Filho do 25 de Abril

A montanha pariu um rato - A coerência colocada à prova - A execução de Saddam Hussein - O Nosso Fado - "Dois perigos ameaçam incessantemente o mundo: a desordem e a ordem" Paul Valéry, "Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa, salvar a humanidade", Almada Negreiros - "A mim já não me resta a menor esperança... tudo se move ao compasso do que encerra a pança...", Frida Kahlo

quarta-feira, novembro 30, 2005

640. Pontos de Vista - Madeira: Qualidade da Democracia e Estilo da Governação



Já apelidaram a Democracia Madeirense de sui generis, de deficitária, de podre e é melhor ficar por estes adjectivos. O que será que leva tantas pessoas, ilustres ou anónimas, a levantarem esta questão? Há eleições livres, há um sistema político fundamentado no princípio de que a autoridade emana do povo e há um governo da maioria. Então porque levantam-se tantas vozes a chamar à atenção que a Democracia na Madeira está asfixiada? Na minha modesta opinião é porque há mais um requisito para haver uma Democracia na sua plenitude, ou seja, a “sociedade que garante a liberdade de associação e de expressão e na qual não existem distinções ou privilégios de classe hereditários ou arbitrários” (Dicionário Priberam).

Não é fácil viver na Madeira quando se está desalinhado com o pensamento “oficioso”, com a mentalidade “vigente” e com os poderes “legítimos”. Porque para os “alinhados” – a maioria – não há limitações. Mas para os “restantes” – a minoria – há limitações de várias ordens de gravidade. E digo-o com mágoa! Concretizando...

Há um clima de medo invisível na Madeira e explicar esse medo – que por definição se é invisível é porque não é visível – é quase impossível. Numa ilha onde todos dependem, directa ou indirectamente, do poder instalado há um conjunto alargado de constrangimentos difíceis de explicar. É o medo da perda de emprego ou da não promoção, é o medo das represálias sociais, é o medo das expropriações, é o medo de prejudicar os filhos e familiares. Daqui surge o receio de falar abertamente sobre determinados temas, receio de não ser defendido por nenhum advogado quando existirem interesses opostos ao Governo regional, receio de gritar por uma Democracia plena. Não estamos na presença de limitações formais e/ou oficiais à liberdade de expressão mas de mecanismos invisíveis de favorecimento aos “alinhados”. Lembro-me que, há algumas semanas, falava com um jornalista que me dizia que não havia orientações políticas que o limitassem mas que havia balizas que demarcavam bem o que se podia e o que não se podia escrever. Eu perguntei se algum superior ou político tinha definido essas balizas. A resposta foi que formalmente não.

Será coincidência conhecer tantos madeirenses que se inscrevem na JSD-Madeira e que não gostam de política? Talvez! Mas acho estranho que a maioria diga que ajuda a arranjar trabalho na Madeira. Eu pergunto se é impossível arranjar trabalho sem o cartão. Dizem-me que não mas acrescentam “lá que ajuda, ajuda”! A verdade é que os militantes do partido no poder conseguem agrupar quase todos os quadros relevantes da Região, no sector público e privado (*). O sector público é gigantesco na Madeira e, a partir de certos níveis na carreira, está blindado – oficiosamente - a pessoas sem cartão de militante. E os restantes, ou seja, os que não têm o tal cartão “dourado-laranja” escondem publicamente as suas ideias e convicções. Mesmo no sector privado a situação não é muito melhor. Os cargos de topo são cautelosamente distribuídos novamente não porque existam regras formais para que isso aconteça mas porque é conveniente para ambas as partes manter uma certa promiscuídade. Há empresas que protegem os seus cargos intermédios de critérios que não tenham nada a ver com o desempenho e isso é de saudar. Admito que apesar de tudo, com orgulho e sem qualquer constrangimento, que o profissionalismo tem vindo a aumentar, independentemente das causas desta tendência.

(*) Um exemplo de promíscuidade entre o sector público e privado – onde não há regras de incompatibilidades claras - é Jaime Ramos que é, simultaneamente, secretário geral do PSD-Madeira, líder parlamentar do PSD-Madeira, empreiteiro da “Madeira Nova” e dono de vários negócios em vários sectores na Madeira e o seu filho, Jaime Filipe Ramos que é presidente da JSD/M, deputado regional e presidente da Associação de Jovens Empresários Madeirenses.

Conjugado com o que eu chamei de constrangimentos à Democracia - constragimento em não concordar com as medidas do Governo - está o discurso e o estilo de governação vigente. Em conjunto com uma rede de contactos no mercado de trabalho (público e privado) que promove o seguidismo está um discurso – oficial e oficioso - que pratica a exclusão social activa a quem não entende que só há uma solução governativa na Madeira. São os "párias" e "traidores" da Madeira que só querem subverter tudo. As críticas e as opiniões divergentes deviam ser encaradas como algo normal mas o discurso pestífero dos altos quadros do poder vigente desincentiva de forma clara a diferença de opinião.

As pessoas que, como eu, criticam algumas das opções do Governo Regional da Madeira não deviam, na minha suspeita opinião, de ser considerados “traidores”. Eu tenho orgulho em ter crescido na Madeira e não admito que ninguém coloque em causa o carinho que tenho pela região. Mas a tendência é criticar fortemente e excluir socialmente quem o faz porque há uma estratégia - voluntária ou não - de tentar confundir a Madeira com o PSD, o PSD com Jardim, Jardim com a Madeira. Por isso criticar as opções de Jardim é criticar a Madeira.

Há ainda algo que mexe visceralmente comigo – e não é algo exclusivo à Região da Madeira – que tem a ver com a postura que o Governo Regional tem nos seus discursos oficiais em relação ao “continente”. Não só prejudica a imagem do madeirense no exterior – que incorrectamente passa por “pedante” ou “chulo”, o que não tem qualquer tipo de fundamento – como também cria uma dificuldade adicional de adaptação do madeirense em outras regiões do território nacional. A boçalidade atinge, por vezes, limites inaceitáveis e cria uma imagem incorrecta do madeirense.

Para finalizar deixo duas pequenas notas - estas visíveis, ao contrário de muitas outras - a título de exemplo de como os “alinhados” limitam os “desalinhados”.

Nota 1: Jardim ameaçou não investir nas Câmaras que não sejam PSD. Perante uma chuva de críticas lembrou que nos gastos do Governo Regional manda ele.

Nota 2: A Justiça, na Madeira, está limitada pelos poderes “instalados”. Sempre que um deputado da oposição presumivelmente insulta Jardim perde, de imediato, a imunidade parlamentar. Se Jardim tiver a mesma presumível atitude está – até ver porque nunca aconteceu – livre de perder a imunidade tal é a solidariedade da bancada laranja na Assembleia Legislativa Regional.

Adenda: Este post insere-se numa iniciativa conjunta entre este blogue e o blogue Bodegas. Para consultar o post com o mesmo tema no blogue do Bruno pode clicar aqui!

terça-feira, novembro 29, 2005

639. Pontos de Vista - Madeira: Liberdade de Imprensa



Quando focamos a Comunicação Social o que realmente importa é perceber se esta é imparcial! Errado, caro leitor! Em nenhum local do mundo e em nenhuma Democracia que nós conhecemos há uma imprensa verdadeiramente imparcial no sentido que relata tudo com um olhar científico. Então qual é o cerne da questão quando falamos de liberdade de imprensa? É se há ou não condições para haver vários tipos de parcialidades na Comunicação Social. Ou melhor se há ou não cosntrangimentos para que haja um amplo confronto de pontos de vista e opiniões.

Por isso não me cabe a mim criticar se vários jornais e rádios pertencem, directa ou indirectamente, a figuras destacadas deste ou daquele partido. Também porventura não é útil eu criticar que a RTP Madeira tenha sido servida numa bandeja por Durão Barroso ao Governo Regional. O que eu devo "analisar" é se o espectador madeirense tem um leque de meios de informação que promovam o contraditório e se tem acesso a um conjunto de fontes de informação, repito, parciais mas diferenciadas.

O momento por excelência do debate e da troca de pontos de vista é uma campanha eleitoral. Uma vez que há sempre um partido que se recusa a debater ideias numa mesa redonda resta a Comunicação Social para passar a mensagem política. Na RTP Madeira os telejornais abrem com três a quatro notícias sobre as inaugurações do dia – o que me parece válido – e frequentemente mostram as bandeiras laranjas como pano de fundo – segundo o líder laranja, enganei-me, o Presidente do Governo Regional, as bandeiras estão presentes para combater a hipocrisia – e até aqui tudo bem. Depois de uma dezena e meia de minutos de inaugurações seguem-se cinco minutos bem distribuídos por todos os partidos sobre a campanha eleitoral. Até aqui tudo bem, todos podem exprimir-se e com igualdade.

Continuando a focar as campanhas eleitorais vou agora debruçar-me sobre a imprensa escrita. Há jornais que pertencem ao Estado – é sui generis mas não pensem que pertencem a um partido, voam com toda a liberdade – e outros que não. Também aqui temos o conforto dum tratamento igual, ou seja, seis a oito páginas que noticiam as inaugurações e a mais duas que dividem com justiça a mensagem política entre os vários partidos. É curioso que, nesta fase, o “Estado” também resolve um problema estrutural nos jornais na Madeira, ou seja, os seus graves problemas de financiamento. Então, nesta altura do ano, saem diariamente suplementos a cores de quatro páginas descrevendo as novas infraestruturas e as suas potencialidades, pagas pelas Secretarias Regionais e por empresas desinteressadas. É aqui que as críticas ficam totalmente esvaziadas tal é o altruísmo do “Estado” em promover a manutenção de vários orgãos de informação.

Até agora não encontrei a mais leve suspeita de que pode haver uma limitação nos pontos de vista na imprensa da Região Autónoma da Madeira. Mas parece que, apesar de toda esta liberdade, o presidente do Governo Regional não se conforma com a cabala que os orgãos de Comunicação Social movem contra ele, inclusive os regionais. Ameaçou o Grupo Blandy (dono do Diário de Notícias local) de expropriação por este grupo lesar os interesses da Madeira quando este jornal teve o arrojo de criticar o Governo Regional sem fundamento. Dias depois insurgiu-se contra a RTP Madeira prometendo uma limpeza. Perante tamanha cabala em que a injustiça começou a imperar - note-se que não havia a mais ténue suspeita de manipulação da imprensa escrita ou falada e mesmo assim alguém orquestrava contra o Governo - não havia outra solução que não o envio de notas escritas para repor o equilíbrio.

"Vê se publicas esta história dando uma porrada no Ministro da Saúde. Este texto confirma o ódio e o desprezo deste Governo Socialista pelos Madeirenses"
Paulo Pereira, assessor de Jardim, no verso da nota escrita por Jardim

Qualquer semelhança entre este texto e o discurso “oficioso” do Governo Regional é pura coincidência - a opressão dum “inimigo externo” – e até algo difamatório. É mesmo algo injusto que um antigo director adjunto do Jornal da Madeira denuncie à Alta Autoridade para a Comunicação Social pressões constantes por parte de elementos do Governo Regional. Por várias vezes também foi referido injustamente que a Comunicação Social depende do financiamento indirecto do Governo Regional para sobreviver.

Em jeito de conclusão quero sublinhar que não há, à luz desta profunda análise, qualquer indício de manipulação ou constrangimento da liberdade de imprensa. Não vejo, por isso, nenhuma razão de queixa para além das apresentadas pelo Presidente do Governo Regional. Qualquer acusação de favorecimento ao partido no poder não passa duma brincadeira de mau gosto. Disse!

Em complemento a este post volto a publicar umas palavras de Miguel Sousa Tavares, que concerteza não conhece bem a realidade madeirense e contribuí para esta cabala que tenta e intenta contra o “nosso” líder.

"Há dois anos atrás, ingenuamente, aceitei fazer parte de uma comissão nomeada pelo anterior Governo e cuja missão principal era definir como deveria funcionar a televisão pública, com que meios e financiamentos e a que regras deveria obedecer. Como eu, várias outras pessoas, que nada quiseram nem receberam em troca, sacrificaram muito dos seus tempos úteis e livres, para, dentro do prazo fixado, dotar o Governo do resultado de uma reflexão, em forma de propostas concretas, que reunia o maior consenso possível entre gente de diversas proveniências e ideias. Recebido o trabalho e fingindo-se escudado nas conclusões da sua "comissão independente", o ministro Morais Sarmento meteu as conclusões ao bolso e, até hoje, nem um obrigado nos disse.

Entre as conclusões que ele fez desaparecer instantaneamente na atmosfera, estava uma que recomendava que as regras editoriais e deontológicas estabelecidas para o funcionamento da televisão pública tivessem, obviamente, extensão a todo o território nacional, incluindo Açores e Madeira. Porque, tanto quanto era do nosso conhecimento, nas regiões autónomas vigora a mesma Constituição, o mesmo regime democrático e o mesmo Estado.

Porém, a solução adoptada para a Madeira foi exactamente a oposta e que veio ao encontro das antigas e persistentes exigências do soba local: a RTP-Madeira foi dada de bandeja ao dr. Jardim, aí vigorando, como no resto da vida pública local, uma concepção de liberdade de informação que se confunde com aquela em que o dr. Jardim aprendeu a fazer jornalismo, no tempo do partido único, da censura e da ditadura. E a coisa seguiu assim, sem escândalo de maior. Esta semana, porém, a sem-vergonha do regime madeirense chegou ao extremo de o PSD-Madeira (um eufemismo do dr. Jardim) protestar oficialmente pelo facto de a RTP nacional ter enviado equipas de reportagem à Madeira para cobrirem (para o continente, exclusivamente) as eleições locais - o que, segundo eles, constitui um "insulto à alta capacidade dos profissionais da RTP-Madeira". E mais, indignaram-se eles com o facto de os jornalistas idos de Lisboa "se terem instalado num hotel", a partir do qual "transmitem para Lisboa aquilo que em segredo montam, com máquinas que trouxeram e aí colocaram". Por mais que puxe pela memória, só consigo lembrar-me de coisa semelhante comigo ocorrida na antiga Roménia de Ceausescu. O PSD-Madeira é hoje o único regime em toda a Europa que considera um insulto e uma ameaça a presença de jornalistas "estrangeiros" a reportarem para fora como funciona o seu regime.

Será isto, pergunto, "o regular funcionamento das instituições democráticas", tão caro ao Presidente da República? Ou a excepção democrática madeirense já está definitivamente assumida como coisa banal e inevitável?"


Viva a sátira, viva a ironia, viva a diversidade de ideias e opiniões!

Adenda: Este post insere-se numa iniciativa conjunta entre este blogue e o blogue Bodegas. Para consultar o post com o mesmo tema no blogue do Bruno pode clicar aqui!

segunda-feira, novembro 28, 2005

638. Pontos de Vista - Madeira: Desenvolvimento socioeconómico



Perante o desafio de escrever sobre um tema tão vasto como este corro o risco de abordar vários temas e não concretizar nenhum. Por isso em vez de falar na evolução dos indicadores económicos e sociais, dos bairros sociais, da sempre polémica Zona Franca ou da pobreza (camuflada ou não) na Região, vou simplesmente concentrar a minha análise no desenvolvimento de infra-estruturas e no seu modelo de financiamento.

Convém, perante este tema, fazer uma importante nota introdutória. Quando troco impressões com pessoas que moram no Porto e que visitam com regularidade a Madeira – ou que pelo menos já o fizeram mais do que uma vez – fico sempre com a impressão que ficam espantadas com a quantidade de obras que o Governo Regional é capaz de fazer em meia dúzia de anos. E isso é consensual, ou seja, a Região Autónoma da Madeira (RAM) é um verdadeiro estaleiro de obras públicas que muda a mobilidade na Madeira com profundidade de poucos em poucos anos (agora geralmente com os ciclos eleitorais, ou seja, de quatro em quatro anos). O desenvolvimento pode ser ou não sustentado – segue a minha opinião mais abaixo – mas a qualidade de vida deu um salto inquestionável nas últimas três décadas com a multiplicação de espaços de lazer, com a renovação dos espaços públicos e das cidades e com as distâncias a diminuírem de forma abrupta com os túneis, as pontes e as vias rápidas a crescerem como cogumelos.

Posto isto vamos ao que interessa, ou seja, como explicar este aparente sucesso? Ou melhor, como é financiado?

1. Apesar das minhas dúvidas quanto ao modelo de desenvolvimento adoptado pelo Governo Regional há uma vantagem que é inquestionável, ou seja, o aproveitamento dos Fundos Comunitários! A Madeira é a região do país com a maior taxa de execução dos Fundos Comunitários e para o período 2000-2006 o valor dos projectos aprovados já é superior às ajudas que o terceiro quadro comunitário de apoio (QCAIII) tinha disponibilizado para a Região. A taxa de execução foi de 101,5% aproveitando fundos que outras regiões não aproveitaram;

2. Os problemas começam a surgir quando analisamos com mais pormenor o modo como a RAM arranja o financiamento para suportar o que a UE não comparticipa. Em 2002, por exemplo, a dívida pública regional, directa e indirecta, atingiu, respectivamente, 443,2 milhões de euros e 198,3 milhões de euros. Só nesse ano as responsabilidades assumidas e não pagas pela Região aumentaram cerca de 59,5 milhões de euros. O saldo primário – sem juros da dívida pública – foi negativo em 41,6 milhões de euros o que representou um agravamento de 327,1% face ao ano anterior. Convém perceber um pouco melhor o que se passa. O endividamento na Madeira cresce a este ritmo assustador não porque tem aumentado a sua margem de contraír dívidas mas porque o Governo Regional, assim como muitas das autarquias no país, arranjaram uma forma original de financiar as suas despesas, ou seja, a criação de empresas municipais e sociedades de desenvolvimento (SDM). Grande parte das dívidas indirectas aparecem através destas sociedades que garantem que as obras sejam feitas com menos burocracia e com uma maior capacidade de endividamento. As Câmaras Municipais na Madeira têm uma intervenção cada vez mais limitada perante o poder decisório destas Sociedades. A situação torna-se mais dramática uma vez que novo empréstimo directo foi inscrito no Orçamento Regional para 2006 mas as novas regras exigem que este seja autorizado pelo Ministro das Finanças e este parece pouco disposto a isso. É curioso como a verba foi inscrita sem a prévia autorização e suspeito que este “caso” ainda vai ter um desfecho curioso;

3. Outra das formas encontrada para financiar este ritmo de construção foi o contrato de concessão das portagens virtuais das vias rápidas entre o Governo Regional e a Vialitoral, SA. A prática trata-se de mais um empréstimo camuflado, ou seja, uma empresa privada empresta a juros galácticos dinheiro fresco ao Governo Regional. Na duração do contrato está previsto que o GR pague pelo menos quatro vezes o que recebeu. O mais curioso é que o GR é accionista da Vialitoral, SA o que torna o negócio algo surrealista. Note-se que o cálculo da manutenção das estradas é de 10% das portagens cobradas. No fundo estamos perante mais uma forma camuflada de endividar a região. As consequências destas políticas vou aprofundar mais no último post desta iniciativa, Perspectivas para o futuro;

4. Outra questão que posso levantar é se o dinheiro dispendido nas infra-estruturas é gasto ou não de forma eficiente. A lei nacional só permite desvios nos custos das obras encomendadas pelo Estado de 25%. Na Madeira há um viaduto que atingiu 2800% do valor orçamentado e acima dos 300% ainda houve mais três casos denunciados pelo Tribunal de Contas.

Não há um limite de palavras combinado com o Bruno para tratar cada tema sobre a Madeira mas sinto que é a altura certa para concluír o meu raciocínio. Em primeiro lugar concordei que há obra feita, depois analisei alguns dos aspectos preocupantes do seu financiamento e da eficiência ao nível dos seus custos de construção mas fica uma pergunta por responder, talvez a mais importante, ou seja, qual é a real utilidade destes investimentos?

Numa primeira fase a prioridade na construção de infra-estruturas foi na mobilidade rodoviária e muitos perguntam se há massa crítica para sustentar este tipo de investimentos. Será que há condições para estas infra-estruturas gerarem receita que permita compensar os seus custos de construção e manutenção? Apesar de não ter resposta para esta questão – suspeito que sei mas não tenho números – aceito como prioritário a construção desta rede de estradas (que agora vai-se estender a toda a zona Norte da ilha). Numa segunda fase, mais recente, a aposta foi em zonas de lazer – marinas, praias artificiais, zonas balneares, parques temáticos, entre outros – e pode-se dizer que são equipamentos fundamentais ao turismo. Novamente não tenho números mas aqui já arrisco defender que a qualidade da construção, o laxismo no planeamento das obras e o abandono dos estaleiros no pós eleições trouxeram muito pouco valor acrescentado à Região.

Em jeito de conclusão diria que a Madeira deu um salto gigantesco nas últimas três décadas mas não posso deixar de sublinhar que as opções de financiamento limitam excessivamente o seu futuro. Adicionalmente suspeito que os contratos de manutenção lesam excessivamente as contas da região e que é preciso ter em atenção que há um certo laxismo na construção na Madeira que se reflecte também em obras mal planeadas e executadas que, ainda por cima, têm graves desvios nos custos. Por fim preocupa-me a falta de preocupação em que muito do investimento efectuado na Madeira gere retorno e se baseie na criação de riqueza uma vez que o modelo revela-se pouco sustentável – julgo mesmo que os estudos de vialbilidade económica não foram feitos em muitas destas obras – e onera cada vez mais o Orçamento Regional em juros da dívida e manutenção o que não é compensado pela geração de riqueza. Sem deixar de compreender que é difícil haver um modelo de crescimento económico sustentável na Madeira não deixa de ser visível que o modelo actual já está esgotado há muito tempo mas continua a obsessão em fazer investimentos, sejam eles quais forem, em nome dum modelo de utilidade bastante duvidosa.

Nota Final: Sobre um problema paralelo a este, as expropriações, aconselho a visita ao blogue Estranho Estrangeiro (1) (2) (3)

Adenda: Este post insere-se numa iniciativa conjunta entre este blogue e o blogue Bodegas. Para consultar o post com o mesmo tema no blogue do Bruno pode clicar aqui!

domingo, novembro 27, 2005

637. Pontos de Vista - Madeira: Apresentação



A imagem que aparece aqui reproduzida pode causar alguma estranheza aos visitantes deste blogue. Passo a explicar o que está a acontecer. Este é o primeiro passo – espero que o primeiro de muitos – de uma colaboração entre este espaço e outro blogue para discutir um tema específico. O blogue com que vou retirar sinergias para confrontar pontos de vista é o Bodegas, do Bruno Gonçalves! É um espaço que visito com regularidade e que tem aquela energia pulsante de quem escreve com prazer. Apesar de recente o blogue já tem bem definidas as suas micro causas e trata-as com consistência e coerência.

O tema escolhido foi a Madeira e não foi uma escolha inocente. Ambos temos uma ligação – não interessa a intensidade – ao arquipélago e, adicionalmente, temos pontos de vista algo divergentes. O objectivo não é comparar estilos nem alcançar verdades absolutas mas sim criar pontes para consensos e fracturas e, deste modo, contribuir modestamente para fazer da Madeira um sítio melhor para se viver.

As regras são simples e passo a descrevê-las sucintamente. De segunda a sexta vão ser publicados diariamente textos sobre um sub tema previamente escolhido por mim e pelo Bruno enquadrado no tema geral Madeira. Nem eu nem o Bruno temos acesso aos textos da outra pessoa e vamos lê-los ao mesmo tempo que os leitores dos blogues. Espera-se que seja interessante o confronto de pontos de vista. Obviamente que os temas podem fazer com que os textos derivem para vários rumos mas vai ficar bem vincada a perspectiva de cada um (até podem ser coincidentes). Após os dois textos estarem publicados colocarei ligações no meu texto ao texto com o mesmo tema no Bodegas.

Espero que esta iniciativa seja interessante e que fomente a discussão. No fim espero que tenha havido uma contribuição para perceber melhor a realidade madeirense. Não vamos ter oportunidade de focar todas as realidades na região mas, com certeza, vamos dar um contributo para criar os tais consensos e fracturas que falava há pouco, necessários para manter uma sociedade dinâmica. Como diria Rita Blanco às suas meninas no filme “Noite Escura”, toca a dar andamento a isto...

Adenda: Este post insere-se numa iniciativa conjunta entre este blogue e o blogue Bodegas. Para consultar o post com o mesmo tema no blogue do Bruno pode clicar aqui!

sábado, novembro 26, 2005

636. Santana, Sampaio e Cavaco



Cavaco escreveu sobre a “má moeda”, Sampaio sobre as suas dúvidas e agora Santana responde a tudo e a todos (ver Expresso), como é o seu hábito.

Eu diria apenas que...

... Cavaco devia tentar escrever duma forma menos paternalista. Parece um daqueles padres que está sempre a dizer “não peques, meu filho” e que logo depois diz “não sei o que vai ser deste mundo”. Só é irónico que fale do “monstro” quando foi ele que o criou e alimentou e que fale da “má moeda” quando foi o próprio que deixou a tal moeda - que ele chama de má - invadir todos os lugares de destaque do país, inclusive os seus Governos.

... Santana devia deixar de tentar ser vítima porque ele só é vítima de si mesmo. Apesar de ninguém negar que ele recebeu um presente envenenado, também não é mentira que ele fez tudo para cavar a sua própria cova. Para a história ficou o pior Governo da história recente portuguesa que ainda teve tempo de aprovar o Orçamento de Estado mais ridículo que eu alguma vez tive oportunidade de vislumbrar.

... Sampaio geriu da pior maneira a dissolução mais óbvia de que tenho memória o que acaba por definir bem o que foi a sua Presidência: confusa e errática!

quinta-feira, novembro 24, 2005

635. Brumas da memória: Anarquia - Desmistificar o conceito

Quando ouvimos a palavra Anarquia o medo instala-se, o caos está próximo, é o princípio da desordem. Não, somos apenas ignorantes e não sabemos o verdadeiro significado das palavras. Vamos todos aprender.

A Porto Editora, na sua sabedoria infinita e já muito gabada aqui, define Anarquia como uma concepção política que exclui todo o direito de coerção sobre o indivíduo, é a negação do princípio da autoridade. Pois bem, faço destas palavras minhas mas acrescento qualquer coisinha, se me é permitido. Anarquia não é a ausência de ordem, é a ausência de líderes!

Anarquia não é mais do que um estado de ordem voluntário já que a ordem involuntária cria insatisfação, é a mãe de todas as desordens. Portanto não é caos, é o contrário do Fascismo onde o culto ao chefe é o cerne do regime. Daqui para a frente, sempre que uma catástrofe natural acontecer, ou que a juventude vote no Bloco de Esquerda, ou que o Paulo Portas torne-se ministro, não chamar a isso uma Anarquia, mas sim uma perplexidade! Mas quando houver um vazio de poder, um Presidente pouco ouvido ou actuante (qualquer semelhança com qualquer realidade é a mais pura das coincidências) aí sim podemos dizer que há um cheiro de Anarquia no ar, uma ausência de líderes.

Mas também há um aforismo (procurar na entidade, a Porto-Editora) antigo que diz que quanto mais aguda e intransigentemente formulamos uma tese tanto mais irresistívelmente ela clama pela sua antítese. É o seu trabalho, não o meu.

Publicado originalmente em: Maio de 2004

quarta-feira, novembro 23, 2005

634. Desafio de comparar candidatos com quadros

Devo confessar que fiquei surpreendido com algumas das escolhas de quem aceitou o desafio de relacionar os quadros com os candidatos do último post. Mas, no fundo, este exercício ajuda a explicar que o mundo não é visto só duma perspectiva e que todas são válidas. As minhas sugestões:

1. Andy Warhol - Turquoise Marilyn: Quando vi este quadro lembrei-me logo do Francisco Louçã por duas razões. A primeira porque é o candidato que mais tenta parecer “moderno” e a cultura pop ainda tem essa aura do “moderno” – apesar do moderno ser mais antigo do que o contemporâneo – e porque a Marilyn merece está “olhos nos olhos” a marcar a sua diferença! Metade dos que responderam fizeram esta associação e os restantes associaram três vezes a Mário Soares e uma vez a Manuel Alegre. Curiosa associação a de Marilyn a Soares. Será que este candidato está mais próximo do BE que todos pensávamos?

2. Joan Miró - Singing Fish: Eu escolhi Miró para representar a campanha de Soares por duas razões. A primeira é porque a confusão de cores representa bem a quantidade exagerada de ideias que Soares lança para a campanha e depois porque é a campanha que, até ao momento, mais côr teve. Só uma pessoa concordou comigo. Metade dos votos foram para Jerónimo de Sousa seguido de Francisco Louçã. Que será que os meus caros leitores associaram no “Singing Fish” a Jerónimo?

3. Pablo Picasso - Don Quixote: Eu associei este quadro ao idealismo utópico de Manuel Alegre mas é curioso que foi o único quadro que teve associações a todas as candidaturas. Se Alegre e Jerónimo, com duas associações cada, não foram surpresa já Cavaco ter duas associações a este quadro foi uma completa surpresa. Apenas porque o tecnocrata pragmático não me parecia nada dado a utopias.

4. Pablo Picasso - Old Guitarist: Este quadro foi uma maldade. Quem o escolhesse revelava em quem não ia votar porque lembrou-me um homem acabado e ultrapassado. Pensei em Jerónimo de Sousa. A maioria associou a Cavaco logo seguido de Alegre e Jerónimo. Curioso, não é? Parece que o “mais velho” só teve direito a uma associação...

5. Salvador Dali - The Ship: Este era o melhor quadro que encontrei para descrever Cavaco sem o antagonizar abertamente. É o homem do leme, solitário e com o mundo às costas. De facto houve três associações (em oito) a Cavaco mas tanto Soares como Alegre também ganharam a corrida da candidatura mais solitária.

Posso garantir que foi um passatempo divertido para mim!

terça-feira, novembro 22, 2005

633. Porque de vez em quando mais vale olhar para o mundo com algum humor...

Proponho um exercício simples que não é mais do que uma – potencialmente reveladora - brincadeira.

Se tivessem que relacionar cada uma das letras – que representam a campanha ou a imagem que têm dum determinado candidato – com um dos números – que representam quadros de pintores ou artistas bem conhecidos – qual seria a vossa escolha?

Estou curioso para ver se a sua percepção do candidato (e da campanha deste) é parecida à minha (Nota: aceitam-se outras sugestões para os quadros).

A. Mário Soares ---> __
B. Cavaco Silva ---> __
C. Jerónimo de Sousa ---> __
D. Manuel Alegre ---> __
E. Francisco Louçã ---> __




1. Andy Warhol - Turquoise Marilyn


2. Joan Miró - Singing Fish


3. Pablo Picasso - Don Quixote


4. Pablo Picasso - Old Guitarist


5. Salvador Dali - The Ship

segunda-feira, novembro 21, 2005

632. Diário das Presidenciais 2006 (3)



Cavaco Silva: “Presidente pode pedir a um Governo ou à Assembleia que legislem em determinadas matérias”

Estas declarações só não são graves porque julgo que Cavaco nunca as vai pôr em prática. O que parece à partida como uma potencial boa ideia tem efeitos muito perigosos. Senão vejamos:

1. Imaginemos que o PR sugere legislação em determinada área e a AR (através de pelo menos os partidos que apoiam o Governo) recusa a “sugestão”. O PR fica, numa situação como esta, completamente fragilizado porque quis influenciar competências, de forma directa, que não são as dele;

2. Imaginemos agora que o pedido de legislação em determinada matéria era aceite. Imaginemos que o resultado final da legislação não agrada ao PR. Que vai ele fazer? Vetar a lei que exigiu? Arranjar um grupo de acompanhamento da evolução da legislação para sugerir aspectos concretos durante a construção de legislação que futuramente sugira?

3. Imaginemos, por fim, que o Governo e a AR aceitam a sugestão e a lei sai exactamente como o PR queria. Como pode servir o PR para arbitrar os potenciais problemas que surjam na aplicação da lei? E se algo corre mesmo mal por causa da lei, “cai” o Governo ou o PR, ou os dois?

Alguém, na equipa de conselheiros de Cavaco, devia orientar os tiques deste candidato para que este não esteja constantemente a confundir qual deve ser o papel do PR. Combater, por exemplo, o insucesso escolar parece-me um objectivo nobre mas como vai o PR fazer isso? Talvez Cavaco não goste do semi Presidencialismo tal como está e gostasse de ter mais funções executivas – porque o resto é aborrecido – mas tem que se convencer, duma vez por todas, que a função do PR está limitada aos poderes que a Constituição confere ao candidato eleito. Por isso acho que seria mais útil perceber o que Cavaco pensa do país e do mundo para estarmos “avisados” das suas reacções perante certas leis que a AR sugira do que propriamente Cavaco sugerir que quer ter uma palavra a dizer quanto ao que a AR deve legislar.

Francisco Louçã: E as faltas dos Professores

Não acho boa ideia que um candidato a PR seja o secretário geral do partido e, no caso de ser, devia suspender as suas funções de forma clara. É que o “episódio” entre Louçã e o Secretário de Estado é lamentável e não acrescenta nada a uma campanha para as Presidenciais. É neste tipo de pormenores que percebemos a motivação de algumas candidaturas que, em vez de assumirem uma postura condizente com o cargo que supostamente querem desempenhar, comportam-se duma forma absolutamente semelhante a quando são candidatos a deputado. Revelador...

domingo, novembro 20, 2005

631. Em DVD: Ganhar a Vida



Realizador: João Canijo
Elenco: Rita Blanco, Adriano Luz, Teresa Madruga

“Eu queria só dizer uma coisa! A gente tá aqui no que é nosso. É isto que eu queria dizer! Meu filho foi morto mas parece que ninguém se importa. Ninguém quer saber. É como se não tivesse acontecido nada. Mas eu acho que vocês deviam de importar e deviam querer saber. Deviam querer fazer qualquer coisa. A gente vive aqui, a gente não vive noutro lado. A gente tá aqui no que é nosso. E os nossos filhos nasceram na França, falam francês, esta é a terra onde eles nasceram e é a terra que a gente escolheu para eles crescerem. É isto que eu queria dizer!”
Cidália (Rita Blanco) no filme Ganhar a Vida




“Ganhar a Vida” é um filme mais actual que nunca! O filme estreou em 2001 mas ajuda, e muito, a levantar o véu sobre o que se passa actualmente nos arredores de Paris. Não estou a exagerar ao afirmar que João Canijo consegue fazer-nos compreender não o como mas o porquê da actual tensão nas comunidades emigrantes nos subúrbios de Paris apesar deste filme já ter alguns anos. É a revolta das segundas gerações perante uma falsa integração, uma ausência dum sentimento de pertença. O resultado é uma comunidade isolada, fechada dentro de inúmeras pequenas associações, resignada aos factos até aparecer... Cidália (Rita Blanco).

Após o assassinato do filho – e a história do assassinato é o que menos importa neste filme e até é a sua parte menos conseguida – e perante a indiferença das autoridades, Cidália resolve questionar tudo. Mas pouco a pouco começa a aperceber-se que ninguém a quer ajudar. Os seus compatriotas não se sentem à vontade para exteriorizar a sua revolta e utilizar os seus direitos reivindicativos. No fundo não se sentem em casa nem têm um sentimento de pertença. Apenas sobra um mecanismo de sobrevivência que os obriga a tentarem passar despercebidos. Encontra-se, neste filme, uma comunidade resignada mas com um sentimento crescente de revolta nas segundas gerações de emigrantes porque não se sentem cidadãos de primeira, com ou sem razão em terem esse ressentimento (o meu objectivo não é analisar isso neste texto).

Será que os nossos emigrantes são quem melhor definem a nossa identidade? Eu acho que sim! A música popular (a sequência com a participação de Romana é excelente), os trajes e costumes, o futebol, o bacalhau, a resignação a trabalhos dignos mas subservientes parecem encaixar que nem uma luva na nossa alma. Mas são essas mesmas pessoas que já não têm nação porque nunca vão ser cidadãos plenos do país para onde emigraram nem nunca mais vão conseguir estar plenamente integrados no país de onde vieram. E aqui é que começa o verdadeiro problema, ou seja, a segunda geração. Como Cidália disse “os nossos filhos nasceram na França, falam francês, esta é a terra onde eles nasceram e é a terra que a gente escolheu para eles crescerem”. A segunda geração já não se resigna porque não entende porque é que têm que ser cidadãos de segunda. Todo este contexto é retratado de forma singular e realista neste filme.

Só quero acrescentar duas notas finais. Comprei este filme porque gostei da última obra de João CanijoNoite Escura – e porque aprecio o trabalho de Rita Blanco, uma actriz com muito potencial - sub aproveitado – e que, infelizmente, não tem tido ou criado as oportunidades condizentes a esse enorme potencial. Considero, a posteriori, que a minha decisão de comprar este filme por estas razões foi correcta e não saí defraudado apesar das elevadas expectativas.

Síntese da opinião: Este filme é melhor que o somatário das notícias dos telejornais para compreender o que se passa em Paris nos dias de hoje. Uma obra ímpar que só peca por não ter gerido tão bem o rumo das investigações do assassinato em comparação à forma como soube documentar a vida dos emigrantes portugueses na França.

630. Sala de Cinema: The Brothers Grimm



Realizador: Terry Gilliam
Elenco: Matt Damon, Heath Ledger, Monica Bellucci

Os Irmãos Grimm dedicam-se a resolver fenómenos de natureza desconhecida mas convém referir que são os próprios que os simulam aproveitando-se da falta de saber dos cidadãos de várias aldeias. Um dos irmãos – Matt Damon - é o típico charlatão e o outro – Heath Ledger – é um idealista, preso a padrões morais que, se tivessem sido seguidos, teriam salvo a vida da irmã deles durante a sua infância. Até que um dia as lendas e mitos ganham vida e cabe aos irmãos Grimm a tarefa de realmente ajudar os cidadãos duma aldeia. A referência a histórias que habitam o nosso imaginário – Capuchinho Vermelho, Branca de Neve, entre outros – é constante e cria um universo surrealista onde a magia é presença garantida.



Terry Gilliam é o realizador desta história sobre o fantástico e o estilo presente em alguns dos seus filmes precedentes – por exemplo alguns dos filmes dos Monty Python – é reconhecível neste filme. Mas apesar do surrealismo das situações e dos paralelismos com o filme “The Adventures of Baron Munchausen” o humor e as situações têm um registo mais sóbrio, menos confuso e menos desordenado. É curioso verificar que este realizador é capaz dos registos mais díspares e, por vezes, é difícil provar que é o autor de obras tão dissemelhantes como os já referidos filmes dos Monty Python e, simultaneamente, de filmes como Twelve Monkeys, The Fisher King e Brazil.

O filme está longe de ser um dos melhores de Gilliam mas não envergonha quem o fez. É um filme feito com inteligência e é uma óptima opção de entretenimento.

Síntese da opinião: Um bom filme para assistir numa tarde de Domingo. Inteligente, ligeiro e agradável.

sábado, novembro 19, 2005

629. Sala de Cinema: Flightplan




Realizador: Robert Schwentke
Elenco: Jodie Foster, Peter Sarsgaard, Sean Bean

Não vou perder muito tempo a analisar este filme porque também há muito tempo não assistia a um filme com um argumento tão surreal. O principal motivo que me levou a comprar um bilhete para este filme era o de Jodie Foster ser uma garantia de qualidade mínima na escolha de papeis mas, apesar da sua representação estar a um nível aceitável, a tal qualidade mínima não se verificou.




Como em qualquer produção dum grande estúdio americano não há nada a apontar tecnicamente ao filme e não se pode dizer que o filme tenha sido absolutamente mau desde o seu início. O problema é que o argumento dá tantas cambalhotas inverosímeis que chegamos a um ponto em que já nem percebemos quais são as motivações das personagens. Há pormenores desde o início do filme que não são verosímeis mas para não ser radical fui negligenciando a sua importância. Mas a partir de certa altura as incongruências eram tão grandes que não consegui reconciliar-me com o filme. Como compreender que inúmeros serviços de terra colaboraram nesta conspiração a bordo? Que lógica há em que uma ameaça num avião seja gerida duma forma completamente diferente em cada novo acontecimento? Que lógica há na reacção dos passageiros durante e após a resolução do incidente? É melhor nem tentar analisar o que não respeita minimamente a inteligência do espectador.

Síntese da opinião: A evitar! Nem para os fanáticos da carreira de Jodie Foster...

sexta-feira, novembro 18, 2005

628. Não se aceitam devoluções...

... "A imprensa internacional sedeada em Bruxelas avalia como «mau» e «negativo» o primeiro ano de mandato de Durão Barroso à frente da Comissão Europeia. A opinião negativa é justificada pelas acções do presidente, que acusam de falta de modéstia e de iniciativa, e em factores externos como o fracasso da Constituição Europeia e das negociações das Perspectivas Financeiras para 2007-2013(...)"

627. Diário das Presidenciais 2006 (2)



Mário Soares: OTA

Numa conversa com alunos do Instituto Politécnico de Leiria Mário Soares falou da... OTA. Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã já se tinham manifestado contra o projecto e agora Mário Soares revelou que tem “algumas dúvidas”. Não sei até que ponto cabe nos poderes presidenciais uma eventual modificação duma decisão executiva com estes moldes – relembro que o Presidente pode aprovar, mandar para o Tribunal Constitucional ou vetar uma lei mas só na presença duma inconstitucionalidade pode fazer mais que adiar a sua publicação – mas acho positivo que se pronuncie sobre alguns dos temas mais polémicos. Confesso que não sei a posição de Cavaco sobre este tema mas, repito, também duvido que seja uma área em que o Presidente – a menos que queira apenas desestabilizar o processo – possa ter uma grande influência.

De qualquer forma foi uma oportunidade única para Soares negar categoricamente – e com algum humor – um rumor que circula na internet de que ele ou algum seu familiar possui terrenos na OTA. Com algum humor referiu que infelizmente não tem e acrescentou, mais sério, que se alguém o acusar disso vai ter que prová-lo em tribunal.

Mário Soares: Blasfémias

No blogue Blasfémias aparece aquela que considero a primeira crítica realmente construtiva sobre uma incongruência na campanha de Mário Soares e que passo a trancrever: “De acordo com o próprio e com os seus apoiantes, Mário Soares foi um péssimo presidente. Não impediu o Primeiro-Ministro de governar em ditadura e nem o impediu de criar os actuais problemas orçamentais. Passou os 10 anos de presidência a dormir ...”

A questão é pertinente! Eu considero que Soares foi um bom Presidente, até o melhor de entre os Presidentes do pós 25 de Abril. Mas a questão é válida. Se Cavaco Silva foi o Primeiro Ministro das oportunidades perdidas – a frase é minha – devia ou não devia o Presidente ter feito mais? Para responder a esta pergunta convém enquadrá-la nos poderes presidenciais. Convém relembrar que o Presidente tem de facto um fosso muito grande entre a importância real dos seus poderes quotidianos e da chamada bomba atómica (dissolução da Assembleia da República). Quanto ao que apelidei de poderes quotidianos ninguém pode acusar Soares de não ter sido uma voz activa de crítica ao rumo que o país estava a ter. Quanto à bomba atómica digo, com realismo e apesar de continuar a achar que Cavaco iniciou uma lenta degradação da eficiência das despesas e serviços do Estado, que não havia razões objectivas para uma dissolução. Não podemos sobrevalorizar os poderes do Presidente pois este "não se pode confundir com um ministro das Finanças ou com um primeiro-ministro", para o bem e para o mal.

Acho que a dissolução é uma arma que deve ser utilizada em alturas de grande instabilidade governativa e quando já não há alternativas credíveis – como no Governo de Santana Lopes – mas não pode ser um instrumento utilizado porque o Presidente não concorda com o rumo económico do Governo. Posto isto e tendo em consideração realisticamente os poderes do Presidente não vejo razão para que Soares não continue a ter toda a legitimidade para criticar os Governos de Cavaco Silva – sem ser as de ordem táctico política – e, ao mesmo tempo, não beliscar o que foi o seu mandato Presidencial.

P.S. É difícil fazer considerações sobre a pré campanha de Cavaco quando esta praticamente não existe

quinta-feira, novembro 17, 2005

626. Em nome da coerência



"o candidato que apresenta as melhores condições para Portugal encontrar novos caminhos"
Alberto João Jardim a declarar o seu apoio e do PSD Madeira a Cavaco, Outubro 2005

"O comportamento do senhor Silva é causa de expulsão do partido"
Alberto João Jardim a falar de Cavaco Silva durante a pré campanha para as últimas legislativas

"brigada do reumático, que deve ser banida"
Alberto João Jardim referindo-se a Cavaco, no Carnaval deste ano

"De cómico, valha-nos isto, é o facto de aparecer a "moção chá canasta", de gente que do partido nada percebe, que alimenta um sebastianismo saloio e tecnocrata que "já deu uvas", com uns "tios" e "tias" que fariam um grande favor em, ao menos por uns tempos, não nos chatear"
Alberto João Jardim, durante o Congresso do PSD que elegeu Marques Mendes em abril deste ano

quarta-feira, novembro 16, 2005

625. Algo vai podre no reino do... Metro



É com bastante desconforto que assisto ao que se passa no Metro do Porto! Estou com a nítida sensação que não sabemos - nós, cidadãos - o que realmente está em jogo.

Se analisarmos com atenção as declarações do Primeiro Ministro, do Ministro das Obras Públicas, da Administração do Metro e da sua Comissão Executiva podemos facilmente concluír que algo - só não sabemos bem o quê - cheira muito mal neste processo. O que será que realmente anda a acontecer? Que irregularidades houve e que linhas avançaram à revelia ou sem total conhecimento do Governo? Terão havido erros grosseiros da Comissão Executiva e da Administração do Metro ou estamos perante um jogo pelo poder?

Estou incomodado dada a importância capital que este projecto já teve na cidade do Porto e do papel que ainda vai ter. Se o Governo sabe de irregularidades graves está à espera de quê para as denunciar? É que se isto for tudo resolvido nos "bastidores" vai ficar a sensação que estamos perante uma luta pelo poder ou que a eventual culpa das eventuais irregularidades vai morrer solteira. E isso não pode acontecer sobre pena de descredibilizar irremediavelmente o projecto do Metro no Porto.

Exijo transparência na condução deste processo...

624. Mais críticas ao voto do PSD no Orçamento

A direcção do PSD está sobre fogo cerrado por causa do voto contra ao Orçamento de Estado para 2006. Eu já tinha demonstrado a minha surpresa na forma escolhida para criticar um Orçamento que em tudo era melhor aos anteriores dos governos da coligação (aqui) e não fiquei surpreso com as declarações de Manuela Ferreira Leite (aqui) - apesar de discordar de algumas das suas conclusões - mas agora até Miguel Beleza e Eduardo Catroga criticam o chumbo do PSD no Orçamento.

Eu diria que Marques Mendes perdeu uma excelente oportunidade de mostrar que era um político corajoso. Agora está preso nas suas próprias incongruências...

Nota: Não estava à espera de muita lucidez por parte do PSD a partir do momento que o deputado escolhido para criticar o Orçamento na Comunicação Social foi o deputado "choque fiscal" Frasquilho

623. "Não sou político, sou um académico..."




"Não sou político, sou um académico..."

* Post literalmente roubado à Dinah, do blogue "Ódiozinhos de estimação e amores de perdição"

terça-feira, novembro 15, 2005

622. Diário das Presidenciais 2006 (1)



Inauguro aqui um espaço de pequenos comentários e notícias que pretendo que seja mais ou menos regular (não diário) sobre as Presidenciais 2006.

Jerónimo de Sousa: Apresentação do “Compromisso com o Povo”

Até aqui tudo bem! Já não me revejo é no cumprimento da “Constituição de Abril”! O que é que isto quer dizer? Não vai cumprir a actual, isto é, as alterações que foram feitas desde Abril se for eleito presidente?

A presença de Saramago na apresentação é surrealista! O laureado vai apoiar duas candidaturas? Se colocar a cruz nos dois candidatos vai dar um voto em nulo!

Manuel Alegre: Defende o ensino da Constituição nas escolas

Apoiado! A importância do funcionamento da nossa República e do nosso semi presidencialismo é muito negligenciado no ensino em Portugal.

Cavaco Silva: Entrevista à TVI

Não consegui ver a entrevista mas Cavaco parece que foi igual a si próprio, ou seja, todas as suas opiniões são tabús. Sobre a OTA, o TGV, o Orçamento e o Governo não quer dar opinião nem influenciar ninguém. Esclareceu que estranhou a atitude da diplomacia americana na questão do Iraque.

Mário Soares: Maria Barroso faz campanha entre a Comunidade Portuguesa na Argentina

Soares está a apostar forte numa campanha que parece perdida à partida! Mas quem o conhece sabe que Soares é um animal político e que dificilmente vai baixar os braços. Depois da entrada da outra Maria na campanha com entrevistas a revistas cor de rosa agora até Maria Barroso anda em campanha entre a comunidade portuguesa na Argentina que suspeito ser bem reduzida.

Já Soares esteve no distrito de Braga e ouviu um cidadão dizer: “O senhor está muito fresquinho”! Com certeza o cidadão também acha que os iogurtes não se estragam no dia seguinte a acabar o prazo de validade. Concordo que Soares parece mais novo que Cavaco – que parece que já nasceu velho – mas daí até estar fresquinho...

621. O Orçamento e as declarações de Manuela Ferreira Leite



Manuela Ferreira Leite declarou aos microfones da Rádio Renascença que se não fosse a disciplina de voto imposta pelo líder do partido não teria votado contra. Sublinhou que há um esforço no controlo à despesa e que este é um Orçamento parecido aos que elaborou. Só duvida da sua execução.

Nota prévia: Cada vez tenho mais dúvidas sobre a utilidade dum número tão significativo de deputados se a estes cada vez mais é exigida a disciplina de voto. Serão deputados da nação ou meros fantoches da política traçada pelos partidos? Se a resposta tender para a segunda hipótese que disponibilizei não percebo porque não são só 5 deputados a representar, cada um, a expressão dos votos no partido.

Admiro a coragem de Ferreira Leite ao proferir estas declarações mas estou em profunda discordância com a sua análise. O único ponto em comum entre este Orçamento e os Orçamentos de Ferreira Leite – não vou falar do de Bagão Félix porque foi mau demais para sequer ter existido – é que novamente é um Orçamento contra cíclico com aumentos marginais em vários impostos que ainda retiram mais competitividade às empresas. A economia novamente é subjugada pelas finanças. Mas as semelhanças acabam aqui.

1. Não há preços irreais nos combustíveis, não há projecções económicas desfasadas da realidade, não há sub orçamentações óbvias! Isto é, o Orçamento não foi construído para artificialmente dar a indicação dum objectivo de défice! Pode-se anunciar que o défice vai ser de determinado valor de duas formas, ou seja, ou manipulando as contas e projecções ou realmente adaptando os gastos e receitas a um valor de défice pré definido. Há aqui uma diferença clara de metodologia e para melhor, na minha opinião;

2. A redução da despesa não é feita por decreto com cortes por igual em todos os serviços e, pela primeira vez em muitos anos, ataca-se a fonte do problema. Não basta cortar o fornecimento de lápis a um serviço mas é necessário reformular regalias, cálculos de reforma, combater a fraude social e fiscal, reformular serviços e introduzir o mérito. Este Orçamento peca por escasso na introdução de algumas destas medidas – o estudo de reforma da Administração Pública só vai estar pronto no próximo ano – mas não se limita a arranhar a superfície indo bem mais fundo do que Ferreira Leite ousou ir;

3. Não há, neste Orçamento, o recurso a Receitas Extraordinárias para atingir o objectivo final. Só concordo com este tipo de receitas quando trazem benefícios claros para o futuro e a venda de património para futuro aluguer pelo Estado das mesmas instalações assim como a venda de receitas fiscais futuras são péssimos negócios para o Estado e logo para todos nós. Aparentemente não há este tipo de negócios lesivos no Orçamento e isso é preciso saudar.

Esclarecimento adicional: O Governo não esclareceu o que pretende privatizar e acho preocupante alguns dos rumores que circulam por aí. Estou cauteloso a opinar sobre isto.

Esclarecimento adicional (2): A "falência" dos fundos de pensões dos bancos privados pode provocar uma nova transferência para o Regime Geral (o último foi da CGD por razões diferentes). Não tenho nada contra mas a verificar-se espero que o objectivo dos 4,8% do défice para o próximo ano não os inclua porque isso seria declarar o falhanço da execução deste Orçamento. A possível concretização deste negócio deve atirar o défice para percentagens inferiores a 4,8% na exacta proporção desta tranferência.

Nota Complementar: Foi humilhante assistir a Marques Mendes na discussão do Orçamento porque não encontrou formas de justificar o voto da sua bancada. Refugiou-se na OTA e no TGV esquecendo-se que no Governo que fez parte foram aprovados projectos muito mais ambiciosos e megalómanos. Já José Sócrates foi duma arrogância inaceitável em relação aos deputados fazendo lembrar o pior de Cavaco. Espero que mude o estilo e aceite negociar com seriedade as propostas válidas da oposição!

620. Infelizmente...

... perdi uma rara oportunidade de ver um dos candidatos presidenciais a abrir a boca! Será que perdi uma entrevista interessante e com conteúdo? Será que o candidato a Presidente opinou? Será que renovou as suas ideias e não deu aquela constante impressão de que já nasceu velho?

Deixo as perguntas e opiniões para quem viu a entrevista e quiser responder...

segunda-feira, novembro 14, 2005

619. Sala de Cinema: The Constant Gardener




Realizador: Fernando Meirelles
Elenco: Ralph Fiennes, Rachel Weisz

Fernando Meirelles – realizador brasileiro que fez a Cidade de Deus – dá, com este filme, um passo importante na sua carreira. Além de internacionalizar o seu trabalho prova que é capaz de gerir uma história de forma intensa em locais difíceis de filmar. Após a desistência de Mike Newell do projecto o realizador brasileiro aproveitou a oportunidade para fazer um filme que certamente seria muito diferente nas mãos doutro realizador. Há já uma imagem de marca visual nos seus filmes que separa as águas entre os “tarefeiros” da Sétima Arte e aqueles que têm potencial para criar algo diferente.




O tema deste filme não é muito diferente do último filme que fui ver à sala de cinema – Lord of War - mas a abordagem é completamente diferente. É claro que a situação em África é, sobre todos os pontos de vista, inaceitável e parece que o tema começa a interessar Hollywood. E o que começou por ser uma série de filmes algo marginais à indústria americana começa agora a ganhar um lugar de destaque. A abordagem deste filme é diferente porque consegue humanizar não só os habitantes dum país africano – não vou generalizar porque este filme passa-se no Quénia e não sei onde foi filmado – mas também o local em si dando-lhe cores fortes e um ambiente personalizado. E é aqui que o filme tem os seus pontos mais fortes.

Mas há sempre um mas! A história demora muito a arrancar e apesar de não ter lido o livro em que esta história baseia-se – The Constant Gardener, John Le Carré – não acho que o primeiro terço do filme em mosaico tenha funcionado muito bem. A única constante de qualidade do filme foi o aspecto visual (não só em África mas também em Londres) e os seus actores. Porque a história começa por ser confusa e nem sempre bem gerida para depois dar lugar a uma “cabala” de contornos muito simples e esquemáticos. E confesso que cenas como a da igreja – no fim do filme mas que por motivos óbvios não vou revelar o conteúdo – conseguem irritar-me profundamente. Alguém imagina que algo aconteça daquela forma ou que sequer a cena tenha utilidade para potenciar o drama ou o trama?

Síntese da opinião: Apesar de alguns defeitos no argumento (e talvez na montagem) sobressai, mesmo assim, a qualidade do aspecto visual e dos actores!

domingo, novembro 13, 2005

618. Visões da Ponte Luís I

Actualização do Álbum de Fotos: 10 novas fotografias com o tema "Visões da Ponte Luís I" (para aceder basta procurar na barra da direita ou clicar aqui)

* Para criar um Álbum de Fotografias: Flickr

617. Em DVD: L’Auberge Espagnole (A Residência Espanhola)



Realizador: Cédric Klapisch
Elenco: Romain Duris, Kelly Reilly, Audrey Tautou, Cécile De France, Kevin Bishop, Judith Godrèche

Era inevitável! Depois de assistir a “Les Poupées Russes” na sala de cinema não resisti à promoção da Fnac e comprei o filme que deu início às aventuras deste grupo de amigos. Assistir primeiro à continuação dum filme tem algumas vantagens – consegui analisar as “Bonecas Russas” com mais independência e como obra isolada – mas também tem desvantagens – perdi o impacto da novidade ao assistir à “Residência Espanhola”.



A “Residência Espanhola” está mais bem conseguido, no seu todo, do que as “Bonecas Russas” porque não está tão centrado numa personagem como acontece com a de Romain Duris no segundo filme. Se a temática dominante deste filme é a amizade num contexto cosmopolita já no segundo filme pouco sobra da química entre os amigos. As Bonecas Russas continua a ser um filme com um toque cosmopolita mas não há a conquista da interacção entre as culturas porque, no passado, as culturas já tinham entrado em choque e só sobra uma amizade mais madura e distante. A vida tem fases distintas e a partir de certa altura as amizades deixam de ser o centro da vida e começa a haver um maior foco em encontrar alguém que esteja constantemente do nosso lado porque o ritmo da vida a mais não permite.

O contexto do filme – Erasmus, Barcelona, a descoberta do amor e da amizade – permitiu uma lufada de ar fresco no tipo de cinema que é feito na Europa. Aqui não há lugar a elitismos intelectuais porque perceberam que a cultura que cada um tem advém das suas experiências de vida e não de frases intelectualmente pomposas. Eu consigo rever-me nos diálogos dos dois filmes o que não acontece em muitos filmes europeus. E fica aqui a prova que é possível fazer cinema inteligente e, ao mesmo tempo, comercial e divertido. E, no fundo, daqui pode surgir um filão de boas ideias porque as diferenças culturais na Europa podem fazer emergir de forma natural temas e interacções interessantes.

Síntese da Opinião: Interessante, divertido e realista!

616. Finalmente...

... e após muita pressão da "blogosfera" e da Comunicação Social (repare-se na ordem em que coloquei os dois meios de pressão) aqui estão os estudos sobre a OTA.

Agora quem percebe algo sobre o assunto que fale porque eu não vou especular sobre o que não percebo logo sobre o que não tenho capacidade para analisar.

(Via Bodegas)

sexta-feira, novembro 11, 2005

615. Manuel Alegre e o Orçamento

Se Manuel Alegre é a favor do Orçamento devia ter aparecido e votado a favor! Se Manuel Alegre é contra o Orçamento devia ter aparecido e votado contra! Manuel Alegre não apareceu...

614. E agora?

O Ministério Público (MP) foi chamado à atenção pelo Tribunal da Relação porque as testemunhas indicadas pela acusação a Paulo Pedroso produziram declarações - segundo o tribunal - "falsas, inventadas, contraditórias e delirantes". O MP foi ainda acusado de "tentativa de manipulação grosseira de depoimentos". Não encontram no meu blogue análises a casos judiciais porque não tenho nem a formação nem a informação para produzir opiniões consistentes. Mas isso não me retira o direito de achar que o estado actual da justiça - fuga ao segredo de Justiça, investigações e acusações inconsistentes - é intolerável. E entretanto carreiras e vidas pessoais ficam destruídas...

(Nota: mesmo que, teoricamente, o arguido até seja culpado cabe ao MP não sujeitar a justiça a este desgaste ao ser inconsistente nas acusações que faz)

(Nota 2: da mesma forma que o PS fez um péssimo serviço à credibilidade da justiça ao insistir na cabala - apesar das fugas selectivas do ex-director da Polícia Judiciária - não devemos também agora suspeitar que a justiça foi manobrada pelo actual executivo para proferir estes comentários ao MP. Seria uma versão retocada da cabala que tantos criticaram em tempos e que agora deviam tentar manter a coerência e afastar estes cenários)

E agora?

613. O Público dos blogues em Portugal

Inquérito sobre o público dos blogues em Portugal!

612. O Modelo Social Europeu

Sempre que há um acontecimento marcante como o caos instalado em França há a tendência de pôr tudo em causa. De repente o modelo social europeu está desadequado e não facilita o dinamismo da sociedade porque enreda os cidadãos numa rede de subsídios e apoios. E aproveita-se para defender o modelo pujante de ascenção social dos EUA (estas ideias são defendidas no Abrupto e assinadas por baixo noutros blogues, como o do Fernando Bravo). É curioso que JPP criticou os europeus por aproveitarem a catástrofe em Nova Orleões para demagogicamente criticarem o modelo americano. Fez bem em chamar a atenção para a fraca fundamentação dessa linha de raciocínio mas depressa ignorou isso e aproveitou o calor dos acontecimentos para fazer o mesmo perante o que se passa em Paris.

O problema é muito complexo para tirar conclusões tão afirmativas. Se por um lado é verdade que o modelo social europeu tem desvantagens não é claro, por outro lado, que o modelo americano deva ser o modelo a copiar e muito menos a venerar. O rumo actual da globalização tornou claro que é necessário repensar a competitividade da economia europeia e o seu modelo de protecção social mas não me parece ser verdade que a tal rede de subsídios e apoios seja a causa dos problemas actuais. Há erros que têm que ser corrigidos - a guetização dos imigrantes, a falta de infraestruturas sociais em certos bairros, a resistência na integração, a política das fronteiras semi abertas à imigração, os incentivos ao laxismo, entre outros - mas também não é verdade que os EUA sejam um exemplo em nenhum destes campos. Não consigo aceitar que seja defensável que as pessoas entregues à sua sorte e à tal pujança da sociedade civil traga melhores resultados.

A memória é curta: os incidentes em LA após o brutal assassinato dum cidadão de cor pela polícia local não são muito diferentes, na natureza, que o problema que existe actualmente em Paris. Os exemplos são inúmeros! O sentimento de revolta que existe na Europa provocado pela pobreza e pela falta de integração não é maior que a revolta que existe na enorme população pobre e também "guetizada" americana.

Não quero fazer juízos de valor sobre qual das sociedades - a europeia e a americana - encontrou as melhores formas de combater este tipo de fenómenos mas digo que a sociedade europeia - pelo menos uma parte - tem tanto a aprender com o modelo americano como a sociedade americana tem a aprender com o modelo europeu. Diria até que esta tensão social sempre existiu nos dois continentes e está para durar.

Não podemos ir a reboque das modas. É fundamental repensar o modo de funcionamento da protecção social e integração dos imigrantes na Europa mas não podemos cair na tentação de copiar modelos que nunca vão estar adequados à nossa realidade e aos objectivos a que nos propusemos. Repensar significa readequar as nossas políticas às novas realidades pensando no problema em toda a sua extensão e nunca adoptar modelos que, apesar das suas vantagens, não trazem melhores resultados sociais que os nossos. Podia fazer múltiplas comparações para tentar provar o meu ponto de vista - na protecção e integração social, nas políticas de emprego, na saúde, etc. - mas o meu objectivo não é esse. O meu objectivo é que a Europa saiba seguir o seu próprio caminho percebendo de antemão que os nossas preocupações em relação ao funcionamento da sociedade não têm que ser necessariamente iguais às de outras sociedades. E isso é a identidade dum povo, ou seja, cada sociedade tem prioridades diferentes que não se medem exclusivamente por qualquer indicador - social ou económico - avaliado de forma isolada! Não devemos cair na tentação de achar que um dos modelos é melhor que o outro porque estes servem prioridades e visões do mundo diferentes!

sábado, novembro 05, 2005

611. Estilos... que recordam outros tempos!

Ontem estive a assistir ao debate promovido pela SIC Notícias no Expresso da Meia Noite aos mandatários da juventude dos candidatos presidenciais. Não foi um debate particularmente interessante por várias razões desde a impreparação de alguns mandatários - o mais visível foi Pacman - até aos temas discutidos.

Mas o que realmente manchou o debate foi a ausência de Kátia Guerreiro, mandatária da juventude de Cavaco Silva. Segundo os moderadores do debate esta não aceita debates e a candidatura de Cavaco não mostrou disponibilidade para encontrar outro elemento para o debate.

Diria, num tom irónico, que Cavaco Silva sabe escolher a dedo quem melhor o representa... ou que então Kátia Guerreiro já incorporou o espírito da candidatura. Estilos...

sexta-feira, novembro 04, 2005

610. Triste...

... por verificar que uma lei justa - a extinção duma regalia que permitia que os autarcas (e não só) contassem a dobrar o tempo de exercício do cargo para efeitos de reforma - tenha sido voluntariamente manipulada para permitir mais quatro anos de regalias aos autarcas. Os pormenores do adiamento são tão escabrosos - e as respectivas antecipações da tomada de posse pelos autarcas - que estou sem qualquer tipo de motivação para aprofundar mais o processo.

... pelos pormenores revelados sobre a (má) resolução do caso Eurominas! Mais um exemplo de descredibilização desnecessária da classe política que é, muitas vezes, injustamente atacada mas que, também muitas vezes, não sabe dignificar a profissão que tem!

quinta-feira, novembro 03, 2005

609. Soares na TVI



Soares está claramente ao ataque! Não é difícil perceber que Soares - sendo o "animal político" que sempre foi - não vai fazer uma campanha para marcar presença. Convém analisar - nesta fase - a sua estratégia:

1. Desmistificar a aura de Cavaco: Já se percebeu que Mário Soares vai falar muito do passado nesta campanha. E o que é aparentemente o ponto forte de Cavaco, ou seja o seu redescoberto sucesso como Primeiro Ministro, tem pés de barro. O Cavaquismo foi o início de muitos dos problemas actuais do Estado e admito que muitos sintam necessidade de refrescar a memória colectiva. O problema desta estratégia é que vai "prender" Soares ao passado;

2. A questão do político profissional: Cavaco, seja em que contexto for, não pode desmarcar-se dos políticos e dos partidos. Eu relembro que foi nos seus dez anos no poder que a classe política perdeu qualidade e quando mais não só o Governo mas também o Estado foi invadido pela "má moeda". É bom que Soares relembre isso mas novamente fica "preso" ao passado. Tentar virar o PSD - e também o CDS - contra Cavaco também não é uma boa estratégia. É verdade que Cavaco desprezou o partido mal saíu da liderança - começou até por "traír" Fernando Nogueira - mas Soares não se pode esquecer que o PSD pode até olhar para Cavaco com azia mas olha para ele com ainda mais azia;

3. O percurso: Mário Soares foi o político mais brilhante - em currículo e influência - do pós 25 de Abril. É natural que sublinhe o seu percurso e que tente reavivar nos portugueses o carinho que já tiveram por ele. Mas, desculpem insistir, volta a estar "preso" ao passado.

O cargo de Presidente é um cargo muito particular porque ninguém pode anunciar reformas e estratégias para o futuro. Não cabe ao Presidente esse papel. Mas isso não pode servir de desculpa para Mário Soares centrar a campanha no passado. Eu dou-lhe a "razão" de quem se sente injustiçado por a memória colectiva estar a criar uma imagem de Cavaco que não corresponde à realidade mas o papel dele é motivar os portugueses e criar uma nova onda de esperança. Centrar a sua campanha na percepção - que não deixa de ser correcta - que Cavaco não tem nem nunca teve perfil para Presidente da República não vai criar essa onda.

Quero só acrescentar, apesar de não estar directamente relacionado com esta entrevista, que o silêncio de Cavaco cada vez mais provoca-me um sentimento de desconforto. A sua gestão do silêncio nestes dez anos criou uma imagem dele que não é a real e agora, em plena pré campanha, continua a esconder-se por detrás duma cortina de fumo. Eu, sinceramente, nem sei se este candidato tem opinião sobre algum tema nacional ou mundial tal é a gestão criteriosa do que fala. A sua postura tem que mudar no decorrer das próximas semanas porque senão o feitiço pode virar-se contra o feiticeiro. Não basta três ou quatro entrevistas da esposa em semanários e revistas cor de rosa para eu ficar a conhecer a linha de pensamento do candidato em relação ao cargo, ao país e ao mundo.

quarta-feira, novembro 02, 2005

608. Rui Rio e a Liberdade de Imprensa



Somos uma Democracia jovem! E parece que ainda não aprendemos, nem com a nossa longa ausência de Democracia, que temos que prestar-lhe um constante cuidado. Não é algo adquirido nem nunca vai ser, foi conquistada com muita mais dificuldade do que aquela que é necessária para perde-la.

Por isso é inaceitável que hajam constantes atropelos ao estado de Direito e às liberdades individuais e colectivas. Hoje não vou escrever sobre o surrealista estado da Justiça mas da atitude de Rui Rio perante a imprensa!

O Presidente da Câmara Municipal do Porto (CMP) convocou uma conferência de imprensa - irónico, não é? - para anunciar que só aceita entrevistas por escrito, com perguntas previamente combinadas. Não aceita ser interpelado em público nem autoriza que os elementos da sua equipa tomem a iniciativa de falar com a imprensa. Não me cabe julgar se Rio tem ou não razões de queixa da imprensa mas é óbvio que já desistiu de resolver o problema no local próprio, ou seja, nos tribunais. Se há "mentiras" ou "imprecisões" publicadas Rui Rio pode desmentir e, conforme a sua gravidade, obrigar a que sejam provadas em tribunal. Não pode é desistir das instituições do Estado e do Estado de Direito e, mais grave, do direito que os cidadãos têm ao contraditório.

A liberdade de imprensa é basilar para haver uma Democracia saudável e não pode ser limitada desta forma! Cabe à imprensa informar, questionar e investigar para poder existir um melhor escrutínio público da acção pública. Não é válido que a Comunicação Social esteja limitada aos temas que um homem - neste caso o Presidente da CMP - acha que são pertinentes. Este tem o "dever" democrático de ser confrontado com opiniões diferentes e de esclarecer decisões que suscitam dúvidas porque a conquista duma maioria absoluta não é um papel em branco para governar. É óbvio que nada obriga um detentor dum cargo público a responder indiscriminadamente a perguntas de todo o género, pessoais e públicas, mas daí a querer condicionar os temas em debate é um passo muito grande. Não defendo a (sempre perigosa) promiscuídade entre políticos e jornalistas - ao estilo Santana Lopes - mas apenas o simples respeito pelas regras de jogo democráticas. Quem não as entende ou aceita que não pratique o jogo.

Com a liberdade aumentou a nossa - de todos, sem excepção - responsabilidade. E situações como esta são inaceitáveis! Faço um apelo ao bom senso!

terça-feira, novembro 01, 2005

607. As promessas eleitorais

"A verdade é que não existe uma relação directa entre a democraticidade do sistema de selecção dos dirigentes e o respeito pela vontade do povo de que esses dirigentes dão mostras uma vez seleccionados. Não é essa a grande vantagem das democracias sobre sistemas totalitários: a grande vantagem da democracia é fornecer um mecanismo geralmente aceite e em geral pacífico para a substituição dos dirigentes que *não* governam segundo a vontade do povo."
Citação retirada do blogue Margens de Erro enviada por Jorge Candeias


Quem lê com regularidade o meu blogue sabe que a decisão de Sócrates em não alterar a lei sobre a Interrupção Voluntária do Aborto via Assembleia da República era a única que eu podia defender (ver aqui). Não tinha legitimidade política para o fazer por duas razões principais, leia-se, porque a vontade popular assim o ditou em anterior referendo (mesmo que este não tenha sido vinculativo) e porque o seu programa eleitoral tinha sempre rejeitado esta hipótese. Adicionalmente qualquer decisão que saísse da Assembleia da república desta forma prometia não ser duradoura.

Mas desta situação nasce uma problemática interessante. O que leva um Governo a anunciar, com ar sentido, que vai cumprir a promessa eleitoral e o que leva parte da oposição a exigir que a situação fosse resolvida doutra forma? Em primeiro lugar porque todos sabemos que as promessas só servem para serem quebradas – e o ar combalido do Secretário Geral do PS não se devia, concerteza, a ter que cumprir uma promessa mas por sincero (acredito que sim) incómodo por não ter conseguido convocar o referendo (por culpa própria, diga-se). Mesmo assim o que leva parte da restante classe política a exigir que o Governo não cumpra o programa eleitoral? Justificam-se com a evidência do Governo já ter quebrado outras promessas! Certo! Mas, digo eu, caberá à própria classe política pressionar um Governo a quebrar mais uma promessa? Não será um mero exercício de (auto) flagelação democrática?

Enquanto isso a outra oposição canta vitória. Vitória? Mas porquê? Por o Governo não ter conseguido ir para a frente com uma promessa eleitoral e convocado um referendo? Provavelmente festejam a vitória da legalidade! A legalidade não pertence a ninguém e não deve ser festejada, apenas aceite como algo natural. Até porque as votações no Tribunal Constitucional são, muitas vezes, algo surreais como bem demonstra a divisão no voto sobre esta matéria. Mas deixo este assunto para ser discutido por Constitucionalistas...

Eu acredito na Democracia mas sei que é um sistema longe de ser perfeito. Mas como a Democracia Representativa representa (desculpem o pleonasmo) cada vez menos os interesses dos cidadãos – para o bem e para o mal – eu sugeria aos políticos um (auto) mecanismo de protecção elementar da sua credibilidade: façam poucas promessas! Basta cumprirem algo simples, ou seja, a única promessa que podem, em consciência, fazer, ou seja, o compromisso na tomada de posse de servir Portugal! Com a interpretação própria da pessoa e da sua ideologia mas, no fundo, não é preciso prometer mais nada porque tudo depende do contexto, o que é bom hoje pode não o ser amanhã para o país! E assim as promessas têm duas desvantagens, leia-se, suprimir boas decisões porque houve uma promessa mas o contexto mudou ou implementar más decisões para cumprir uma promessa, tenha ou não mudado o contexto.

Em jeito de síntese para que servem as promessas num contexto de constante mudança das prioridades dum país? Apenas para avaliar a personalidade e, acima de tudo, a criatividade do político! Mas a partir do momento em que são feitas são um factor de descredibilização sempre que são quebradas. As campanhas político-partidárias seriam bem mais informativas se fossem um palco para a explicação das estratégias para o país e menos um exercício de risos amarelos e distribuição de promessas!

606. Notícias Reais




Em Espanha Letízia e Filipe vão provocar - salvo seja - uma alteração na Constituição. Porque tiveram uma... filha! Em nome da não descriminação entre homens e mulheres a Constituição vai ser modificada para permitir que a prioridade seja dada, independentemente do sexo, ao pimeiro descendente do rei.

Confesso não perceber como a alteração - ou não alteração - da Constituição estava dependente do sexo da criança! Mas como também tenho dificuldade em perceber a lógica que está atrás do conceito de Monarquia nem sequer vou aventurar-me em mais comentários ...

605. O insustentável peso duma acusação



Já sou leitor do blogue Hollywood há bastante tempo. É o blogue onde procuro, em primeiro lugar, informações sobre o que estreia nos cinemas, sobre as notícias da Sétima Arte e onde procuro, com muita curiosidade, as opiniões mais recentes do Miguel. Não se trata de concordar ou não com a sua opinião - muitas vezes discordo - mas porque o Miguel é profissional no que faz, ou seja, não é profissional no sentido literal em que é pago para sê-lo, é profissional porque leva o cinema a sério e porque fez do Hollywood um espaço que é quase uma revista. Uma revista porque é capaz de introduzir críticas, notícias e antevisões com uma regularidade impressionante e, acima de tudo, com imensa qualidade o que só é possível quando se ama mesmo o que se faz. É impressionante, por exemplo, o acompanhamento que fez na noite de Óscares, as suas dissertações sobre a Nouvelle Vague ou até a sua defesa apaixonada da obra de Clint EastWood. O passado no cinema é de tal forma importante que, duma forma regular, o analisa e tantas vezes compara tudo o que é comparável entre o que realizadores actuais fazem e o que já foi feito no passado.

Sobre tudo isto já escrevi! Podem consultar aqui o que escrevi sobre o blogue em Dezembro de 2004!

Pela paixão que o Miguel tem pelo seu trabalho e pelo seu blogue eu consigo imaginar como se deve estar a sentir quando é acusado de plágio. Em traços largos o que se passou foi que no blogue A Paixão do Cinema foi publicado um post com o título "Será a Pornografia um Género Cinematográfico" tendo prontamente o Miguel elogiado o post e avisado que já tinha planeado escrever um post sobre o mesmo tema e que tinha ideias muito parecidas. Esse post foi publicado no Hollywood e, apesar das semelhanças, o Miguel tem uma abordagem diferente do tema, mais centrado no género. Foi então acusado de plágio!

Quero sublinhar que a nenhum de nós pertence um tema e que nenhum de nós está a descobrir a pólvora. Basta comparar as críticas a certos filmes e poderia dizer que metade do mundo está a plagiar a outra metade. Mas não digo porque sei que todas as ideias, hoje em dia, são recicladas e a originalidade está na forma como as expomos e não tanto no que defendemos porque tudo já foi inventado. Conheço o trabalho do Miguel há tempo suficiente para saber que ele pensa pela sua cabeça. Em nenhum momento assisti a um deliberado exercício de apropriação de ideias e, quanto muito, ele é influenciado por tendências de pensamento dominantes, como todos nós somos!

Não escrevo este post por ser amigo do Miguel - não o conheço pessoalmente - nem por fidelidade a alguém que me visita mas porque sei que o trabalho do Miguel não pode ser posto em causa desta forma. Os blogues são um espaço agradável de liberdade e é saudável haver concorrência - não no protagonismo, mas na qualidade - mas não podemos fazer acusações de forma imponderada porque todos sabemos que bebemos a nossa inspiração de algum lado e que é natural haver opiniões parecidas em muitos temas. Por isso sei que tudo isto não passa dum desagradável episódio que em nada deve afectar o juízo sobre o trabalho de ambos os autores dos blogues. Mas deve ficar como um aviso porque com a liberdade vem a responsabilidade e devemos ter cuidado antes de apontar o dedo.

Eu sei que o que se passou é grave e desmotivador mas também sei que o Miguel vai saber ultrapassar esta situação no mínimo incómoda para quem leva o que faz a sério. E, quem sabe, tudo resolve-se onde começou, ou seja, na blogosfera para que estes dois blogues continuem a emitir opiniões interessantes sobre a Sétima Arte.

Continuação dum excelente trabalho, Miguel!

P.S. Será que posso acusar de plágio quem anda a chamar o Cavaco de ser o novo Dom Sebastião ou será que sou eu que vou ser acusado?