Filho do 25 de Abril

A montanha pariu um rato - A coerência colocada à prova - A execução de Saddam Hussein - O Nosso Fado - "Dois perigos ameaçam incessantemente o mundo: a desordem e a ordem" Paul Valéry, "Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa, salvar a humanidade", Almada Negreiros - "A mim já não me resta a menor esperança... tudo se move ao compasso do que encerra a pança...", Frida Kahlo

segunda-feira, maio 31, 2004

(66) Xanana no seu melhor...

Depois do 25 de Abril em Portugal houve um perdão nacional para os colaboradores do Antigo Regime, o que permitiu uma certa pacificação da nação. Foi um passo importante para a estabilização do país, uma diferença qualitativa em relação ao Antigo Regime.

Mas nunca andou-se em Portugal a abraçar publicamente, na maior das intimidades, os protagonistas do anterior Regime. O que Xanana Gusmão fez na ilha de Bali, na Indonésia, ao General Wiranto não é comparável. Este militar é acusado de crimes de guerra, tem na sua consciência milhares de mortos e nunca, digo nunca!, facilitou uma transição pacífica. Xanana abraçou-o como abraçam-se velhos amigos, sorriu como quem está a dar o seu apoio. Repito, imperdoável!

Xanana Gusmão é uma figura estranha. Errante na pré-ocupação Indonésia onde foi uma força divisora em Timor, brutal enquanto guerrilheiro, exemplar enquanto prisioneiro e novamente errante enquanto Governante. Colaborar com a actual Indonésia é fundamental para o futuro de Timor, ser pactuante com os criminosos de guerra não é ser misericordioso, é violar a memória de quem deu a vida por um Timor livre! Boa Sorte para Timor-Leste, bem precisa!

domingo, maio 30, 2004

(65) Curiosidades para Memória Futura (6)

O Expresso de 29 de Maio tem uns artigos que, na minha humilde opinião, merecem um pronto comentário.

- “É fácil pagar em Portugal para pôr uma bomba”, Martin Kallen, responsável da UEFA no Euro 2004

A gravidade destas afirmações de Martin Kallen são evidentes. Já não bastava as “Zandinguices” de Durão Barroso no Congresso para alarmar os Portugueses com a ameaça do PCP para a segurança nacional, agora mais comentários impensados e inflamados. Segundo este responsável da UEFA é fácil encontrar pessoas corruptas em Portugal, apercebendo-se disso com os contactos que teve com as autoridades policiais. Se é verdade podia ter alertado o Governo de forma discreta para reforçar as medidas preventivas. Este alarmismo é inaceitável.

- “Rui Rio diz que há ‘governantes muito lentos’”

O Presidente da Câmara do Porto não gosta de chatear o Primeiro Ministro por causa dos problemas da cidade mas o Governo de Portugal assim o obriga. Segundo Rio alguns ministros são ‘incompetentes’ e ‘demoram demasiado tempo a resolver problemas’. Quando é o Vice-Presidente do PSD, partido que apoia o Governo, a afirmar isto que mais posso dizer? Apenas que Rui Rio gosta de Astronomia e de andar de bicicleta. Deve estar a pensar no filme E.T. onde a fuga em direcção às estrelas fazia-se numa bicicleta voadora. De quem andará Rio a fugir?

- “Brigada de Trânsito da GNR também vai para o Iraque”

Carros das autoridades americanas para a esquerda em direcção à prisão, carros dos civis em frente em direcção ao paraíso que é o Iraque pós-guerra, carros bomba para a direita em direcção aos edifícios que não estão ligados a empresas petrolíferas. Mais um desígnio nacional que Portugal vai desempenhar.

- “O que falhou no Rock in Rio?”

Muitas explicações são avançadas (o cartaz, os preços, a concorrência espanhola, o espaço, os exames, o tipo de música, a localização, falta de acampamento, o terrorismo, o EURO 2004) e eu avanço mais uma.

Talvez o facto de Lisboa não ser o Rio, e ninguém se ter lembrado disso. No nome, no tipo de artistas, na tradição. Já tinham pensado nesta?

sábado, maio 29, 2004

(64) Serviço de Utilidade Pública

Para todos os Republicanos (entenda-se do Partido Republicano Norte Americano) que andam por aí fica um aviso. Agora podem estar com as vossas almas gémeas sem o perigo de tropeçarem num Liberal (entenda-se do Partido Democrata Norte Americano). Se é Republicano e Solteiro (o puritanismo assim o exige) existe o serviço certo para torná-lo feliz. Afinal há esperança e só mesmo o Filho do 25 de Abril para vos ajudar. Sempre às ordens...

www.SingleRepublican.com
“Conservative American singles, are you frustrated with huge mainstream dating sites? Tired of sifting through thousands of profiles only to find liberals that don't really share your viewpoints on important issues? Well you've come to the right place!

We are dedicated to helping conservative American singles like yourself meet someone special. Join now and start meeting other conservative singles today!

"...Despite the liberals you've been dating, there is hope out there." - Rush Limbaugh”

sexta-feira, maio 28, 2004

(63) A Zona Cinzenta

Ainda na Pública de 23 de Maio mais um artigo (de Alexandre Lucas Coelho) que nos pôe a pensar. Os “media” e os países (mesmo os Europeus) esqueceram-se, de repente, do Afeganistão. Mas os recentes abusos da coligação no Iraque relançam o interesse no Afeganistão. Como os “media” têm tanto poder, não é? Conseguem focalizar a nossa atenção...

A Human Rights Watch (HRW) escreveu um relatório intitulado “Abusos das forças dos EUA no Afeganistão” referindo-se até na ocorrência de três mortes em circunstâncias estranhas. Este relatório foi enviado às autoridades americanas. Esta organização e a Amnistia Internacional denunciam uma “política sistemática” de maus tratos, abusos e tortura a prisioneiros no triângulo geográfico que começa no Afeganistão, passa por Guantanamo e acaba no Iraque.

Os prisioneiros não podem questionar os motivos da sua detenção e são, frequentemente, sujeitos a maus tratos ou tortura. Os relatos são chocantes. Insultos de cariz sexual, introdução de dedos e objectos no ânus... tudo acompanhado por fotografias e a ameaça da sua divulgação.

A revista americana “New Yorker” reforça a ideia dum padrão, definido pela Administração Americana. Fontes do Pentágono e da CIA referem que as “humilhações, particularmente as de cariz sexual, foram consideradas especialmente eficazes para lidar com o ‘espírito dos muçulmanos’, muito sensíveis à exposição destas matérias”. A “Zona Cinzenta” é, segundo o “New Yorker”, um campo de acção fora das leis internacionais, alegadamente justificado pela necessidade de ganhar a guerra contra o terrorismo.

Este “padrão” é motivo de prisão a quem a pratica ou facilita a sua execução, no meu entendimento. É utópica a minha exigência mas se eu já estava chocado com os acontecimentos em Guantanamo agora nem consigo exprimir o que sinto com esta alvalanche de relatos e fotografias. Volto a remeter ao post (50) deste blog para defender que talvez o verdadeiro perigo não seja o terrorismo mas sim o tipo (e sublinho tipo) de combate a este. Há formas de combate ao Terrorismo muito mais eficazes e que não poêm em causa os nossos valores, arduamente conquistados por várias gerações. Assim o terrorismo vai acabar com o nosso modo de vida, por culpa nossa...

quinta-feira, maio 27, 2004

(62) Parabéns Porto

O Futebol Clube do Porto é novamente Campeão Europeu! Parabéns! É uma prova do poder que a organização e o profissionalismo podem ter sobre a capacidade financeira! É também uma lição para outros sectores da Economia Portuguesa. Parabéns a todos os jogadores do clube, à equipa técnica e aos dirigentes. Destaco, de qualquer maneira, a capacidade organizativa de Pinto da Costa e o espírito de conquista de José Mourinho.

Sobre o jogo tenho poucos comentários a fazer! Cada adepto é um treinador de bancada e cada opinião vale o que vale. O jogo não foi brilhante, o Porto também não jogou de maneira brilhante e o resultado é excessivo. Mas a vitória é justa, a carreira do Porto foi brilhante e o resto a memória apagará mais depressa que os troféus e resultados. No jogo destaco o contributo do Pedro Mendes, do Carlos Alberto, do Ricardo Carvalho e do Alenitchev. Mas principalmente de Vítor Baia, decisivo no início do encontro e seguro durante o restante.

Parabéns, Porto! Fizeram-me um homem feliz durante uma noite e fizeram-me esquecer que vivo num país sem vontade de mudança e com aversão ao risco! Obrigado...

quarta-feira, maio 26, 2004

(61) “O Jornalismo Actual altera profundamente as Regras da Democracia”

A entrevista de João Almeida Santos à Pública de 23 de Maio de 2004 é impressionante e facilita-me a tarefa. Identifico-me com o ponto de vista fundamentado deste filósofo e basta-me transcrever algumas das ideias transmitidas.

João de Almeida Santos “estudou a maneira como os 'media' italianos colocaram Berlusconi no poder em 1994 e a forma como os 'media' em Portugal entraram em conflito com a votação que reelegeu Guterres em 1999”.

Os resultados eleitorais, recordo, foram de 44 por cento no PS, elegendo 115 dos 230 deputados à Assembleia da República, mais 34 deputados que o PSD (81). Estudados os comentários por parte de jornalistas nos jornais de referência, “65,3 por cento consideraram os resultados eleitorais negativos (...). No caso do Governo (...) consideraram o Governo mau: estamos ao nível dos 72,54 por cento!”. Os “comentadores se pronunciaram sobre um Governo que ainda não tinha tomado uma única medida: foi julgado antes de ter feito o que quer que fosse. Isto é ilegítimo!”. Continua, “Dizer 'eu já os conheço e são maus' é um preconceito. (...) os personagens em causa não são maus do ponto de vista democrático, uma vez que foram eleitos com uma larga maioria.”

A entrevista vai ao fundo da questão. “O poder dos 'media' tende a transformar os cidadãos em espectadores. (...) É o exemplo perfeito [o caso Berlusconi] da transformação da democracia representativa em democracia do público. Ele ganhou, em nove meses, as eleições. (...) Isto mostra que o poder dos 'media' é de tal ordem que pode modelar uma democracia à sua imagem e semelhança.”

Mas também tenho alguns aspectos negativos a comentar. As eleições são soberanas e não devem ser comparadas com sondagens nem devem ser branqueadas. Por mais que a informação seja manipulada, e é!, não podemos contestar os resultados eleitorais em Itália nem em qualquer outro país. Podemos é criar mecanismos para que não haja abusos nas campanhas eleitorais e no exercício do poder.

O fenómeno do futebol misturado com a política é bem exemplificativo e devo acrescentar vergonhoso da manipulação do cidadão. Depois dos cartões amarelos e vermelhos dos outdoors dos partidos verifiquei que agora já existe um cartaz com um cachecol erguido por uma mulher num estádio de futebol com a mensagem “Força Portugal”. Que campanha eleitoral é esta? Que mensagem está a passar? Em ano de “Apitos Dourados” onde futebol , política e empresas trocam “favores” não será um contra senso estas mensagens? E que dizer dos consecutivos painéis de comentadores desportivos (para não falar dos outros) que são sempre do mesmo partido. Fernando Seara, Pôncio Monteiro e Santana Lopes e mais recentemente Dias Ferreira e Guilherme Aguiar são de que partido?

A reflexão vai ter de ser séria. Respeitem os cidadãos, sejam sérios por favor! Mais uma machadada na Democracia! O Jornalismo cada vez informa menos e emite mais opiniões... que efeitos terá na Democracia? Comentem...

terça-feira, maio 25, 2004

(60) George W. Bush: Como é possível?

Que o Presidente dos Estados Unidos é um enorme acidente na Democracia Americana já não tenho dúvidas. Mais preocupante é como é possível haver este estilo de Governação numa Democracia onde os sistemas de auto-controlo são supostamente os melhores. E se o próximo presidente é ainda pior? Os lobbies são mais transparentes nos EUA mas têm uma influência cada vez mais descontrolada. O programa americano “60 Minutos” quase que dedica uma rubrica semanal aos lobbies e às suas influências na política interna e externa dos EUA.

Mas se Durão Barroso é perito nas suas “Zandinguices”, George W. Bush é um fenómeno! Deixo à vossa consideração “Bushices” que me divertem muito mas deixam-me alarmado.

- "I was a prisoner too, but for bad reasons." — To Argentine President Nestor Kirchner, on being told that all but one of the Argentine delegates to a summit meeting were imprisoned during the military dictatorship, Monterrey, Mexico, Jan. 13, 2004

- "See, free nations are peaceful nations. Free nations don't attack each other. Free nations don't develop weapons of mass destruction." — Milwaukee, Wis., Oct. 3, 2003

- "We had a good Cabinet meeting, talked about a lot of issues. Secretary of State and Defense brought us up to date about our desires to spread freedom and peace around the world." — Washington, D.C., Aug. 1, 2003

- "Neither in French nor in English nor in Mexican." — Declining to answer reporters' questions at the Summit of the Americas, Quebec City, Canada, April 21, 2001

Há muitas mais...

segunda-feira, maio 24, 2004

(59) E as “Zandinguices” continuaram...

Uma “Zandinguice” pode ser considerado no nosso léxico como uma patetice com dono, ou seja, é apanágio de uma pessoa em particular. O distinguido com este mérito é o nosso Primeiro Ministro, Durão Barroso, que começa a ser perito em patetices, “Zandinguices” neste caso. A origem deste denominação remonta a “palhacices” antigas quando Durão Barroso, com o Congresso na mão, chamou a Santana Lopes uma espécie de mistura entre Zandinga e um comentador desportivo.

Será possível que um Congresso tão desinteressante tenha produzido tantas “Zandinguices”? Começou com os Açores, passou por uma análise muito rigorosa da nossa história recente e acabou com declarações muito infelizes sobre as forças de segurança no EURO 2004.

Segundo Durão, se houver problemas de segurança no EURO 2004 responsabiliza directamente o Partido Comunista Português (PCP)! Só faltava afirmar que a segurança está de tanga. A primeira reacção do cidadão é que de facto algo pode correr mal ao nível da segurança, e que Durão culpa por antecipação o PCP. Depois até parece que a segurança não é da inteira responsabilidade do Governo, que é frágil demais para ser responsável e controlada. Até parece que, em situações críticas, não há a figura da Requisição Civil.

Depois não foi o PCP que, em plena campanha eleitoral e após a morte dum agente, prometeu em tempo recorde subsídios de risco e aumento dos salários. Bem sei que o que se promete não temos de cumprir (só não haver referendo ao aborto) mas enfim... Quero ainda sublinhar que as Greves são direitos democráticos que devem ser respeitados. Claro que também têm de ser exercidos com responsabilidade mas todos sabemos que a eficácia duma greve mede-se pela sua adesão e mediatização, logo é legítima se as suas reivindicações também o forem. Cabe ao Governo negociar e dissuadir com responsabilidade, não inflamar a situação.

Além de tudo convém relembrar a Durão outra regra simples de Democracia e Cidadania. Criticar o Governo não é criticar o país desde 1974. Relembro que após a aprovação de Portugal no pelotão da Moeda única, o deputado Durão questionava o Governo sobre a legitimidade do método utilizado (utilização das verbas das privatizações) e não se preocupava (e muito bem, na minha opinião porque regras são regras) se estava a criticar ou não o país. A Democracia não é só um conceito a defender, tem de ser reforçada na vida prática.

Tanto dramatismo, Durão! Até pareces uma mistura dum Zandinga com um comentador desportivo!

sábado, maio 22, 2004

(58) Congressos… o limiar da demagogia!

Que os partidos estão a perder credibilidade todos sabemos. Que os políticos têm a imagem nas ruas da amargura também não é uma novidade. Que o nosso primeiro ministro perde com frequência a noção do ridículo também temos vindo a constatar.

Confesso que não acompanhei com atenção a telenovela da família das laranjas desta vez nem muito menos ouvi o que o Santana “presidente do Sporting, autarca, comentador desportivo, ex/futuro/potencial candidato a Presidente, animador da Caras” Lopes disse de construtivo (couff, couff... engasguei-me...) desta vez.

Só tive dois pequenos contactos com este Congresso. O primeiro com a JSD Madeira que defende duas ideias interessantes, o voto antecipado para os estudantes e a rápida implementação do voto electrónico. Apesar de tudo (e sublinho o tudo) bons contributos ao combate à abstenção.

O outro contacto com o Congresso foi através da TSF onde ouvi as declarações proferidas por Durão Barroso acerca da (falta de) Democracia nos Açores. Em primeiro lugar não contesto nem confirmo o conteúdo das afirmações, apenas sei que as Autonomias tal como estão negociadas não favorecem a alternância. Não há o fundamental equilíbrio entre pontos de exaltação e desgaste dos Governos Regionais, puramente distribuídores de subsídios e empreitadas.

O que já me parece estranho é que tenha cabido ao Primeiro Ministro estas afirmações e não a outro membro do partido. Como promover relações institucionais de cooperação quando o cidadão Durão Barroso (já não é a primeira vez que defendo esta tese) despe a pele de Primeiro Ministro com tanta frequência, quando não pode esquecer que não pode fazê-lo, em nenhuma circunstância, por completo. Já com a Falagueira e Angola o cidadão Durão andou a deixar uma triste imagem do país.

Em segundo lugar não será descabido fazer essas acusações sem actuar ou comentar o caso madeirense? Este caso conheço bem e sei que não estamos perante uma Democracia exemplar e tenho sérias dúvidas que o caso Açoriano tenha contornos muito diferentes.

Mais um descontrolo do cidadão/militante/governante Durão, infeliz e demagógico em contexto de eleições regionais. Mais um discurso “à Zandinga”, lembram-se? Mais umas afirmações de mau gosto que podemos juntar aos discursos de reescrita da história. Lembram-se do deputado Durão afirmar que Pina Moura tinha criado o “monstro orçamental” depois do rigor de Sousa Franco, agora este já é o “pai do défice”, esse mal que nos está a matar a todos. A cura tem sido bem mais dramática que a doença. Já tinha feito a minha vénia à importância do PSD na Democracia Portuguesa (post n.º 37) mas esta distorção da História ultrapassa os limites da demagogia, mal que é transversal a todos os partidos. Haja paciência!

(57) Baboseiras e Mimos

A pergunta é obvia: porque raio um ser humano adulto suplica por Baboseiras e Mimos. Eu respondo: o que é que você tem a ver com isso! É pura inveja da sua parte criticar um homem adulto e racional por suplicar por uns miminhos.

Quem não gosta de sentir-se criança de novo levante o dedo! Os dedos que vejo levantados são os daqueles que são orgulhosos demais para admitir que ainda gostavam de brincar com carrinhos ou bonecas ou daqueles que já não conseguem ter acesso aos mimos e baboseiras de alguém que tenha amor por nós.

Eu confesso, não há nada melhor que sermos crianças de novo. Esquecermos as responsabilidades, as tristezas, as amarguras da vida. Lembrarmo-nos de novo do colo da mãe e do carinho do pai, dos paparicos das tias, das beijocas das avós, dos passeios do avô.... sei lá! A inocência da infância só pode ser sentida na idade adulta através dos mimos e baboseiras... porque não suplicar então?

Eu suplico, sim senhor! E reajo com violência a todos aqueles que destroem a inocência das crianças. Porque quem não dá valor aos carinhos são aqueles que não tiveram a infância que mereciam. Pena “máxima” ao trabalho infantil, aos pais ausentes, à exploração sexual infantil, enfim!, pena “implacável” a quem faz-nos ser adultos antes do tempo. A infância é a única época da nossa vida em que podemos ser felizes sem restrições!

sexta-feira, maio 21, 2004

(56) Páginas Soltas: O Pianista – Wladyslaw Szpilman

“Amanhã tenho de começar uma nova vida. Como consegui-lo, não tendo atrás de mim nada a não ser morte? Que energia vital podia extrair da morte?”

Já tinha adorado o filme porque conseguia apresentar um tema tão melindroso (Ocupação Nazi da Polónia) duma maneira tocante, mas sem sentimentalismos baratos. Descobri depois da leitura do livro que há, de facto, um retrato muito objectivo, sem dramatismos porque a própria situação dispensa exageros.

Quando reflectimos sobre a História do Homem não devemos esquecer que temos sempre algo a aprender, que não estamos a observar um fenómeno irrepetível e que nada temos a ver com ele. O homem já provou, ao longo da sua existência, que em determinados contextos é capaz de acções verdadeiramente bárbaras. Temos é de evitar que certos contextos se repitam e tentarmos melhorar como espécie.

Tenho de qualquer forma a lamentar que algumas lições importantes deste período estejam a ser esquecidas. A Xenofobia, a Intolerância Racial e o Anti-Semitismo parecem renascer na Europa. O Belicismo, o Imperialismo e a Intolerancia Cultural reinam nos EUA. O Fanatismo, o Terrorismo e a Intolerância Religiosa florescem no Médio Oriente. E ironicamente, em Israel, ressurgem as Campanhas de Terror, Desalojamento, Campos de Refugiados e Colonatos que fazem temer o pior. A situação actual não é comparável à da Segunda Guerra Mundial mas o que é bastante preocupante é a tendência.

Não posso deixar de aconselhar também o filme, realizado brilhantemente por Roman Polanski, e com uma interpretação assombrosa de Adrien Brody.

quinta-feira, maio 20, 2004

(55) O Lince Ibérico

A minha inteligência limitada não permite que eu alcance determinadas estratégias. Por exemplo, a relação do Animal Homem com a Mãe Natureza é algo inexplicável.

Como compreender que a Europa em geral, e Portugal em particular, tenha cada vez menos respeito pela Natureza mesmo em relação aos países dito sub-desenvolvidos. África, América Latina e Ásia têm neste momento, e apesar das dificuldades, programas ambiciosos de preservação da Natureza. A Europa e os EUA cada vez mais sobre-exploram os recursos e ignoram a ecologia (neste campo, mesmo assim, estamos um pouco melhores que os EUA).

Que tipo de desenvolvimento é este que vai levar, em tempo recorde, à extinção de milhares de espécies (animais e vegetais), à degradação da qualidade do ar e da água, à poluição sonora, à degradação da qualidade alimentar, à industrialização do crescimento dos animais!

Gosto de pensar no planeta Terra como um sítio maravilhoso, cheio de oportunidades e mistérios. Onde a bio diversidade dá um colorido ao mundo, aumenta a qualidade de vida e dá-nos uma sensação de equilíbrio como espécie. O mundo que todos estamos a construir é tecnologicamente aliciante mas não desenvolve-se em harmonia com a Natureza.

Deixo aqui um apelo nacional. Cuidem das nossas florestas, das nossas zonas verdes, em quantidade e diversidade! Promovam a qualidade ambiental e o turismo ecológico! E salvem uma das poucas espécies selvagens que Portugal ainda tem, o Lince Ibérico. Eu apelo à resolução rápida do problema, porque esperar mais pode ser fatal!

http://www.terravista.pt/Ancora/1458/
http://faunaiberica.org/especies.php3?esp=67
http://www.geocities.com/RainForest/7673/1017.html
http://www.salvalince.com/

quarta-feira, maio 19, 2004

(54) Decapitação

Acabei de ver o vídeo da decapitação do cidadão Americano morto no Iraque. Estou chocado, perplexo, sei lá! Não consigo atingir a utilidade de tal encenação de terror. Não cria nenhum tipo de empatia com as populações ocidentais, não passa nenhuma mensagem construtiva, apenas cria um sentido de maior urgência na mudança da situação.

Os fanatismos (ou extremismos) de qualquer espécie são indefensáveis. Os extremos voltaram à ordem do dia. Ou talvez estivessem sempre presentes. Talvez o Terrorismo apenas nos tenha lembrado que a violência estava espalhada pelo mundo.

Como será que uma pessoa que faz uma decapitação a sangue frio pensa? Eu não acredito na maldade no seu sentido mais puro. Há pessoas com vários níveis de cinzento, condicionadas geneticamente e pelo meio que as rodea. O processo de desinformação e deturpação da realidade que leva uma pessoa a cometer estas atrocidades tem de ser muito intenso, muito enraizado.

Compreendo aqueles que defendem que com estas pessoas é impossível negociar, estão perdidas do contexto do mundo para sempre. Mas isso não deve impedir que o foco da luta contra o Terrorismo seja evitar que surjam mais pessoas assim, o resto do combate é acessório. É um combate de longo prazo, geracional. A luta no aspecto militar é um acessório, não a batalha principal.

Vamos tentar salvar as gerações futuras porque senão corremos o risco de haver um efeito exponencial deste tipo de fenómenos. A ordem mundial do pós 2ª Guerra Mundial está obsoleta mas trouxe um conjunto de valores que não podem ser desprezados agora. Se o forem, seja em que situação, dará a vitória aqueles que já estão aquém da salvação. Talvez tenhamos todos de dar um passo atrás e promover um Desenvolvimento mais lento mas mais equilibrado para podermos deixar aos nossos filhos uma paz duradoura.

Moral da História: Parece uma fatalidade que todos os séculos, após um período de estabilidade, o homem tenha de repetir os erros do passado para voltar-se a lembrar de como atingiu essa estabilidade. A memória é mesmo curta... Mas por vezes das cinzas nascem sociedades mais justas. Quem viver, verá!

terça-feira, maio 18, 2004

(53) Concordata: Concórdia ou Discórdia?

Hoje assina-se uma nova versão da Concordata, documento que rege as relações entre o Estado Português e o Vaticano. A última revisão da Concordata deu-se após o 25 de Abril instituíndo o direito ao divórcio. O mote para a actual revisão dá-se com a aprovação da Lei de Liberdade Religiosa, elaborada por Vera Jardim em 2001. O objectivo era criar um documento que não seja contestado por bastante tempo.

O que mudou? Pergunta o curioso leitor! Não tanto como deveria, responde um defensor dum Estado Laico e do espírito da Lei de Liberdade Religiosa. A grande mudança é a obrigatoriedade do clero pagar impostos sobre o dinheiro recebido não só sobre o ensino e outros (como já estava instituído) mas também sobre os resultados do exercício do ministério de padre. Parece-me de difícil aplicação até porque já é prática corrente fugir a estes esquemas de tributação através da indevida apropriação de donativos dos fieis. Passo a explicar. Na altura do pagamento de impostos há padres ocupados a passar recibos de donativos para outros membros do clero como se tivessem sido deles os donativos e não dos fieis. Enfim, questões de fé...

Outra alteração é a possibilidade de destinar 0,5 por cento do IRS para a confissão da sua preferência. Por regular fica o estatuto da Universidade Católica.

Parece-me uma revisão muito cirúrgica mas, no global, também tem em atenção a vontade da maioria dos portugueses que não querem ver a Igreja Católica completamente banida de cerimónias oficiais. Fica por atingir um Estado verdadeiramente Laico, mas deu-se mais um (pequeníssimo) passo nesse sentido...

(52) DVDteca Ideal: Six Feet Under, First Season

“Six Feet Under” no original ou “Sete Palmos de Terra” em português é uma série de Televisão Norte-Americana (do excelente canal por cabo HBO) que acompanha a vida duma família ligada ao negócio da morte (Agência Funerária). Parece quase impossível, no panorama actual, fazer-se uma série com estes níveis de qualidade. Normalmente uma série tem, no máximo, uma ou duas personagens bem caracterizadas. Nesta série todas as personagens são credíveis, densas e imprevisíveis.

O tema central, a morte, é tratado com realismo e sem sentimentalismos gratuitos. Tudo isto é “cozinhado” com fantasia e actualidade q.b.. Posso afirmar, com segurança, que desta série saem personagens já com direito a se eternizarem na galeria das personagens históricas da Televisão.

Não acompanhava com regularidade a série na RTP2 (ou “a dois” ou “2:” ou “qualquer coisa com dois” se já mudaram outra vez). Nos dias de hoje o DVD permite acompanhar uma série de outra forma. Permite-nos ver e retomar ao nosso ritmo! Dá ainda outra percepção dos detalhes, pormenores e subtilezas das séries. Se a série fôr de baixa qualidade também revela com mais facilidade as suas fraquezas.

A Televisão está numa crise de ideias e qualidade! Tudo é demasiado mastigado sem espaço para a reflexão. “Six Feet Under” (juntamente com séries como “Sopranos” ou “24”) dá uma lufada de ar fresco a todos os que querem sentir ou pensar enquanto assistem à caixa mágica. Nós, como sempre, somos os responsáveis pelo grau de qualidade da programação que reflecte o nosso grau de exigência! Sejamos exigentes, por favor!

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segunda-feira, maio 17, 2004

(51) Educação, que futuro?

“Não se aprende, Senhor, na fantasia.
Sonhando, imaginando ou estudando.
Senão vendo, tratando e pelejando.”
Camões, Os Lusíadas, canto X, Estrofe 153

Hoje vou fazer umas reflexões sintéticas (como os blogs o exigem) sobre as Universidades e o Mercado de Trabalho.

Antes de mais um elogio aos professores que se dão ao trabalho de lutar contra o estado da Educação. E um forte desprezo a todos aqueles professores que, por preguiça ou falta de brio profissional, não se actualizam, não investigam, não interagem com a sociedade, têm preconceitos, são arrogantes, inacessíveis.

Muitos reflectem sobre o milagre económico da Irlanda. Ainda está por provar a sustentabilidade daquele modelo de crescimento económico. As políticas sociais estão ainda muito atrasadas, os indicadores económicos são instáveis mas, enfim!, há um rumo. O clima económico é bom, os impostos baixos, as infraestruturas estão ao serviço da indústria. Mas o grande segredo da Irlanda parece ser, sem dúvida, a sinergia que foi criada entre a Educação e as Empresas. É o mercado de trabalho que dita as necessidades, é o sistema de ensino que rapidamente se adequa.

É claro que a Educação não pode ser completamente direccionada para o mercado de trabalho porque há sempre teorias a estudar, novos rumos por explorar, novas ideias a considerar. Nem oito nem oitenta. Mas uma coisa parece certa, falta a ligação entre as Universidades e o mercado de trabalho, com raras excepções. Porque é que mesmo com o crescente número de advogados desempregados continua-se a formar tantos ou mais advogados por ano? Porque é que cada vez mais temos de recorrer a médicos estrangeiros?

Mais grave é a desadequação entre o que se aprende e a sua aplicação. Os programas da maioria das faculdades está desactualizado. Há professores (regentes, catedráticos) que não mudam o programa, o material de apoio, as sebentas e bibliografia desde que começaram a dar aulas. Quatro ou Cinco anos não serão um exagero para ter noções sobre conceitos e terminologias, sem qualquer componente de experimentação ou investigação?

Há muito a reflectir. Sobre as alternativas como a Formação Profissional, suas vantagens e defeitos, sua complementariedade. Há que avaliar melhor o perfil do professor e do ensino. Há que dar aos professores técnicas pedagógicas e meios de facilitação da aprendizagem. Há que reavaliar o papel do Estado e seu empenho no ensino de qualidade. Há que lutar contra preconceitos porque os professores não sabem lidar com a sociedade, com a pobreza, com a violência, com a doença. Enfim, é preciso reavaliar as prioridades, reconduzir o ensino à qualidade e ter em vista o mais importante, tornar as pessoas mais preparadas para os desafios da vida e suas constantes mudanças! O saber não é estático, é evolutivo!

domingo, maio 16, 2004

(50) O Verdadeiro Perigo

Hoje em dia está na moda falar no Terrorismo sempre que o assunto é o futuro. Em vez de se andar a combater as causas deste fenómeno anda-se a agravar os seus efeitos. Esta conclusão resulta dum raciocínio simples. Que o Terrorismo é capaz de matar milhares de pessoas como já o fez ninguém tem dúvidas. Que seja o responsável por um retrocesso civilizacional todos duvidávamos que fosse mas está a conseguir. Para o conseguir tem tido um aliado poderoso, as suas próprias vítimas.

De repende os Direitos Humanos são importantes mas menos que o combate ao Terrorismo. O Estado de Direito é essencial mas não tanto como o Terrorismo. As Instituições Internacionais são valiosas mas não podem atrapalhar a luta contra o Terrorismo. Que tremenda ironia... os efeitos do Terrorismo estão a ser bem maiores que os actos terroristas em si. Não me admira que um dia destes se descubra que foi revogado o Direito à Privacidade porque o Terrorismo a isso exige.

Pior... tudo é permitido a quem combate o Terrorismo. Pode estar a dar a machadada final à Ecologia, pode estar a misturar Lobbies e Decisões Políticas de forma distorcedora, pode torturar e matar, pode prender sem acusação.... mas não há problema, está a combater o Terrorismo! O combatente do Terrorismo é o herói, com todos os meios e com licença para matar (mistura de Capitão América com James Bond).

Esta inversão dos valores não termina aqui. Combate-se o Terrorismo sem diálogo. Por cada Terrorista morto ou capturado “cria-se” dois ou três potenciais terroristas para os anos que se avizinham. Ao fazerem-se guerras mal explicadas e sem respeitar o Estado de Direito e os Direitos Humanos (e todas as conquistas civilizacionais do pós II Guerra Mundial) está-se a criar um sentimento de revolta nas populações, viveiros para todos os fanáticos religiosos.

E as causas do Terrorimo? A Ignorância, a Pobreza, as Desigualdades de Oportunidades, a Inacessibilidade à Educação e Formação, a Demonização da Cultura, o Perpetuar das Humilhações! Que plano pós 11 de Setembro há para minimizar o Terrorismo? Que passos foram dados? Deixo as perguntas no ar e a menos que o objectivo seja criar milhares de quilómetros de muros já sei as respostas...

Os efeitos colaterais do Terrorismo estão a ser bem maiores que o problema em si. Só nos podemos queixar de nós!

(49) Parabéns, Benfica

O Futebol movimenta multidões e por vezes também políticos mas, no fundo, é uma festa. Hoje houve festa no Estádio do Jamor, cenário perfeito para confratenizações populares onde até o vinho tinto e as sardinhas marcam presença. O jogo foi disputado e competitivo, houve muita entrega. Ganhou o Benfica, perdeu o Porto... podia ter sido o contrário... mas houve o espectáculo do futebol.

Parabéns ao vencedor e a quase todos os jogadores. Só não dou os parabéns ao Fernando Aguiar e ao Nuno Valente, pelas agressões que praticaram. Parabéns também ao Porto pela personalidade demonstrada mesmo a jogar com dez jogadores. Agora deixo votos para que Portugal todo comemore dentro de dez dias a conquista da Liga dos Campeões. Seria bom para levantar a moral deste país sempre nostálgico.

Viva a festa do futebol, sem políticos à mistura! Viva as festas populares...

(48) Os Verdes

O nosso Primeiro Ministro, Durão Barroso, tem insistido com regularidade que o Partido Ecologista os Verdes (PEV) não tem legitimidade política. Durão defende que este partido nunca foi às urnas, é anti – democrático. Que só foi criado para duplicar as intervenções na Assembleia da República do Partido Comunista Português (PCP).

Caro Durão, as tuas recentes “impaciências” no hemiciclo são preocupantes, mostram sinais doutros tempos. Mas parcialmente concordo contigo, amigo Durão. Mas só parcialmente.

É claro que o PEV tem legitimidade política. Nunca foi sozinho às urnas mas está lá, coligado com outro partido. Os eleitores estão cientes disso e votam Coligação Democrática Unitária (CDU) e não PCP. Sobre este ponto estamos conversados sob pena de subverter a Democracia. O que torna um partido legítimo? Não é concerteza o artifício de concorrer a uma autarquia para poder depois dizer que é legítimo. O critério concorrer sozinho para ser legítimo não é digno dum democrata como tu claramente és, amigo Durão.

Há, porém, uma coisa que concordo contigo, amigo Durão. O que impede o PSD, por exemplo, de formar uma coligação de partidos onde cada partido é representado por um deputado. Teríamos aí o direito a dezenas de intervenções por coligação. Por exemplo, o Bloco de Esquerda (BE) é uma coligação de vários pequenos partidos que tinham legitimidade política e só um intervém de cada ronda, é uma questão de bom senso. Mas há um problema nessa lógica. Imaginemos que a coligação que governa Portugal (PSD/PP) tinha sido pré eleitoral e não pós eleitoral, retiraria o direito a falar de um dos partidos? Ou tinham de falar à vez?

Na prática o teu problema, Durão, é o tempo extra de intervenção na AR, parece-me um problema de regulamento da mesma. Não me parece um problema de legitimidade política. Parece-me possível resolvê-lo com bom senso porque senão vai criar problemas a todas as futuras coligações. O que não me parece certo é questionar a legitimidade do voto consciente da população porque, tenha ou não sido um artifício do PCP, este foi legitimado. Mesmo que tenha sido deliberadamente uma “batota”, teve luz verde do eleitorado. Concorde-se ou não pede-se é o bom senso de não haver multiplicações deste fenómeno sobre pena de alterar o Regulamento da AR e prejudicar todos, principalmente todas as coligações pré eleitorais.

sábado, maio 15, 2004

(47) Apostas...

“Encontrei o meu próprio eu. Mas ele nem me reconheceu.”

Que tipo de apostas devemos fazer ao longo da vida? E em quem? Naquelas pessoas que apostam em nós e naquelas pessoas que apostam nelas próprias. Não tem lógica gastar as nossa energias nas pessoas que não gastam as suas nelas próprias. É um desperdício de tempo e energia.

Não é fácil sentirmo-nos realizados, é um trabalho árduo construir uma vida que pelo menos pareça ter significado. Só o conseguimos se tivermos a ajuda de muitas pessoas. Para obter essa ajuda temos de merecê-la. Por isso temos de saber investir em nós próprios. Alguém que não saiba cuidar de si mesma está além do ponto de ajuda.

A vida é feita de conquistas, quase todas pessoais. Só conseguimos fazer conquistas sociais (até altruístas) se já nos tivermos conquistado. Só se formos responsáveis, se acreditarmos no nosso valor e se não desperdiçarmos as nossa oportunidades é que podemos ser úteis a terceiros. Doutro modo não podemos apostar em ninguém nem somos alvo das apostas alheias. Auto estima e auto responsabilização são o primeiro passo para a auto realização. Disse!

(46) Cinema Paradiso (2) – Kill Bill Volume 2, de Quentin Tarantino

Kill Bill, como filme, é inovador! Ou melhor, recupera de uma forma inovadora o espírito de outros filmes de outras épocas. Novamente Tarantino faz uma colagem de várias épocas, filmes e situações e apresenta uma obra original.

Só que Kill Bill Volume 2 não é um filme! É a segunda parte de um filme que teve um intervalo anomalamente longo. Nenhuma das partes, na minha opinião, sobrevive sozinha. E se retirássemos as quantidades de película utilizadas para colar as duas partes (re-montagem que também promete estragar o filme em DVD) o filme não seria assim tão longo. O filme merecia outro tratamento!

Este tipo de desonestidades intelectuais com o espectador pode matar o cinema. Eu não embarco mais nestas explorações do meu dinheiro. Aqui está um bom exemplo de como uma obra cinematográfica perde toda a sua magia. É um exemplo de mutilação. Merece vingança!

sexta-feira, maio 14, 2004

(45) Prisão Preventiva

Não tenho formação na área do Direito. Não deixo, porém, de ter interesse numa área que acho fundamental para o desenvolvimento do país, a área da Justiça. A Justiça apresenta actualmente demasiadas debilidades. É lenta e burocrática, tem falta de meios, as prisões estão sobrelotadas e sem capacidade de tentar reeducar os presos, enfim! Mas o que é mais preocupante é a prisão preventiva em Portugal, é escandalosa a violação constante dos Direitos Humanos com a excessiva utilização deste meio. Além da sua utilização ser excessiva, arrasta-se por meses infindáveis.

A prisão preventiva é uma medida excepcional! Só deve ser utilizada sob fortes índicios de perigo de fuga, de perturbação do inquérito ou perturbação da ordem e tranquilidade pública. Um suspeito ou arguido só deve ser preso preventivamente se houver um real, repito real!, perigo de provocar uma destas três situações. Não deve ser preso preventivamente se potencialmente poder provocar as situações, deve haver indícios muito fortes que o planeia fazer. Eu diria mesmo provas que o pretende fazer.

Mas mesmo que se opte pela prisão preventiva esta não se pode arrastar por demasiado tempo. Não pode estar à espera do começo ou finalização da investigação, da acusação e do julgamento por meses ou anos. Antes do veredicto de culpado ou inocente, independentemente da força dos indícios, não se pode manter presa uma pessoa por tempo alargado. Ou o Estado dá meios à Polícia e Tribunais para acelerar um processo para estar concluído em poucas semanas ou não tem o direito de castigar os suspeitos ou arguidos pela sua ineficácia. Também é válido este raciocínio para aqueles suspeitos e arguidos que, apesar de não estarem presos preventivamente, clamam e têm direito a uma justiça rápida.

É dramática a situação Portuguesa no que diz respeito à prisão preventiva, sem paralelo na Europa ou em Portugal ao longo do tempo. Esta situação é inaceitável e faz-nos desconfiar da Justiça como conceito. Que Justiça posso ter se, antes da sentença, posso estar 3 anos preso preventivamente? Em resumo, prisão preventiva em casos excepcionais e com fortes índicios de perigo para o processo e sempre por prazos curtos. Disse!

quinta-feira, maio 13, 2004

(44) O Filho do 25 de Abril, comentando os comentários (3)

Sobre o post 42, 13 de Maio: Religião (6), “Simão A.” escreveu:

“Enfim... com todo o respeito, tornaste-te o teu próprio deus! É pena que te veneres (que adores a própria condição humana divinizando-a)! Pensei que esta tua viajem espiritual acabasse de outra forma, lúcida e Verdadeira.”
Simão A. (TRIBUNO)

Simão, respeito imenso a tua opinião apesar das nossas diferenças de opinião serem maiores que as semelhanças. É isso que nos faz crescer, reflectir e muitas vezes apercebermo-nos das nossas falhas de raciocínio.

Posto isto, deixa-me contrariar alguns pontos da tua análise. Eu não me venero, o homem é apenas um grão de areia no Universo. Não é insignificante porque interage, mas é dono dum conhecimento limitado do funcionamento global das coisas. O que eu não acredito é nos conceitos (bastante úteis, confesso!) que usamos para ir criando os “deuses” ao longo da história. Ou é punitivo porque é preciso pôr as populações a obedecer, ou é omnipresente para controlar as fúrias domésticas, ou é misericordioso quando necessita de condicionar moralmente as pessoas. Não nego a existência de “deuses”, só não acredito nos “deuses” que fomos criando. Mas, repito, respeito imenso quem tem fé e a fé é incontestavelmente um factor de estabilização das sociedades.

Quanto à viagem não ser lúcida respeito a tua opinião. Quanto a não ser verdadeira, desculpa, é verdadeira para mim... não pretendo é que seja verdadeira para mais ninguém! É o resultado duma reflexão interior que só eu, em determindo contexto, tive! O saber evoluí e o meu certamente vai evoluir, só não digo a ninguém que está errado porque nenhum de nós possuí esse conhecimento!

(43) Sobre Fátima

Não tenho comentários a fazer em questões de fé, cada um acredita no que quiser acreditar. Mas neste dia (13 de Maio) quero deixar aqui umas anotações.

Em primeiro lugar sobre o conceito de Fátima. É um assunto pouco consensual mesmo entre os católicos porque a aura ameaçadora e punitiva que rodeia Fátima faz lembrar os primórdios da Religião Católica. Parece mais próximo do Deus do Velho Testamento, punitivo e vingativo, do que do Deus do Novo Testamento, tolerante e misericordioso. Mas quanto a isto não posso nem devo alongar-me nas reflexões porque nenhum de nós possui a verdade absoluta nem pode imaginar o sofrimento e desespero alheio.

Quanto às “lendas” criadas o caso torna-se mais caricato. As aparições, tenham existido ou não, ninguém pode provar que existiram ou que não existiram (como Agnóstico, relembro, faço uma negação relativa). O que me deixa sem comentários são os famosos segredos de Fátima, feitos à medida dum só Papa e que culminam na tarefa de sua vida, o derrube do Comunismo, a origem do mal. Enquanto isso a irmã Lúcia nada acrescenta (ou talvez nem possa) porque a clausura em que vive afasta-a do contraditório.

Só mais uma nota. Acabe-se de vez com o incitamento ao medo dos atentados. Exige-se que o Estado tome medidas preventivas mas os alvos são tão aleatórios que nós, cidadãos comuns, nada podemos fazer para estarmos sempre longe de todos os locais possíveis. Apesar disso os peregrinos mantem-se confiantes, é que Nossa Senhora não deixa que haja lá atentados. É válida a forma de pensamento mas não sei se é justo da parte dela que deixe acontecer noutros locais. Lá estou eu a meter o nariz em assuntos de fé... tenho de respeitar as crenças alheias, mas que somos muito crédulos.... lá isso somos...

P.S. Passar pelas provações que Fátima exige por questões de saúde é pouco consensual mas cabe no meu modesto entendimento! Agora fazê-lo (centenas de quilómetros a andar, mais andar de joelhos até fazer sangue) para que um clube de futebol ganhe um jogo já não me parece muito “normal”. Enfim!

(42) Religião (6)

Para terminar esta viagem espiritual que levou-me a um rótulo (sou Agnóstico!, já posso apresentar-me), nada melhor que outro Agnóstico que tem uma tese bem estruturada, para descrever as minhas crenças.

“As nações pereceram. Os deuses morreram. O trabalho e a riqueza estão perdidos, Os templos foram construídos em vão e todos aqueles que rezavam morreram sem resposta no ar negligente.

Então eu perguntei-me: Existe um poder sobrenatural — uma mente arbitrária — um Deus entronizado — uma vontade suprema que governa as marés e corrente do mundo — a quem se curvam todas as causas?

Não nego. Não sei – mas não creio. Eu creio que o natural é supremo — que da corrente infinita nenhum elo pode ser perdido ou quebrado — que não existe poder sobrenatural que possa responder a preces — nenhum poder que a adoração possa persuadir ou mudar — nenhum poder que se importe com o homem.

Acredito que com braços infinitos, a Natureza abraça tudo–que não existe interferência — nenhuma possibilidade de que por trás de cada evento estão as causas necessárias e incontáveis e que além de cada evento estarão e deverão estar os efeitos necessários e incontáveis.

O homem deve proteger-se. Ele não pode depender do sobrenatural — de um pai imaginário nos céus. Ele deve proteger-se descobrindo os factos na Natureza, desenvolvendo seu cérebro, para que ele possa superar os obstáculos e aproveitar as forças da Natureza.

Existe um Deus?

Eu não sei.

O homem é imortal?

Eu não sei.

Uma coisa eu sei, é que, nem a esperança, nem o medo, crença, nem negação pode mudar o facto. É o que é, e será como deve ser.

Aguardamos e temos esperança.

Quando fiquei convencido de que o Universo é natural — que todos os espíritos e deuses são mitos, entrou em meu cérebro, em minha alma, em cada gota de meu sangue o senso, o sentimento, a alegria da liberdade. As paredes de minha prisão desabaram, a masmorra foi inundada de luz e todas as fechaduras e barras e algemas tornaram-se pó. Eu não era mais um servo ou escravo. Não havia para mim mestre em todo o mundo — nem mesmo no espaço infinito. Eu estava livre — livre para pensar, para expressar meus pensamentos — livre para viver meu próprio ideal — livre para viver por mim mesmo e aqueles que eu amava — livre para usar minhas próprias faculdades, todos os meus sentidos — livre para abrir as asas da imaginação — livre para investigar, para adivinhar e sonhar e ter esperança — livre para julgar e determinar por mim mesmo — livre para rejeitar todos os credos ignorantes e cruéis, todos os livros "inspirados" que os selvagens tinham produzido, e todas as bárbaras lendas do passado — livre de papas e sacerdotes — livre dos "chamados" e dos "excluídos" — livre de erros santificados e santas mentiras — livre do medo do sofrimento eterno — livre dos monstros alados da noite — livre de demônios, espíritos e deuses. Pela primeira vez eu estava livre. Não existiam lugares proibidos em todos as áreas do pensamento — nenhum ar, nenhum espaço onde a fantasia não pudesse abrir suas asas pintadas — nenhuma corrente em meus membros — nenhum chicote em minhas costas — nenhum fogo em minha carne — nenhuma careta ou ameaça do mestre — ninguém seguindo os passos de outros — nenhuma necessidade de inclinar, ou adular ou rastejar, ou proferir palavras mentirosas. Eu estava livre. Eu permaneci erecto e sem medo, alegre, enfrentei todos os mundos.

E então meu coração foi invadido pela gratidão, pelo agradecimento e continuou apaixonado por todos os heróis, os pensadores que deram suas vidas pela liberdade da mão e do cérebro — pela liberdade de trabalho e de pensamento por aqueles que caíram nos aterradores campos de guerra, por aqueles que morreram em masmorras acorrentados — por aqueles que subiram orgulhosamente as escadas dos patíbulos — por aqueles cujos ossos foram esmagados, cuja carne foi rompida e rasgada — por aqueles consumidos pelo fogo — por todos os sábios, os bons, os corajosos de todas as terras, cujos pensamentos e feitos deram liberdades aos filhos do homem. E então eu jurei segurar a tocha que eles tinham carregado, e mantê-la no alto, esta luz ainda deve conquistar a escuridão.

Sejamos honestos connosco — honestos para com os factos que conhecemos, e vamos, acima de tudo, preservar a veracidade de nossas almas.

Se existirem deuses, não podemos ajudá-los, mas podemos ajudar nossos semelhantes. Não podemos amar o inconcebível, mas podemos amar a esposa, os filhos e os amigos.

Podemos ser tão honestos quanto somos ignorantes. Se formos, ao nos ser perguntado o que existe além do horizonte do conhecido, devemos dizer que não sabemos. Podemos contar a verdade, e podemos desfrutar da bendita liberdade que os corajosos conseguiram. Podemos destruir os monstros da superstição, as serpentes cissiantes da ignorância e do medo. Podemos expulsar de nossas mentes as coisas assustadoras que rasgam e ferem com bico e presa. Podemos civilizar nossos semelhantes. Podemos encher nossas vidas com feitos generosos, com palavras amorosas, com arte e música, e todos os êxtases do amor. Podemos inundar nossos anos com a luz do sol — com o divino clima da gentileza, e podemos drenar a última gota da taça dourada da alegria.”
http://www.str.com.br/Libertas/agnostico.htm

A viagem terminou mas só até fazer outra, porque quanto mais reflectimos e vivemos, mais dados acrescentamos à nossa maneira de pensar. Os rótulos mudam com o tempo, o homem evolui e as crenças adaptam-se às novas formas de sentir e pensar. Neste segundo, minuto, hora, dia, mês, ano sou Agnóstico, mas tudo pode mudar. Basta reflectir de novo!

Agora acabou mesmo, anormal! Pelo menos por hoje!

quarta-feira, maio 12, 2004

(41) Religião (5)

Agnóstico (Ateu na sua forma não militante) ou Ateu Militante? Nem sei o que diga... parece que a minha viagem levanta mais questões que respostas. Por um lado não me esforço em negar a existência de Deus (espero pelas provas, nem que sejam as abstractas que influenciam a mente e a percepção), por outro, também refuto a existência de um ser com estas características.

Acredito “que existe uma certa ordem no Universo (...) Que tem tudo isto a ver com Deus? Eis o grande mistério que nos acompanha durante a vida consciente e que se torna mais insistente e perturbante à medida que nos aproximamos do fim e do nada, de onde viemos... Deus como uma forma superior de energia ou Deus identificando-se com o Universo.” (Mário Soares, Presidente, Maria João Avillez). Há quem defenda que se o Universo é um complexo relógio que pressupõe necessariamente um relojoeiro. Só não sei se esse relojoeiro é consciente, ou se simplesmente toma a forma de regras e leis que criam a ordem Universal.

A Teologia procura explicar as causas iniciais, isto é, a criação do mundo e as causas finais, ou seja, a finalidade do mundo. Responde a estas questões com base em um “deus”. Já os Ateus renunciam esta explicação, rejeitam a solução teológica mas fazem as mesmas perguntas sobre as causas iniciais e finais. Augusto Comte afirmou que os Positivistas(1) não são Ateus porque não se ocupam da teologia, mas sim Emancipados(2). Há a especulação em torno dos temas teológicos, sem a solução da teologia, é a Metafísica, “domínio da filosofia que se ocupa do ser enquanto ser, isto é, dos princípios essenciais do ser e do conhecer”.

Caro leitor, até eu estou confuso! Não vou nem quero continuar a explorar definições que são cada vez mais complexas e contraditórias entre si. Eu não procuro activamente refutar a existência de Deus e muito menos procuro retirar do meu pensamento o raciocínio teológico. Por muito que não acredite em Deus também não tenho explicações “positivistas” para tudo, unicamente nada me foi provado. Sou Agnóstico! É uma negação relativa da existência de Deus, preciso de provas, mas estas não precisam de ser científicas pois a nossa percepção das provas podem ter um cariz espiritual ou teológico. Não descarto a Teologia na minha construção racional do sentido da vida! Sou Agnóstico!

Reflexões finais no próximo post de Religião. Continua...

(1)Positivismo - sistema filosófico de Augusto Comte, filósofo francês (1798-1857), que considera as questões metafísicas inacessíveis aos processos da inteligência, embora as admita, e defende que só é cognoscível o que a observação e a experiência podem verificar; tendência para encarar a vida unicamente pelo seu lado prático e útil.

(2)Emancipados - é quem libertou-se da tutela mental da teologia, é aquele que rejeita a concepção de “deus” e tudo quanto se lhe relacione. Todo positivista é emancipado; todo aquele que rejeita Deus também o é.

terça-feira, maio 11, 2004

(40) Religião (4)

Já comecei há algum tempo esta viagem espiritual à procura dos rótulos que devo dar às minhas convicções religiosas. Já cheguei a algumas conclusões nesta viagem que não tem fim a não ser o próprio fim.

Serei Laico? Uma vez que concluí que não sou Judeu, nem Cristão, nem Budista, nem Muçulmano devo ser Laico. Laico, segundo a entidade reguladora do conhecimento colectivo deste rectângulo e ilhas do planeta Terra, é alguém que não é religioso, que é leigo. Como sempre o esclarecimento é profundo mas, infelizmente, a minha mente não consegue processar e assimilar uma descrição tão pormenorizada. Uma coisa, porém, posso afirmar. Defendo um Estado Laico! Laico também no respeito à diferença, não Laico na expulsão desta diferença. Não confundir com a interpretação actual do Estado Francês que remete o laicismo à proibição da diferença religiosa. Ser um Estado Laico é tratar todas as religiões com igualdade, é deixar exprimir a diferença de convicções, é dar liberdade religiosa. Não é, definitivamente, proibir as manifestações de fé.

E Ateu? A Porto Editora, entidade que armazena todo o saber oficial, diz de sua justiça. É o indivíduo que nega a existência de qualquer divindade, incrédulo, céptico. Já Agnóstico é aquele que é partidário do Agnosticismo, “sistema filosófico segundo o qual o espírito humano ainda se encontra impossibilitado de alcançar, sobre certos fenómenos (por ex., a origem da vida), um conhecimento absoluto”. Não é inocente a sobreposição destes conceitos pois são de díficil distinção.

Ser-se Ateu é não acreditar na existência de um ser superior, num “deus”, num ser omnipotente, omnisciente, omnipresente, criador do universo e do ser humano. Um Ateu apenas acredita na sua (homem) existência, não na existência de um “deus”. principalmente com estas características.

A partir daqui o conceito adensa-se porque há duas formas de negação. A relativa, em que nega por falta de provas, porque, com base na observação, nunca demonstraram a existência da divindade. A absoluta, em que afirma a inexistência de um “deus” refutando os argumentos da sua existência e demonstrando pelo raciocínio a impossibilidade da sua existência. Há, nesta última negação, uma atitude activa, há um empenhamento em negar a existência de um “deus” enquanto que na primeira há um esperar de provas. Daqui vem uma distinção importante. A negação relativa pode chamar-se de Agnosticismo (é-se Agnóstico), a negação absoluta é-se Ateu (militante ou praticante).

A concluir, mas não concluído, mentecapto! É claro que continua...

segunda-feira, maio 10, 2004

(39) Mas...

VIOLÊNCIAS SOBRE PRESOS
“Há um documento português, posterior ao 25 de Abril, demasiado esquecido, que retrata uma realidade idêntica àquela que envolve alguns soldados americanos. Chama-se Relatório da Comissão de Averiguação de Violências Sobre Presos Sujeitos às Autoridades Militares, editado pela Imprensa Nacional em 1976. É hoje uma raridade bibliográfica. Algumas das sevícias cometidas são semelhantes àquelas que foram infligidas aos prisioneiros iraquianos, em particular, humilhações de tipo sexual. Nesses comportamentos destacou-se o Regimento de Polícia Militar então dirigido, entre outros, pelo Major Tomé, posteriormente dirigente da UDP.”
José Pacheco Pereira (JPP) http://abrupto.blogspot.com/

E... qual é a conclusão? É condenável mas... não se esqueçam que... aqueles também... não é novidade...

O texto é aqui reproduzido integralmente, sem cortes. Se não era para concluir nada, tudo bem! Apeteceu-te escrever, também a mim apetece-me de vez em quando. Se havia qualquer outra mensagem a passar que não houve coragem em torná-la explícita, tudo bem também, às vezes também falta-me a coragem de chamar os bois pelo nome.

JPP, gostas de bradar aos céus a tua falta de sectarismo, a tua abertura ao politicamente incorrecto. Mas...

(38) Cidades Invisíveis: Barcelona

Mais cedo ou mais tarde era inevitável viajar a Barcelona, à Barcelona das minhas vivências, à Barcelona que eu tanto amo. Não considero-me um homem viajado porque um homem nunca viaja demais mas tive a sorte de conhecer Barcelona. Não digo que seja a mais bela das cidades (apesar de ser!) mas, ao contrário de outras cidades que já visitei, tem a particularidade de me ter seduzido ao ponto de quase me ter enredado nas suas teias de sedução.

Mas, afinal, qual é a Barcelona (sim, porque cada cidade é diferente para cada pessoa a cada momento do tempo) que me encantou? Não foi só a pujança cultural, o Gaudi, o Dali, o Picasso ou o Miró. Não foi só a harmonia entre o velho e o novo, o antigo e o moderno. Não foi só a qualidade de vida e o planeamento urbano. Foram também as pessoas, orgulhosas e abertas, dispostas a viver e a deixar viver. É a cidade cosmopolita por natureza, uma mistura de raças, religiões e nacionalidades expressas na língua, o catalão.

Nem tudo são rosas mas tudo é vivido com a dimensão que a cidade merece. Mas Barcelona está rodeada de beleza, toda a Costa Brava pulsa de qualidade de vida, de beleza. Girona, Montserrat, Figueres, enfim! É tudo tão bonito, oferecido com o profissionalismo que os Espanhóis nos habituaram. Mas também é uma cidade que se vende cara como se soubesse que era, de facto, irresistível.

Curioso é que esta cidade ganhou toda esta personalidade muito recentemente. Reconstruída após a Guerra Civil com rigor e visão, foi-se adaptando aos tempos com indiscritível pujança. Há ainda muito por dizer e descrever mas, com certeza, haverá tempo para voltar a falar desta cidade gótica. Entretanto recomendo o Estado a oferecer viagens aos seus autarcas, empresários, artistas e cidadãos, a esta cidade, porque é um exemplo do que se deve fazer. No meio de tanta beleza estudada e organizada, podemos de facto descobrir como é possível sermos felizes! Disse!

(37) E mais um Domingo passou à história

Um Domingo como qualquer outro! Em Grozni um atentado sangrento, no Iraque tudo na mesma, o Futebol Clube do Porto festejou mais uma vitória (ganhando mais um campeonato)... tudo na mesma, enfim...

No sempre interessante mas cada vez mais sectário programa Outras Conversas, de Maria João Avillez (MJA) comemorou-se o trigésimo aniversário do PSD, que está de parabéns e destaca-se como um partido estruturante da nossa Democracia. Os convidados foram Francisco Pinto Balsemão (FPB) e José Pacheco Pereira (JPP).

FPB foi, na minha opinião, mais consistente no seu balanço dos 30 anos deste partido. Explicou as difíceis de explicar linhas ideológicas do PPD/PSD, descreveu a sua criação e ainda deixou umas notas interessantes para o futuro. Explorou a diferença entre a esquerda e a direita retirando-lhe actualidade e sublinhando que as diferenças actuais centram-se mais entre os conservadores e os progressistas .

Já JPP foi mais polémico como sempre. Define o PSD como o único partido reformador de Portugal, o que discordo absolutamente apesar de concordar que tem feito reformas importantes em Portugal. Quando tentou descrever o PSD ficou-se por partido que defende a modernidade o que, na prática todos (ou quase todos) defendem, e que não é um partido de direita. Acrescentou que o PSD é um partido que se define como europeísta (que novidade... e ainda bem!) e que promove os “self made men”. Diz que o PSD fala para os “self made men” mas com um discurso desadequado aos “self made men” actuais.... enfim!

JPP criticou ainda as Juventudes Partidárias (concordo parcialmente) explicando que hoje são só circuitos de compadrios e cumplicidades e não um treino para a política tal como ela devia ser feita. Afirma ainda que as campanhas eleitorais só servem para mandar mensagens internas, não têm eco na sociedade. Mas uma coisa concordo inteiramente, a coligação Força Portugal não é natural, é mesmo contraditória! As posições europeias dos dois partidos são diametralmente opostas.

Interessantes foram também as análises ao futuro do PSD e do PP pós-coligação. Vão ser tempos interessantes, sem dúvida!

Sobre o Portugal moderno ou progressista esse não é exclusivo do PSD. Há, obviamente, áreas dentro dos próprios partidos mais conservadoras e outras mais progressistas. De qualquer maneira parabéns ao PSD e a Pinto Balsemão pela (R)Evolução que fez na Comunicação Social (Expresso, SIC, a Generalista, a Notícias e a Radical). Quanto ao Portugal das mentalidades a erradicar destaco o Rio Ave, cuja classificação permitia o acesso à Taça UEFA mas que o clube “esqueceu-se” de fazer a inscrição. Quanto ao Portugal moderno as técnicas de trabalho e a ambição de José Mourinho, homem de discursos polémicos e nem sempre enobrecedores, mas que sem dúvida representa o homem moderno (conhecedor do que faz, ambicioso, eficaz, mobilizador, corajoso, que gosta do risco).

Parabéns, PSD! Parabéns, Mourinho! Façam deste país um país progressista e moderno!

domingo, maio 09, 2004

09 de Maio de 2004 (36) – Histórias da 9ª arte: V for Vendetta, de Alan Moore e David Lloyd

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Há várias maneiras de contar uma história. As possibilidades são inúmeras. A Banda Desenhada é uma delas, não deve ser menosprezada. Não é como um livro que incentiva a nossa imaginação, não é como um filme que tem infinitas hipóteses visuais, enfim!, não é comparável. É uma maneira diferente de contar uma história, que pode ter um pouco do mundo dos livros e um pouco do mundo do cinema, polvilhado pela sua personalidade própria. É a 9ª arte.

(Re)Li o álbum de BD (será assim?!?) “V for Vendetta”, na sua versão original em inglês como convém (quando possível) para qualquer filme, livro ou BD. O álbum é simplesmente magnífico e não posso deixar de recomendar a sua compra. Alan Moore é dos melhores escritores de BD adulta da actualidade (From Hell, WatchMen, League of Extraordinary Men, entre muitos outros) e David Lloyd é perfeito para descrever esta Inglaterra fascista. O álbum é uma mistura de George Orwell com livros sobre o Holocausto, é a guerra final entre o Fascismo e a Anarquia. Recomendo a compra em lojas especializadas (conheço em Lisboa e no Porto) ou na Internet (por exemplo, no http://www.forbiddenplanetstore.com/).

“A frightening and powerful story of the loss of freedom and identity in a totalitarian world. V for Vendetta is the chronicle of a world of despair and oppressive tyranny. England Prevails.”

Esqueçam os preconceitos e arrisquem, vale a pena!

09 de Maio de 2004 (35) – Grão de Areia no Universo: Ayrton Senna

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Bem sei que não foi hoje que fez 10 anos sobre a morte do Brasileiro mas para falar sobre Ayrton Senna qualquer dia do ano é bom. Quando as pessoas morrem não são elas que sobrevivem na mente das pessoas. O que sobrevive é a lenda, o ícone, o que representava, enfim!, nada mais do que uma caricatura.

Aqui vai a minha caricatura, a minha opinião do ícone, da lenda. Eu vibrei incontáveis fins de semana com Ayrton Senna, eu via todos os seus treinos, corridas, entrevistas, curiosidades. A minha caricatura é, portanto, em primeira mão, não uma versão filtrada por outra(s) pessoa(s).

O que é que eu gostava no Senna? Nem sei bem se a audácia, a ambição, o talento, sinceramente não sei! Senna era magnético, atraía o público porque era cativante dentro e fora das pistas. Na pista todo o momento era um bom momento para desafiar os limites, fora da pista tinha aquela personalidade de “menino rebelde”. Era obcecado pelo risco, desafiava os limites da física!

Representou tudo o que eu gostava de ver na Fórmula 1, quando morreu, levou toda a beleza da modalidade com ele. Alain Prost era o reverso da moeda, frio, calculista, táctico. Os seus combates são lendários, a emoção era intensa, desafiavam-se mutuamente e cresceram com isso. Quanto a mim Senna era melhor que Prost, a sua velocidade batia a eficácia europeia de Prost. Se tivesse vivido mais concerteza teria sido o piloto com melhor palmarés da história da competição. Apesar de tudo, Senna nem sempre escolhia tão bem os construtores de carros como Prost mas, mesmo assim, só deixava de lutar quando vencia, porque quando perdia só estava a adiar a vitória.

Ficaria para toda a eternidade a falar de Senna, mas para quê? Para toda a eternidade já está no meu pensamento, por tudo aquilo que representava. A Fórmula 1 perdeu chama, perdeu a magia Sul-Americana. Barrichelo é submisso, Montoya é impulsivo mas não tão completo como piloto. Já Schumacher minou a emoção com a sua frieza alemã, apesar de ser um piloto excepcional. A Idade Média da F1 dura há já demasiado tempo, Senna devia ser a inspiração para tudo voltar a mudar.

Senna, deixaste saudades, marcaste a minha vida, chocaste-me com a tua morte! Que sejas um exemplo para o Mundo mas principalmente para o teu Brasil. O teu Brasil resignou-se, assim como o Barrichelo, e precisa da tua ambição e força de vontade para conquistar de novo o Mundo. Até um dia destes, campeão!

sábado, maio 08, 2004

08 de Maio de 2004 (34) – Curiosidades para Memória Futura (5)

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“Bush considera pouco realista criação de Estado palestiniano até 2005” – Já tínhamos reparado, sr. Bush! Mas obrigado pelo aviso e pelo contributo que deu para que não houvesse precipitações. A pressa é inimiga da perfeição, não é, sr. Bush?

“Tortura de prisioneiros iraquianos: Rumsfeld assume responsabilidade e pede desculpas” – Pelo menos os Europeus estão a comportar-se melhor!

“Cruz Vermelha preocupada com detidos iraquianos sob controlo britânico” – Retiro tudo o que disse! Pelo menos tirando estes dois conflitos o Mundo está mais seguro!

“Paquistão: explosão numa mesquita xiita faz dez mortos” ; “Fronteira israelo-libanesa palco de novos confrontos” – Ou então não!

“Ministério da Defesa desvaloriza "boleia" a dirigentes do CDS em helicóptero da Força Aérea” – De facto, perante os acontecimentos no Mundo tenho de dar-te razão, Paulo. Da próxima já podes dar boleia de submarino.

08 de Maio de 2004 (33) – E se o céu é o limite?

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A cidade cresceu, cresceu em direcção ao céu. Nos níveis inferiores concentram-se aqueles que têm tudo para alcançar. Longe do nível do solo, perto do céu, vivem aqueles que tudo conquistaram.

Os pobres tentam alcançar os ricos, procuram as alturas para poderem voar. Os ricos cospem para baixo indiferentes de quem lá habita. Quem não vê, também não sente.

Para afortunados ou desamparados, o limite do desejo é o limite da imaginação. A força de viver é a vontade de ter mais, cada vez mais.

O rico, nostálgico, nada mais tem para alcançar. Domina o conhecimento, matou a curiosidade, já atingiu o céu. O pobre, motivado, tenta melhorar a sua vida, procura a altura que nunca alcançou, tem muitos degraus para subir.

O poderoso deixou de ter objectivos, nada mais há a atingir. Se é rico só pode ser pobre, se é poderoso só pode ser fraco, se alcançou o céu só pode cair. A escalada terminou, o homem morreu. O desafortunado caminha contente na esperança de um dia voar, a esperança invade o seu coração porque se é doente pode ser saudável, se é pobre pode ser rico, se é desamparado pode ficar protegido.

O homem, rico ou pobre, forte ou fraco, desamparado ou protegido, tenta alcançar a perfeição, procura o conhecimento completo, é ambicioso. Uma vez alcançada a perfeição a ambição morre, o espírito murcha, a vida deixa de ter sentido. Felizes os pobres de espírito, a eles pertence o reino dos céus.

sexta-feira, maio 07, 2004

07 de Maio de 2004 (32) – O Filho do 25 de Abril, comentando os comentários (2)

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Sobre o post 29, 6 de Maio: Será verdade?, “X / F” escreveu:

“Não há problema Ricardo: certamente haverá um país a jeito (tipo Irão, Arábia Saudita, ou outro) para invadir e deitar as culpas para as consequências do aquecimento planetário. E se o teu sonho acontecer mesmo haverá o Exorcista VIII ou XI para tratar do problema. Há que ter esperança ...”

Não confundir, por favor, ficção com realidade. Quanta ingenuidade X / F, os EUA não se regem por mesquinhos interesses económicos... Disse!

07 de Maio de 2004 (31) – Curiosidades para Memória Futura (4)

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“O ministro de Estado e da Defesa Nacional, Paulo Portas, depois de inaugurar um memorial em homenagem a dois ex-combatentes, deu boleia, em helicóptero da Força Aérea, entre as ilhas do Corvo e Terceira, a dirigentes do CDS/PP para participarem num jantar-comício realizado em Angra.”
www.publico.pt

Eu gosto bastante de ouvir as notícias na EuroNews, apesar da informação sobre a Europa ter de ser filtrada para enquadramentos menos eufóricos. Este canal noticioso tem uma rubrica que utilizo aqui com muito gosto, “No Comments”.

07 de Maio de 2004 (30) – Estados de Alma

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O que é um estado de Alma? É uma expressão cada vez mais banalizada, utilizada sempre que um sentimento toma conta de nós por algum tempo. Se estamos tristes e não conseguimos ficar felizes, é um Estado de Alma, se estamos felizes e nada nos pôe tristes, é um Estado de Alma.

Não me parece que este conceito tenha uma utilidade religiosa, mas tem concerteza uma origem nos ensinamentos religiosos. Isto porque a nossa alma é, para quem acredita, a nossa essência. Eu chamo a minha essência de outra coisa, mas isso não é para aqui chamado nem é algo que se deva divulgar num Blog. Se a alma (ou a essência ou seja lá o que fôr) estiver possuída por um estado qualquer, daqueles que penetram profundamente em qualquer alma, de lá não sai facilmente. É dos manuais.

Se, por outro lado, nós damos um sorriso ao ver alguém tropeçar ou ficamos tristes quando alguém consegue ser melhor que nós, isso não é um Estado de Alma, é uma mera Manifestação da Alma, a avisarmo-nos que também podemos ter sentimentos fugazes.

Mas ao entrarmos num Estado de Alma não quer dizer que de lá nunca mais vamos sair. Podemos passar para outro Estado de Alma, acumular Estados de Alma, passar por períodos prolongados de ausência de Estados de Alma, enfim! O que é perigoso é não ter Estados de Alma, ou não conseguirmos sair dum.

Neste momento passo por uma Manifestação de Alma por ter escrito estas palavras mas rapidamente vou passar para outro também por ter escrito estas palavras. É tudo tão ilusório que o meu Estado de Alma é de eterna desconfiança e curiosidade em relação ao mundo! Mas a desconfiança pode-se “Manifestar” de várias maneiras. Perceberam? Não! Também não era esse o objectivo.

quinta-feira, maio 06, 2004

06 de Maio de 2004 (29) – Será verdade?

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É o fim do mundo
No próximo mês estreia “The Day After Tomorrow”, um filme de Roland Emmerich (autor de “Independence Day”) sobre as potenciais consequências catastróficas da aceleração do aquecimento global. O filme é um “blockbuster” com grandes efeitos especiais, e não tem pretensões políticas nem cientificas.

Mas a Administração Bush leva o filme a sério. A actual equipa na Casa Branca considera as preocupações sobre aquecimento global exageros alarmistas, e tem-se recusado a assinar tratados internacionais de redução de emissões poluentes. Por isso, a Administração proibiu os funcionários de agências federais de comentar o filme, receando que “The Day After Tomorrow” possa servir de pretexto para críticas às políticas ambientais de George W. Bush.”
posted by Pedro Ribeiro
http://presidenciaiseua.blogspot.com/

Quero fazer um breve comentário sobre este post publicado no sítio acima referido. Está feito! Devo ainda acrescentar que, se o filme já promete ser memorável e inesquecível, a discussão em torno do filme promete ter uma maior elevação. Às vezes apanho-me a sonhar com uma onda gigantesca que varra certas partes do Globo. Vou realizar um sonho quando o filme estrear. Ou então não! Porque a realização do sonho implica o visionamento de duas horas de heroísmo do homem comum americano! Não sei se sou capaz. Disse!

quarta-feira, maio 05, 2004

05 de Maio de 2004 (28) – Roteiro de Paz: que futuro?

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Houve uma opção diplomática arriscada da administração norte-americana relativamente a Sharon. Deram-lhe cobertura política para que este alcançasse um acordo de paz sem fazer muitas concessões. Ironicamente foi o próprio Likud que se recusou a apoiar Sharon.

Esta recusa é um verdadeiro terramoto diplomático de consequências imprevisiveis. O “Roteiro de Paz” era já um nado morto, agora está completamente descredibilizado. O que torna a situação ainda mais caricata é que os EUA desgastaram ainda mais a sua imagem na Europa e no Médio Oriente, sem qualquer tipo de retorno. Os próprios americanos sentem-se traídos.

O acordo até era interessante para Israel, como qualquer acordo feito unilateralmente apoiado pelos EUA. Os Palestinianos dificilmente aceitariam este acordo, mas perderiam parte da solidariedade internacional se não o fizessem. O acordo permitia a manutenção de alguns Colonatos na CisJordânia e retirava aos Palestinianos o direito a retornarem aos territórios perdidos durante a guerra da independência de Israel. O Likud está inflexível. A paz está ainda mais longe.

Até Tony Blair demarca-se da política de Sharon e de Bush, que ironia do destino! Agora, tudo está mais difícil. As boas notícias é que também está mais difícil para Ariel Sharon o que pode ser um raio de esperança. Resta saber se a esquerda Israelita, quando retornar ao poder, tem mão para conter as vozes extremadas de alguns grupos Israelitas. Até a Europa está à deriva neste conflito, onde todos têm razão e onde ninguém tem razão. A resolução deste conflito é vital para todo, e repito todo!, o Mundo.

terça-feira, maio 04, 2004

04 de Maio de 2004 (27) – Anarquia: Desmistificar o conceito

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Quando ouvimos a palavra Anarquia o medo instala-se, o caos está próximo, é o princípio da desordem. Não, somos apenas ignorantes e não sabemos o verdadeiro significado das palavras. Vamos todos aprender.

A Porto Editora, na sua sabedoria infinita e já muito gabada aqui, define Anarquia como uma concepção política que exclui todo o direito de coerção sobre o indivíduo, é a negação do princípio da autoridade. Pois bem, faço destas palavras minhas mas acrescento qualquer coisinha, se me é permitido. Anarquia não é a ausência de ordem, é a ausência de líderes!

Anarquia não é mais do que um estado de ordem voluntário já que a ordem involuntária cria insatisfação, é a mãe de todas as desordens. Portanto não é caos, é o contrário do Fascismo onde o culto ao chefe é o cerne do regime. Daqui para a frente, sempre que uma catástrofe natural acontecer, ou que a juventude vote no Bloco de Esquerda, ou que o Paulo Portas torne-se ministro, não chamar a isso uma Anarquia, mas sim uma perplexidade! Mas quando houver um vazio de poder, um Presidente pouco ouvido ou actuante (qualquer semelhança com qualquer realidade é a mais pura das coincidências) aí sim podemos dizer que há um cheiro de Anarquia no ar, uma ausência de líderes.

Mas também há um aforismo (procurar na entidade, a Porto-Editora) antigo que diz que quanto mais aguda e intransigentemente formulamos uma tese tanto mais irresistívelmente ela clama pela sua antítese. É o seu trabalho, não o meu.

segunda-feira, maio 03, 2004

03 de Maio de 2004 (26) – A Confiança na Política, a Desconfiança na Sociedade

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Os partidos estão obsoletos, porque já não representam eficazmente os cidadãos. Mas continuam a satisfazer minorias sedentas de cargos, poder , dinheiro e influência. Os apoios alcançados na ascenção política dum líder partidário são negociados ao pormenor e cobrados logo que este alcança os seus objectivos políticos. Sem favores não há ascenção mas, uma vez lá, a cobrança por essa ascensão é o príncipio do declínio do político.

Sou favorável à existência de cargos políticos, de confiança política! A carga ideológica dum Governo deve reflectir-se nos cargos de coordenação da política geral. Mas estes cargos são específicos, são limitados, não devem generalizar-se. Mais importante, devem estar vinculado ao próprio Governo, isto é, não devem ser sujeitos a indemnizações ou acumulações de cargos altamente prejudiciais ao país, quando o Governo cessa funções.

Os restantes cargos devem ser sujeitos a critérios rigorosos de avaliação uma vez que, definido o rumo, é preciso levá-lo à prática com competência. Os cargos meramente executivos, mesmo que tenham imensa importância para a empresa, devem ser entregues aos técnicos, não aos políticos. Haverá ainda credibilidade na política para explicar estas ideias aos cidadãos e aos militantes dos partidos? Não me parece. Revolução nos partidos, já! Disse e não repito, para bom entendedor meia palavra basta!

03 de Maio de 2004 (25) – O Filho do 25 de Abril, comentando os comentários

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Sobre o post 22, 1 de Maio: Dupla Comemoração, “O Raio” escreveu:

“Acho uma certa piada a estes raciocínios de "europeistas convictos".
A Turquia não respeita os direitos humanos mas os dez que entraram respeitam?
Como é? É respeitar os direitos humanos manter entre 30 a 40% da população como não cidadãos como fazem os países bálticos?”
http://cabalas.blogspot.com

Os meus raciocínios reflectem opiniões, como os teus que eu respeito. Sou o primeiro a afirmar que o alargamento foi feito cedo demais, mas vai ser um factor de estabilidade para a região. O problema da Estónia, Letónia e Lituânia é, sem dúvida (e nisso tens razão), a integração dos vários grupos étnicos. Mas a União Europeia e estes países perceberam que só a entrada na União condiciona a influência nefasta da Rússia nas tensões sociais uma vez que este país estava a tentar recuperar o domínio nestes países. Ainda a favor do alargamento a estes países, as reformas rápidas e “obedientes” que têm processado no sentido da economia de mercado, assim como a abertura do mercado à UE, já o principal parceiro comercial dos países bálticos. Quanto à Turquia a questão é muito mais complexa porque envolve mentalidades e religião, é um processo difícil. Disse!

Sobre o post 23, 2 de Maio: O Tempo, Simão escreveu:

“Caro Ricardo:
Sobre o TEMPO quero apenas dizer-te o seguinte (segundo o que penso e a minha Fé): ele não existe em si e por si porque é somente a unidade de medida da mutabilidade das coisas, mutabilidade essa que prova a existencia de Deus, ou melhor para sermos rigorosos na linguagem, que Deus É, senão vejamos.
A natureza carcteriza-se pela sucessão dos acontecimentos: tudo tem uma causa, e tudo por sua vez se torna causa de uma outra consequencia, que por sua vez também se torna causa de outra consequencia, etc. Ora, é ilógico persarmos que esta sequencia factual é eterna, pelo simples facto de que é temporal, ou melhor, ser ela o motor da temporalidade. Por isso, terá que haver um Princípio para tudo. E qual será? Segundo o raciocinio que acabámos de desenvolver terá que ser uma causa incausada, ou seja, uma Causa com uma consequencia que por sua vez é causa de outra, mas que não foi causada. Eu explico: o Principio de tudo É a Causa que não foi causada, ou seja, a Causa que nunca foi consequencia, e que assim é a primeira Causa da sequencia temporal da natureza! A essa Causa, então intemporal e assim eterna, a eternidade por excelência, chamos Deus! Aquele que é o Criador!
Sem mais,
Simão A. (TRIBUNO)”
http://tribuno.blogspot.com

Sobre a causa que não foi causada, isto é, que não foi consequência de nada é onde a minha racionalidade choca, mas que não descarta. Tudo é possível e mesmo as nossas opiniões sobre a fé evoluem no tempo, que segundo a opinião manifestada, “é somente uma medida da mutabilidade das coisas”, e eu acrescento, também das pessoas. A fé de cada um é não exportável, é uma crença forte e estruturada. Disse!

domingo, maio 02, 2004

02 de Maio de 2004 (24) – Dia da Mãe

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CONFIDÊNCIAS:ALMADA NEGREIROS

Mãe! Vem ouvir...
Mãe!
Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei! Traz tinta encarnada para escrever estas coisas! Tinta cor de sangue, sangue verdadeiro, encarnado!
Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça!
Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra senão de viagens! Eu vou viajar. Tenho sede!
Eu prometo saber viajar.

Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um. Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa. Depois venho sentar-me a teu lado. Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei, tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras.
Mãe! Ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado! (...)
Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!

Bom dia da Mãe. Obrigado por tudo!

02 de Maio de 2004 (23) – O Tempo

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Não, não vou filosofar sobre o estado climatérico. Vou filosofar sobre o outro tempo que é uma constante sucessão de segundos, minutos, horas, dias, anos, décadas, séculos, enfim!

Dizem que o tempo não tem princípio nem fim. É difícil, para mim, assimilar isso. Que o tempo nunca venha a acabar, que é eterno e infinito eu aceito (que modéstia intelectual). Que eu conte os milénios até o fim da eternidade parece-me uma tarefa possível, mas um trabalho para toda a eternidade.

Agora, o tempo não teve um princípio!?! Então nunca houve um começo, uma criação, um início. Como é possível? Tudo apareceu do nada... não!, porque antes já existia algo... o tempo. Quem criou o tempo... não!, porque o tempo sempre existiu, não pode ser criado. Como tudo surgiu... não!, sempre existiu, mas como? Como pode ter existido sempre o tempo se tudo tem um príncipio e um fim.

Os crentes dirão, Deus criou tudo e Deus sempre existiu. Mas quem criou Deus?

O “menos infinito”, a “eternidade” fazem-me confusão. Aceitam-se esclarecimentos...

sábado, maio 01, 2004

01 de Maio de 2004 (22) – 1 de Maio: Dupla Comemoração

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Feriado costuma ser, mas desta vez o dia não pertence só aos trabalhadores. O 1 de Maio simboliza a luta pelo máximo de oito (8) horas de jornada máxima. Esta luta custou a vida de muitos e deve ser respeitada! Este episódio marcante do sindicalismo (que ocorreu em 1886) ficou conhecido como os “Mártires de Chicago”.

Já o 1 de Maio de 2004 vai ficar conhecido por outras razões. A União Europeia tem dez novos membros: Chipre, Eslovénia, Estónia, Hungria, Letónia, Lituânia, Malta, Polónia, República Checa e República Eslovaca. Parabéns aos aderentes, sejam bem vindos. Para 2007 haverá novo alargamento com as entradas da Roménia e da Bulgária. Adiada parece estar a entrada da Turquia. Este conjunto de países merece estar na União, são democracias estáveis e economias de mercado viáveis. Com excepção da Turquia, respeitam os Direitos Humanos.

Mas não há ainda motivos para festejar. As instituições não foram reformadas ou suficientemente alteradas de modo a permitir um melhor funcionamento da União. Os consensos, já por si difíceis, ganham uma dimensão dramática maior. Há ainda outras polémicas como Chipre (a adesão não é inocente e pode intensificar a tensão diplomática entre a Grécia e a Turquia) e a Polónia (cuja agricultura dificilmente se vai adaptar ao PAC criando uma permanente disputa com o maior benefeciário deste, a França). A Europa corre o risco, sério e real, de paralisar. Não está em questão o direito de entrada de novos países mas sim a incapacidade dos Estados nacionais cederem para o todo não gripar.

Há um problema adicional (que não pode ser utilizado para impedir ou criticar o alargamento), as ameaças para Portugal são claramente maiores que as oportunidades. A produtividade Portuguesa é baixa e o custo da Mão de Obra é superior ao dos países recém entrados. É preciso não esquecer que, apesar do Comunismo ter ruído e deixado marcas em muitos destes países, também deixou algumas vantagens competitivas. O ensino foi sempre gratuito ou residualmente financiado pelos próprios, a tradição das licenciaturas tem gerações, a disciplina profissional é visível. Portugal dificilmente vai resistir a este choque sem sequelas. Veremos é se a longo prazo leva o país a reagir, a desenvolver-se.

Sou um Europeísta convicto, quero uma Europa solidária e forte. Devemos ser Europeus entusiásticos e perceber que temos mais a ganhar abdicando de certos interesses nacionais em detrimento de desígnios europeus. A história tem provado isso mesmo. Ser pró Europeu também não é aceitar tudo como sendo um dado adquirido, os países têm de defender as suas especificidades num contexto de benefício mútuo. O interesse nacional tem de ser defendido sem encravar o todo, porque se o todo desintegra-se as partes têm de rever as expectativas de futuro em baixa. Na minha opinião o alargamento veio cedo demais, primeiro começava-se (já!) a ajudar a Europa de Leste a desenvolver-se (com acordos preferenciais e subsídios), depois fazia-se uma verdadeira reforma das instituições europeias (revogando os vetos, por exemplo) e só depois vinha o alargamento. O futuro da Europa? Glorioso ou decadente, nós escolhemos!