Filho do 25 de Abril

A montanha pariu um rato - A coerência colocada à prova - A execução de Saddam Hussein - O Nosso Fado - "Dois perigos ameaçam incessantemente o mundo: a desordem e a ordem" Paul Valéry, "Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa, salvar a humanidade", Almada Negreiros - "A mim já não me resta a menor esperança... tudo se move ao compasso do que encerra a pança...", Frida Kahlo

terça-feira, maio 31, 2005

(435) Os Referendos

Não é concerteza uma boa altura para relançar o debate sobre a utilidade dos referendos porque vai parecer que só não gosto daqueles referendos que não chegam ao resultado que queria. Mas como já defendi que este resultado do referendo em França tem que ser respeitado e como não defendo a sua repetição em França nem a realização de mais nenhum na Europa - porque as regras do jogo de partida (unanimidade) mataram o texto - sinto-me com legitimidade para ajudar a relançar o debate do referendo enquanto instrumento democrático.

Não estou a defender que se deva acabar com esta forma de consulta e muito menos que a Democracia estaria mais bem servida sem referendos, mas acho que é a altura certa de reflectir sobre a sua utilidade e legitimidade.

Não resisto a aconselhar a leitura deste texto no blogue Margens de Erro, um dos primeiros textos em que o autor dá uma opinião pessoal (e não técnica) dum assunto:

"O que tenho a dizer já o tinha dito aqui, e ontem no Público (quando, noto, pensava que a coisa tanto podia pender para o "Não" como para o "Sim"): tenho muitas dúvidas sobre a bondade dos referendos como modo de tomar decisões sobre matérias como esta."

(...) Clique no texto para continuar a leitura


Há pelo menos duas perguntas que merecem uma cuidada reflexão:

- Se o resultado do referendo depende - por exemplo, da popularidade dos Governos ou da conjuntura económica independentemente do conteúdo da pergunta - então será que quem tem poder de decisão são os cidadãos ou os que conseguem definir a data de consulta?

- Se houver tendência para os referendos darem resultados diferentes com bastante regularidade em relação à mesma pergunta qual deve ser o resultado válido e por quanto tempo?

(434) Durão Barroso imparável!

"O presidente da Comissão Europeia defendeu a continuação do processo de ratificação do tratado constitucional, sublinhando que "nove Estados membros representado metade da população da UE já ratificaram a constituição europeia"
DN

Quanta cegueira! Este tratado está morto conforme as indicações da própria UE, ou seja, para ser ratificado tem de merecer a aprovação de todos os Estados membros!

Vamos matar a UE discutindo em referendo um documento já morto? Será que ninguém percebe que discutir um documento que já foi rejeitado vai fragilizar de morte a UE? Será que Durão não percebe que tem que ser pragmático e modificar o Tratado para algo simples que sirva unica e exclusivamente para fazer frente ao alargamento?

Porque estará este senhor a matar a UE? Será que também quer receber uma medalha de serviços públicos prestados?

(433) Um mini debate...

... entre dois apoiantes do "Sim"...

Constituição Europeia ... Estará o texto constitucional morto? Deve ser "enterrado"?


(432) Leituras sobre a União Europeia

Este texto é da autoria de Alexandre Quinteiro e foi publicado no blogue Quadratura do Círculo. Interessante.

Conclua-se, assim, que, do meu ponto, de vista a vitória do não representará a ausência de uma indelével linha de rumo na nova União Europeia , factor absolutamente essencial para congregar 25 visões nacionais (naturalmente desagregadoras) sobre uma realidade transnacional que é a nossa e que em última análise só pode representar ou a regressão a uma Europa dos 15, ou até mesmo o fim deste projecto único, renovador e inspirador das consciências das sociedades humanas nacionais a nível mundial muito mais relevante que a perpetuação dos Estados-Nação do tipo século XIX!
Uma nota final a vós pacientes leitores: lembrem-se do Velho do Restelo!
Alexandre Quinteiro


(Clique no texto para a sua leitura integral)

Aconselho também a leitura deste sítio e a procura criteriosa de informação relativa à influência da gestão política de Durão Barroso da directiva Bolkenstein na opinião pública francesa! Esta directiva, independente do tratado, foi um dos temas principais do debate francês e deu uma imagem ultra liberal (e falaciosa, no meu entender) do Tratado e da União Europeia.

http://www.euobserver.com/

Só tenho pena que este Tratado não tenha sido "enterrado" pelo seu conteúdo!

segunda-feira, maio 30, 2005

(431) O “Não” Francês



A França recusou, sem margem para dúvida, o Tratado de Constituição Europeia. Lamento porque continuo a achar que era um bom documento!

Na minha opinião o real perigo duma Europa liberal pode resultar da não ratificação do referendo porque uma Europa com um espaço económico livre e com um único mercado sem instituições supra nacionais é que é uma concepção liberal da sociedade.

Fico sem perceber se depois de Durão ter dado tão forte contributo para o “Não” vencer em França se ele também quer contribuir para o fim da União Europeia ao insistir em apoiar referendos a um documento que morreu ontem. Não tem lógica! O "acordo" era claro! Se um país rejeitasse o tratado este era pura e simplesmente enterrado. Parece-me muito mais lógico esquecer a Constituição de vez e trabalhar para que se chegue a um acordo (de preferência simples e com menos páginas) quanto à reformulação do sistema de votação dos países na União Europeia para fazer face ao alargamento. Essa deve ser a nova prioridade da Comissão Europeia para que a Europa não paralise.

domingo, maio 29, 2005

(430) Para deixar de falar no “Monstro”: Notas Finais (5)



(Positivo)

José Sócrates e Campos e Cunha – As medidas anunciadas revelam muitas mudanças e algumas são um corte radical com os privilégios de várias classes profissionais que já não tinham cabimento. Não podem haver cidadãos de primeira (Função Pública) e de segunda (os restantes) onde os primeiros descontam menos e têm mais direitos e regalias. Há aqui uma moralização que tem que ser levada até ao fim sem esquecer que há nos privados situações que devem ser corrigidas e não é um nivelamento por baixo que defendo. A lista de medidas é extensa e só peca pela nova subida dos impostos indirectos, única medida que eu discordo (por ser anti cíclica e de efeitos conjunturais) da quase vintena de medidas anunciadas;

António Costa – Fico sem perceber de quem é a paternidade da revolução dos direitos e regalias na função pública (reformas equiparadas, fim sub sistemas saúde, reavaliação promoções automáticas, fim dos horários zero para professores) mas no início do mandato deste Governo ouvi dizer que ele era o responsável por esta área. Há muito tempo que a reforma da Administração Pública era exigida. Quero ver é se há coragem para a implementar até ao fim;

(Negativo)

José Sócrates – Do apelido de impreparado ou de mentiroso já não escapa. O triste papel que fez em campanha eleitoral faz-no estar no negativo (ao mesmo tempo que está no positivo pela coragem e oportunidade da generalidade das medidas que anunciou). Faltam também mais reformas estruturais específicas nas áreas da Justiça, Saúde e Educação para adicionar às reformas mais gerais da Administração Pública;

Manuel Pinho– O Ministro da Economia tarda em anunciar medidas que revitalizem a economia real e compensem a desastrosa subida dos impostos indirectos. A nomeação de Fernando Gomes para a GALP não foi nem oportuna nem me parece ter fundamento;

Vítor Constâncio – Se não sabia devia ter sabido e se sabia devia ter dito. A surpresa do Governador não é admissível uma vez que este é só o trabalho dele;

Santana Lopes e Bagão Félix– Será que neste momento alguém duvida que o Presidente da República nem devia ter deixado Santana Lopes ir para Primeiro Ministro? O OE 2005 é uma ficção utópica onde as receitas são sobreavaliadas onde dá jeito, onde as despesas são ignoradas e as contas são mal feitas. O aumento das reformas é “esquecido”, as despesas da saúde são propositadamente falseadas e as receitas sobreavaliadas (o próprio ex- ministro da Saúde critica as contas de Bagão), as receitas de negócios potenciais e virtuais são incluídas e todos os indicadores de preços e taxas são completamente irrealistas. Eu já vi muito Orçamento confuso mas este bateu qualquer recorde. Para esquecer!

O "Monstro" em síntese: (1) (2) (3) (4)

sábado, maio 28, 2005

(429) O “Monstro”: Pai e Filhos (4)



“Os trabalhos preparatórios do novo sistema retributivo da função pública (...) correrram sob a responsabilidade directa de Cavaco Silva, como ele próprio afirma na sua Autobiografia Política”
Cadilhe Acusa: Cavaco é o pai do “Monstro”, Expresso

Não é por ser uma novidade que esta crítica acaba por ser violenta e
sui generis. Eu por várias vezes já defendi que Cavaco foi o pai do "Monstro" não porque foi o primeiro a falar nele (para criticar Pina Moura) mas porque ele próprio foi o Primeiro Ministro que mais comprometeu a eficiência dos gastos públicos. O que realmente dá "força" a esta afirmação é ela ser proferida pelo antigo Ministro das Finanças do próprio Cavaco Silva.

Relembro que não só Cavaco teve défices bastante superiores a Guterres como também perdeu o controlo do défice em períodos de recessão (entre 1992 e 1993 o défice passou de 4,7% para 8,1% enquanto Guterres passou de 3,2% para 4,4% entre 2000 e 2001). Depois promoveu as (nefastas) promoções automáticas. E assobiando para o ar resolveu falar do
“Monstro” como se nada tivesse a ver com isso. E Cadilhe continua:

[O sistema retributivo da função pública]
“teve efeitos avassaladores”
[Cavaco desistiu das auditorias externas aos serviços]
“nem sei bem porquê”
“Admito que a resistência dos burocratas se tenha aliado às conveniências eleitorais e anti-reformistas dos políticos”

Esquecendo um pouco a questão da árvore genealógica do "Monstro" vou voltar a insistir que os valores do défice são preocupantes mas que não devem ser uma obsessão. Uma coisa é criticar a introdução de gastos que não seguem critérios de eficiência e de mérito (como as promoções automáticas de Cavaco) e outra é continuar a ter políticas restritivas em períodos de estagnação económica. É cada vez mais óbvio que desta forma nem crescemos nem resolvemos o défice. Parece-me pouco sensato continuar a implementar medidas anti cíclicas. Os valores do défice e do crescimento já conhecemos e para reforçar a defesa que faço do abandono das políticas iniciadas por Ferreira Leite exponho estes dados (Fonte: Expresso) sobre a despesa primária do Estado após a implementação de medidas fortes de combate ao défice.


Nota: A despesa rígida é em % da despesa primária

Após a análise cruzada dos valores do défice, crescimento, despesa primária, despesa rígida e outros como desemprego, transferências sociais, massa salarial, entre outros ... será que podemos continuar a defender que a política dos nossos dois últimos Ministros das Finanças deve continuar a ser implementada? Ou seria melhor um controlo da despesa a médio prazo através da limitação (suave) das suas taxas de crescimento em relação às taxas de crescimento da produtividade e da economia? O objectivo é ou não é o crescimento e desenvolvimento económico sustentado? Não adianta estarmos preocupados em tornar sustentável o que não existe, leia-se, o crescimento.





Neste momento o país precisa dum impulso na economia. Precisa de investir e não pode por um lado restringir o investimento público e por outro aumentar os impostos restringindo o investimento privado. As medidas de Sócrates são um misto de coragem (a equiparação da idade de reforma entre o público e o privado, congelamento das promoções automáticas, auditoria e reestruturação de dois ministérios por trimestre, redução de benefícios fiscais, fim sigilo fiscal e bancário, congelamento dos salário dos administradores, fim dos professores com horário zero, fim do regime de subvenções vitalícias dos titulares de cargos políticos) como medidas incompreensíveis neste contexto (subida do IVA e do Imposto sobre combustíveis, criação de novo escalão no IRS) , A aposta na tecnologia, no mérito e na qualidade dos serviços públicos deve ser a grande prioridade neste momento associada a um controlo do crescimento da despesa com critérios de eficiência, de produtividade e de correspondência com a qualidade dos serviços que gera. A aposta não deve ser, e qualquer manual de economia assim o diz, em políticas anti-cíclicas num período de estagnação porque isso vai levar-nos irremediavelmente para a cauda da Europa.


As caricaturas e imagens foram retiradas destes sítios:

http://semanal.expresso.clix.pt/capa/default.asp
http://www.sergeicartoons.com/CaricaturasGR/caricatGR_27.htm
www.whildonen.net/ pages/bagao-felix.html

sexta-feira, maio 27, 2005

(428) Rui Rio a Informar os Munícipes



Na quarta feira fui retirar o correio do respectivo recipiente onde o carteiro o deposita e deparei-me com um folheto informativo género Edite Estrela, leia-se, um folheto informativo da Câmara Municipal do Porto. Este folheto tinha um papel brilhante e muitos gráficos coloridos e faz com que qualquer tripeiro fique orgulhoso da sua Câmara. É curioso como nestes panfletos, dito informativos, há sempre a melhor visão possível do trabalho dos seus autarcas.

“O montante correspondente aos Resultados Líquidos, que em 2004 se traduziu num crescimento significativo (52,5% face ao ano anterior), foi aplicado no pagamento de parte do stock da dívida e em novos investimentos em áreas vitais para a cidade, tais como: Habitação social, vias de comunicação e educação.”

O documento “Finanças Municipais – Informação aos Munícipes” é muito técnico e auto elogioso. Usa e abusa dos adjectivos (como significativo e vitais) e de palavras caras aos munícipes (habitação social, educação). Eu acho que as palavras “muito técnico” descrevem bem a personalidade e o mandato de Rui Rio. Este autarca passou 4 anos a poupar tostões e a usar e abusar do seu mau feitio. Foi uma boa antítese do despesista (e desastroso) Nuno Cardoso mas revelou-se desastroso em tornar a cidade mais viva (a sua perseguição aos bares da Ribeira sempre me fez confusão e os resultados estão aí), na área cultural (não me lembro de tão poucas iniciativas culturais da Câmara) e nos novos investimentos (a cidade já não parece um estaleiro mas não há nenhuma obra estruturante lançada recentemente).

Estes folhetos deviam ser proibidos porque nada acrescentam e porque são feitos com uma linguagem e visão muito parcial. Se são úteis deviam vir só com os números relevantes e sem a interpretação (que nunca, mas nunca é crítica). Quanto à substância só digo que ainda bem que não vou votar no Porto porque acho que ninguém ia ter direito ao meu voto.

quinta-feira, maio 26, 2005

(427) O “Monstro” continua a ser alimentado (3)


"Nós não vamos aumentar os impostos porque essa é a receita errada (...)Não vamos cometer os erros do passado ", José Sócrates, RTP, 14.04.2005

Eu sempre considerei imprudente fazer determinadas promessas eleitorais. Há sempre condições que o Primeiro Ministro não controla e cuja melhor solução pode estar na subida dos impostos. Além de ter cometido várias imprudências nas promessas eleitorais, Sócrates veio agora cometer mais um erro grave. Independentemente do contexto, Sócrates reforça a ideia de que não somos representados, mas sim manipulados. Depois de tanto criticar as políticas recessivas de Durão e de ter prometido que esse não era o caminho dá a sensação, se é real ou imaginária pouco importa, que é mais do mesmo. Poucos acharão que a "surpresa" foi real e para a generalidade das pessoas é mais um
“trafulha” numa lista que vai engrossando e que um dia vai resultar no fim deste regime (Tópico Relacionado: (121) A Refundação da Democracia).

Para ser coerente com o que tenho defendido, apesar de continuar a ter esperanças no desempenho deste Governo, acho que o
“Monstro” está novamente a ser alimentado. Há medo desta figura criada por um dos nossos pais da pátria que também foi o pai das promoções automáticas (se ninguém está a ver quem é apenas digo que adora comer bolo rei).

As medidas anunciadas são novamente de curto prazo e novamente vão penalizar a sociedade real. Não vou analisar uma a uma, mas apenas deixar umas breves notas:

- O aumento dos impostos indirectos e dum escalão do IRS não significa que Portugal vá ter uma carga fiscal superior a outros países da UE mas que novamente este aumento não é fruto duma tentativa de melhorar a qualidades dos serviços públicos e sociais mas unicamente para tapar
“buracos”;

- A progressiva equiparação da função pública à privada é fundamental mas vai depender muito do que se quer equiparar. A exigência, a igualdade nas reformas, as promoções por mérito e o fim das regalias são bem vindas. A precaridade do trabalho e salários miseráveis para os quadros mais baixos já não me parecem um bom caminho;

- Perante um
“buraco” de 5000 milhões de euros só neste Orçamento o Governo só ataca em 700 milhões de euros (de 6,83% para 6,2%). Parece muito sacrifício para tão pouco mas, também em defesa da coerência do que defendi, o ataque deve ser progressivo ao longo da legislatura para não penalizar em demasia o crescimento;

- O fim parcial do segredo fiscal parece-me uma medida mais adequada apesar de ainda não ter percebido o seu real alcance.

A adicionar a tudo isto espero anúncios em breve para resolver os problemas estruturais (não só os conjunturais) e para incentivar o investimento privado.

quarta-feira, maio 25, 2005

(426) Sala de Cinema: Der Untergang – A Queda, Hitler e o Fim do Terceiro Reich



Realizador: Olivier Hirscbiegel
Elenco: Bruno Ganz, Alexandra Maria Lara

Confesso que fiquei arrepiado quando Bruno Ganz entrou na sala interpretando Hitler. Acho que a melhor maneira de descrever este filme é aproveitar esta sensação inicial porque ela arrastou-se pelo filme, aquele arrepio ao observar imagens que descrevem a história com tanto realismo. E Hitler era real e pelos vistos um homem cordial e afável mas que era, ao mesmo tempo, desprovido de compaixão enquanto Fuhrer. Não há julgamentos morais neste filme. Apenas há um retrato comovente e assustador dos últimos dias do Terceiro Reich.

Não é este filme ou qualquer outro que foi feito ou será feito que me vai ajudar a compreender como o homem (leia-se homem no sentido mais geral) foi capaz de tamanhas atrocidades. Mas este filme ajuda a dismistificar a ideia de que Hitler não era humano porque ele era um homem, não uma caricatura. E é melhor encarar Hitler desta forma. Não devemos relativizar a crueldade que o homem é capaz de ter se queremos evitar que a história se repita. E como explicar que a loucura dum homem tenha arrastado uma nação de homens e mulheres normais a cometerem tamanhas barbaridades? Acho que nunca vou conhecer a resposta...

Síntese da Opinião: Contar não é perdoar. Recomendo.

(425) Continuando a domar o “Monstro” (2)


O "Monstro" Orçamental continua a atacar

Ainda antes do anúncio oficial das mais que previsíveis novas mexidas nas receitas orçamentais de curto prazo (impostos indirectos) quero fazer algumas considerações adicionais a este medo generalizado que os governantes e a imprensa queram que passe:

- Andam a preparar-nos para a mesma receita do passado. Mais sacrifícios em nome do défice quando todos sabemos que não é assim que ele desaparece. O défice só pode ser combatido com políticas coerentes e multidisciplinares de crescimento económico e com o abrandamento do crescimento das despesas numa lógica de médio prazo. A política anterior falhou porque ao amordaçar a economia gerou um conjunto de despesas adicionais ao Estado (subsídios de desemprego, reformas antecipadas, degradação serviços públicos, entre outros);

- É preciso compreender que trata-se duma previsão e nada mais. As previsões são falíveis e há instrumentos de readequação do Orçamento que o Governo dispõe para amenizar a situação. Mas quero referir que não me lembro dum Orçamento tão mal feito. Por exemplo Bagão Félix inscreveu 580 milhões de euros de dividendos dum potencial negócio que a Galp ia potencialmente efectuar e que foi chumbado. Simplesmente desapareceu do OE este valor que nem percebo como foi inscrito com tanta segurança. E há inúmeras sub orçamentações (SNS, Petróleo) e contas mal feitas (Massa Salarial, Segurança Social). É incrível. Desta forma até eu fazia um Orçamento sem esforço. Bastava que me informassem que valor queriam que eu atingisse. Só não compreendo a preplexidade de Constâncio agora como se ele não tivesse tido acesso ao documento na altura;

- Importa agora falar do futuro. O Governo tem a obrigação de definir prioridades no quadro da legislatura. O défice não vai ficar resolvido num ano e, por isso, deve haver medidas no prazo da legislatura que o façam reduzir de forma suave e que não prejudique tanto a economia. O Pacto de Estabilidade e Crescimento é um mecanismo natural, isto é, apenas diz que o Estado não deve gastar mais do que gera. Mas não implica que para atingir esse valor o sacrifício seja no investimento público. Por isso o Governo tem que criar uma almofada que permita haver investimentos reprodutivos. Nesta legislatura há que ter a noção que o défice tem que ser menor que 3% (sem receitas extraordinárias) mas sem medo do “Monstro” porque o medo só paralisa a economia. E a economia paralisada resulta sempre em mais despesa por mais que se cortem nos gastos. O objectivo é o crescimento sustentado e ninguém se pode esquecer disso. Um crescimento sustentado só se atinge com aumentos moderados da despesa (não com cortes cegos), com eficiência nos serviços do Estado (porque gastar menos nem sempre é ter menos défice), com investimento público reprodutivo (não falo de rotundas e avenidas) e criando condições para a economia “real” crescer (um enquadramento fiscal generoso para o investimento nas empresas).

terça-feira, maio 24, 2005

(424) António Guterres – 10º Alto Comissário da ONU para os Refugiados



Fico satisfeito por António Guterres ser o novo Alto Comissário da ONU para os Refugiados. Mas este estado de satisfação não tem nada a ver com a ideia de que é uma grande conquista nacional ter portugueses em altos cargos e que isso pode trazer vantagens ao país. Não tem cabimento e revela uma mentalidade provinciana. Um desses exemplos é Durão Barroso que obviamente (e bem!) é neutro em relação em Portugal e está a desempenhar o cargo com enormes dificuldades porque não tem o perfil adequado, na minha opinião, para a função que foi nomeado (em breve vamos ver se é assim ou não). Como acredito nas potencialidades de organizações como a ONU e a UE não me importo com a nacionalidade dos seus membros integrantes mas sim com a sua capacidade para desempenharem a função.

Eu estou satisfeito porque acho que Guterres tem o perfil ideal para este cargo porque é de carácter maioritariamente humanitário e diplomático. A acção diplomática de Guterres em Timor Leste (em parceria com Jaime Gama), a sua vocação humanitária e a sua experiência como Presidente da Internacional Socialista deixaram-me uma impressão extremamente positiva superando a imagem com que fiquei dele como Primeiro Ministro. A grande dúvida que continua a pairar no ar é que futuro vai ter a ONU e de que forma esta vai ser reformada. Aguardo com grande expectativa o desenvolvimento da reforma desta instituição.

Com a eleição de Guterres o caminho presidencial fica mais desimpedido para Cavaco. Mas continuo com a forte percepção que, na esquerda e na direita, há indivíduos com perfil mais adequado para Presidente da República. Volto a perguntar que características pessoais este político tecnocrata e pouco talhado para mediar tem para o cargo? Consigo imaginar Cavaco no Banco de Portugal, no FMI, no BCE mas como Presidente confesso que não. Mas parece que a Imprensa já tomou a decisão. E vou continuar a exigir que na sociedade portuguesa surjam pessoas com coragem para desmontar os homens providenciais e combater os profetas da desgraça deste país.

(423) Défice Orçamental: 6,83%, O Regresso do Monstro


O Regresso do "Monstro" Orçamental

Hoje os “apoiantes” dos partidos de direita devem estar a pensar que é ridículo dramatizar deste modo o défice. Eu concordo com esses apoiantes. Da mesma forma que achei muito estranho quando essa estratégia foi utilizada por Durão Barroso em relação a Guterres. Parece que os governantes simplesmente não querem governar, leia-se, não querem mudar o país e refugiam-se em visões catastróficas da economia para terem um alibi. São uma geração de políticos que adora ouvir o discurso do “monstro” orçamental dos antigos e novos profetas da desgraça (lembram-se de alguém?) e que acabam por não fazer o que realmente é importante que é criar condições à economia real para crescer. E isso só é possível com serviços públicos de qualidade, com uma justiça célere, com uma saúde eficiente, com uma aposta numa educação de qualidade, com boas infra estruturas, com um quadro fiscal que favoreça o investimento e por aí fora.

Em 2002 o famoso descalabro das contas públicas, isto é, a anunciada “tanga” do país levou o país a uma política sem nexo. Foi o predomínio do “tesoureiro” sobre o “estratega” e isso geralmente resulta no agravamento das doenças que o país padece. Poupa-se uns trocos aqui e gasta-se muito mais no subsídio de desemprego (ou nas reformas) e depois desce a qualidade dos serviços públicos e contrata-se serviços externos, isto é, agrava-se o ciclo vicioso de despesa pública em vez de a diminuir. A despesa orçamental quer-se controlada mas sem nunca esquecer o objectivo principal, o crescimento económico. A política orçamental é instrumental e não um fim em si mesma.

Mas claro que esta previsão, não nos podemos esquecer que é uma previsão, é preocupante. Em primeiro lugar porque é um valor elevado e vai eventualmente travar o crescimento e só por isso deve haver muito rigor nos investimentos públicos e na criação de novas despesas em transferências correntes (saúde, segurança social) assim como rigor no crescimento da massa salarial. Mas rigor não significa cortes cegos nem obsessão pelo “monstro”. Em segundo lugar temos que cumprir o Pacto de Estabilidade e Crescimento. Este segundo ponto é melindroso mas eu acho que temos mais vantagens em cumprir as metas orçamentais no quadro da legislatura e só um plano de estabilidade e crescimento credível pode dar confiança aos nossos parceiros de que o esforço é real e que não é só conjuntural (e sem estratégia). Entretanto o Estado deve pensar em vender alguns dos seus activos que menos impacto têm na economia para travar o crescimento da dívida pública (como por exemplo a Barragem em Moçambique, desde que negociada a um preço justo).

Até estou com medo de ouvir os anúncios do Governo em relação aos cortes propostos por Campos e Cunha. Espero que não se cometam os mesmos erros do passado recente...

segunda-feira, maio 23, 2005

(422) Álvaro Siza Expor - Projectos para Museus e Espaços de Exposição (Museu de Serralves)






Siza dentro da maqueta

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(421) Álvaro Siza Expor - Projectos para Museus e Espaços de Exposição - Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, Brasil (Museu de Serralves)

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domingo, maio 22, 2005

(419) Parabéns ao Benfica

Parabéns dum portista ao Benfica por ser o campeão 2004/2005!


(418) Álvaro Siza Expor - Projectos para Museus e Espaços de Exposição - Museu de Arte Contemporânea de Serralves (Museu de Serralves)

O Museu de Serralves, entre Abril e Junho, tem uma exposição de Siza Vieira com o tema "Projectos para Museus e Espaços de Exposição". O que é curioso é que o museu que "alberga" esta exposição foi desenhado pelo próprio Siza Vieira. Aqui estão as fotografias das maquetas do edifício onde estão expostas as próprias maquetas. O museu está enquadrado num belíssimo jardim e é um dos espaços culturais de maior sucesso nacional. Clique nas fotografias para ampliar.







(417) Álbum de Fotos: Museu de Serralves (Porto)









sábado, maio 21, 2005

(416) Saddam no Big Brother

O jornal "The Sun" divulgou fotografias de Saddam Hussein em roupa interior dobrando as suas calças na cela onde está "instalado". Supostamente as fotografias foram cedidas por um soldado americano. Este "incidente" acontece na mesma altura que surgem mais notícias de torturas psicológicas em Guantanamo com relatos de desrespeito às convicções religiosas dos prisioneiros (que relembro que nunca tiveram direito a julgamento). Que "moral" terão os EUA para exigir tratamento justo a prisioneiros americanos no futuro? Que vantagem retiram os EUA ao humilhar os seus "inimigos"?


Inside Saddam´s Jail Cell. Tyrant´s in his pants. (Sun)

sexta-feira, maio 20, 2005

(415) O Sítio do Não


(http://inet.sitepac.pt/PachecoPereira.jpg)

Pacheco Pereira, sempre abrupto e quase sempre do contra, lançou o que ele chama de “um movimento, um fórum de debate público, um ajuntamento, seja lá o que for, para explicar porque razão se deve pensar duas vezes antes de assinar de cruz um tratado cujas implicações podem ser trágicas para quem deseja uma Europa unida mas uma Europa de nações e não uma híbrida construção transnacional, pouco democrática, subordinada a um directório franco-alemão e a uma burocracia internacional que funciona, como todas as burocracias, para aumentar o seu poder.” É o Sítio do Não. É uma cruzada (não religiosa, claro está) contra a “força institucional” dos partidários do sim, contra a “coligação do sim”, contra o “derrotismo” dos que querem votar “não” mas não se revêem no “não” do BE e do PCP.

Vou ajudar o Pacheco Pereiro em mais este trabalho de auto divulgação e deixar umas notas:

1. Finalmente Pacheco Pereira aderiu ao confronto de opiniões permitindo comentários aos seus posts;

2. O autor não quer ser associado com outros partidários do “não” (BE, PCP, grupos de extrema direita) porque o que contesta tem outro alcance;

3. O chamado directório Franco-Alemão que supostamente criou este mecanismo que permite aumentar o seu poder através da “burocracia” é composto por um dos países que mais contesta o Tratado;

4. Acredito que os cidadãos sabem que podem votar “não”, mas obrigado na mesma por nos avisar desse direito;

5. É verdade que muitas vezes vota-se num referendo pelas razões erradas (como acontece em quase todos os referendos) mas isso é válido para as várias posições e ninguém está a contestar que o debate tem e deve ser feito;

6. O nome do blogue, Sítio do Não, encaixa que nem uma luva na personalidade do seu autor. Se o objectivo é o debate não compreendo porque o Sítio não tem num nome que acolha as duas posições;

7. Ainda não vi um único post até à data a discutir alguma parte concreta do Tratado. O que salta à vista não é o debate sobre como devia ser o Tratado mas sim ... “Cavaco Silva discorda dos argumentos de Pacheco Pereira, “O constitucionalista Jorge Miranda, também apoiante da posição de Pacheco Pereira, “António Barreto... Acho muito bem que se criem movimentos de cidadãos como aquele a que apelou Pacheco Pereira, “O bem-vindo SÍTIO DO NÃO corre o risco de se transformar na pedra angular de um movimento político bastante interessante - o primeiro formado a partir da blogosfera.” (Blasfémias). Notam algo em comum nestes textos?


*Tópicos Relacionados:

- Consulta do texto integral do tratado: Centro de Informação Europeia Jacques Delors

- Memórias do Filho do 25 de Abril: Europa

quinta-feira, maio 19, 2005

(414) Uma nova espécie de Cowboys



"They´ve done a terrific job. And they have cut down the crossing of illegal immigrants by a huge percentage."

Arnold Schwarzenegger

O Governador da Califórnia, ex-Conan e ex-Exterminador, veio elogiar em público o trabalho desempenhado pelos "Minutemen". Convém explicar que os "Minutemen" não são os homens que trabalham ao minuto e muito menos os que fazem minutas. São um grupo armado de cidadãos que fazem o patrulhamento da fronteira entre o Arizona e o México à procura de imigrantes ilegais.

Estes homens formam acampamentos junto à fronteira e discutem tácticas de intervenção. Muitos são veteranos de guerra ou cidadãos preocupados com a imigração nos Estados Unidos da América. A maioria destes voluntários não tem experiência e muito menos treino específico. Um dos membros do "Minutemen Project" protege-se das críticas de que esta organização pode causar mais danos que vantagens deste modo:

"The Border Patrol does this every day, and they are qualified and very well-trained to handle the situation," ele disse. "Ordinary Americans are not. So there's a danger that not just illegal migrants might get hurt, but that American citizens might get hurt in this situation."

Trocando por miúdos o que ele quis dizer é que se resultarem feridos entre os imigrantes sempre é melhor que um cidadão americano "normal" seja prejudicado a defender os seus direitos. Como se não bastasse esta histeria com a imigração as autoridades oficiais alimentam ainda mais o medo nos cidadãos americanos:

"Several al-Qaida leaders believe operatives can pay their way into the country through Mexico, and also believe illegal entry is more advantageous than legal entry for operational security reasons," James Loy, the deputy secretary of the Homeland Security Department

Com este tipo de mentalidade e com o apoio de alguns políticos "sulistas" (e elitistas) e conservadores temos uma nova espécie de cowboys que brinca com armas e faz justiça "do seu modo". São vigilantes, ou seja, milícias armadas que utilizam tácticas de guerra em seres inferiores, leia-se, homens não americanos. Não admira que as políticas belicistas estejam a ter aceitação na população americana já que grande parte dos Estados do sul gosta de resolver todos os problemas à lei da bala.

Para consultarem os "caricatos" lemas destas organizações e comprarem T-Shirts basta clicarem nas seguintes ligações:

Team America - Dedicated to Securing our Borders and Defending (que surpresa) American Jobs

MinutemanProject - American doing the jobs our Government won´t do

quarta-feira, maio 18, 2005

(413) Final da Taça UEFA (Estádio Alvalade XXI): Sporting, 1 - CSKA, 3



Infelizmente o Sporting não foi capaz de travar o perigoso contra-ataque do CSKA e muito menos transformar em golos algumas das oportunidades que teve ao longo dos 90 minutos. O conjunto russo é forte e tem um ataque muito criativo (já tinha provado o seu valor nos jogos com o Porto e com o Benfica nesta época). Não acho que a equipa portuguesa tenha feito um mau jogo mas o CSKA é mais experiente e malicioso. O Sporting teve uma semana para esquecer e novamente sofreu golos muito consentidos. Ricardo não esteve, novamente, ao nível que se espera do guarda redes titular da selecção e Peseiro teve, mais uma vez, dificuldades na leitura do jogo.

De qualquer forma é de saudar este ciclo do futebol português que alcançou, em três anos consecutivos, três finais de competições europeias.

(412) Páginas Soltas (16): Nos Bastidores de Hollywood, de Mário Augusto




Antes de escrever este post ainda reflecti se esta obra de Mário Augusto encaixava melhor na categoria de revista ou livro. É que apesar do evidente formato de livro todo o seu conteúdo tem mais semelhanças com uma revista do que com um livro. E o mais curioso é que nem é mais semelhante com uma revista de especialidade de cinema mas sim com uma revista social.

Eu não quero fazer uma crítica demasiado destrutiva ao livro porque simpatizo com o seu escritor e porque a leitura nem foi desagradável. O pior são as expectativas que cada um de nós tem ao comprar um livro. Eu esperava conhecer pormenores sobre a carreira de certos actores, sobre o método de interpretação e reflexões sobre o mundo do cinema. Mas o que encontrei foram muitas perguntas de circunstâncias, descrições do humor e simpatia dos protagonistas e o grau de amizade que cada um tem (ou não tem) com o autor das entrevistas. Muito pouco para as expectativas que tinha criado.

Mas tenho que ser justo. O formato das entrevistas a que o Mário Augusto tem acesso (as “junkets”) não permite que as entrevistas saiam dum ambiente ultra controlado. E provavelmente o que o grande público quer saber são as curiosidades da vida pessoal e das filmagens dos protagonistas dos filmes e não entrevistas técnicas sobre a Sétima Arte.

O livro é globalmente leve e de leitura fácil e os direitos de autor revertem para a Fundação do Gil (paralisia cerebral). Inclui também um DVD com 90 minutos.

terça-feira, maio 17, 2005

(411) Sala de Cinema: Kingdom of Heaven



Realizador: Ridley Scott
Elenco: Orlando Bloom, Eva Green, Jeremy Irons, Edward Norton

É inevitável comparar Kingdom of Heaven com Gladiator. Depois do sucesso do segundo era de prever que Sir Ridley Scott voltasse aos filmes históricos mais cedo ou mais tarde. O realizador inglês sabia que as expectativas seriam muito mais altas desta vez. E caíu na tentação de tornar tudo mais grandioso. E é aqui que o filme peca.

O erro mais comum nos filmes históricos é tentar fazer com que o protagonista participe em todas as batalhas que interessam para a história. E lá está Orlando Bloom a enfrentar tudo e todos com heroísmo e coragem. E lá está ele a conquistar com um olhar a mulher mais importante da história. E é ele a tornar-se amigo dos principais adversários num mero acaso do destino. E lá está ele a trazer água para quem necessita. E é ele que comanda o exército para defender o primeiro cerco e depois é ele que lidera a resistência cristã no segundo cerco. Mais do que uma péssima representação (como tenho lido por todo o lado) a sua personagem não estava tão bem conseguida como a de Russell Crowe. E a sua juventude também não ajuda.

Nota-se também que os sucessivos cortes, num filme que tinha uma duração bem maior do que nesta versão que chegou às salas de cinema, prejudicaram o melhor que o filme tinha a nível narrativo, leia-se, os secundários (Eva Green, Jeremy Irons, Liam Neeson, David Thewlis, entre outros). Destaque especial para o actor Ghassan Massoud, fenomenal no papel de Saladino e para o irreconhecível Edward Norton. Estes cortes prejudicaram a história que limitava-se a saltar de evento para evento histórico.

O tema das Cruzadas tem muito potencial e a perspectiva de Scott é interessante uma vez que os muçulmanos aparecem construídos sem os estereotipos que Hollywood gosta de utilizar. Já os cristãos, principalmente nos membros do Clero e alguma Nobreza, estão pobremente construídos já que eram personagens onde o argumentista concentrou todos os defeitos e preconceitos. Mesmo assim a obsessão de fazer pontes com a actualidade resulta num patético discurso de Bloom antes do cerco a Jerusalém.

Mas nem tudo é mau. Ridley Scott, ao contrário das críticas que tenho lido, duma agressividade incompreensível em relação à sua obra, continua excelente no aspecto visual. O toque negro e de decadência que Scott sabe fazer como ninguém está lá. É um género de “realismo visual” que torna as batalhas mais “gore” e violentas.

Síntese da Opinião: Um filme que tenta ser grandioso mas que é só mediano. Só para quem gostar do aspecto visual dos filmes de Ridley Scott.

segunda-feira, maio 16, 2005

(410) Sala de Cinema: The Interpreter



Realizador:
Sydney Pollack
Elenco: Nicole Kidman, Sean Penn

Após seis anos de ausência é o regresso de Sydney Pollack à realização. Consegue juntar dois dos melhores actores da actualidade (Kidman e Penn) num thriller político feito “à antiga”, isto é, com um argumento e realização convencional a lembrar uma certa forma de fazer filmes que era muito comum há alguns (largos) anos. Mas a verdadeira estrela do filme não é de carne e osso apesar de também ter muita personalidade. Hitchcock tentou mas só Pollack conseguiu filmar no edifício da ONU.

O filme é extremamente agradável e consegue ter bons momentos de suspense. A química entre os actores principais tanto existe como desaparece e as interpretações individuais não estão ao nível dos melhores trabalhos dos actores (principalmente Kidman que não consegue convencer-me de que é a mulher que interpreta). A realização é eficaz apesar de não gostar das constantes desfocagens dos actores e cenários, voluntárias ou não.

Mas é o argumento que deixa mais a desejar. O esqueleto da história não é mau mas a execução podia ter sido melhor. As críticas à ONU são inconsequentes e ainda mais o são quando a solução que o filme propõe à resolução das injustiças mundiais parece-me tirado dum programa radiofónico do Howard Stern, leia-se, vamos juntar os líderes das facções dum país ditador de África em Nova Iorque e vamos matar um e prender o outro. Toda a história da personagem de Kidman é feita de pequenas incongruências que vão percorrendo o seu caminho de forma forçada e esforçada assim como o plano maquiavélico que Penn tenta evitar é estranho demais mesmo num mundo pós 11 de Setembro. Depois há a pedagogia simplista da praxe, o estereotipo de África e a ridicularização de outras culturas (num filme supostamente tolerante e cosmopolita as cenas com o português são inaceitáveis).

Síntese da Opinião: Um filme agradável mas muito aquém do que eu esperava de Pollack.

sexta-feira, maio 13, 2005

(409) Álbum de Fotos: Fajã dos Padres (Madeira)

Uma Fajã é um terreno plano e de pequena extensão que se localiza à beira mar. É formado por materiais desprendidos da encosta. Esta fajã situa-se na costa sul da ilha da Madeira e, como na grande maioria destes fenómenos geológicos, é de difícil acesso. Chama-se dos Padres porque este terreno pertenceu, em tempos, aos Padres da Companhia de Jesus. Neste terreno plano encostado ao mar já se produziu o melhor vinho Malvazia da ilha. O micro clima desta zona também permite o cultivo de vários frutos exóticos.

O acesso pode ser feito de barco ou num elevador com 350 metros de altura (como podem ver na fotografia 1 e 3). Hoje em dia é um local com um excelente restaurante (na fotografia 2 a vista é do elevador e a fotografia 4 também permite visionar o restaurante) e é um local ideal para fazer pesca ou praia. Um pequeno paraíso na costa da Madeira. Clique nas fotografias para ampliar.











quinta-feira, maio 12, 2005

(408) A Esquerda Resignada e a Direita Refém

Confesso que tenho dificuldade em perceber porque é que toda a imprensa começa a dar por adquirido que Cavaco Silva é invencível, imbatível e intocável. E tenho ainda mais dificuldade em perceber porque é que a esquerda começa a se habituar a esta ideia e porque é que a direita não tem coragem de se libertar do desprezo que Cavaco lhes dita.

Afinal quem é este homem providencial que, qual Dom Sebastião, vai surgir das brumas da memória e “papar” qualquer homem que ouse concorrer contra ele?

É um político astuto. Não porque seja intuitivo como Mário Soares foi em tempos mas porque é frio e mecânico. Sabe e soube gerir duma forma metódica a sua imagem e o país. Em tempos resolveu fazer uma rodagem ao carro e conquistou o PSD. Acabou com o Bloco Central e tentou evitar que fosse Soares a assinar a adesão à actual União Europeia. Falhou mas pouco depois conquistou o país muito por culpa da divisão que o PRD criou na esquerda. Teve aí o seu melhor período governativo e surpreendeu o país com o seu Governo minoritário. Novamente com a ajuda do PRD conquistou a sua primeira maioria absoluta acabando de vez com o estigma da italianização do país. Governou num período dourado para qualquer governante. Com os fundos europeus que o seu antecessor tinha negociado e com o dinheiro das privatizações encheu o país de betão. O país parecia que tinha voltado ao espírito mercantilista, só existia a perspectiva puramente financeira da economia. Apesar das reformas tardarem e da fraca execução e fiscalização dos fundos de coesão (principalmente no que toca ao tecido empresarial) conseguiu trazer ordem às finanças de Portugal.

Em 1991 era reeleito e conquistava a sua segunda Maioria Absoluta. Mas este terceiro mandato foi uma das maiores oportunidades perdidas da história recente de Portugal. Até 1985 Portugal debatia-se com uma gravíssima crise financeira mas agora não havia justificação para, num ambiente de maioria absoluta e com mais margem financeira, não se ter feito quase nenhuma reforma na Saúde, na Justiça ou na Educação. A Administração Pública ganhou vícios e promoções automáticas que ainda hoje pagamos. Até 1995 Portugal começou a perceber que Cavaco geria tudo com arrogância e calculismo e começou a demarcar-se deste estilo de fazer política. A era Reagan e Tatcher tinha acabado e a política mudou mais depressa que o homem. Cavaco, no último mandato, estava acompanhado de ministros que desprestigiaram os lugares que ocuparam marcando o fim duma geração de políticos que conseguiu trazer o melhor que a sociedade civil tinha para a política.

Em 1995 sai com a sua imagem abalada e ainda tem tempo, num golpe de vil traição, abater Fernando Nogueira em vésperas de eleições. Em 1996 perde as presidenciais entalado com o bolo rei que nunca conseguiu mastigar e digerir. Nem a divulgação de que tinha sido campeão de torneios de matraquilhos e de que adorava desportos radicais o afastaram da imagem de político sem perfil para Presidente da República.

Agora eu pergunto: o que é que Cavaco Silva fez de 1995 até 2005 para merecer este título de imbatível? Eu, imodestamente, respondo: nada! Então porque é que Guterres foge, Vitorino esconde-se e o PS lança Alegre na Comunicação Social como o candidato ideal para ser queimado? Sinceramente não percebo mas avanço uma teoria. É porque Guterres, Durão e Santana passaram pelo poder. O país, depois de tanta leviandade na condução do seu destino quer de novo ordem e rigor. Só que terá sido Guterres pior que Cavaco? Os seus últimos mandatos foram igualmente desastrosos! E Durão terá sido muito diferente de Cavaco? Nem por isso já que os dois tiveram uma visão desadequada da economia porque qualquer gestor sabe que uma empresa gerida pelo seu tesoureiro nem cresce nem resolve os problemas. Já comparando com Santana tenho que concordar que Cavaco é bastante diferente e para melhor. Mas será que este é o melhor critério para termos um bom Presidente? Terá Cavaco perfil para Presidente? Eu acho que não! Andamos a perder tempo a criar mitos quando já conhecemos o homem e este não tem nada a ver com os mitos que se criaram.

Então porque é que há tanto medo deste homem? Porque é que a esquerda se recusa a combater este modo ultrapassado de fazer política? E porque é que a direita vive refém da vontade dum só homem? Eu sei que há melhores candidatos neste país e o meu apelo é para que avancem sem medo, vindos da esquerda ou da direita.

Eu, quando olho para Cavaco, vejo um homem sério e honesto. Vejo um homem que não brinca com o dinheiro dos outros como Santana brincava. Mas também vejo um homem ultrapassado, calculista e apagado. Mas todos parecem ter medo deste homem. Todos o veneram e receiam. Mas porquê? Alguém é capaz de me explicar?


Este post teve o patrocínio de:

Em 2005. É o regresso dos androides ao cinema. Agora só 25% homem e 75% máquina.



Invencíveis, imbatíveis e intocáveis! Ainda mais frios e mecânicos! Não perca numa sala de cinema perto de si!

quarta-feira, maio 11, 2005

(407) Álbum de Fotos: Pico do Arieiro (Madeira)

Não é o ponto mais alto da Madeira e muito menos do país (o ponto mais alto da Madeira é o Pico Ruivo) mas tem uma beleza indiscutível. Sempre que visito o Pico do Arieiro encontro uma paisagem diferente. Às vezes está com nevoeiro, outras com neve, outras com o campo de visão limpo e outras com as nuvens abaixo do ponto mais alto (como no caso destas fotos). Clique nas fotos se quiser ampliá-las.