Filho do 25 de Abril

A montanha pariu um rato - A coerência colocada à prova - A execução de Saddam Hussein - O Nosso Fado - "Dois perigos ameaçam incessantemente o mundo: a desordem e a ordem" Paul Valéry, "Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa, salvar a humanidade", Almada Negreiros - "A mim já não me resta a menor esperança... tudo se move ao compasso do que encerra a pança...", Frida Kahlo

quinta-feira, janeiro 27, 2005

(311) EOL

Uma das grandes falhas do nosso mercado interno é a falta de diversidade de lojas virtuais que permitam compras feitas pela internet a partir do conforto do lar. Por isso felicito a existência duma loja virtual como a EOL. Esta loja, sediada em Coimbra, pertence ao Grupo Enaco. Vem (ajudar a) suprir uma falha do nosso mercado, que tarda em aderir às novas formas de comércio.

A EOL tem uma interessante diversidade de Banda Desenhada, Filmes em DVD, Jogos e Miniaturas. Este é um mercado em expansão e vem competir com a forte concorrência de diversas lojas virtuais europeias. Eu raramente compro DVD´s em Portugal porque as lojas espanholas e inglesas têm preços competitivos (muitas vezes a menos de metade do preço) que compensam os custos de transporte para quem não se importa de ter legendas em inglês. Adicionalmente estas lojas europeias fazem entrega ao domicílio duma forma rápida e profissional, estando sempre dispostas a manter o cliente satisfeito quando alguma coisa corre mal.

A EOL tem formas de pagamento atractivos. O pagamento pode ser feito à cobrança ou através do MBNet (cartão de débito que gera um número de cartão de crédito que só pode ser utilizado numa transacção o que torna a compra segura). Permite o não pagamento de portes para encomendas superiores a 100 €. Garante a entrega em 48 horas a menos que o item não esteja disponível.

Eu, como consumidor, tenho beneficiado do mercado único para comprar este tipo de produtos na Europa a preços baixos e com alto nível de conforto e profissionalismo e, por isso, vejo com bons olhos o acordar das empresas portuguesas para esta nova realidade. Apesar de nunca ter encomendado nenhum produto pela EOL deixo uma nota positiva e um aviso às distribuidoras portuguesas. A nota positiva é a diversidade de produtos disponibilizados pela loja virtual, com uma grande variedade de filmes importados do resto do mundo além dos produtos que já encontramos em Portugal em qualquer loja da especialidade. Não posso deixar, porém, de fazer um aviso relativamente aos preços ainda pouco competitivos da loja virtual já que as nossas distribuidoras ainda não perceberam que a concorrência é cada vez mais global. Nos produtos que não são novidade é possível comprar a preços bastante mais baixos, por exemplo, em Espanha ou Inglaterra com os mesmos custos de transporte. Esta loja precisa de pressionar as distribuidoras a garantirem, como no resto da Europa, opções alargadas de promoções, principalmente nos produtos lançados há mais tempo. Fica o aviso e o desejo de boa sorte a esta iniciativa!

* Coloquei um link da loja na barra da direita! Visitem!

(310) Voto em branco, Voto Nulo e Abstenção

Sempre tive dificuldade em distinguir o significado do voto em branco do significado do voto nulo. Depois como estes votos diferem da abstenção. Com a ajuda do Professor Vital Moreira e com alguma pesquisa na rede cheguei a umas definições e algumas notas sobre o nosso sistema eleitoral!

O voto em branco é o voto sem marcação da escolha do eleitor. O eleitor recusa os candidatos e os partidos mas não o regime representativo. Significa que, com outros candidatos, votaria neles. Retira legitimidade “moral” ao orgão legislativo (e executivo) mas não retira a legitimidade jurídica e política. Tem latente a ideia do “tanto faz”, é indiferente um ou outro ganharem! No fundo o eleitor não se importa com quem vença a eleição ou por não se identificar com nenhum deles ou por não ter sido capaz de escolher entre os concorrentes! Em Portugal é relevante para a contagem dos votos expressos na eleição presidencial que exige a maioria dos votos validamente expressos!

O voto nulo é o voto que não permite apurar o sentido do voto. Pode ser intencional ou não. Pressuponto que há intencionalidade, aqui não está subjacente a ideia do “tanto faz”, está a ideia que não quer nenhum dos partidos no poder! É um voto de protesto! É uma recusa em votar num candidato! Também é relevante para o apuramento dos votos válidos na eleição presidencial. Tantos os votos brancos como nulos fazem com que o somatório das percentagens dos partidos não seja de 100%, são incluídas nas percentagens estes votos!

A abstenção é a não participação no processo eleitoral. Pode ter vários significados porque pode demonstrar desinteresse ou qualquer outra motivação impossível de quantificar. No fundo perde o valor de protesto porque não podemos concluír as razões que levaram o eleitor a não ir votar. Os referendos só são vinculativos se tiverem a participação de mais de metade dos eleitores.

* O meu agradecimento pessoal ao Professor Vital Moreira, que auxiliou-me na correcta interpretação dos votos e da abstenção.

* Nota pessoal: Este post não é um apelo a alguma destas modalidades, tem apenas como objectivo que haja uma reflexão sobre o sentido de voto para não enviarmos sinais contraditórios aos que queremos transmitir nas eleições.

quarta-feira, janeiro 26, 2005

(309) Análise à Pré Campanha!

Não consigo ler o efeito da pré campanha nas intenções de voto! É que a pré campanha está a correr mal a todos! Mas a uns pior que a outros!

Santana Lopes tem o estigma do Governo desastroso que conduziu! E durante a pré campanha continua a ser ele próprio, para o mal e para o bem! Continua quizilento e vazio em ideias, mas com a vantagem de ser ele próprio!

José Sócrates tem conduzido uma pré campanha séria e sem o recurso à demagogia (o que é de louvar) mas deixa a sensação que não está a vestir o seu fato! A sua postura tem sido desmobilizadora apesar de eu achar que é o programa eleitoral mais sério e realista, mas também por isso o menos corajoso.

Jerónimo de Sousa parece um dinossauro em campanha! Será este partido atractivo para a actual classe média? Tenho as mais sérias dúvidas! Um partido não reformador e irreformável!

Paulo Portas é o novo estadista de Portugal! Mas será que alguém consegue olhar para Portas, o Estadista, sem soltar uma gargalhada estridente? Mais um político que não está a vestir o seu fato!

A campanha até estava a correr bem a Francisco Louçã! Mas depois veio a “quinta feira negra”! Agora nota-se um Louçã à defesa, preso às suas próprias asneiras!

Que impacto terá esta pré campanha desastrosa na votação de 20 de Fevereiro? Não consigo responder a esta pergunta!

terça-feira, janeiro 25, 2005

(308) O “deslize” de Louçã

Eu confesso que, quando assistia ao debate entre Portas e Louçã, só me apetecia entrar pela sala onde o debate realizava-se e dizer em voz alta: Basta! De um lado um paternalismo de Estado recém adquirido pelo “estágio” no Estado, do outro o paternalismo de quem é defensor de todas as causas sociais modernas. Portas é cínico, todos nós sabemos. É o que eu chamo de conservador moralista e consegue tirar qualquer um do sério. Agora é um exemplo de competência, de rigor, de solidariedade, enfim, um poço de virtudes. Esquece-se do rigor “Moderno” e “Independente” que andou a mostrar ao país. Esquece-se que ser solidário não é apresentar uma equipa de Governo quando tem um Governo negociado com o PSD. Esquece-se que ninguém pode dar lições de moral a ninguém.

Mas Louçã cometeu um erro capital! Respondeu a Portas duma forma desastrosa! Segundo ele (Louçã), Portas não tem o direito de falar-lhe de vida porque só ele gerou um filho, só ele conhece um sorriso duma criança. Eu nem vou entender estas afirmações com algum segundo sentido, apenas afirmo categoricamente que não têm sentido nem defesa possível! Eu sei que Louçã não é conservador, eu sei que não defende um modelo de família rígido e sei que a actual lei é uma hipocrisia! Mas não posso deixar de repudiar argumentos deste género, porque ninguém tem menos capacidade intelectual de defender os seus pontos de vista por ser homem, por não ter filhos, por nunca ter feito um aborto. Mas terá sido um deslize e uma crítica gratuita ou uma convicção? Pendo mais para o deslize apesar de ficar confuso quando vejo campanhas do BE com camisolas com a frase “Eu já abortei!”. Estão à espera que dê os parabéns ou que as chame de corajosas? Ou que é bom transgredir as leis quando a causa é justa? Desculpa, mas recuso-me a fazer isso! Apoio a mudança da lei, não estas iniciativas!

Eu não acho que se deva dramatizar o que aconteceu! Mas que este “incidente” sirva de reflexão aos dois. Um porque não deve ser moralista porque isso é uma forma intolerante de posicionar-se na vida e outro porque não pode intitular-se o paladino das causas sociais e mostrar essa arrogãncia na defesa das suas ideias porque acaba por ser outra forma de intolerância!

(307) O menino Santana não quer dizer que nome feio queria chamar ao menino Sócrates

Se há algo que não lhe posso acusar, menino Santana, é de não ser frontal! O outro dia reparei, porém, que optou por deixar os outros meninos da escola serem frontais em seu nome. Acho isso inaceitável da sua parte.

Num comício em Coimbra falou que os meninos no recreio chamavam nomes feios aos outros meninos que não queriam brincar! Ainda acrescentou que era bem feito chamarem esses nomes!

Se é bem feito e há um menino (o menino Sócrates) que não quer brincar porque não revela ao país o nome feio que quer chamar a esse menino? Seja frontal, menino Santana!

(306) A Ler

Gostei bastante deste post escrito no Barnabé. Tem a vantagem de reflectir sobre os paradigmas actuais da esquerda portuguesa e nos problemas da sua representatividade. Acima de tudo um post feito com realismo, preocupado com a Governabilidade na esquerda! Um manifesto interessante que recomendo uma leitura atenta:

Maturidade
Não foram dois, nem três, os eleitores do Bloco de Esquerda que este fim-de-semana - ainda sob o efeito do choque das palavras de Louçã no debate com Portas - me confessaram a sua intenção de deixar de o ser (aliás, basta dar um giro pela blogosfera para verem que não exagero). Vêm juntar-se ao contingente de indecisos que no dia 20 de Fevereiro decidirá se o PS ganha com maioria absoluta ou relativa. Esta é, já toda a gente percebeu, a principal questão que está em jogo nestas eleições.
É gente que votou em Guterres em 1995 e desde então tem alternado entre o voto em branco e o Bloco. Lamentaram o regresso ao poder da direita em 2002 mas, porventura com alguma razão, acharam que o PS merecia uma cura de oposição. Com o Barrosismo veio a austeridade e as terapias dolorosas da direita. Com menos dinheiro no bolso, os anos de Guterres começaram a ser recordados com nostalgia, mas a memória d episódios como o “totonegócio”, o referendo ao aborto ou o orçamento limiano, tornou muito difícil a reconciliação com o PS. Até que entra em cena Santana Lopes. A mera possibilidade desta criatura continuar politicamente activa, liderando com Portas a oposição de direita a um governo minoritário do PS, incutiu-lhes as primeiras dúvidas.
Alguns não ficaram mal impressionados com a prestação de Sócrates nas eleições para a liderança do PS. A sua atitude conciliatória em relação a Manuel Alegre caiu bem. Mas… Mas os preconceitos de esquerda são uma coisa terrível. Sócrates não encaixa no perfil do líder de esquerda a que nos habituámos (passado anti-fascista ou militância activa no PREC, cultura humanista, carreira na universidade ou num escritório de advocacia). Vai ao ginásio, guia um Mercedes, é pouco visto nos concertos da Gulbenkian. A sua entourage parece dominada pela “tralha guterrista” (sobre este ponto, ver o meu último parágrafo).
Pois bem, a estes meus amigos eu digo o seguinte: chegou a hora de revelarem maturidade. Dominem os vossos instintos tribais, não deixem que os vossos preconceitos identitários levem a melhor. A vida é feita de compromissos. Se quiserem aliviar as vossas consciências, votem no Bloco. Se quiserem dar um pequeno contributo para mudar o actual estado de coisas, e travar a “peronização” do nosso regime político, então o PS é a vossa escolha. Dou-vos três razões concretas.
Em primeiro lugar, estabilidade governativa. No momento crítico que atravessamos, é muito importante tê-la. Precisamos de nos livrar dos folhetins baratos que nos consumiram nos últimos meses. Precisamos de um governo que faça o seu trabalho durante quatro anos e seja julgado no fim. Precisamos de espaço para debater os grandes desafios do país – as opções de política económica, a reforma da administração e dos serviços públicos, o estado calamitoso da educação, as questões europeias. Precisamos de um executivo que se sinta seguro para enfrentar resistências corporativas e interesses particulares.
Não tenho nada contra governos de coligação, mas o nosso panorama à esquerda não as facilita. O PCP é um partido estalinista, irreformado e irreformável. O Bloco, por enquanto, não reúne as condições para ser um parceiro fiável. Entre outras coisas, as suas posições em matéria de política de segurança e defesa e integração europeia são demasiado radicais. Mas o principal obstáculo a um entendimento PS-Bloco é, aliás, o próprio Bloco. O Bloco tem uma estratégia de crescimento a longo prazo, e como tal não se quer macular com o exercício do poder e deixar o PCP recuperar o papel de único partido de protesto. Para chegar aonde os Verdes alemães chegaram, o Bloco quer ter uma base mais sólida.
Em segundo lugar, uma maioria absoluta do PS seria a primeira maioria absoluta de esquerda da história da nossa democracia. Podem dizer que de todos os líderes que o PS teve, Sócrates é o que menos fez por ela. Seja. Mas agora pensem: lembram-se de viver um momento tão incerto e angustiante como este nos últimos vinte anos? Eu não.
Por fim, o programa e a equipa. Mau-grado as suas insuficiências, o programa de governo do PS não se afasta da matriz social-democrata europeia. Talvez lhe falte alguma ambição, mas prometer mais sem primeiro conseguir coisas como a flexibilização dos critérios do PEC seria desonesto e irresponsável.
Um governo de maioria fará toda a diferença em relação ao recrutamento de pessoal de qualidade. Uma coisa é oferecer um horizonte de quatro anos a uma pessoa para desenvolver e aplicar um projecto governativo; outra é aliciá-la para uma experiência que pode não sobreviver às próximas eleições presidenciais. Um governo minoritário será um governo dominado pelos apparatchiks, dispostos a tudo para se manterem no poder (inclusive a negociar com Portas); um governo maioritário não terá essas tentações e poderá atrair independentes de gabarito.

Publicado por pedrooliveira

(305) Campanha Hilariante

- Senadores do PSD: Durante meses a fio Pacheco Pereira falava do nosso triste país. Do populismo de Santana, da insconsistência de Santana, dos perigos de Santana. Há umas semanas anunciou que ia votar PSD porque confia na capacidade de regeneração do partido. Se Santana ganhar que irá Pacheco dizer do nosso triste país? E Marcelo Rebelo de Sousa? Um regresso para evitar ser chamado de traidor como Santana referiu no Expresso da Meia Noite ou um exercício de convicção? Depois de cantar lá criticou Sócrates sem apelar ao voto em Santana. Um regresso patético!

- Vazio de ideias: Eu só ouço Santana a falar em debates, a criticar o Presidente, a avisar o PP e a realçar as injustiças da vida! Sem dúvida um projecto mobilizador!

- Governo do PP: Se o PSD ganhar sem precisar do PP chama este partido ao Governo segundo o acordo pré-nupcial! Se o PP ganhar já não tem espaço para membros do Governo da área do PSD. Com amigos destes...

- Sem alma: Sócrates anda todos os dias a debater o estado do país, o que realço como positivo. Mas o que sobra em calculismo peca em alma e convicção. Até Guterres tenta fazer este homem rir e lá conseque arrancar um tímido sorriso à "máquina". Um verdadeiro momento televisivo!

segunda-feira, janeiro 24, 2005

(304) Portugal e a União Europeia (3 de 3)

Tenho analisado as vantagens e desvantagens de Portugal sair da UE de forma a tentar concluír, duma maneira sempre perigosa porque a vida não é uma ciência experimental, se optaríamos por políticas muito distintas das que a UE tem-nos “imposto”.

O último ponto de análise prende-se com a política comercial e industrial. Um dos grandes “defeitos” da UE é expor-nos à concorrência dos países europeus (e agora também do leste europeu) e a produtos chineses (no sector têxtil). Teríamos assim duas opções não exclusivas, fechar mais a circulação de produtos e fazer acordos bilaterais. Adicionalmente poderíamos subsidiar directamente as empresas do aparelho produtivo do Estado e do sector privado. Por fim poderíamos tentar incentivar o Investimento Directo Estrangeiro (IDE) em Portugal e reformular as pescas e agricultura. À partida parece o ideal mas nem tudo são rosas!

A protecção alfandegária, num mundo cada vez mais globalizado, só ia proteger o mercado interno debilitando ainda mais as nossas exportações. Os preços e diversidade junto ao consumidor final iam deteriorar-se. O problema ia ser o mesmo que o actual, a necessidade imperiosa de tornar as nossas empresas competitivas, apenas ia dar-nos tempo.

Os subsídios directos poderiam ser úteis mas a realidade é que as empresas públicas têm dado menos prejuízos com a limitação à injecção de capital por parte de Estado. A UE tem obrigado empresas como a TAP, a EDP, e outras a disciplinarem a sua gestão e isso tem tido mais vantagens que desvantagens. Mas neste ponto admito que a política industrial europeia carece duma reformulação, criteriosa, para incentivar a inovação e o investimento!

O IDE tem critérios muito precisos! Portugal só desviaria o IDE do leste europeu se esvaziasse as suas mais valias. Isto é, sem alterar a qualificação da Mão de Obra e as suas infraestruturas de apoio, o IDE só era atraído para Portugal se este abdicasse de mais valias fiscais e ficasse dependente do “mau” emprego, o emprego precário e mal pago. Por isso neste ponto teríamos que actuar nos mesmos pontos que ainda podemos actuar, não haveria vantagens em seguir políticas à margem da UE.

A Política Agrícola Comum (PAC) tem sido polémica e está aqui um ponto que admito haver vantagens na saída de Portugal da UE. A pasta é complexa mas não é só espinhos. Para mais pormenores sobre a complexidade da PAC aconselho a leitura dum post já antigo, aquando da morte de Lino de Carvalho.

PAC

Nesta longa análise não “provei” a utilidade da UE para Portugal, nem era esse o objectivo. O objectivo era “provar” que Portugal teria os mesmos problemas e prioridades fora do EURO e da UE. Ao mesmo tempo “demonstrar” que as políticas europeias não são desprovidas de lógica. Esta análise é vulnerável à crítica mas contribui para explicitar que a UE não está desligada de objectivos concretos e úteis para os seus Estados Membros. A UE tem um rumo que pode e deve ser aperfeiçoado, mas que é um rumo defensável que não pode ser a causa de todas as virtudes e defeitos nacionais. A responsabilidade dos países como Portugal é a mesma dentro ou fora da UE, os objectivos e as reformas necessárias não mudam! Não vejo razões de fundo para ponderar uma saída da UE porque teríamos os mesmos problemas estruturais e a mesma liberdade para os resolver, apenas estaríamos a adiar o confronto com as outras economias.

E que tal reformarmos Portugal e ajudarmos a UE a ser mais eficiente?

(303) Governo de Gestão




Estou confuso! Por favor ajudem-me... O que é um Governo de Gestão? O Presidente da República dissolveu a Assembleia! O Governo achou que isso criava limitações ao seu regular funcionamento e resolveu demitir-se. Sublinhava assim que era um Governo de Gestão libertando Santana Lopes para a campanha.

Um Governo de Gestão pode fazer inaugurações? Não discordo que possa fazê-las se estivessem programadas antecipadamente para estas datas. Só fico feliz que, por curiosa coincidência, tantas inaugurações tenham calhado nesta altura! Bem sei que é um fardo para Santana ter que fazer inaugurações mas o homem é um verdadeiro chefe de Estado!

E um Governo de Gestão pode anunciar projectos estruturantes? Descobri recentemente que claro que sim! E quem duvida que todos estes projectos não foram estudados com pormenor e só agora podiam ser apresentados não é um homem de boa fé. Claro que o Conselho de Ministros não os aprova mas é patriótico não perder tempo. O que seria de nós sem sabermos que já há projectos para um TGV a meia velocidade, mais duas pontes sobre o Tejo, uma cidade administrativa e um metro em Coimbra? Eu, pelo menos, ambiciono ter a honra deste homem, porque sem trabalho não há honra e sem honra ou mata-se ou morre-se, já dizia a música que acompanha Santana pelo país!

E será que um Governo de Gestão pode fazer nomeações? Claro que sim, caro leitor desatento com a realidade do país. O que seria deste país sem homens de reconhecida capacidade a não serem premiados com chorudas indemnizações daqui a uns meses? Seria um país ingrato e sem coração e claro que não é isso que queremos para nós... nós somos um povo generoso e obrigado, Doutor Santana, por potenciar o que há de melhor em nós!

sexta-feira, janeiro 21, 2005

(302) Portugal e a União Europeia (2 de 3)

Portugal saíu da UE! Terá sido vantajosa esta decisão? Será a solução para os nossos problemas? É o que procuro analisar recorrendo a uma boa dose de “astrologia” económica e simplificação para conseguir contextualizar as vantagens e desvantagens deste acto. Não é uma análise ás vantagens de Portugal estar inserido na UE, é apenas a desmistificação que estaríamos melhores se estivéssemos fora da UE.

Recuperada a autonomia fiscal e orçamental estaríamos finalmente fora do Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC). O “pacto estúpido” obrigava-nos a manter o défice orçamental abaixo dos 3% e, adicionalmente, multáva-nos se não o cumpríssemos. Mas o pacto não nos impõe um procedimento para alcançar esse valor, pode ser feito por via das despesas ou das receitas, pode ser feito com ou sem receitas extraordinárias. É rígido no objectivo final mas a liberdade para alcançar esse valor continua a ser nacional, sem restrições!

Um Governo fora da UE sabia que mexer nas receitas, no sentido da subida, seria “proibitivo” para que a economia portuguesa não perdesse mais competitividade. Mas podia fazê-lo, assim como pode fazê-lo inserido na UE. Então a questão de fundo seria em como distribuir melhor as despesas. Perdidos os fundos de coesão mas deixando de ser contribuinte do orçamento da UE poderíamos distribuir estas despesas de investimento segundo os nossos critérios.

Os fundos europeus destinam-se, em grande parte, à coesão, isto é, pretende não se agrave o fosso entre as diferentes regiões da UE. Não podemos renunciar a essa política, apenas podíamos distribuir o investimento doutra forma. Há também Fundos Europeus destinados ao investimento tecnológico nas empresas e na ajuda a infraestruturas de apoio às pessoas e empresas. Também aqui poderíamos distribuir doutra forma os investimentos mas não poderíamos prescindir destes investimentos. No fundo teríamos que fazer o mesmo! Note-se, porém, que os grupos de interesse em Portugal teriam mais poder para influenciar essa distribuição.

Poderíamos também multiplicar o investimento reprodutivo à custa do equilíbrio do Orçamento. Admito que, com critérios adequados, poderíamos colher frutos a médio prazo. Mas o problema essencial não desaparecia. Défice Orçamental gera Dívida Pública e Dívida Pública gera Défice Orçamental. Como sermos competitivos com um Estado a gastar demasiado em custos correntes e a agravar os juros da dívida pública? No fundo tínhamos que impôr exactamente o mesmo que o PEC nos impõe, mas com flexibilidade. Essa flexibilidade tem vantagens e desvantagens porque sabemos bem que o PEC tem a vantagem de criar disciplina orçamental o que não acontecia em Portugal e na Europa há duas década atrás (com défices acima dos 10%)! Admito haver vantagens na flexibilização mas muita pouca margem de erro.

A Reforma da Administração Pública, da lei do trabalho e dos sectores essencais do Estado (Saúde, Educação e Justiça) tinham que ser feitos na mesma. Tínhamos que beneficiar de melhores e mais bem preparados Governos capazes de enfrentar lobbies e fazer reformas. Isto não é o que já é pedido aos nossos Governantes? Não é o que a UE pretende?

No próximo post concluo esta análise! Até agora não encontrei, da parte da UE, a imposição de nenhuma medida que não tivéssemos que aplicar na mesma. E continuamos a ter total liberdade para alterar tudo o que tem que ser reformado, apenas ainda não o fizémos.

(301) Letra da Música de Campanha de Santana Lopes

"Um homem também chora
Menina morena
Também deseja colo
palavras amenas
Precisa de carinho
Precisa de ternura
Precisa de um abraço
da própria candura
Guerreiros são pessoas
são fortes, são frágeis
Guerreiros são meninos
por dentro do peito
Precisam de um descanso
Precisam de um remanso
Precisam de um sonho
que os tornem perfeitos
É triste ver meu homem
guerreiro menino
com a barra do seu tempo
São frases perdidas num mundo
por sobre seus ombros
Eu vejo que ele sangra
Eu vejo que ele berra
a dor que tem no peito
pois ama e ama
Um homem se humilha
se castram seus sonhos
Seu sonho é sua vida
e vida é trabalho
E sem o seu trabalho
o homem não tem honra
E sem a sua honra
se morre, se mata."


Eu quase caí na tentação de comentar mas acho que a música fala por si!

(300) Referendos

Por causa da discussão pública se os referendos devem ou não coincidir com as eleições enviei um comentário no blogue Causa Nossa, publicado pelo ex*-deputado Vital Moreira, que aqui reproduzo:

Referendos
«Eu cada vez tenho mais dúvidas sobre a utilidade dos referendos! Como tudo nesta sociedade não se trata de encontrar a melhor solução, mas de vestir as camisolas dos partidos e discutir o acessório.
(...) Não vejo problema em que [os referendos] sejam feitos juntamente com as eleições gerais porque todos os referendos estão politizados à partida e provocavam um factor adicional de controlo dos eleitores sobre os seus representantes. Eu posso preferir um Governo PSD (por exemplo) mas não haver concordância com uma questão de fundo, como por exemplo a privatização da saúde, e aí estaria a dar poderes ao Governo que queria mas a indicar sectores intocáveis.
Apesar dos referendos em Portugal estarem descredibilizados cabe aos partidos darem uma nova utilidade a estes. A realização dos referendos em actos eleitorais teria a vantagem de não perdermos tempo com incontáveis eleições e poderiam servir para os cidadãos não entregarem uma carta em branco a um partido baseado num programa vago que nunca é cumprido (nos EUA há dezenas de referendos nos actos eleitorais ajudando a definir as orientações dos seus representantes). Tem a desvantagem de ainda se politizar mais os referendos.»
(Ricardo Vares)


* Peço desculpa pelo lapso. O Doutor Vital Moreira não é, actualmente, deputado nem candidato a deputado à Assembleia da República

(299) Portugal e a União Europeia (1 de 3)

Eu reconheço que nem sempre a União Europeia (UE) tem sido um factor positivo para a economia portuguesa. Mas esta lógica tem limites! Não é raro eu e o Raio (do blogue Cabalas) termos discordãncia em relação ao impacto da UE em Portugal. Não sei se o Raio defende a saída de Portugal do EURO e até da UE mas sei que defende que Portugal ganhava em não ter feito alguns passos da integração europeia. Adicionalmente defende que os economistas deviam pensar em soluções para a crise portuguesa que admitissem uma saída da UE. É um tema que deve ser discutido!

Proponho então um exercício que analise se Portugal fora da UE poderia ter políticas muito diferentes das que a UE propõe. E se na conjuntura actual, num mundo globalizado, isso traria vantagens. Mas a vida não é uma ciência experimental e é difícil traçar cenários com objectividade. Feita esta ressalva importa definir como ponto de partida a situação actual de portugal e, a partir daí, reflectir sobre um Portugal fora da UE. Para simplificar esta arrojada tentativa de prever o futuro vamos admitir que a saída de portugal da UE não envolvia a devolução de fundos nem custos administrativos na recuperação da autonomia das políticas, inclusive na (re)conversão do EURO para o escudo. Como é óbvio uma análise destas envolve uma grande dose de demagogia, mas vou correr esse risco.

Para sair deste crise, não só financeira, mas também de perspectivas de crescimento num quadro de integração europeia, Portugal abandonava o EURO e a UE, recuperando a sua independência monetária, cambial, fiscal e orçamental.

Em primeiro lugar Portugal tinha que analisar como manipular o escudo de forma a resolver os problemas da economia portuguesa. Podia assim desvalorizar ou valorizar a moeda face ao EURO e às outras moedas (pressupondo que a nossa economia tem capacidade de levar por diante esta política). Se optasse por valorizar o escudo protegia a indústria nacional no mercado interno já que tornava o escudo mais caro face às outras moedas. A única vantagem desta medida era dar tempo às nossas empresas para fazerem o que deviam ter feito há muito tempo, isto é, adaptarem-se a uma situação de futura concorrência já que, um dia, seria na mesma inevitável que o escudo apenas reagisse à sua procura e oferta. Esta opção ainda tinha o incoveniente de prejudicar as nossas exportações tornando os nossos produtos menos competitivos nos mercados externos e, adicionalmente, penalizava os consumidores porque tornavam o preço final dos produtos mais elevado. A única vantagem, também temporária, era um maior controlo do défice externo!

Podia então optar por uma desvalorização da moeda emitindo moeda para internacionalizar a economia. Esta opção seria arriscada porque dependia da reacção do sector privado pois este podia não fazer face ao aumento da concorrência interna e tinha que estar preparado para internacionalizar-se. Adicionalmente provocaria uma pressão inflacionária devido à emissão de moeda para desvalorizá-la.

A política cambial é útil mas só serve de suporte temporário à política económica, não seria aqui que Portugal resolveria o seu problema. Além disso uma economia pequena como a portuguesa tem uma capacidade limitada para influenciar a sua taxa de câmbio porque é pouco resistente à especulação num mercado aberto. Não vejo vantagens (e a existirem são sempre temporárias) em recuperar a política cambial e renunciar à resistência à especulação que o EURO oferece.

No próximo post continuo a análise se Portugal tem interesse em recuperar as suas políticas e se poderia ter políticas muito diferentes das que a UE define. Relembro que esta análise baseia-se em cenários impossíveis de prever, apenas tem como objectivo desmistificar a responsabilidade da UE na nossa situação actual porque, no fundo, o problema de Portugal é o que tem poder para fazer e ainda não conseguiu fazer!

quinta-feira, janeiro 20, 2005

(298) A380




Apesar da apresentação do A380 já ter ocorrido há dois dias não podia deixar passar em branco este momento carregado de simbolismo para a Europa. Trata-se do maior avião do mundo, com capacidade até 800 passageiros mas que pode ser modificado consoante os objectivos dos clientes. Não vou aqui analisar a proeza tecnológica deste avião porque é uma área que não domino, mas não posso deixar de fazer uma análise superficial à importância deste projecto!

Este avião, construído pelo Consórcio Europeu Airbus, pretende fazer frente à Boeing e rivalizar com o seu Jumbo. Nos últimos anos a Airbus tem ganho uma impressionante quota de mercado através de aviões tecnologicamente mais arrojados que os da sua rival. Mas a Airbus tem um problema estrutural que não tem nada a ver com a qualidade dos seus aviões. Os Americanos têm uma política comercial agressiva misturando a diplomacia com o comércio com bastante eficácia. Não é raro assistirmos a negócios que envolvem o Jumbo com a obrigatoriedade do cliente comprar também Boeings de menor dimensão. Ou mesmo utilizar a indústria militar (a que a Boeing também pertence) para incentivar a compra de aviões comerciais. O A380 vem, pelo menos, minimizar os efeitos deste tipo de política por parte dos EUA.

A reacção dos EUA tem sido forte. Desde espionagem industrial até queixas à Organização Mundial de Comércio (OMC). É que a Airbus e a política de consórcios têm sido uma contradição com o resto da política industrial europeia de não intervenção dos Estados nas empresas. Este projecto envolve avultados investimentos de vários países europeus como a Inglaterra, a França, a Alemanha e a Espanha. Eu concordo com a política de consórcios e acho que os EUA não são um bom exemplo para andarem a queixarem-se de concorrência desleal uma vez que apoiam imenso a sua indústria com subsídios directos e fecham as suas fronteiras sempre que perdem o controlo de um produto (veja-se o aço europeu ou os Automóveis japoneses).

O sucesso deste modelo da Airbus vai continuar a depender mais da sua política comercial do que da qualidade do avião. Para já o sucesso a curto prazo parece garantido com 139 encomendas confirmadas. Se tudo correr bem este avião vai dar um impulso à indústria europeia e à aviação civil (com a redução de custos). Continua a ter o problema de, em 2009, apenas 29 aeroportos poderem receber este avião. Em 2008 a Airbus vai responder em força com o 7E7, um avião que aposta na redução do consumo de combustível. O novo projecto da Airbus para rivalizar com o 7E7, o A350, não está a ter um número de encomendas significativo.

Parabéns à capacidade tecnológica da Europa e vida longa para o A380!

*Tópicos Relacionados:
A imagem (gerada por computador) foi retirada desta ligação: http://www.aerospace-technology.com/projects/a380/a3801.html

quarta-feira, janeiro 19, 2005

(297) Notas da Campanha Eleitoral

1. Os elogios de Mário Soares ao programa eleitoral do Bloco de Esquerda caíram que nem uma bomba no Partido Socialista. É um aviso sério à falta de coragem do “centrão” em reformar o país;

2. Alguém já teve oportunidade de ver a música que acompanha a campanha do PSD? Eu nem vou comentar porque fiquei à beira dum ataque de choro logo após de ter tido um ataque de riso;

3. O debate entre Francisco Louçã e Jerónimo de Sousa foi desinteressante mas serviu para mostrar porque é que um está em crescimento e outro a definhar. Louçã apresentou propostas interessantes como uma auditoria à Administração Pública e a simplificação do sistema fiscal. Jerónimo de Sousa insiste na subida das receitas e não no combate às despesas o que é, do meu ponto de vista, uma opção má para o país;

4. A recusa de Sócrates em participar nos debates a dois pode ser teoricamente boa mas na prática é uma opção que vai provocar-lhe um justo desgaste. Note-se que não defendo debates diários mas há um mínimo que Sócrates devia ter tido em consideração.

(296) Arquivos dum Blogue

Para que servem os arquivos dum blogue? Alguém dá-se a o trabalho de consultar o que foi escrito há vários meses? Se, por exemplo, colocasse este post aqui...

A Roupa

Para que serve, afinal, a roupa? Ocorre-me, num pensamento menos socializado, que serve unicamente para proteger o nosso corpo do meio ambiente e suas bruscas mudanças e para permitir ao homem percorrer maiores distâncias (como as ferraduras nos cavalos). Mas talvez tenha outras utilidades porque o homem e a mulher vestem-se de maneiras muito diferentes e parece-me que a anatomia não explica tudo. Dir-me-ia a lógica que o vestuário da mulher e do homem estariam adaptados ao conforto de cada um. Porém, a experiência desafia a minha lógica porque ainda não encontrei uma utilidade óvia no uso dos saltos altos e das gravatas. Também, olhando para a questão duma maneira unicamente utilitarista, pode parecer um contra senso peças de vestuário semelhantes em quase tudo (no corte, no tipo de tecido, etc.) terem variações enormes no seu preço porque têm uma combinação original de cores, que por vezes formam palavras a que designamos de marca.

É melhor voltar a socializar a minha mente e dizer o óbvio: é tudo uma questão de imagem! Confortáveis para quê? Adaptados ao meio ambiente sim, mas subjugados a interesses porventura mais edificantes: criar uma imagem, atrair o sexo oposto à originalidade e singularidade do gosto, criar um impacto inicial que descreva a peronalidade antes de iniciar uma conversa. É claro que a roupa de Inverno é diferente da de Verão que por sua vez é diferente das outras estações, há, por isso, uma adaptação ao meio ambiente e a moda o que faz é criar tendências nas diversas estações, reinventar-se, procurar ser aceita, ser cool para o seu mercado alvo e, ao mesmo tempo, ajudar-nos a andar melhor e não termos tanto frio (não incluo o calor, porque para isso havia uma solução bem mais simples, não usar nada... ok.... está certo... as queimaduras solares).

Voltando ao exemplo do Brasil (não, não é um fetiche), como é que um país tão preocupado com a imagem tem hábitos de vestuário tão curiosos? Por exemplo não é incomum ver os estudantes universitários estarem todos nas suas respectivas faculdades de calções, T-Shirts e chinelos. Deixo a minha opinião: talvez seja o calor e a imagem vem depois. Como gosto de ser advogado do diabo de mim mesmo digo então, talvez o culto do corpo deixe a roupa para segundo plano. Mas, para contradizer-me um pouco mais porque unanimismos de opinião não devem existir (mesmo numa só pessoa), digo: não é nada disso porque o Brasil é dos sítios do mundo onde as próprias pessoas mais alteram as T-Shirts colocando um sem número de originalidades. Conclusão final: nenhuma, como sempre!


... alguém reparava que já o publiquei há vários meses? Serão os posts algo tão imediato que perdem a sua validade após o próprio dia em que são escritos?

E já agora porque raio escrevi este post? Terá alguma utilidade para os meus pobres leitores?

*Tópicos relacionados:
17 de Abril de 2004 (2) – A Roupa

terça-feira, janeiro 18, 2005

(295) Santana e a Reforma do Sistema Político

Santana Lopes quer reformar o sistema político! Não é uma prioridade para Santana mas este sugere algumas propostas. A redução do número de deputados é uma delas o que até concordo com algumas reservas que mais tarde penso expôr! Mas a mais surpreendente é a limitação para um mandato de seis anos do Presidente da República. Segundo Santana o segundo mandato só serve para haver guerrilha com o Governo, como aconteceu com Soares e Sampaio, livres da preocupação com a reeleição. Acho fenomenal esta lógica, uma vez que esta modificação só provocaria que o Presidente nunca tivesse que preocupar-se com a reeleição. Uma proposta bastante reflectida, como podemos constatar...

(294) E agora?

Depois de meses de intensas buscas os EUA declaram que finalizaram a busca pelas Armas de Destruição em Massa sem, surpresa das surpresas, terem encontrado nada de substancial. E agora? Agora volta tudo ao normal porque a justiça não funciona da mesma maneira para todos...

Como justificar agora a guerra à luz destas conclusões associadas à falta de provas que havia ligações da Al-Qaeda com o regime Iraquiano? É difícil mas estará alguém preocupado com isto? Eu até estou mas duvido que alguém vá pagar pelas mentiras que andaram a espalhar com gigantesca convicção. Alguém ainda se lembra das provas irrefutáveis que, por exemplo, Durão viu quando esteve reunido com Bush? O problema é que todos já lavaram as suas mãos e pedem-nos para olhar para o futuro... não tenho nada contra isso, quero que corra tudo bem no Iraque, mas serei o único a achar que não podemos deixar isto passar em branco?

domingo, janeiro 16, 2005

(293) É um prazer conhecer-te, Titã... o que é que nos queres contar?


(Clique sobre a imagem para ampliar)




Que valor estamos dispostos a dar por uma fotografia dum planeta satélite de Saturno? Valerá a pena gastar “rios de dinheiro” na exploração do espaço ou devemos concentrar os nossos recursos nos problemas terrestres, como defendia Saramago no discurso de aceitação do Nobel da Literatura? Eu acho que é dinheiro bem gasto, porque é demagógico pensar que não podemos investir no conhecimento enquanto não temos resolvidos os problemas da Terra. Se assim fosse viveríamos ainda a pensar que a Terra era o centro do Universo e que o Sol era a lâmpada de Deus.

Mas a verdade é que muitos recursos foram gastos para conseguir fotografias como a que publico neste post. Mas como diria Carl Sagan para quê pisar um planeta que já se sabe tudo (a Lua) quando sabemos tão pouco de Titã, com a sua atmosfera única. Carl Sagan seria hoje um homem feliz! Para Sagan a busca de formas de vida não era inútil nem improvável, nem estas formas de vida seriam uma versão de terráqueos, mas poderiam ser, por exemplo, uma forma gasosa. Vale a pena tentar matar a curiosidade, porque a vida não tem sentido sem ambição pelo conhecimento!

Queria dar os parabéns à Agência Espacial Europeia por este feito memorável!

*Tópicos Relacionados
As imagens foram retiradas do sítio da Agência Espacial Europeia e o texto do Carl Sagan dum artigo de nome “O Caminho das Estrelas”, de Fernanda Pratas

(4) – Quando a Terra não era redonda

sexta-feira, janeiro 14, 2005

(292) Quem me dera que eu fosse o pó da estrada

Quem me dera que eu fosse o pó da estrada
E que os pés dos pobres me estivessem pisando...

Quem me dera que eu fosse os rios que correm
E que as lavadeiras estivessem à minha beira...

Quem me dera que eu fosse os choupos à margem do rio
E tivesse só o céu por cima e a água por baixo...

Quem me dera que eu fosse o burro do moleiro
E que ele me batesse e me estimasse...

Antes isso que ser o que atravessa a vida
Olhando para trás de si e tendo pena...


Alberto Caeiro

quinta-feira, janeiro 13, 2005

(291) Défice: sim ou não?

Nos últimos anos os portugueses não ouvem falar de mais nada que não seja da palavra défice! O objectivo do Pacto de Estabilidade e Crescimento de fazer tender o défice, a médio prazo, para valores próximos do zero tem prejudicado algumas medidas conjunturais. É sabido que os Governos devem ter uma almofada orçamental para ultrapassarem a crise e o PEC tem retirado esse mecanismo importante de retoma. Mas não nos podemos esquecer dum pormenor deveras importante, também deveriam ter sido os Governos Nacionais que tinham que criar essa almofada nos anos de expansão. Se o défice partisse dum valor mais baixo poderíamos ter feito investimento na mesma no ciclo de crise. Talvez fosse altura de ter em consideração, no PEC, que nem toda a despesa deve ser condicionada. Já defendi que só a despesa primária devia entrar no défice, mas mesmo assim Portugal estava com um dos piores desempenhos europeus.

Mas há aqui uma questão de fundo. O défice deve ou não ser um objectivo nacional, independentemente das restrições da UE? Eu acho que sim. Mesmo que Portugal não estivesse condicionado pelo PEC, o único caminho possível era seguir o mesmo objectivo da UE para aliviar as despesas do Estado para o investimento e diminuir o peso dos juros da dívida pública na economia. Por isso as famigeradas receitas extraordinárias, que nada de bom trazem à nação, estariam a ser utilizadas na mesma devido à incapacidade do Estado em reformar a Administração Pública e os seus gastos.

Mas agora há dados novos. Os EUA têm optado (ou têm sido incapazes de inverter a tendência) por défices orçamentais e comerciais ímpares na sua história. O défice comercial dos EUA já vai em 6% do PIB, isto apesar da constante desvalorização do dólar. Nem o dólar nem a descida do preço recente do petróleo têm invertido esta situação. Em Novembro, contra todas as expectativas, as exportações americanas caíram 2,3% e as importações cresceram 1,3%. E o mais curioso é que a UE foi uma das grandes culpadas do agravamento do défice americano, apesar do dólar já ter perdido 50% do seu valor face ao Euro desde o início de 2002. Mas a realidade é que a economia americana tem crescido muito por culpa deste mecanismo de pedir dinheiro emprestado ao estrangeiro para incentivar o seu consumo e o défice orçamental tem impedido danos maiores. As empresas americanas não têm reagido tão bem como dava a entender o crescimento num país cada vez mais dependente da produção alheia.

A menos que os EUA usem a sua força diplomática para eternizarem as suas dívidas o problema americano pode ser grave. Qual é, então, a melhor estratégia? Crescer por via do consumo e de défices sucessivos como nos EUA ou estagnar mantendo as contas dentro de limites aceitáveis como na UE? Eu acho que, no médio prazo e a menos que haja uma posição de força surpreendente dos EUA, a UE vai ter muito mais potencial de crescimento (mas também sabemos que é difícil exigir aos EUA o cumprimento das suas obrigações). Melhor estão outras economias asiáticas que fecham o “gap” em relação à UE (ou melhor, ao conjunto dos países que a integram) e aos EUA. Eu só acho que a UE devia mudar a sua estratégia, flexibilizando as despesas de investigação e em investimentos reprodutivos, sendo ainda menos flexível no chamado défice primário. Seja como fôr, o défice primário português carece de ser controlado mais eficazmente se queremos crescer...

*Tópicos Relacionados:
(17) – Reflexões Orçamentais – para duma vez por todas compreender o que se passa com Portugal... (1 de 2)
(18) – Reflexões Orçamentais – para duma vez por todas compreender o que se passa com Portugal... (2 de 2)

quarta-feira, janeiro 12, 2005

(290) Páginas Soltas (11): Como um Rio Invisível, de António Loja



“(...) deve ser o destino dos agnósticos: duvidar das suas próprias dúvidas.”

Para muitos este autor, António Loja de nome, é um completo desconhecido. Para mim representa muito! Tenho que recuar mais do que uma década para (tentar) descrever como este cidadão do mundo influenciou a minha maneira de pensar. Durante três anos o professor António Loja, homem pensante e animal político, ensinou-me história e, mais importante, a reflectir com exigência o mundo. A Madeira tem a particularidade de premiar os carneiros e reprimir as mentes pensantes. Este homem não foi premiado...

António Loja refugiou-se no ensino mas a História era um veículo para um objectivo mais nobre, colocar os alunos a pensar, a desenvolver um espírito crítico e, mais importante, exigente. A vontade de reflectir não pode ter balizas, os valores têm que ser rectos e o espírito livre.

A minha maneira de pensar e reflectir foi influenciada pela educação que tive, pelos pais que tive a sorte de ter. Depois as ideias e valores herdados dessa fase precisavam de ser estruturados. Nada melhor que a própria experiência que a vida nos dá, nada como ser o advogado do diabo (brincar com o contraditório) com amigos e irmão e nada como ter professores que nos marcam, e António Loja foi o principal!

“Para mim, apesar de não estar ligado formalmente ao catolicismo, sou um ferveroso adepto do livre arbítrio e creio que só este representa o triunfo do Homem, pela dignidade que imprime às suas acções e pela responsabiliddae que lhes acrescenta. É que só a liberdade de escolha distingue o Homem dos outros seres vivos. E, já que conquistámos passo a passo e muito penosamente esse lugar no topo da hierarquia da vida, seria lamentável que voltássemos atrás, subordinando a nossa liberdade ao arbítrio e aos caprichos de um qualquer deus.”

Desde que saí da Madeira nunca mais falei com ele mas continuei a acompanhar o seu trajecto. O seu projecto desafiador de nome
Re-Nhau-Nhau foi uma das muitas provocações que Loja teve a coragem de lançar a um regime que formata a mentalidade dum povo. Não vou sequer tentar descrever a reacção de quem governa o arquipélago...

“E muitas vezes, ao analisar governantes e governados, no meu país, penso que o espírito inquisitorial persistiu, naqueles e nestes, até hoje.”

“Mas também é bom que não se iluda com o verniz democrático com que os Portugueses poliram os seus comportamentos desde 1974.”





Quando vi um livro deste autor nas livrarias nem pensei duas vezes em comprá-lo. O livro divide-se em duas histórias. A primeira, “Sempre”, parece uma compilação de fragmentos. É uma história de amor carregada de nostalgia e de optimismo. A segunda, “Caminhando sobre um Campo de Minas”, é o regresso do autor à Guerra Colonial. Fala do destino ou do acaso, e como um ou outro são responsáveis pelas perversas ironias da vida!

Obrigado, professor! O Filho do 25 de Abril também é, de alguma forma, resultado da sua forma de encarar a vida...

* As citações e imagens foram retirados da obra “Como um Rio Invisível”, de António Loja

terça-feira, janeiro 11, 2005

(289) As Listas (Continuação)

Depois de ter reflectido sobre os vícios estruturais da formação das listas no último post vou comentar algumas das suas consequências. É que a formação das listas e as listas propriamente ditas dos candidatos a deputados da Nação para as eleições que se avizinham têm todas as características duma boa trágico-comédia, daquelas que só a TVI sabe fazer. Só é possível analisar a problemática das listas com alguma ironia!

Já que todo o tipo de movimentos e orgãos dos partidos têm direito a quotas as pessoas ligadas ao futebol também acharam que mereciam. Pôncio Monteiro, conhecido pelo seu trabalho árduo a favor dos cidadãos, ganhou o segundo lugar da lista no Porto. Afinal não podemos duvidar do mérito duma pessoa que nem era amiga do Primeiro Ministro. Talvez por isso, pela sua competência assustar, foi abruptamente retirado das listas depois de ter elogiado de forma apaixonada o colega de partido Rui Rio. O nosso Primeiro Ministro, amante duma boa contradição, resolve fazer a compensação com fortes críticas a Rui Rio enquanto dava um prémio a ... Pinto da Costa. Podemos concluir que Santana fez o pleno, cumprir a quota sem colocar nenhum dirigente desportivo nas listas.

Melhor é o "amigo de Ourique" que vai concorrer pelo Porto. Dizem as más línguas que vai fazer um estudo sobre o impacto da comida alentejana no estilo de vida dos tripeiros. A partir da próxima semana vai oferecer migas aos cidadãos na Rua de Santa Catarina, aproveitando os saldos para vender barato as suas propostas para a região, ou será para a nação? E o nosso fadista, o Nuno da Câmara Pereira? Vai animar a Assembleia da República com uma banda sonora personalizada na bancada do PSD, cantando sobre os nostálgicos tempos em que Cavaco era líder e arranjava tachos duradouros para todos.

Mas ainda melhor é Coimbra! A cidade dos estudantes vai ter os cabeças de lista mais originais do país. A viúva de Sousa Franco é mesmo isso, a viúva de Sousa Franco. A perita em cambalhotas ideológicas Zita Seabra aparece porque fica feio um homem insultar uma viúva. Para completar o quadro faltava Nobre Guedes para capitalizar os votos dos cidadãos que só querem ouvir falar de co-incineração se quem estiver nos fornos fôr José Sócrates! E Luis Filipe Menezes? Qual é a lógica do candidato anunciado à Câmara de Gaia ser cabeça de lista por Braga?

Num tom mais sério acho que as listas para deputados são extraordinariamente pobres. Há demasiados candidatos de último recurso retirados das profundezas dos partidos ou candidatos cujo critério para a sua escolha foi simplesmente o seu impacto mediático. Este problema agudiza-se num PSD fragmentado que ainda por cima quer um compromisso com os candidatos para uma vez eleitos votarem sempre de acordo as indicações da direcção. Desta situação não admira que só sobrem os políticos rejeitados por outros líderes, os carneiros e alguns ingénuos. As listas do PS estão melhores mas com sinais de fraca renovação. Nomes como José Lello, Pina Moura e João Cravinho lançam um sinal de fraca adesão da sociedade civil para renovar as listas. O episódio do Paulo Pedroso é mais um nim, nem respeitando a ilibação aos olhos da Justiça nem o excluindo das listas num gesto de solidariedade.

Começa mal o que eu espero ser uma ruptura com o passado recente que consiga retirar Portugal do pântano em que se afundou nos últimos 5 anos...

segunda-feira, janeiro 10, 2005

(288) As Listas

O nosso sistema eleitoral é, no mínimo, burlesco. As eleições legislativas servem para eleger os deputados que vão ocupar o seu lugar na Assembleia da República. São eleitos por distrito mas, logo após as eleições, representam a nação. Na prática pretendia-se que os deputados fossem naturais de todos os pontos do país mas que não colocassem os interesses da região à frente dos interesses nacionais. A prática tem sido bem diferente da ideia original, num sistema já por si pouco claro na forma como os deputados representam o distrito por onde são eleitos.

Há, estruturalmente, três grandes desvirtuações neste sistema e na forma como este interage com os partidos:

1. Os partidos elaboram um perfil do deputado e fazem as suas declarações de princípio e comprometem os eleitos a regras rigorosas. Isto não é mais que um exercício para limitar o poder dos seus futuros deputados. O Deputado tem liberdade para votar conforme o que está estipulado por lei mas os partidos acham que isso é demais e prendem os futuros deputados às regras dos partidos e não às regras do sistema eleitoral. Queres ser eleito, tens que ser carneiro. Veja-se, por exemplo, a obrigação dos membros das listas do PSD que tiveram que comprometerem-se a não votar contra as decisões da direcção do partido na Assembleia.

2. Na elaboração das listas os partidos não se preocupam com a ligação dos deputados a cada distrito confiando que os cidadãos só estão preocupados em eleger um Primeiro Ministro e não um deputado que os represente. Aqui surgem as quotas da direcção dos partidos que espalham os seus amigos pelo país, as quotas das federações distritais para dar uma ilusão de cumprimento do espírito da lei e outras quotas, como as das juventudes. Nesta elaboração surgem os mais estranhos casos de para-quedismo distrital.

3. Após sujeitarem-se à vontade popular os deputados devem esquecer a sua origem e tornarem-se deputados da nação. Aí vai imperar a disciplina de voto que mata com o conceito de deputado da nação e transforma os deputados num conjunto uniforme e homogéneo de pensamento, isto é, dos pensamentos da direcção do partido.

Os deputados comportam-se como carneiros disciplinados e tomam sempre "partido" das posições da direcção, concordem ou não. Isto provoca dificuldades acrescidas de entendimento já que não há flexibilidade nas opiniões internas nos partidos impossibilitando a formação de coligações. A esquerda portuguesa é um bom exemplo disso. Os desalinhados não têm espaço nos partidos pois estes não são plurais.

No meio desta sopa os deputados nem representam os interesses regionais nem os nacionais, na maior parte das vezes são os representantes dos partidos. Se retirarmos as descredibilizadas comissões e grupos de trabalho atreveria-me a dizer que bastava ter um deputado por partido a representar os deputados eleitos por cada partido.

No próximo post vou falar dos problemas das actuais listas, esquecendo os problemas estruturais.

*Tópicos Relacionados: Enviei um comentário a um post do Deputado Vital Moreira no blogue colectivo Causa Nossa. Esse comentário foi publicado no blogue e transcrevo-o aqui:
«O grande problema do nosso regime não está, a meu ver, com a obtenção de maiorias (43% ou menos é suficiente) nem com a duração dos mandatos. A meu ver o problema está nos partidos quando exigem pouca diversidade de pensamento aos seus deputados com uma estúpida disciplina de voto! Agrava-se com a distorção entre a eleição de deputados por distrito (com listas formadas por quotas) e a sua utilidade após a eleição, acantonados a uma obscuridade permanente!»
(Ricardo V. R.)

domingo, janeiro 09, 2005

(287) Às moscas: versão virtual



*Autoria da imagem: Hugo Laerte


(286) Páginas Soltas (10): Na Penúria em Paris e Londres, de George Orwell



“(...) vi um tipo que não tinha onde cair morto, um vagabundo, avançar na minha direcção; depois, quando olhei melhor, vi que era eu próprio, reflectido na montra de uma loja.”

Apesar de só ter descoberto o prazer de ler George Orwell recentemente, já estou rendido ao seu estilo brutal e comovente. Depois de ler
“1984” e “O Triunfo dos Porcos” descobri este livro! Esta obra é totalmente diferente das anteriores porque não cria um mundo que pode tornar-se realidade a qualquer momento. Este livro descreve um mundo bem real que já existe.

“É curioso verificar como certas pessoas pensam que têm todo o direito de nos dirigir sermões e de nos fazer ouvir as suas rezas mal os nossos rendimentos descem abaixo de certo nível.”

Orwell descreve o quotidiano daqueles que vivem na mais absoluta miséria. E ainda vai mais longe porque não deixa de filosofar sobre a condição do pobre. Há sempre uma mensagem mais forte que a descrição nas obras de Orwell. Uma mensagem carregada de desalento mas também de responsabilização. Só tendo consciência dessa responsabilidade é que vale a pena viver!

“A fome reduz uma pessoa a um estado sem cérebro, e sem coluna vertebral, que se parece mais com os efeitos tardios da gripe do que com qualquer outra coisa.”

Nas nossas ruas e abrigos vivem seres humanos que só “sobrevivem”, em condições sub-humanas num ciclo progressivo de decadência. Na pobreza perdemos o que temos de mais precioso, a dignidade! Orwell não me fêz encarar a pobreza de forma diferente mas estruturou a minha maneira de encarar o problema! Esta obra é um excelente documento de análise principalmente para quem pensa que os pobres (e mais concretamente, os sem-abrigo) são um grupo de pessoas preguiçosas que recusam-se a trabalhar! E infelizmente ainda há muitas pessoas que pensam assim!

Vale a pena ler esta obra!

“Nunca mais pensarei que todos os vagabundos são malandros e bêbados”



*Tópicos Relacionados:
(254) Páginas Soltas (6): Mil Novecentos e Oitenta e Quatro, de George Orwell
(267) Páginas Soltas (7): O Triunfo dos Porcos, de George Orwell

sábado, janeiro 08, 2005

(285) Páginas Soltas (9): O Homem Duplicado, de José Saramago



“O caos é uma ordem por decifrar.”
Livro dos Contrários

Há escritores que têm um estilo inconfundível! Saramago tem uma forma de escrever e contar as suas histórias muito original. O estilo de escrita, muito criticado, caracteriza-se por um desrespeito pelas regras da boa pontuação. Após as suas obras iniciais, onde o autor ainda procurava o seu estilo, comecei a admirar este estilo. Torna a narrativa rápida e quase verbal como se de um longo diálogo se tratasse. Outra característica de Saramago, muito ao estilo Sul Americano, é introduzir um evento ou situação “fantástica” e, com a maior das normalidades, descrever a rotina dos protagonistas face a esse acontecimento.

“Acredito sinceramente ter interceptado muitos pensamentos que os céus destinavam a outro homem.”
Laurence Sterne

O Homem Duplicado é Saramago puro, na fase madura do seu estilo. Está lá o acontecimento “irreal”, o homem duplicado, e a descrição da rotina é feita no seu estilo inconfundível. Mas este livro tem um problema que também é recorrente em algumas obras de Saramago, não consegue descolar da sua ideia original. Já tinha acontecido o mesmo na “Caverna” ou na “Jangada de Pedra”. A ideia inicial esgota-se e, como um fogo fátuo, torna a narrativa inimaginativa! O final, apesar de tudo, é interessante!

Quando leio Saramago não estou à espera dum clímax poderoso nem duma narrativa cheia de acção mas estou à espera de personagens bem descritas e interessantes. Se adorei o
Evangelho Segundo Jesus Cristo, que tinha acabado de ler, fiquei decepcionado com esta obra. Vem reforçar que a melhor fase de Saramago, apesar do estilo já bem enraizado, não é a mais recente!

quinta-feira, janeiro 06, 2005

(284) Páginas Soltas (8): O Evangelho Segundo Jesus Cristo, de José Saramago



“Deus, que está em toda a parte, estava ali, mas, sendo aquilo que é, um puro espírito, não podia ver como a pele de um tocava a pele do outro, como a carne dele penetrou a carne dela, criadas uma e outra para isso mesmo, e, provavelmente, já nem lá se encontraria quando a semente sagrada de José se derramou no sagrado interior de Maria, sagrados ambos por serem a fonte e a taça da vida, em verdade há coisas que o próprio Deus não entende, embora as tivesse criado. Tendo pois saído para o pátio, Deus não pôde ouvir o som agónico, como um estertor, que saiu da boca do varão no instante da crise, e menos ainda o levíssimo gemido que a mulher não foi capaz de reprimir. Apenas um minuto, ou nem tanto, repousou José sobre o corpo de Maria. Enquanto ela puxava para baixo a túnica e se cobria com o lençol, tapando depois a cara com o antebraço, ele, de pé no meio da casa, de mãos levantadas, olhando o tecto, pronunciou aquela sobre todas terrível bênção, aos homens reservada, Louvado sejas tu, Senhor, nosso Deus, rei do universo, por não me teres feito mulher.”

Antes de analisar a obra em si, vou comentar a polémica que este livro gerou em Portugal à data da sua publicação. O que para mim é grave é insultar, proferir palavras de ódio ou denegrir alguém. Ter um olhar desassombrado sobre um tema não me parece grave! Há muita coragem nesta obra e muitas pequenas provocações mas nenhuma delas é particularmente insultuosa! Há ainda espaço para várias interpretações. É óbvio que a linguagem utilizada é de pouca veneração, mas isso só engrandece a obra dando-lhe realismo.

“Ainda o último eco da tremenda afirmação vibrava nos ouvidos de Jesus quando Pastor, agora num tom de falsa naturalidade, voltou a falar, Escolhe uma ovelha, disse, Quê, perguntou Jesus desnorteado, Digo-te que escolhas uma ovelha, a não ser que prefiras uma cabra, Para quê, Vais precisar dela, se realmente não és um eunuco. A compreensão atingiu o rapaz com a força de um murro.”

Saramago conta a história de Jesus Cristo como se este fosse apenas um homem comum, com desejos e ansiedades. A divinização deste homem não é nem o objectivo nem o desejo do escritor mas sim ficcionar, sem complexos, a trajectória do homem mais conhecido do mundo. Saramago não contesta a fé nem recusa a ideia que Jesus, nascido em Belém, é filho de Deus mas não sublinha as virtudes deste nem cede à divinização.

“(...) Mais tarde ou mais cedo, também isto terás de aprender, ver como são feitos por dentro aqueles que foram criados para nos servir e alimentar. Jesus virou a cara para o lado e deu um passo para retirar-se, mas Pastor, que detivera o movimento da faca, ainda disse, Os escravos vivem para servir-nos, talvez devêssemos abri-los para sabermos se levam escravos dentro, e depois abrir um rei para ver se tem outro rei na barriga, e olha que se encontrássemos o Diabo e ele deixasse que o abríssemos, talvez tivéssemos a surpresa de ver saltar Deus lá de dentro.”

Saramago centra a sua reflexão, duma forma livre e corajosa, no papel de Jesus de Nazaré na mudança da imagem e na nova mensagem de Deus. Do Deus severo do Velho Testamento ao Deus tolerante do Novo Testamento não podemos negligenciar o papel de Jesus. É simplesmente deliciosa a conversa de Jesus com Deus e o Diabo, numa embarcação, sobre o papel de cada um deles no mundo. Achei este livro um dos melhores de Saramago (a par com o “Ensaio sobre a Cegueira”), e numa época em que as desconstruções banais da história de Jesus abundam (
“O Código Da Vinci”) até consegue perder o estigma de livro maldito. E esta desconstrução, diga-se de passagem, é bem melhor que as que têm sido publicadas recentemente. A mensagem de tolerância deste livro é subtil, analisem-na bem...

“(...) Então, servis-vos dos homens, Sim, meu filho, o homem é pau para toda a colher, desde que nasce até que morre está sempre disposto a obedecer, mandam-no para ali, e ele vai, dizem-lhe que pare, e ele pára, ordenam-lhe que volte para trás, e ele recua, o homem, tanto na paz como na guerra, falando em termos gerais, é a melhor coisa que podia ter sucedido aos deuses, E o pau de que eu fui feito, sendo homem, para que colher vai servir, sendo teu filho, Serás a colher que eu mergulharei na humanidade para a retirar cheia dos homens que acreditarão no deus novo em que me vou tornar, Cheia de homens, para os devorares, Não precisa que eu o devore, quem a si mesmo se devorará.”

* Aconselho a leitura das várias citações aqui trancritas porque as considero bastante interessantes e cheias de provocações!

quarta-feira, janeiro 05, 2005

(283) Balanço de 2004: O Novo Mundo

Destaco aqui alguns dos acontecimentos mundiais que marcaram 2004 e a forma como estes afectaram o mundo!

11 de Março: A Europa foi atacada pela nova vaga de terrorismo que está a marcar o mundo. E a Espanha reagiu com maturidade. Os suspeitos foram detidos e a rede desmantelada, num quadro de respeito pela legalidade que devia servir de exemplo a outros países. A retirada das tropas espanholas do Iraque foi polémica mas insere-se numa política coerente de respeito pela legalidade internacional que Zapatero defende.

Beslan: O sequestro da escola primária de Beslan foi um pesadelo. Não houve limites para o braço de ferro entre as diferentes trincheiras de ideias e reinvindicações. A Rússia é cada vez mais implacável na condução da sua política externa, sem qualquer tipo de contemplações. A Rússia promete voltar a dar que falar este ano e a Ucrânia é um exemplo de como o orgulho ferido da nação russa pode ser perigoso na sua tentativa de restaurar o domínio sobre partes do antigo império.

União Europeia, o Alargamento a 25: A UE entrou numa nova fase, perigosa mas corajosa. A adesão de países ex-membros do bloco comunista dá a estes países a segurança duma menor interferência russa mas cria sérios problemas às instituições europeias, paralisadas pela falta de reformas. Os próximos dois anos vão ser críticos para a UE e serão um teste à sua capacidade de ser flexível e mobilizadora.

Abu Ghraib: As torturas nas prisões Iraquianas, Guantanamo e a forma como os EUA combatem o terrorismo à margem do Direito Internacional marcam um novo posicionamento dos EUA no mundo. No futuro ninguém vai poder, à luz do mesmo Direito Internacional, exigir a protecção de jornalistas, prisioneiros e cidadãos perante situações similares. A “Velha Europa” está num dilema entre defender um status quo obsoleto ou embarcar numa nova ordem mundial que tem riscos assustadores. O “ouro negro” continuou a comandar as guerras já que em Darfur, no Sudão, ninguém se lembrou de “libertar” o país.

Maremoto na Ásia: Os fenómenos naturais são incontornáveis e até são essenciais à regeneração da própria Nartureza. E servem também para nos lembrar que a vida não é um dado adquirido. A vida é aleatória e não há tecnologia que a torne segura ou imortal. Assim sendo, cada fôlego, cada momento de vida deve ser encarado como um bónus. Temos que ter humildade porque nada depende inteiramente de nós...

terça-feira, janeiro 04, 2005

(282) Balanço de 2004: Política Nacional

É difícil destacar políticos que tenham contribuído ou escapado ao pesadelo político que Portugal viveu em 2004. De qualquer forma deixo aqui algumas notas para a posteridade.

Positivo: Mário Soares e Cavaco Silva – Juntar estes dois nomes pode parecer incongruente mas é um sinal dos tempos. Quanto pior se comporta a nova geração de políticos mais estes políticos reforçam o seu papel na história. O desacerto da nova geração permite que os nossos senadores retoquem a sua imagem. Mário Soares comemorou em 2004 os seus 80 anos reforçando a sua imagem de “Pai da Democracia Portuguesa” e viu quase todos os quadrantes da vida política e civil a homenageá-lo pelo seu papel no Portugal contemporâneo. Já Cavaco Silva conseguiu voltar a impôr a sua imagem de “homem providencial” com uma gestão criteriosa de declarações que ajudaram a expulsar os “maus políticos” do poder. É inegável que este mensageiro da desgraça teve mais peso político do que Guterres em 2004, mas convém realçar que a minha memória não é curta!

Assim Assim: José Sócrates – Após a brilhante conquista do Partido Socialista numa campanha viva, deu aos portugueses um sinal de esperança. No final do ano perde grande parte do seu brilho com uma campanha cinzenta e defensiva. Portugal precisa dum Primeiro Ministro reformador, capaz de efectuar rupturas e Sócrates tarda em impôr essa marca. Aguardo o programa de Governo...

Negativo: Durão Barroso, Jorge Sampaio e Santana Lopes – Este trio é responsável pela deriva de Portugal em 2004. Durão Barroso liderou um Governo que mostrava-se incapaz de reformar e que já não tinha capacidade de regeneração. Seguiu uma política que só ele percebia prometendo resultados que ninguém via a médio prazo. Abandona o barco atirando o seu rumo para uma gaveta da história trazendo dificuldades acrescidas aos futuros historiadores pois estes vão ter dificuldade em perceber o que se estava a tentar fazer. Das duas uma, ou o rumo estava num beco e Durão sentiu que era parte do problema ou se Durão acreditava que o rumo ia trazer frutos abandonou por pura ambição pessoal. É reprovável, até porque exigiu aos Portugueses o que não exigiu para si, sacrifícios. Jorge Sampaio pensa demais até conseguir chegar à fase em que já nem ele próprio encontra o fio do seu pensamento. O modo e a forma como conduziu as sucessivas crises aliada à forma e postura que apagam a sua voz na sociedade colocam-no já na linha da frente como o pior Presidente da República do pós- 25 de Abril. Santana Lopes teve um ano em cheio. O objectivo deste político parece ser acumular cargos e não atingir resultados nos cargos que desempenha. Deixou a Câmara de Lisboa falida e em estado de sítio, clamou aos céus (e a quem o quisesse ouvir) que era candidato a candidato a Presidente da República e acaba o ano como Primeiro Ministro. O que se passou depois é inacreditável, o que só realçou a sua postura quizilenta e inconstante. Levou o Governo de Portugal a um recorde ímpar de descredibilização interna e externa!

segunda-feira, janeiro 03, 2005

(281) Álbum de Fotos: Fim do Ano na Madeira


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Fim do Ano II Posted by Hello

(280) Álbum de Fotos: Madeira ... Estou de volta!


Simplesmente... Madeira Posted by Hello


As novas praias da Madeira!
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