

Como nota final (o grande Professor continua a orientar os meus raciocínios) queria sublinhar que esta não é a melhor fase para decidir (apenas é para reflectir) sobre a concentração dos Media e as suas relações com o Estado. Até porque estes temas têm que interligar-se com outros como a crise da Democracia e dos partidos. O problema é estrutural e tende a agravar-se não sendo um problema novo. O problema atinge estas proporções sempre que há Governos incompetentes que tentam disfarçar as suas insuficiências com os mecanismos que têm disponíveis (leia-se já disponíveis antes de tomarem posse). Eu não quero ser um profeta da desgraça mas volto a sublinhar que se a Democracia não é refundada e consequentemente a Imprensa, nós queremos o nosso poder de volta, sem intermediários! E para que isto não aconteça é melhor que se dê atenção aos sinais!

(213) A Comissão Adiada de Durão

O adiamento sugerido por Barroso para a (des)aprovação do elenco da Comissão Europeia foi uma atitude inteligente. Só não consigo perceber porque é que Durão demorou tanto tempo para perceber o óbvio. Os Eurocépticos vão chamar a este episódio de crise e sinal que a União caminha para o fim, os Euroentusiastas vão efusivamente declarar que as instituições funcionaram.

Mas o importante é que os Direitos Fundamentais do Homem foram respeitados até à última consequência contra o machismo, a xenofobia e a homofobia. E isto é raro acontecer no mundo de hoje. Quanto a Durão foi mais uma vez igual a si próprio, hábil a negociar, frágil nas convicções. Mal habituado a Regimes Democráticos com disciplina de voto dos deputados e a uma Imprensa moderada, criou um grave problema numa situação que o senso comum aconselhava a ter sido logo resolvida à nascença. Este é que é um mau sinal...

terça-feira, outubro 26, 2004

(212) Isto

"Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está de pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!"

Fernando Pessoa

(211) O Gosto Solitário do Orvalho

"As folhas da bananeira são suficientemente amplas
para ocultarem uma paixão.
Quando expostas às intempéries
recordam-me ora a cauda ferida de uma fénix
ora um leque verde rasgado pelo vento.
A bananeira floresce.
Todavia as suas flores nada têm de atraente.
O mesmo acontece com o tronco enorme.
Talvez por isso
a bananeira acabou por conquistar o meu coração.
Sento-me debaixo dela
enquanto o vento e a chuva a fustigam."

Matsuo Bashô

segunda-feira, outubro 25, 2004

(210) Uma caricatura do país ou Um país que é uma caricatura


Missão Cumprida, por António (Expresso) Posted by Hello

Até quando?

O Orçamento de Estado para 2005 mostra como o país está completamente à deriva. Se o rumo traçado por Durão causava-me profunda discordância este carece de rumo. Inflecte a política anterior e fica situado num limbo, não é carne nem peixe. Com a aposta de baixar o IRS em detrimento do IRC e o fim dos benefícios para a reestruturação de empresas há uma aposta clara no consumo em detrimento do investimento. Ao mesmo tempo acaba com a regra do endividamento nulo das autarquias através de excepções que parecem ser feitas à medida para agradar aos autarcas em ano de eleições autárquicas. Não vejo aqui nenhum rigor, só populismo. Não vejo aqui nenhum rumo, só medidas contraditórias. É tudo uma questão de imagem. Sobre o OE 2005 (ou o milagre do aumento dos salários e pensões pagas por ar e vento) vou tentar escrever num futuro próximo mais umas considerações (algumas positivas, como a proibição dos talões e a obrigatoriedade da emissão de facturas em todas as operações).

Até quando?

Santana e Portas, o nosso duo fantástico, repete à exaustão que a oposição está a proteger os ricos enquanto eles tentam transferir a riqueza destes para os mais pobres. O Robin Santana e o Portas dos Bosques acham que os ricos abusam dos hospitais públicos, que abusam dos Planos Poupança Reforma e dos Planos Poupança Habitação, que são os que usam as nossas estradas sem pagar! Para desmontar mais esta alarvidade de comentários patéticos só digo que não confundo classe média com ricos e lembrar ao nosso duo fantástico que tributar duplamente os contribuintes não tem nada a ver com justiça. Se querem fazer regredir séculos de avanços fiscais tributando todos os serviços com taxas diferentes e aumentando exponencialmente a burocracia então tomem uma medida de reposição da justiça social e acabem com os escalões do IRS e suas taxas diferenciadas. O que estão a fazer é transferir um processo relativamente simples no IRS para um processo complexo mas mais fotogénico onde todos os serviços da sociedade (veja-se as taxas moderadoras nos hospitais, os subsídios às rendas, as portagens diferenciadas) vão ter preços diferentes para pobres e ricos.

Eu continuo a achar que qualquer economista pode explicar ao duo fantástico que todas estas medidas podem ser aplicadas através do IRS duma forma relativamente simples. Só que seria discreta, não teria o impacto da lembrança da generosidade do Governo em cada serviço que o cidadão recorre. Daqui a uns meses não ficaria admirado que por cada cidadão com três filhos em vez de usufruir de benefícios no IRS recebesse, por cada compra que efectuasse, um vale de um cêntimo que podia ser trocado numa visita ao Ministro responsável, que através de meios audiovisuais, explicaria que o que ele estava a receber tinha sido retirado aos ricos. Este Governo é mesmo nobre... e mesmo estúpido! Ou então é simplesmente... demagógico.

Até quando?

Nota ao cidadão: Esta campanha contra a acção do Governo foi paga pelo Expresso, revista pelo Público e contou com a coordenação do Professor Marcelo.

(209) Porto, 2 - Penafiel, 0


Estádio do Dragão Posted by Hello

Finalmente visitei a nova sala de espectáculos do Futebol Clube do Porto, o Estádio do Dragão. Dos estádios construídos ou reconstruídos para o Euro 2004 só tinha tido oportunidade de visitar o Estádio da Luz, no jogo do Europeu entre Portugal e a Rússia. Na altura achei que o novo Estádio da Luz era imponente. Não quero comparar os estádios até porque a minha opinião vai ser sempre suspeita mas posso dizer que este estádio não é tão imponente mas é muito mais elegante.

Este Estádio foi projectado por Manuel Salgado, um dos nossos melhores arquitectos da actualidade. Está bem enquadrado e bem pensado tanto nas acessibilidades e interacção entre meios de transporte como nas áreas de lazer que o rodeam. O interior é confortável e moderno. "O estádio do Dragão é o primeiro estádio europeu a conseguir a certificação «GreenLight». Esta é uma certificação da Comissão Europeia (através da ADENE - Agência para a Energia), premiando o esforço realizado em termos da utilização racional de energia e na qualidade da iluminação" (ver aqui).

Quanto ao jogo propriamente dito, devo dizer que é sempre bom ver o jogo sem o ruído das declarações e das polémicas. O importante é o espectáculo, o resto (como diria o nosso Primeiro Ministro) é ruído. Não vou classificar este espectáculo como inesquecível ou brilhante, porque não passou dum espectáculo de música pimba (principalmente a segunda parte). Mas com as condições de conforto que o estádio oferece, mesmo com o Porto a meio gás, temos sempre a garantia dum serão bem passado.

sexta-feira, outubro 22, 2004

(208) Uma questão de (falta de) credibilidade

Santana Lopes conseguiu, da forma que todos nós conhecemos, ser Primeiro Ministro de Portugal. O que Santana demorou a perceber é que as circunstâncias em que subiu à cadeira do poder, leia-se ao poder, colocavam-no numa situação de partida muito frágil. O ex-autarca não tinha o Estado de Graça que só os governantes eleitos podem usufruir. Logo um Primeiro Ministro sem período de experiência precisa, mais do que algum outro, de credibilidade.

O arranque desastroso e descoordenado deste Governo fizeram deste um nado morto. Com tantas propostas mal estudadas e logo desmentidas e reconfirmadas a pouca credibilidade que Santana tinha desapareceu de vez. A consequência são más notícias para o Governo e para o país.

O processo de descredibilização tende a agravar-se:

- Cada vez assiste-se a mais erros com a crescente necessidade de apresentar propostas que contrariem de forma rápida a imagem de falta de credibilidade;

- O populismo tende a tomar conta das propostas com o desgaste contínuo da imagem do Governo e com a aproximação das eleições. A descoordenação torna-se cada vez mais visível (confrontem-se os discursos de Santana e Bagão, por exemplo);

- Os agentes económicos cada vez vão ter menos respeito pelas propostas do executivo. Todos vão reagir com crescente violência e humor às propostas e declarações do Primeiro Ministro.

O que Santana ainda não percebeu é que o seu Governo já não tem fôlego. Ou se já percebeu está a tentar, em desespero, lançar medidas e controlar a sua imagem via Comunicação Social. O país é que perde, assim como Lisboa já perdeu.

Não resisto a dar um exemplo (hoje não vou falar do IRS e do IRC, das taxas moderadoras, da sesta). A proposta dos professores com horário zero fazerem assessoria a juízes é um erro de avaliação, demonstra a necessidade em ser popular e teve como reacção gargalhadas gerais, com a ausência de respeito da Imprensa e sindicatos para levarem sequer em consideração a proposta.

Portugal à deriva! Até quando?

quinta-feira, outubro 21, 2004

(207) Pedofilia na Madeira

Queria fazer alguns comentários ao relatório do SIS (Serviço de Informações e Segurança) que li no blogue Do Portugal Profundo, apenas na parte relativa à Madeira. ste relatório foi concluído em 1999 e tem como título "A Pedofilia em Portugal: Ponto da Situação". Passo a transcrever a parte relativa à Madeira:

"O problema da pedofilia tem sido especialmente mediatizado no caso da Madeira. O facto de a Região ser automaticamente conotada com o turismo sexual, as denúncias de algumas organizações estrangeiras e o "caso do padre Frederico" são as causas mais prováveis deste protagonismo.

É inegável que a Madeira aparece como uma região propicia ao turismo sexual', ai acorrendo todos os anos visitantes estrangeiros atraidos, não só pelas excepcionais condições climatéricas, como também por "pacotes" turísticos que já incluem os serviços sexuais de menores.

Obviamente, a pedofilia e o turismo sexual são favorecidos também por alguns condicionalismos sociais. Graves situações de pobreza, que se ' traduzem em rendimentos aleatórios (provenientes sobretudo da pesca e dos bordados), mendicidade, precariedade habitacional, desagregação familiar e enorme absentismo escolar, continuam a marcar o quotidiano de muitas crianças da Região.
Assim, os apelidados meninos das "caixinhas", que anteriormente percorriam os cafés da "baixa" do Funchal com caixas de sapatos adaptadas e decoradas com frases apelativas em inglês (v.g."Give me a coin. I 'm hungry! ), continuam a mendigar pelas ruas, usando agora como novo método de abordagem a venda de postais aos turistas. Sem perspectivas estimulantes de vida, muitos destes meninos pobres têm um sonho comum: encontrar um turista rico que lhes permita auferir de um melhor nível económico.

Para a situação concorre ainda a atitude de passividade ou até de promoção da prostituição infantil por parte de algumas famílias, em que se praticam abusos sexuais e se exige que as crianças mendiguem sob pena de maus tratos, tecendo-se redes de cumplicidade que oscilam entre o segredo e a negação. Assim se explica o baixo número de queixas crime relativas a crianças sexualmente molestadas na Região, ou seja, um silêncio que é também ele comprado.

Na Madeira, as vítimas de exploração sexual são oriundas principalmente de certas zonas degradadas ou desfavorecidas do Funchal (os Bairros Canto do Mar, Josefina, Quinta Falcão, Beco da Escola, do Hospital) e de Câmara de Lobos (especialmente o Bairro da Palmeira). Neste último concelho, além de haver bastantes bolsas de pobreza, a população tende a interiorizar atitudes de dependência caritativa, não só quando assolada por situações adversas, mas também no seu dia-a-dia. A predisposição para a mendicidade característica desta população e que não se verifica em nenhuma outra zona da Madeira (apesar de existirem bolsas de pobreza talvez mais graves noutros locais), explica a razão pela qual o aliciamento sexual de menores encontra em Câmara de Lobos um terreno particularmente favorável.

Em resumo, o problema da pedofilia na Madeira apresenta-se nas duas modalidades do abuso sexual de menores intra-família e da prostituição infantil, esta com particular expressão nas áreas-problema do Funchal e Camara de Lobos. Degradação sócio económica, hábitos ancestrais de mendicidade e forte vocação turística são os principais factores explicativos da particular incidência da pedofilia neste arquipélago."


Este relatório levanta-me sérias dúvidas. Não porque seja mentira o que aqui vem descrito mas porque está cheio de lugares comuns mais ou menos sérios. Parece-me mais vocacionado para dar orientações políticas do que para traçar uma investigação séria. Sem dúvida que o caso Madeira está muito mediatizado (em 1999, antes da Casa Pia, ainda mais) e este relatório não é mais que a transcrição do que foi amplamente mediatizado. Não observo aqui dados novos e até duvido que tenha havido agentes do SIS no terreno a investigar o caso.

"(...) a Madeira aparece como uma região propicia ao turismo sexual, ai acorrendo todos os anos visitantes estrangeiros atraidos, não só pelas excepcionais condições climatéricas, como também por "pacotes" turísticos que já incluem os serviços sexuais de menores."

Não sei quem escreveu isto mas claro que um potencial pedófilo vai à agência de viagens dos pedófilos e diz quero um local bem distante com muitos miúdos e que possa andar de manga curta. Aí respondem, temos aqui um pacote para si. Hotel de cinco estrelas, dois miúdos por dia (serviço completo) e temperaturas quentes todo o dia. Não me parece que funcione minimamente desta forma. Mais credível seria falar-se em locais e descrições espalhadas pela Internet de como devem abordar as crianças pobres da região. As descrições neste relatório parecem-me demasiado forçadas e desligadas da realidade.

Fala de condicionamentos sociais e do incentivo das famílias. Confirmo! Há situações mesmo caricatas como mães a dirigirem-se à escola para explicar a ausência dos filhos. Uma professora contou-me que a mãe, toda orgulhosa, dizia que o filho já tinha comprado um frigorífico e fogão novos. A professora pergunta onde o filho arranjava o dinheiro. A mãe, na sua patética ignorância, diz que é "enrabador", chula os estrangeiros.

Mas há situações que o relatório nem aborda. A conivência das autoridades de forma indirecta, ignorando ou reprimindo conforme as pessoas envolvidas. Antes de rebentar o caso geralmente os turistas eram protegidos de situações chatas como roubos não tendo de explicar a presença de menores em locais menos aconselháveis.

Mas compreendo que é uma situação impossível de combater. Deriva da mentalidade em clara associação com situações de pobreza. São os miúdos que procuram, são situações incentivadas pelos pais (os mesmos que quando ausentam-se meses na pesca fazem questão de deixar as mulheres grávidas havendo assim imensas famílias numerosas). O único combate possível é o combate à pobreza. Tentando ser justo reconheço algum esforço do Governo Regional no combate à pobreza em Câmara de Lobos e não noto "pacotes" promovidos na região para este tipo de turismo sexual. Só não é aceitável a protecção que é dada quando os escândalos atingem membros do Governo.

Este relatório (pelo menos no ponto Madeira) é fraco em pormenores, não revela nenhuma investigação séria e concerteza não despoletou nenhuma investigação séria. E com esta leveza entrega-se documentos à Polícia Judiciária. Espero que as declarações orais que ocorreram (segundo é relatado no Portugal Profundo) tenham tido mais conteúdo que a parte escrita. Agradeço a quem possa enviar-me o relatório dos custos anuais do SIS. É que eu posso relatar bem mais do que está incluído neste relatório.

quarta-feira, outubro 20, 2004

(206) O Mito que cada voto tem o mesmo valor...

... é claramente exagerado! O objectivo deste post é simples. Provar que, nos actuais Regimes Democráticos, um voto tem um valor muito variável conforme o partido e o local onde se vota. O mito que cada voto conta e que conta da mesma maneira é alvo duma sonora gargalhada.

Democracia - sistema político em que a autoridade emana do conjunto dos cidadãos, baseando-se nos princípios de igualdade e liberdade;

Democracia Representativa - situação político-administrativa em que o povo governa através de representantes seus, periodicamente eleitos;

Para provar esta tese que cada voto tem um peso diferente na eleição dos nossos representantes vou basear-me unicamente no caso português porque há outros países como nos EUA que a realidade da desproporção entre votos e representantes é ainda maior (Kerry e Bush, neste momento, só fazem campanha em meia dúzia de estados). Vou só fazer uma análise às eleições Legislativas.

Legislativas (Nacionais e Regionais)- Nas eleições legislativas há várias distorções. Vou enunciar alguns exemplos não para contestar a legitimidade dos nossos representantes mas para reforçar a tese acima enunciada.

- À partida, segundo os Censos, decide-se quantos deputados vão ser eleitos por Distrito. Imagine-se que Portugal tem dez milhões de habitantes e vamos considerar o distrito A com 1 milhão de cidadãos e o B com 2 milhões de cidadãos. Assim o primeiro distrito tem direito a 10% dos deputados e o segundo a 20% dos deputados. Como o deputado representa não os eleitores mas todos os cidadãos acontece frequentemente situações caricatas como a que vou passar a descrever. Se no distrito A votarem todos os cidadãos e no B apenas metade, nos dois distritos votam o mesmo número de pessoas. Mas no distrito B elege-se o dobro dos deputados, o voto de cada pessoa vale, teoricamente, o dobro do voto dum eleitor do Distrito A.

- Outra distorção tem a ver com o Método de Hondt. Quem quiser fazer o download dum programa de cálculo do método pode fazê-lo aqui ou pedir-me o programa na caixa de correio disponibilizado à direita. Primeiro decide-se o número de deputados a eleger no círculo (Number of seats). Vou colocar 4 deputados e só vou utilizar três partidos: A,B e C.

a) A: 55% B: 35% C: 10% : O partido A elege 3 deputados e o partido B 1 deputado. Vê-se logo que 10% dos votos nem têm representação, nem contam. E que 55% dos votantes têm uma representação de 75% do círculo eleitoral, cada voto valeu mais do que nos outros partidos.

b) A: 55% B: 45% C: 0% : Os cidadãos resolvem fazer voto útil no partido B e não votam em C. Os votos no partido A são idênticos à situação anterior. Surpresa das surpresas o partido A e B elegem 2 deputados cada. Note-se que o partido A teve a mesma percentagem de votos e perdeu um deputado.

Nota: O voto útil nem sempre é positivo. Não estou a defendê-lo.

Várias conclusões são óbvias. O voto tem diferente valor conforme o local onde se vota, conforme quem define o círculo eleitoral, conforme o partido que se vota e conforme a interacção entre o nosso voto e o dos restantes eleitores.

- Nas últimas eleições regionais na Madeira o PSD obteve 53,76% dos votos expressos. Teve direito a 44 mandatos, isto é, 64,7% do hemiciclo. O CDS/PP obteve 7,03% dos votos e elegeu 2 deputados, 2,94% do hemiciclo. O falecido Juíz Nunes de Almeida, Presidente do Tribunal Constitucional, já dizia que no Sistema Eleitoral da Madeira havia "fortes distorções" na proporcionalidade.

- O conceito de maioria absoluta não é 50% dos votos mais um, é 50% dos deputados mais um. Teoricamente podemos ter uma maioria absoluta com percentagens tão baixas como 30% ou até menos.

Conclusão: É preciso explicar aos cidadãos que uma grande parte das eleições já está decidida antes do voto. É preciso explicar que antes de votar deve pensar nas distorções do sistema para fazer valer o seu voto. Se estas são as regras do jogo, o jogo só é legítimo se todos os cidadãos souberem que o seu voto não vale o mesmo que o do seu vizinho. Mesmo que vivam no mesmo sítio o número de deputados a eleger e os votos do seu vizinho podem fazer com que o seu voto não valha nada, valha o dobro ou metade doutro voto. Se as regras forem claras vale tudo.

Este tema ainda tem muitos pormenores a enumerar. Fica para outra vez. Espero que a tese tenha ficado inequivocamente provada e que as regras do jogo tenham ficado mais claras.

segunda-feira, outubro 18, 2004

(205) Portugal é hilariante!

Portugal é hilariante!

Perante um sem número de artigos na imprensa sobre a sua alegada (e largamente confirmada) impreparação e incompetência, Santana Lopes fez questão de refutar um artigo. Aquele que o acusava de ter feito uma sesta entre um debate na assembleia e a Moda Lisboa. Como é possível terem inventado tal calúnia? A reacção de Santana foi a de um verdadeiro Estadista, negando energicamente que tal situação tivesse ocorrido.

Portugal é hilariante!

Que dizer das declarações de Pinto da Costa? E do comportamento da sua mulher? E das afirmações de Luis Filipe Vieira? E da indignação de José Veiga? Eu, adepto de futebol, adepto do Futebol Clube do Porto, sinto repulsa por estas personagens dos Simpsons que habitam o nosso futebol. Espero que nunca tenham de ter na consciência a morte dum espectador devido às suas despropositadas declarações.

Portugal é hilariante!

Jacinto Serrão, secretário geral do PS-Madeira, afirmou que o resultado do PS na Madeira foi "Muito Bom" e dado o ponto de partida que até foi "Excelente". Jardim respondeu que se tivesse vergonha "demitiam-se todos", não posso estar mais de acordo, não pelo resultado mas pelas reacções ao resultado. Excelente? Nem comento.

Portugal é hilariante!

Mais uma maioria absoluta para Jardim, mais uma vitória de Carlos César. A falta de alternância democrática nas Regiões Autónomas devia ser alvo de reflexão uma vez que a os poderes autonómicos não têm pontos de desgaste e numa Democracia isso é perigoso. Jardim, na reacção aos resultados, esteve igual a si próprio anunciando o "fim do porreirismo" e as "limpezas" que ia começar a fazer segunda. Eu ainda pensei que ia limpar o pó da Constituição que tem em casa mas não, pouco depois Jardim já ameaçava fazer uma limpeza a uma jornalista presente na sala. Talvez seja uma limpeza à pele da jornalista porque se for outra coisa seria difícil perceber o silêncio do Presidente e do Primeiro Ministro que tanto falam em liberdade de imprensa. Jardim ainda queixou-se de ser "censurado"...

Portugal é hilariante!

José Rodrigues dos Santos está a ser alvo de análise na RTP. Parece que a informação tem sido demasiado imparcial. Poque é que este caso tem contornos estranhos? Porque quem disse que "nós" estávamos a fazer uma avaliação foi Morais Sarmento. Desde quando o Governo avalia os directores de informação. Eu acho que já há coincidências a mais...

Portugal é hilariante!

domingo, outubro 17, 2004

(204) Paula Rego em Serralves


Paula Rego Posted by Hello

Nada melhor que aproveitar as manhãs de Domingo para visitar Serralves. E pergunta o atento leitor porque raio hei-de acordar num Domingo de manhã para visitar Serralves? Porque é de graça, respondo eu. Como diria Sampaio, "Os tempos estão maus". E porque está lá uma exposição de Paula Rego com obras posteriores a 1996. E devo dizer que a exposição é impressionante, como já estava à espera que fosse.

Tenho dificuldade em descrever o que vi e em sublinhar o que gostei porque na apreciação de arte cada um sabe o que lhe provoca impacto. Gostos não se discutem, apenas lamentam-se. De qualquer forma não resisto a fazer umas considerações breves sobre a exposição.

Estão expostos em Serralves quadros e esboços de obras importantes de Paula Rego. Pessoalmente fiquei encantado com obras como Anjo (1998), Entre as Mulheres (1997), Metamorfoseando-se segundo Kafka (2002), A Sereiazinha (2003), Obediência (2000). A alma das personagens dos seus quadros está retratada nas suas faces, nos seus rostos num realismo quase grotesco. Retrata o insólito, o realismo da intimidade já que a dor, a alegria, o sofrimento e o prazer geralmente abafados pelas quatro paredes duma casa são completamente expostos. O mais original que Paula Rego tem para nos oferecer é conseguir a partir de situações do quotidiano lançar um conjunto de mensagens para a sociedade, do íntimo alcançar o quadro geral da sociedade.

Outros quadros destacam ainda o Estado Novo, a decadência humana, o papel da mulher (note-se que é a mulher que aparece com o rosto marcado por uma vida de trabalho e o homem tem um corpo menos musculado, às vezes até mais frágil), a subserviência (com os corpos desproporcionados). Nada é convencional.

Mas ainda mais satisfeito fiquei ao apreciar alguns conjuntos de quadros articulados entre si. Os três quadros sem título sobre o aborto foram do melhor que eu já vi para descrever a humilhação e a exposição que as mulheres estão sujeitas. Nos rostos lia-se tudo! Destaco ainda três sequências de seis quadros. Uma sobre o Capuchinho Vermelho, numa alusão clara à Pedofilia e à Vingança. Outra com o título Possesão (2004), talvez a mais bela das sequências onde as expressões faciais e corporais descrevem os acontecimentos na perfeição. Por fim Misericórdia (2001) não pelo seu impacto visual mas por ter-me arrepiado o retrato da intimidade das pessoas na terceira idade.


Compreender Paula Rego Posted by Hello

Aconselho este livro por ter boas reproduções de algumas das obras de Paula Rego assim como várias perspectivas interessantes da obra dela. Como suplemento no Público ou em Serralves está a ser vendida a bom preço.

Termino como comecei! O estilo de Paula Rego é original porque é um realismo grotesco, insólito e íntimo com um aspecto visual inovador. Os sentimentos expressam-se nas faces, nos corpos, nas mãos, nos pés. Por isso muitos gostam e muitos detestam. Não faz mal! Porque Rego tem uma "infinita capacidade de provocar e renovar" (Ruth Rosengarten).

sábado, outubro 16, 2004

(203) Para discutir as SCUT com seriedade...

1. Um dos problemas da política é intoxicar tudo e todos com afirmações demagógicas sobre determinado tema. Em vez de utilizar a terminologia política vou introduzir algumas reflexões sobre as SCUT.

2. Vantagens das SCUT:

- Antecipar a construção de novas autoestradas: Um dos objectivos de Cravinho era encontrar um modelo que permitisse antecipar a redução das distâncias entre as regiões do interior de Portugal. Este modelo permitiu acelerar a construção de novas estradas porque punha os privados a financiar as obras públicas. Melhorou a acessibilidade.

- Aumentar as áreas de influência: Uma AutoEstrada sem Portagem aumenta a área de influência dum determinado centro ou serviço. É importante já que a fronteira de influência entre dois centros aproxima-se mais do centrio de menor área. Isto é fundamental no incremento da actividade económica, na redução de custos públicos e privados e na qualidade de vida. Um exemplo fácil de perceber é a construção dum Hospital. Antes deste ser construído calcula-se a sua área de influência também com base nas acessibilidades. Logo boas acessibilidades no interior reduzem os custos com saúde e melhoram a qualidade de vida dos utentes. A implementação de portagens, por seu lado, reduz a área de influência.

- Efeitos indirectos: O aumento da actividade económica e da coesão territorial tem externalidades positivas a nível do produto, do emprego e dos impostos. O Estado ganha noutras rubricas (diminuição de subsídios e aumento de impostos) que não pode esquecer-se de contabilizar nos efeitos das SCUT no Orçamento e na economia real. Também tem um impacto positivo no turismo proveniente dos países vizinhos.

3. Desvantagens das SCUT:

- Acordos para a construção e manutenção: O grande problema deste modelo é fazerem-se acordos quase sempre irrealistas com quem constroi e vai explorar estas estradas. Quase todos os acordos têm sido muito mais onerosos para o Estado que o custo real de construção e manutenção das estradas.

- É um método complexo: Em política, onde não há continuidade entre Governos e Ministros, é perigoso ter um método de financiamento muito mais complexo que o do Utilizador Pagador. Basta mudar uma alínea para descaracterizar (in)voluntariamente o todo.

4. O Utilizador Pagador - Eu defendo esta solução não por ser a melhor mas por adaptar-se melhor à nossa realidade actual. É menos permeável à corrupção e incompetência. Num país onde os mecanismos de fiscalização dos políticos é deficiente prefiro este Modelo de Financiamento porque é mais simples. O Estado não pode esquecer-se das suas funções de aumentar a coesão territorial e diminuir as distâncias mas é melhor que o senhor Ministro lance a sua obra e na inauguração fale do enorme esforço que o Governo fez para construí-la do que estarmos em constantes zigue-zagues de Governo faz SCUT, Governo aflito desfaz SCUT, Governo consciente retoma SCUT, Governo demagógico acaba de novo com SCUT. Isto custa indemnizações e desastroso para os nossos Orçamentos. O melhor é manter os modelos de financiamento de forma arcaica para evitar estes desastres orçamentais.

5. Chegando à triste conclusão que, por más razões, mais vale não ter SCUT devo, de qualquer forma, insurgir-me contra portagens nas seguintes situações:

- Pontes: É ridículo para entrar numa cidade ou localidade com uma barreira natural desta magnitude (rio, afluente, entre outros) ter-se que pagar portagem. Desde quando é preciso pagar ou deslocar-se muitos mais quilómetros para entrar numa cidade?

- Áreas Metropolitanas: Por uma questão de logística é vantajoso em áreas com grande movimento e que se quer com grande mobilidade que não hajam portagens.

- Vias sem alternativa: É ridículo querer impôr portagens em vias sem alternativa. Tem sempre que haver uma opção gratuita por uma questão de justiça básica. Não respeitar este princípio cria injustiças sociais caricatas.

6. Não quero é ouvir falar de descontos, isenções e outras burocracias do género. O utilizador pagador morador, o utilizador pagador pobre, o utilizador pagador de transporte de passageiros, o utilizador pagador de transporte de mercadorias, o utilizador pagador morador por quatro anos e por aí fora. Ou opta-se por uma solução ou por outra, soluções intermédias ainda parecem-me mais ridículas.

7. Eu defendo a necessidade absoluta de formas de organização das pessoas como o Estado. Preocupa-me a qualidade da nossa actual classe política porque faz-me chegar ao ponto de defender o que acredito ser uma má solução (utilizador pagador) porque não confio na classe para assinar contratos justos de construção e manutenção nem a ter políticas de continuidade no longo prazo. Espero, de qualquer maneira, ter conseguido retirar alguma da demagogia na discussão deste assunto. Ou então não!

sexta-feira, outubro 15, 2004

(202) A Mediatização da Política

Segui com interesse o último debate entre Kerry e Bush e o primeiro (na Assembleia da República) entre Santana e Sócrates. Reflecti quem tinha ganho os debates e ia começar a escrever aqui as minhas opiniões. De repente desisti. Porque apercebi-me do ridículo que é fazer da política um combate de boxe. O que interessa é se um Primeiro Ministro (ou Presidente) estão a resolver os problemas do país e se um líder da oposição (ou candidato a Presidente) teêm alternativas sérias para resolver esses problemas. Analisando por este prisma achei as quatro pessoas envolvidas nos debates muito fracas.

Sei que Bush e Santana são parte do problema, não da solução. Sei também que Kerry e Sócrates ainda não defendem claramente um rumo para os seus respectivos países. Mas Sócrates ainda está a tempo de corrigir isso e aliar a sua presença mediática a conteúdos e ideias. Vamos ver como correm os Novos Estados Gerais do PS e se de lá sai um bom programa de Governo e, mais importante, que o novo Governo tenha a coragem de cumprir e implementar o que os vários quadrantes da sociedade sugerem de forma séria. Vamos todos tentar ser construtivos porque este país anda a atrasar-se demasiado. Por isso os vencedores dos debates ficam para segundo plano porque ninguém quer governar um país sem futuro.

P.S. O desafio mantém-se. Aguardo por mais participações (os textos podem ser enviados para aqui) com o amplo tema "Portugal" de modo a fazer uma experiência de interacção entre blogues. Como alternativa para aqueles que escrever para os seus blogues já é um custo e então para outros impensável sugeria o envio de um texto já publicado que se insira no tema.

quinta-feira, outubro 14, 2004

(201) Desafio

Quero lançar um desafio aos (poucos) leitores deste infâme blog. O mundo dos blogs em Portugal parece-me pouco interactivo tanto no desenvolvimento dos temas como dos comentários. Para combater isso vou lançar um desafio arriscado porque pode não ter adesão. Queria pedir a colaboração dos donos doutros blogs e outros leitores para escreverem um post com um tema "quase" livre. O tema proposto é simplesmente "Portugal". Os interessados podem deixar o texto aqui: ricvares@tvtel.pt.

As diferenças de estilo são bem vindas. Os textos, se houverem, serão publicados na próxima semana num formato que vai adaptar-se aos textos. Colaborem...

P.S. Podem deixar outras sugestões de interactividade no mesmo mail. Vamos tornar o fenómeno dos blogs em Portugal mais coordenados.

(200) Prémio "Os tempos estão maus e piores para quem não recebe prémios e é governado por quem Vossa Excelência nomeou"

"Sobre o prémio que lhe será hoje entrague pelo Rei de Espanha, Jorge Sampaio confessou-se 'muito surpreendido' por o receber e confirmou que os 90 mil euros, desta vez, não vão para nenhuma instituição de caridade. 'Desta vez, vai ser para mim. Os tempos estão maus'"
Público 13 Outubro (sobre Sampaio ficar com os 90 mil euros do prémio pelo seu apoio à construção europeia)

Não escrevi este post para criticar o facto de Sampaio ter resolvido ficar com o dinheiro mas para ironizar a situação. Estranha escolha de palavras estas a do nosso Presidente... "os tempos estão maus"!

quarta-feira, outubro 13, 2004

(199) Antevisões na Sétima Arte

Porque a vida não é feita só de política coloco aqui algumas imagens de filmes que ainda não estrearam mas que me parecem originais.


Sin City Posted by Hello

Sin City é o novo filme de Robert Rodriguez e é baseado na excelente Banda Desenhada de Frank Miller. São várias histórias sobre uma cidade imaginária, a Cidade do Pecado. As imagens prometem e o elenco também. Se fôr fiel à BD vamos ter um filme negro e violento. Estreia em 2005.


Machinist Posted by Hello

The Machinist parece-me um bom filme. Christian Bale perdeu um terço do seu peso para fazer a história dum tabalhador que não consegue dormir e que começa a pensar que perdeu a sua sanidade. Vou estar atento a este filme. Gosto muito do actor e o argumento também parece-me interessante. Estreia ainda este ano.


Immortel Posted by Hello


Immortel Posted by Hello

Immortel é o filme que estou mais ansioso por ver. Bilal é um conhecido autor europeu de BD e pelas imagens que já vi o filme promete ser inovador em todos os aspectos. Estou curioso. Estreia este ano.

Estes são alguns dos filmes cujas imagens despertaram a minha curiosidade. Aguardo as estreias para verificar se realmente estão ao nível das minhas expectativas. Um post diferente para não estar sempre a reflectir sobre a "mexicanização" deste país...

terça-feira, outubro 12, 2004

(198) A Insustentável Leveza da Democracia na Madeira

Há já algum tempo que tentava reunir força de vontade suficiente para expôr neste blog mais umas considerações sobre a “Leveza” da Democracia na Madeira, tema que levo muito a sério. Recordo que já escrevi vários posts sobre a Madeira que podem ser facilmente consultados nesta ligação, no meu outro blog que compila por temas o que é escrito aqui.

Há dois fenómenos na ilha que são difíceis de descrever:

1. Abusos de Poder Visíveis

Durante a pré-campanha eleitoral estive duas semanas na Madeira. Pelo menos três inaugurações diárias são um sinal de vitalidade da economia da Madeira (não vou discutir neste post o financiamento e o desenvolvimento sustentado da ilha). Já estas inaugurações coincidirem com um “tipo” de comícios partidários já é abuso de poder. E admitir à Comunicação Social que as bandeiras do PSD estão presentes para combater a hipocrisia já é uma forma de cegueira democrática.

Na RTP-Madeira (entregue a Jardim por esse grande democrata, Durão Barroso) temos, como destaque e durante largos minutos, as inaugurações do dia. Alberto João Jardim multiplica-se em declarações pouco oficiais (e bastante partidárias) para quem está na pele dum chefe de Estado. Nos jornais que não pertencem ao Governo Regional (porque dos outros nem vou falar) acontece o mesmo. As primeiras 6/8 páginas dá-se destaque às inaugurações e duas à pré-campanha eleitoral. Como se isto não bastasse os jornais publicam suplementos diários a cores de quatro páginas descrevendo as novas infraestruturas e as suas potencialidades (geralmente as q ue vão ser inauguradas nesse dia) pagas por Secretarias Regionais e empresas desinteressadas. Ainda temos direito a mais umas páginas com as maquetes e projectos do Governo Regional para os próximos anos.

Também durante este período que estive na Madeira Jardim ameaçou o Grupo Blandy (dono do Diário de Notícias local) de expropriação por este grupo lesar os interesses da Madeira quando, no meio de tanto elogio, ousaram criticar Jardim. Se não fosse preocupante, era hilariante.

2. Um Clima de Medo Invisível

Explicar este medo invisível é quase impossível. Estamos numa ilha onde todos dependem, directa ou indirectamente, do poder instalado. É o medo da perda de emprego ou da não promoção, é o medo das represálias sociais, é o medo das expropriações, é o medo de prejudicar os filhos e familiares. Daqui surge o receio de falar abertamente sobre determinados temas, receio de não ser defendido por nenhum advogado quando tiverem interesses opostos ao Governo regional, receio de gritar por uma Democracia plena.

3. Conclusão

Como já referi em posts anteriores não consigo perdoar aos sucessivos Presidentes da República e Primeiros Ministros a sua inacção! Não me deixam outra hipótese que não seja a de chamá-los de cúmplices. Quanto aos eleitores na Madeira nada digo porque o desenvolvimento é uma realidade e a troca da democracia plena pelo betão é consciente. Até o dia em que este modelo não sustentado sofra uma implosão e todos percebam que só a Democracia é o garante dum Desenvolvimento Sustentado.

4. Miguel Sousa Tavares

Em complemento e porque este post nem vai longo (engasguei-me agora) deixo aqui umas palavras que subscrevo de Miguel Sousa Tavares.

"Há dois anos atrás, ingenuamente, aceitei fazer parte de uma comissão nomeada pelo anterior Governo e cuja missão principal era definir como deveria funcionar a televisão pública, com que meios e financiamentos e a que regras deveria obedecer. Como eu, várias outras pessoas, que nada quiseram nem receberam em troca, sacrificaram muito dos seus tempos úteis e livres, para, dentro do prazo fixado, dotar o Governo do resultado de uma reflexão, em forma de propostas concretas, que reunia o maior consenso possível entre gente de diversas proveniências e ideias. Recebido o trabalho e fingindo-se escudado nas conclusões da sua "comissão independente", o ministro Morais Sarmento meteu as conclusões ao bolso e, até hoje, nem um obrigado nos disse.

Entre as conclusões que ele fez desaparecer instantaneamente na atmosfera, estava uma que recomendava que as regras editoriais e deontológicas estabelecidas para o funcionamento da televisão pública tivessem, obviamente, extensão a todo o território nacional, incluindo Açores e Madeira. Porque, tanto quanto era do nosso conhecimento, nas regiões autónomas vigora a mesma Constituição, o mesmo regime democrático e o mesmo Estado.

Porém, a solução adoptada para a Madeira foi exactamente a oposta e que veio ao encontro das antigas e persistentes exigências do soba local: a RTP-Madeira foi dada de bandeja ao dr. Jardim, aí vigorando, como no resto da vida pública local, uma concepção de liberdade de informação que se confunde com aquela em que o dr. Jardim aprendeu a fazer jornalismo, no tempo do partido único, da censura e da ditadura. E a coisa seguiu assim, sem escândalo de maior. Esta semana, porém, a sem-vergonha do regime madeirense chegou ao extremo de o PSD-Madeira (um eufemismo do dr. Jardim) protestar oficialmente pelo facto de a RTP nacional ter enviado equipas de reportagem à Madeira para cobrirem (para o continente, exclusivamente) as eleições locais - o que, segundo eles, constitui um "insulto à alta capacidade dos profissionais da RTP-Madeira". E mais, indignaram-se eles com o facto de os jornalistas idos de Lisboa "se terem instalado num hotel", a partir do qual "transmitem para Lisboa aquilo que em segredo montam, com máquinas que trouxeram e aí colocaram". Por mais que puxe pela memória, só consigo lembrar-me de coisa semelhante comigo ocorrida na antiga Roménia de Ceausescu. O PSD-Madeira é hoje o único regime em toda a Europa que considera um insulto e uma ameaça a presença de jornalistas "estrangeiros" a reportarem para fora como funciona o seu regime.

Será isto, pergunto, "o regular funcionamento das instituições democráticas", tão caro ao Presidente da República? Ou a excepção democrática madeirense já está definitivamente assumida como coisa banal e inevitável?"


Duvido que muitas pessoas tenham chegado a ler todo este texto. Escrevi-o assim tão longo porque é um assunto que levo muito a sério.

segunda-feira, outubro 11, 2004

(197) Portuguesas e Portugueses


Conversas em Família Posted by Hello

Hoje tive oportunidade de assistir ao tempo de antena do Governo! Esta nova forma de comunicar é, sem dúvida, original (ou talvez não). Durante 12 minutos vários canais retransmitiram uma conversa pré-gravada em diferentes momentos de tempo de Pedro Santana Lopes. Sou muito novo para lembrar-me do formato das "Conversas em Família" com Marcelo Caetano mas peço a ajuda aos meus (poucos) leitores para explicarem a este Filho da Democracia se este formato faz ou não recordarem-se doutros tempos.

Não quero fazer comparações demagógicas mas simplesmente chamar a atenção que este tipo de comunicação ao país não deve banalizar-se. Gostei também do pormenor da fotografia do Papa estrategicamente colocada no canto da imagem. Quanto ao conteúdo, cheio de intenções e lugares comuns, achei interessante ser quase o oposto do que Bagão Félix também comunicou o país de forma original. E continuo sem perceber nenhuma estratégia não conjuntural para o país.

Especulo que o Ministro dos Assuntos Parlamentares deve estar a pensar que este tempo de antena necessita de contraditório e prevejo que já amanhâ a Alta Autoridade para a Comunicação Social vai ser chamada a intervir.

Post Scriptum: Durão Barroso apelou à união (no PSD) e à estabilidade (no país). Como quero fazer-lhe a vontade vou exigir a partir de hoje com mais convicção a rápida realização de eleições antecipadas!

(196) Porque nunca é tarde para responder...

Uma das vantagens de estar a arrumar a casa é encontrar revistas antigas com entravistas já com mofo. Mas nunca é tarde para responder a afirmações que na altura ficaram sem resposta.

"Guterres foi alguém que conquistou o poder através da lógica de conspiração - é o chamado 'grupo do sotão'"
Durão Barroso (Expresso, 5 de Junho 1999)

- Apetece-me dizer que sempre é melhor que entregar o país ao 'grupo da Lux'

"Acho a prudência uma virtude dos políticos. Ninguém responsável quer ver à frente do país alguém que vá atrás do primeiro impulso."
Durão Barroso (Expresso, 5 de Junho 1999)

- Estás a falar de quem, Durão? Serás responsável?

"Não pode haver, por parte do Governo, a concepção e a realização de políticas de defesa e política externa incompatíveis com a opinião do PR"
Jorge Sampaio (Expresso, 25 de Novembro 1995)

- Parece que, com o tempo, habituaste-te a que ninguém te ligue, caro Sampaio.

"Cada pessoa (falando de Mário Soares) tem o seu estilo. Mas estes dez anos foram muito positivos para o orgão de soberania Presidência da República"
Jorge Sampaio (Expresso, 25 de Novembro 1995)

- Será que vais poder dizer o mesmo sobre ti? Ou será que teres transformado um regime semi-presidencial num parlamentar foi bom para o orgão que representaste?

sábado, outubro 09, 2004

(195) Notícias de Espanha

"Estou muito satisfeito pelo apoio que a lei suscitou, esta legislação vai ser um poderoso instrumento para derrotar o machismo criminoso que infelizmente está presente na sociedade espanhola"

Quem terá dito esta ofensiva frase para os nuestros hermanos? Um terrorista? Um estrangeiro? Um catalão? Não! O autor desta frase é Zapatero, após a aprovação da nova lei contra a violência doméstica. Este político não teve medo de criticar a sua própria sociedade e prova-se mais uma vez que estamos perante um político atípico! (Ver também (186) Zapatero).

Quanto à lei representa mais um passo no conjunto de progressos civilizacionais que Zapatero quer que a Espanha efectue. Não é uma lei perfeita mas é um passo em frente. Não sou muito favorável a discriminações positivas nas leis (qualquer tipo de disciminação, negativa ou positiva, devia, na minha opinião, ser retirada das leis) mas representa uma posição de força em relação à violência doméstica. A lei ainda vai ser retocada mas introduz o conceito de "pessoa vulnerável" para agravar as penas. Pessoalmente, preferia unicamente um agravamento das penas acompanhada duma definição clara do que é violência doméstica, sem discriminação positiva.

"(...)até Agosto último foram denunciados 26671 delitos de maus tratos contra mulheres pelos seus actuais ou ex companheiros, enquanto em 2003 o total das queixas foi de 15462."
Fonte: Rosa Peris, presidente do Instituto da Mulher

Mais uma vez estou entusiasmado com este começo de Zapatero. No futuro vou escrever um post a explicar porque é que não concordo com a Discriminação Positiva.

(194) A Pianista, de Michael Haneke


A Pianista Posted by Hello

“Tem uma personalidade deturpada com traços sádicos, neuróticos, masoquistas, que a impede de estabelecer relações adultas, e é isso que interessa a Haneke filmar – o estado limite no coração da cultura (musical) austríaca. A personagem que Huppert – Haneke constroem não é boa, mas também não é má – sofre. A perversão de Huppert – Haneke é deixar o moralismo para o espectador.”
I.S. Público, 08 Outubro 2004

Aproveito o anúncio que o Nobel da Literatura vai ser entregue a Elfriede Jelinek para tecer umas considerações sobre o filme que baseou-se num livro (que julgo ter sido inspirado pelo menos, em parte, na sua vida) desta escritora, A Pianista.

Este filme é, na minha opinião, brilhante. Imaginemos um típico filme americano onde o protagonista é um poço de virtudes ou, em alternativa, seguiu um caminho moralmente reprovável por força das circunstãncias (deixo uns abrangentes exemplos, o filho foi morto, a mulher deixou-o para casar com o padeiro, dedicou-se demasiado à nação e perdeu a família). Este protagonista do filme americano nunca tem problemas sem solução porque, num dia especialmente luminoso, tudo vai resolver-se, isto é, nos cinco minutos finais do filme. Como não convém generalizar em demasia faço um destaque a realizadores como Scorsese, Thomas Anderson, David Mamet, Todd Solondz, entre outros que teimam em ser originais em terras do tio Sam.


Isabelle Hupert Posted by Hello

Agora imaginem A Pianista. Uma mulher com demónios interiores que não pode expulsar, que fazem parte dela, que não foram impostos nem podem ser retirados pelas circunstâncias da vida ou pela sua força de vontade. Uma mulher que tem frustrações que nunca vai conseguir ultrapassar, com “perversões sexuais nada puritanas” (uso estes termos sem convicção mas com muita ironia). O que é mais comum assistirmos no cinema são personagens que espelham o seu desespero da forma mais visual e gráfica possível mas que, no fundo, todos os problemas são resolúveis. Não há incapacidades permanentes, nem sexuais, nem emocionais, nem sociais. Não é o caso!

Onde está a beleza deste filme? Na credibilidade da personagem porque não nos é oferecido um trajecto mágico que faz com que ela consiga ultrapassar as suas inadaptações pessoais e sociais. Não porque algo lhe fez ser assim, apenas porque ela é assim. Porque só nós próprios somos realmente capazes de humilhar e destruir o nosso espírito, mais ninguém consegue isso. Porque só a própria pessoa pode provocar uma forma de desespero que seja incomportável. Porque é um filme sobre os demónios que habitam os nossos espíritos e que podem conseguir tomar conta do ser social. Porque está tudo isto no filme! Porque não é ficção!

(193) A Vida é um Milagre, de Emir Kusturica


Kusturica Posted by Hello

Não diria que é Kusturica no seu melhor mas é Kusturica igual a si próprio. Não falta nada... tem música, festas, animais, explosões, guerra e tudo o que de mais estranho podemos imaginar e que habita no mundo deste realizador. Isto é cinema. Por causa de realizadores como este o cinema é uma arte e não só entretenimento.

Não conheço toda a filmografia de Kusturica. A minha introdução ao seu mundo foi com o filme Arizona Dream (1994). Na altura confesso que não compreendi o seu estilo como já o consigo fazer actualmente. Os peixes voavam, as personagens pairavam. A música e a alegria davam as mãos para as personagens viverem duma maneira simples mas intensa.

Depois vi Gato Preto, Gato Branco (1998) e Underground (1995), por esta ordem. Foi com estes filmes que passei a compreender o seu Universo. Nunca mais vi o cinema da mesma forma porque também passei a encarar a vida de outra forma. É tudo tão simples, mesmo no pior dos cenários. As personagens têm uma relação orgânica com o meio ambiente, com os animais, com a música.

A Vida é um Milagre é um filme mais intimista onde está presente tudo o que define Kusturica mas com menos personagens, com mais romance. A guerra continua sempre presente, a mudar mas não a travar a vida das pessoas. Mais cenas ficam para a história do cinema. A do jogo de futebol, a da cama e todas as cenas com animais envolvidos. Se só pudesse usar uma palavra para definir os filmes de Kusturica seria bem simples, utilizava a palavra Burlesco.