Filho do 25 de Abril

A montanha pariu um rato - A coerência colocada à prova - A execução de Saddam Hussein - O Nosso Fado - "Dois perigos ameaçam incessantemente o mundo: a desordem e a ordem" Paul Valéry, "Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa, salvar a humanidade", Almada Negreiros - "A mim já não me resta a menor esperança... tudo se move ao compasso do que encerra a pança...", Frida Kahlo

sexta-feira, abril 30, 2004

30 de Abril de 2004 (21) – 2003: O ano mais negro

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O ano de 1998 foi o ano de todas as ilusões. A economia crescia sustentada na ilusão do consumo, a Expo 98 levava-nos directamente para a modernidade, sem paragem na estação da dificuldade. Tudo era fácil, o futuro era risonho, Portugal crescia sem ninguém saber como nem porquê. A confiança no futuro era evidente e até natural.

Da euforia, nasceram os monstros “orçamentais”, o viver acima das possibilidades. Os sinais da crise começavam a surgir, os ventos das dificuldades sopravam irremediavelmente em direcção a Portugal. O défice subia, as receitas fiscais descontrolavam-se, a despesa era rígida. O país estava de “tanga”, a confiança no futuro era coisa dos tolos, a estratégia, afinal, não tinha viabilidade. Portugal agonizava em dor, a dor de quem desconhece o seu destino.

A dor desapareceu, o destino chegou, Portugal morreu! O Banco de Portugal explica os sintomas que levaram à morte do país mais antigo da Europa. O endividamento aumentou para níveis inéditos, o desemprego subiu de 4,1% para 6,4%, o PIB encolheu 1,2%, o Investimento desceu 9,5%, os salários reais diminuiram em 0,3%. Tudo isto para controlar o défice que ficou em 2,8% mas que, segundo as contas do Banco de Portugal, retiradas as receitas extraordinárias, fixa-se em 5,3%. Será possível? O país vai nú, morreu de frio!

Mas os países nem sempre morrem como as pessoas, por vezes são pássaros renascidos das cinzas, ressuscitam (Fénix)! Das cinzas vamo-nos erguer para perceber duma vez por todas que não podemos morrer outra vez! Disse!

30 de Abril de 2004 (20) – Iraque, o que não mudou!

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No programa televisivo de informação 60 Minutos que foi emitido há dois dias nos EUA uma reportagem criou polémica. Uma prisão nos arredores de Bagdad, com uma longa história de torturas no regime de Saddam, está em pleno uso das suas potencialidades. Mercenários contratados pelos EUA para melhorar a segurança do Iraque dão instruções aos soldados americanos e praticam torturas aos “residentes Iraquianos”. Incluí choques eléctricos, simulações sexuais, entre outras torturas.

A favor dos EUA apenas o facto de haver liberdade em revelar e discutir estas situações. A liberdade permite a discussão, não devia dar espaço à violação dos Direitos Humanos. Confio na pressão interna da população Americana, porque o Direito Internacional cada vez tem menos peso já que os EUA se auto excluíu, sem consequências, do seu âmbito. Contra os EUA a banalização dos métodos para atingir os fins. Guantanamo não é um acidente de percurso, é uma estratégia coordenada de combate ao terrorismo utilizando métodos condenáveis. É pena, o mundo devia estar unido em torno deste combate, assim está cada vez mais dividido.

quinta-feira, abril 29, 2004

29 de Abril de 2004 (19) – Angola: tenham vergonha!

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Não sei que tipo de acordo foi feito para (re)negociar a dívida angolana, por isso não posso falar com autoridade do negócio. Mas posso fazer um comentário: que raio de política externa é essa que temos.

O Presidente Angolano, sua família e colaboradores, desviam incontáveis milhões da própria população, são corruptos e corrompem, criam imunidades diplomáticas artificiais, pondo em causa instituições como a UNESCO, massacram e deixam massacrar. A Guerra Civil acaba com a cooperação militar portuguesa (modesta mas significativa!) com o massacre dum dos lados que perdeu a credibilidade ao não aceitar o resultado das eleições. Mas Savimbi e a sua UNITA não são a antítese da MPLA nem de José Eduardo dos Santos, são faces da mesma moeda. São o resultado dum colonialismo português que não educou os seus futuros líderes, que inviabilizou a sua aprendizagem.

Como se isto não bastasse o nosso Primeiro Ministro, que não pode separar o homem do cargo, aceita convites pessoais para estar no casamento da filha de José Eduardo dos Santos, numa festa tão farta e vistosa que deve ter deixado os Angolanos sem comida na boca literalmente. O homem Durão Barroso, enquanto fôr Primeiro Ministro, não pode dar sinais destes, nem pode vender a Quinta da Falagueira e ir passar o fim do ano à ilha do comprador. Para se ser sérios temos de parecer sérios. Tenho a certeza que Durão Barroso é sério, falta parecer.

Os cidadãos portugueses têm, mais do que nunca, o direito de saber, em pormenor, o que foi negociado com Angola. Porque se a corrupção está provada, se o dinheiro mesmo após a Guerra Civil não chega à população Angolana temos, repito!, o inegociável direito de saber os pormenores destes negócios. A nossa política externa tem de reger-se por princípios universais e, só depois, por nuances nacionais (interesse nacional). Não me parece o caso! Shame on you, Mr. Durão.

quarta-feira, abril 28, 2004

28 de Abril de 2004 (18) – Reflexões Orçamentais – para duma vez por todas compreender o que se passa com Portugal... (2 de 2)

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O Pacto de Estabilidade não explica tudo. Os erros não acabam aqui, o Governo anterior não consolidou o orçamento em tempos de expansão económica, este Governo (teimosamente) fez questão de utilizar critérios (não utilizado pelos restantes países) que exageravam o défice (e a dramatização deste), também não tem feito a defesa da possibilidade das despesas de investimento saírem do Pacto. Pior, este Governo é mais papista que o Papa mas não condena os outros países quando pode por terem défices excessivos. Está a defender e, ao mesmo tempo, a matar o Pacto.

As receitas extraordinárias (venda Falagueira, fundos de pensões transferidos, venda rede fixa PT, portagens nas áreas metropolitanas, perdões fiscais, venda das cobranças fiscais) só acentuam a hipocrisia desta política. Implica a manutenção da artificialidade da política económica deste país, desadaptada dos seus reais problemas. Que hipocrisia!

O que fazer? As soluções são diversas, mas aconselho uma coisa simples. Olhar para o real estado do país, estabelecer uma estratégia de longo prazo (as tácticas mudam, a estratégia fica). Uma análise séria da situação do país leva-nos a uma conclusão: precisamos de reformas, de investimento nos meios e nas pessoas. E mais investimento que a Alemanha, por exemplo, para manter os seus níveis de produtividade, níveis que queremos atingir. Se assim é, o Pacto vai-nos matar como país. Voltar atrás, nem pensar! Sair do Euro, inviável! Resta-nos lutar por um Pacto diferente, ou para regras diferentes para os países em divergência. Só uma política europeia coerente pode levar-nos a isso, a estratégia tem de ser clara para o exterior, e consensual no interior (pactos de regime, é uma hipótese).

Outra solução complementar é criar um verdadeiro clima de motivação empresarial envolvendo os trabalhadores. A motivação só se cria oferecendo vantagens a quem é eficiente, reformando as mentalidades e envolvendo todos nos objectivos nacionais. Para criar um bom clima para as empresas não é diminuindo unicamente os impostos, é reduzindo a burocracia. O nosso sistema judicial é o “cancro” do país, complexo, lento, ineficaz, desincentiva a implantação de empresas neste país (se um cliente não paga recupera o valor num tempo eterno, por exemplo). Não às soluções personalizadas a cada empresa, sim a uma Revolução (com R) no clima económico, através dum investimento sério na Educação e na Justiça (às vezes gastar mais significa poupar muito mais no futuro).

Novamente, a situação é obvia. Uma política económica unicamente finaceira (contando os tostões como no mercantilismo) é, per si, ineficaz. O problema é estrutural. Resolvendo a ineficácia dos vários sectores resolve o problema orçamental a prazo, não artificialmente. Como tomar estas medidas essenciais, repito essenciais, sem romper com a Europa. Tendo uma estratégia coerente de desenvolvimento de longo prazo, que viabilize a defesa de políticas coerentes com a União Europeia. Uma estratégia séria, com tácticas que se adaptam aos tempos, poderá ter o apoio dos Governos Europeus, dará motivos coerentes para reestruturar o Pacto. Uma estratégia artificial, cega aos problemas estruturais do país, numa ânsia desenfreada de dizermos que somos Primeiro Mundo, só nos lerará à honrosa posição de cú da Europa. Para toda a nossa geração!

Nota: A existência ou não de portagens deve ser uma questão de príncipio, não um instrumento do défice. Em pontes, ligações sem alternativas e áreas metropolitanas qual é a lógica das portagens? Só se o objectivo é a imobilidade de pessoas, bens e empresas em pleno território nacional.

terça-feira, abril 27, 2004

27 de Abril de 2004 (17) – Reflexões Orçamentais – para duma vez por todas compreender o que se passa com Portugal... (1 de 2)

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Quem não está farto de ouvir falar do défice que dê um tiro nos cornos, porque só pode ser um masoquista incurável. Vou procurar definir um enquadramento possível para remeter este tema para o campo da racionalidade, e não da política demagógica que abunda nos dias que correm.

Parece-me consensual que, em abrandamento económico, deve-se (o Estado) investir mais, isto é, deve utilizar o défice para recuperar a economia. Daqui surgem as perguntas que todos nós fartamo-nos de ouvir. Estando o Orçamento com um défice superior a 3% será legítimo aumentá-lo para ajudar a economia num contexto em que existe um Pacto de Estabilidade? E os Fundos Europeus, devem ser desperdiçados? E as Despesas Correntes, porque nunca parecem diminuir o suficiente?

São questões pertinentes, penso eu, e têm um contexto, antes de mais, histórico. Não é intelectualmente honesto comparar os 6% de défice de 95 com os 3% actuais pois os instrumentos económicos eram outros, apesar da situação ser grave. Só é de saudar a não dramatização (ao limite, pelo menos) do Governo Guterres. A situação resolveu-se e entramos no conjunto de países que aderiram, numa primeira fase, à moeda única europeia. Porém, ficamos sujeitos ao Pacto de Estabilidade.

Não sei se é o pacto que está mal ou se Portugal não devia ter tomado uma decisão precipitada e entrado antes do timing certo. O pressuposto do pacto é que a maior parte da convergência estava feita, que os fundos de coesão já não eram essenciais e o esforço de investimento era parecido entre os países. Mas Portugal entrou artificialmente na moeda única, através das privatizações e outras maquilhagens orçamentais. O Pacto só tem de ser alterado porque os países quiseram entrar cedo demais no pelotão da frente. Quando os países mais desenvolvidos da Europa queriam duas velocidades, não era necessariamente mau para o segundo pelotão, porque teria uma maior margem de utilização do investimento para atingir a convergência.

Assim não aconteceu! O Pacto de Estabilidade era um nado morto, os países estavam artificialmente com os indicadores económicos nas margens exigidas. Isto explica muito da situação dramática que se vive em Portugal actualmente, carente de investimento para convergir, incapaz de investir porque precisa constantemente de mecanismos artificiais para cumprir o pacto que protege a nossa moeda. É um dilema, uma situação sem solução com as regras actuais, uma explicação para a nossa estagnação. Porém, como culpar o Governo anterior pela entrada na moeda única? Não era o que a população, a sociedade civil, os empresários exigiam? Como explicar que devíamos ficar no segundo pelotão? Que custos políticos e sociais isso teria?

segunda-feira, abril 26, 2004

26 de Abril de 2004 (16) – Religião (3)

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Esta viagem espiritual, recordo, procura rotular as minhas profundas crenças de modo a poder apresentar-me ao mundo convenientemente. Não me parece correcto chegar à beira de alguém e não lhe dizer imediatamente quem sou, ou pior, alguém perguntar e eu não saber responder quem sou. A viagem já produziu resultados, não sou nem judeu nem cristão, nem seguidor da religião revelada apesar de ser religioso pela sua via natural. Se não está a perceber nada é porque é burro ou não acompanha este estruturante Blog.

Antes de entrar na viagem definitiva onde convém esclarecer melhor o significado de Ateu, Agnóstico e Laico, convém excluir outros rótulos com os quais não me identifico. O que é ser Budista, perguntam os curiosos leitores? É ser-se seguidor do Budismo, responde a Porto Editora, na sua infinita sabedoria. O que é o Budismo, insistem os intrometidos leitores? É, responde novamente a entidade responsável pelo conhecimento colectivo e aceite da língua Portuguesa, é a religião fundada pelo Buda Gautama da Índia. Esclarecidos? Ainda não, porra? O budismo analisa a origem e as causas da insatisfação inerente a toda a existência, e propõe-se a ensinar o método de libertação dessa insatisfação. Curioso, até brilhante. Mas eu não quero atingir um estado de satisfação, a insatisfação faz-me viver, faz-me ser uma pessoa útil. Não quero, nem que seja no fim da eternidade, ser inútil. Porque quero viver e, quando deixar de o fazer, quero morrer! Ou então, quero viver noutro sítio, sempre insatisfeito com o que me rodeia. Não me quero libertar da insatisfação nunca, quero libertar-me sim do desespero, da incontrolável dor que podemos sentir, mas não da insatisfação. É uma religião que respeito e quero conhecer melhor mas com a qual não tenho afinidade nem crença.

Serei Muçulmano? Ser-se Muçulmano não implica termos nascido obrigatoriamente em certas partes do mundo nem implica necessariamente tratar mal as mulheres. Ser-se muçulmano é sermos seguidores da religião islâmica, adeptos de Maomé. Esta religião está fundada no Corão (religião Árabe). Alá é o deus do Islamismo, único, omnipotente e criador do Universo, assim como o Deus dos cristãos e judeus. Alá é também juiz sobre os actos dos homens mas, ao mesmo tempo, um ente protector e misericordioso. Maomé foi o seu profeta. Eu não acredito em deuses omnipotentes e criadores do Universo.

Acredito, porém, que há um equilíbrio invisível que permite que esta existência seja possível. As leis da física, por exemplo, que permitem que o homem exista tal e qual nos conhecemos, seguem regras que equilibram o funcionamento do Universo, independentemente deste caminhar para um desequilibrio ou não. O constante aparecimento do pi em tantas fórmulas matemáticas, um número repetido em fórmulas tão diversas, também parece apontar para que tudo tem uma lógica, um enquadramento. Este enquadramento parece, aparentemente, não ter surgido do nada, pode até ter sido criado. Não posso provar o contrário! Só não acredito que o homem seja capaz de definir esse enquadramento. Não acredito que o possa compreender, dar-lhe um nome, definir seus objectivos e linhas de acção. Porque terei de acreditar em entidades omnipresentes, omnipotentes, omnitudo, quando tenho a certeza que se existissem não nos conseguiriam explicar seus desígnios. Os Gregos, Romanos, Egípcios, enfim!, todos “criaram” os seus deuses, que serviam objectivos contemporâneos e necessidades de manutenção de poder. A fé é tão só um veículo, na minha humilde e pouco definitiva opinião, para que uma espécie, a humana, que tem uma consciência complexa e um egoísmo maior que outras espécies esteja controlável, motivada e socializável. A “descoberta” dos 10 mandamentos por Moisés não foi mais que uma tentativa de criar regras a milhares de escravos entregues a si próprios.

Em suma, não me identifico com nenhuma das religiões supra citadas, não tenho o conforto da fé! Acredito na possibilidade da existência duma ordem universal, mas não nos constantes aproveitamentos da fé para atingir obscuros objectivos e desconfio daqueles que tentam convencer-me que conhecem o seu deus. Mas ainda não encontrei o meu rótulo, porque tenho que ter um, a sociedade obriga. Assim, continua... há rótulos a explorar. Ateu? Agnóstico? Laico?

domingo, abril 25, 2004

25 de Abril de 2004 (15) – Curiosidades para Memória Futura (3)

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- O Presidente da República, Jorge Sampaio, fez advertências sobre a situação actual do país. Destaco quatro! Preocupa-o a situação económica e social do país pois o desemprego de longa duração não pára de aumentar. Adverte para a criação de uma estratégia para o Iraque e uma definição da posição portuguesa no pós 30 de Junho. Fala sobre as marcas que 50 anos de Ditadura deixaram aos Portugueses, que confundem estabilidade com imobilismo. Destaca ainda a crise dos partidos. O PSD ouviu uma coisa, o PP outra, o PS sublinhou aquilo, o PCP aplaudiu aquela parte e o BE percebeu outra coisa. Fica a memória da Revolução e os balanços da Democracia, sempre positivos mas insuficientes. Hoje estamos muito melhores que ontem mas muito distantes do amanhã que queremos.

- Na Pública de hoje uma entrevista curiosa a Mohamed Sifaoui. Cito: “Bin Laden será apanhado quando os americanos quiserem. Bin Laden está livre mas bem guardado numa aldeia do Paquistão. Podia ter sido preso em 2002, mas isso tornaria difícil convencer a opinião pública da necessidade de atacar o Iraque. Será morto, para mais uma vez “ajudar” o Presidente Bush, numa data próxima das eleições americanas. Talvez a 11 de Setembro...”. Bem, não gosto de futurologia, mas fica aqui registado, nestas linhas virtuais guardadas num servidor próximo de nós, estas palavras. Para mais tarde recordar, para rebater ou para louvar. Sifaoui relembra que já as detenções de Ramzi Ben Al-Shaiba e Khaled Sheikh Mohamed foram efectuadas em alturas chave, a 11 de Setembro de 2002 e nas vésperas da guerra no Iraque, respectivamente, e em locais estranhos, porque eram locais controlados pelos serviços secretos. Afirma ainda que os Americanos preferem Bin Laden em liberdade controlada que preso em Guantanamo e que quando for capturado será, de preferência, morto. Preferem um mártir do que negociarem constantemente com raptores exigindo a sua liberdade. Conforme a situação no Iraque e as sondagens americanas diz que a morte de Bin Laden ocorrerá entre Julho e Novembro.

É o estado do Mundo, são os pontos de vista dos seus intervenientes, discutíveis como todas as opiniões. A ter em conta, nem que seja para defender o seu contrário, porque das discussões surgem as boas ideias.

25 de Abril de 2004 (14) – Cinema Paradiso – The Brown Bunny, de Vincent Gallo

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Assombroso! Vincent Gallo é caricato, é uma personagem densa como pessoa e cineasta. Mas também é uma pessoa difícil de descrever, de recomendar e de defendar. Quem afirma, com a cara mais séria do mundo, que só não se suicidou porque não queria que outras pessoas ficassem com os seus bens, quem afirma isso, repito, não é uma pessoa facilmente descritível. A sua obra também não é fácil de descrever, porque é um reflexo da pessoa. Também não é uma obra fácil de defender e recomendar porque o narcisismo do cineasta é genuíno e infecta também a sua relação com os espectadores, estes também são para ignorar porque o mundo gira à volta de uma só pessoa. Porém, neste caso, nota-se um sofrimento quase fantasmagórico por uma mulher. O sofrimento é genuíno, tudo é genuíno o que tornam as emoções sentidas ao ver um filme mais intensas.

É contagiante ver, pela primeira vez, um bom filme numa sala de cinema. Não sei se é um bom filme mas, na minha opinião, desperta emoções, é crú, não nos deixa indiferentes. E, na minha opinião, um bom filme é aquele que desperta-nos qualquer sentimento, seja de alegria, tristeza, repulsa, enfim! O filme vai ficar conhecido por outras razões, muitos vão detestar (houve saídas a meio do filme)... eu gostei, devo ser masoquista, porque fui tão maltratado como espectador como todos os que cruzaram a personagem no filme. O narcisismo é tanto que Gallo é realizador, produtor, argumentista, actor, editor, operador de câmara, entre outros papeis. Não vou defender nem a pessoa nem a obra... mas viva a intensidade e a genuidade dos sentimentos, goste-se ou não. Uma nota à coragem de Chloe Sevigny, polémica como sempre, contra a corrente de puritanismo que varre a América.

sábado, abril 24, 2004

24 de Abril de 2004 (13) – Curiosidades para Memória Futura (2)

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Fonte: Público 24 de Abril de 2004

- “Há precisamente 30 anos, Portugal vivia em Ditadura. Mas, no dia seguinte já havia liberdade. Foi uma Evolução muito rápida. Tão rápida que pareceu mesmo uma Revolução”, Luís Afonso, Bartoon. Para acabar de vez com a discussão pública que tem ocupado os nossos dias. Como se sequer merecesse ser tema de debate, algo tão óbvio. Enfim, também eu estou a aderir a tão estúpida discussão. Lanço uma maldição a quem se lembrou deste slogan, e uma maldição a mim mesmo por estar a alimentar esta polémica.

- “Um país pequeno, íntimo e pobre, com um Estado omnipotente e uma burocracia tropical, segrega corrupção. Se calhar, não funcionava sem corrupção: já alguém pensou nisso?”, Vasco Pulido Valente, Diz-se. Querido Vasco, deves ter tido tempo de pensar nisso quando foste deputado. Defendes que nada se faz em Portugal sem alguém dar um “jeitinho”. Sabes o que defendo, Vasco, sermos todos presos porque se o que afirmas confirma-se estamos todos em perigo de irmos presos. E só porque queremos pôr Portugal a andar, que injustiça! Porra, se Portugal já não funciona com corrupção, nem quero pensar sem! Ao chegarmos a essa fatalidade não será hora de assumirmos as nossas responsabilidades cívicas e actuarmos? A responsabilidade é dos Governos ou é nossa? E, já agora, que “jeitinho” te deram para poderes ser jornalista?

Por um lado discute-se à exaustão se tivemos ou não uma Revolução quando o 25 de Abril foi de facto o cataclismo para tudo o que veio depois. Agora a responsabilidade é nossa. O 25 de Abril já não é culpado de nada, temos o Portugal que construímos em 30 anos, com liberdade e algum dinheiro. Se não funciona podemos continuar a vendê-lo aos Espanhóis ou, duma vez por todas, mudar a mentalidade. Não é preciso mais mega reformas todos os anos, só um pouco mais de rigor e vontade de transformar Portugal num país moderno, desenvolvido e orgulhoso.

sexta-feira, abril 23, 2004

23 de Abril de 2004 (12) – Liberdade, Segurança e Democracia

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Estamos quase a comemorar 30 anos da Revolução dos Cravos! Quanto à Evolução dos Cravos nada sei, muito menos sei se os Cravos actualmente atingiram um novo degrau da escada evolutiva. Eu sou daqueles que tiveram a sorte de nascer num ambiente de liberdade, por isso sou filho do 25 de Abril. Não sei o que é viver privado da liberdade, nem quero descobrir. Apesar de nada saber sobre essa privação não menosprezo o seu valor, nem perante a segurança. Segurança e Liberdade têm que andar de mãos dadas e não podem, nunca!, estar num patamar de importância diferente.

É fácil daqui retirar umas pequenas conclusões. Terrorismo combate-se com o seu oposto. Uma política de combate ao terrorismo deve submeter-se às regras do Direito Internacional, não deve privar os cidadãos das suas liberdades individuais nem deve combater as diferenças de opinião. Deve-se evitar mais casos como o de Guantanamo e do Iraque. Quanto ao Afeganistão uma intervenção impunha-se uma vez que era a única forma de desmantelar os campos de treino e, ao mesmo tempo, retirar do poder os Taliban, bárbaros até com os símbolos históricos do seu país. Mas é preciso fazer mais, reforçando a cooperação entre Serviços Secretos, dotando-os de meios mais eficazes, apostar na prevençao com a supervisão de Magistrados porque, repito, nada disto pode ser feito à revelia das conquistas no campo do direito à privacidade, no respeito às liberdades individuais. E, acima de tudo, ter uma estratégia, não só uma táctica. Uma estratégia de combate alargado às suas causas, sejam a pobreza, a humilhação, as mentalidades. Porque quando se combate o terrorismo unicamente pela força ao matar um terrorista, surgem três.

Sobre o 25 de Abril muito haverá por dizer, foi uma Revolução sem paralelo no Mundo. Não nego a importância do 25 de Novembro mas não podemos esquecer que, sem o 25 de Abril, não teria havido o 25 de Novembro nem este teria sentido (que afirmação tão redundante, de La Palisse). De qualquer forma, passados 30 anos, temos de reflectir mais sobre o ponto de chegada. A abstenção tem aumentado, o desinteresse pela política por parte dos jovens tem-se agravado, os partidos políticos estão desligados dos interesses dos cidadãos com algumas regras até anti-democráticas (disciplina de voto, demagogia no discurso e nas promessas, clientelismo), os movimentos cívicos estão apagados.

Uma Revolução é um último recurso, quando, por meios legais, já não se consegue reformar a sociedade e as suas instituições, quando a vontade soberana dos seus cidadãos já não tem reflexo na governação. Enfim, resta-me concluir com uma frase cuja autoria não me lembro nem vou transcrever à letra (que me perdoe quem proferiu tão interessante frase, esteja vivo ou morto). A resistência às reformas ao longo de muitos anos leva, inevitavelmente, a uma Revolução. A outra, sublinho!

quinta-feira, abril 22, 2004

22 de Abril de 2004 (11) – Força, Valentim! Estamos contigo!

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Portugal, as ex-colónias e alguns países do Resto do Mundo estão com Valentim Loureiro! Não só porque o Major revolucionou o Boavista (de forma clara e transparente), como também pela dinâmica que imprimiu às exportações e importações com alguns países africanos, como pela forma como revolucionou as forças armadas, também pelo seu forte contributo à credibilização da Liga, pelo seu apoio às empresas de electrodomésticos (principalmente em certas alturas do ano), pelo novo fôlego que deu à política, pelo seu discurso calmo e conciliador mas também pelo contributo refrescante que deu à música neste país. Por isso, Major, também estou contigo. Eu e as centenas de cidadãos que se manifestam às portas do tribunal gritando pelo teu venerável nome. Também eu não me importo se és culpado ou não, também eu não quero esperar que a (in)justiça se pronuncie... só quero gritar ainda mais alto... Valentim Loureiro! Estamos contigo!

Estamos contigo porque se compras árbitros é porque o povo ordena, se favoreces empreitadas é porque o povo um dia também vai precisar de favores, se mexes os cordelinhos na Liga é porque o povo tem fome de vitórias. Viva o povo! Viva o Valentim! Acima da lei porque este homem transformou Portugal. Inocente ou Culpado, que importa! Corrupção, só os insensíveis ao sofrimento do seu povo não o fazem! Major, estamos contigo! Libertem já, e digo já, este homem que nada fez em benefício próprio. Gritem todos mais alto... não queremos justiça, abaixo as cabalas! Este homem do povo paga agora a coragem que sempre teve ao desafiar os interesses instalados (instalando outros mais transparentes e sempre com sua supervisão), paga por revolucionar a política com discursos sérios, paga por dar ao povo o que realmente quer (populismo qb, torradeira incluída). Depois, é claro, não se sabe porque está preso mas duma coisa todos temos a certeza: é inocente e, mesmo que não seja, não interessa. A justiça popular já te ilibou, Major!

Ouça a nossa voz, ouça a minha (eu preciso duma televisão)! Também eu não sei de que te acusam, também eu não espero por decisões judiciais... és inocente constitucionalmente (aproveitem a revisão) pelo povo! Abaixo a Polícia Judiciária e os Tribunais... o povo é quem mais ordena, por isso manifesto-me, por ideais e ideias acima dos julgamentos dos homens. Portugal, as ex-colónias e alguns países do Resto do Mundo estão com Valentim Loureiro! Força, Valentim! Estamos contigo! Inocente ou culpado, tanto faz!

quarta-feira, abril 21, 2004

21 de Abril de 2004 (10) – Entrevistas com Mofo

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Há entrevistas que, apesar de terem sido feitas há muito tempo, são actuais! Ou porque os entrevistados estavam atentos ao mundo ou, simplesmente, porque lhes apeteceu dizer qualquer coisa bonita para impressionar alguém e, por acaso, até acertaram. Como sempre é você (ou és tu, se te conheço de algum lado) que tem de ser o juiz. Este excerto da entrevista remonta não sei a que ano, foi publicada em 1997 no livro Soares, O Presidente de Maria João Avillez. Discute-se nesta fase o post comunismo, o post Queda do Muro de Berlim, que muito entusiasmou o Mário. Entre ( ... ) estão os meus brilhantes contributos para a actualidade da entrevista.

Maria João Avillez: Disse-me que entrou numa grande euforia democrática (o que será isso, quero experimentar também!) com a queda do Muro de Berlim e com o fim dos regimes comunistas. Com que instrumentos se armou (que raio quer ela insinuar!) para o que aí vinha? Que reflexão fez?

Mário So(ares): Comecei por admitir que era possível uma evolução democrática muito mais rápida, universal e, sobretudo, muito mais consequente do que efectivamente ocorreu. Por outro lado, com o afundamento da União Soviética (e acrescento eu, de alguns dos seus submarinos), terminou a luta entre superpotências (boa, Mário, não diria melhor). Dos escombros do comunismo (afundou-se ou não?), emergiu uma superpotência única (lógico, se haviam duas, menos uma...), com acentuadas aspirações hegemónicas (tenho de lembrar-me de consultar a entidade, a Porto Editora) a uma liderança mundial, o que desequilibrou o Mundo (desequilibrou-se mas parece que não caíu) e o tornou bastante perigoso. Parecia que, do mesmo passo (???), haviam vencido a economia de mercado, a democracia pluralista, os direitos do homem (que ingénuo, Mário). Mas, simultaneamente, começou a insinuar-se uma dúvida pertinaz (pertinaz? A entidade vai ajudar-me ...): terá sido assim? O fosso crescente entre países pobres e ricos mostra-nos que a economia de mercado é, em si mesma, geradora de desigualdades crescentes (voltaste a tirar o Socialismo da gaveta, Mário?), que a Democracia é um sistema que pressupõe um certo nível mínimo de desenvolvimento e de educação (não sei como floresceu em Portugal então), o que o torna mais dificilmente exportável do que se julgava e, finalmente (ufffaaa...), que os direitos humanos, tal como têm sido concebidos pela potência hegemónica, são facilmente ajustáveis a uma avaliação que comporta dois pesos e duas medidas (cheira-me a aldrabice), segundo as conveniências e os interesses... A Guerra do Golfo soou como um espécie de toque de finados da minha euforia. Comecei a perceber que o Mundo tinha deixado de ter parâmetros seguros e estava mais desregulado- e, de certo modo, mais perigoso – do que antes (claro, já não mandas nada, porque senão).”

O que isto quer dizer, banalidades dum reality show que é o planeta Terra. Conclusões, tire-as você. Deixo-vos com uma frase que o António disse-nos antes de abandonar o Governo, “temos de tomar conta dos pobres antes que eles tomem conta de nós”. António, estavas no bom caminho, porque nos abandonaste? Mas como falar é sempre mais fácil do que fazer, porque não fazemos todos o que ele disse? Porque queremos, concerteza, que alguém tome conta de nós...

P.S. Já sei, António, também é mais fácil criticar que fazer... mas eu sou assim! Deixa estar, eu depois deixo lá um votinho para seres Presidente...

terça-feira, abril 20, 2004

20 de Abril de 2004 (9) – Curiosidades para Memória Futura

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- www.publico.pt: “Valentim Loureiro diz que desconhece motivos da sua detenção”. Não te preocupes, Major... eles explicam, são pagos para isso...

- www.publico.pt: “Comissão Europeia exige estudo de impacte ambiental ao Túnel do Marquês”. Estou contigo, Santana, é uma cabala. Como se um tunelzeco fosse alterar o ambiente...

20 de Abril de 2004 (8) – Blogs

O que é um Blog? Essa pergunta persegue-me, nem durmo nem respiro... pelos menos como costumava dormir, sem a culpa de não saber algo. Quem é que eu estou a enganar? Durmo todas as noites bem e estou-me cagando para o conhecimento! Mas quero aprender, vivo para aprender (riso demente). Recorro, mais uma vez, à entidade que é o garante do conhecimento em Portugal, a Porto Editora. Desta vez esta generosa entidade que, recentemente descobri que certamente não é judaica (não faz mal, também não sou), nada me respondeu. Fico alarmado, há uma falha na nossa sabedoria colectiva, na própria base de todo o nosso conhecimento. O que a Porto Editora não sabe, Portugal não assimilou. A sua sabedoria virtual, que paira algures entre a Torre do Tombo e a livraria Lello, está incompleta.

Corrijo eu o problema e vou sair das fronteiras virtuais de Portugal. Chego, assim, a uma definição perturbadora, em segunda mão como toda a definição que é sujeita a uma tradução. “Um Blog, também conhecido por Weblog é uma página pessoal na Internet constantemente actualizada. Contém links, comentários e tudo o que quisermos. Novas publicações ficam no topo e antigas em baixo. Blogs podem ser jornais políticos ou diários pessoais, podem focar-se num só tema ou percorrer um universo de tópicos. É extremamente viciante”.

Afinal vou deixar-me destas merdas porque não é nada disto que eu quero! Também não sei o que quero nem interessa. Mas há uma esperança. Informações retiradas da Internet não são fiáveis até passarem pelo cunho pessoal da Porto Editora, por isso toda esta definição irá, concerteza, ser verificada e contrariada com o profissionalismo desta entidade. Apesar desta entidade não gostar de judeus é, verdadeiramente, uma entidade generosa. Classifica Judeu como avarento mas tem um link, logo a seguir, sobre barba-de-judeu onde não poupa nos elogios, “Designação de plantas herbáceas do género Saxifraga da família das Saxifragáceas. A Saxifraga stonolifera é uma erva perene, estolhosa que pode atingir os 60 centímetros de altura e é revestida por pêlos vermelho-acastanhados.”. É um elogio rasgado. Deixa-me mais sossegado e representa uma forma superior de encontrar equilíbrios, duma forma discreta mas avassaladora.

Não sei o que é um Blog nem me interessa! Não cheguei a nenhuma conclusão nem quero chegar. Eu escrevo o que me apetece, sempre guiado pelas sábias palavras da Porto Editora, a única entidade que nunca me engana. A sua sabedoria infinita não tem limites, só tem palavras que desconhece. A sua influência é total, mas não gosta de viajar para fora de Portugal. É omnipresente, mas não vê tudo. É a Porto Editora, carago!

segunda-feira, abril 19, 2004

19 de Abril de 2004 (7) – Religião (2)

Sempre que estou aflito e não sei o que fazer recorro aos Dicionários da Porto Editora. Estava eu na minha viagem espiritual, iniciada sem solavancos apesar de viajar com o espírito nem sempre ser fácil, quando deparei-me com outra dúvida existencial, serei judeu ou cristão, ou nenhum dos dois. Graças a Deus (ou Alá, ou outro Ser Superior que inventa estas coisas) existe a Porto Editora para esclarecer-me.

Esta distinta entidade (terrena e útil), agride-me como sempre com frases directas e sintéticas (que mau feitio). Cristão é, então, aquele que pertence ao Cristianismo, que crê em Jesus Cristo. Uau! Estou esclarecido, que longa dissertação sobre o tema, aproveito para dar os parabéns pelo dicionário (de grande qualidade como podemos observar) estar disponível gratuitamente no mundo virtual. Como tudo o que é virtual, incluíndo este Blog, não vale nada. Mas deu-me umas pistas, falou em Jesus Cristo. Vou reter este nome para futura reflexão.

Como eu sou masoquista, consultei a mesma entidade para ver se sou Judeu. Então Judeu é (e mais nada!) aquele que segue o Judaísmo e ainda um indivíduo materialista, malvado e de má índole. Sou capaz então de ser Judeu, tudo coincide, só tenho ainda que esclarecer aquele pormenor do Judaísmo. Como parece que finalmente a Porto Editora leva-me a algum lado, insisto. O Judaísmo é uma doutrina religiosa monoteísta, assente no Antigo Testamento. Para tudo! Lá está tudo a complicar de novo! Mais uma palavra a reter antes de rotular-me, Antigo Testamento.

Chego à conclusão que Deus não é igual para todos, mesmo o mesmo Deus (sim, o mesmo!), porque este mesmo Deus para os cristãos e judeus tem comportamentos diferentes ao longo da sua existência. Para um Ser infinitamente sábio está numa crise existencial, também. No Antigo Testamento narra-se um Deus que retinha a chuva, causando fome, via mães comer os filhos e permanecia tão feroz como a peste. Um homem como eu tem repúdio por estas atitudes e não pode ser solidário com este comportamento. Injuriar e maltratar sim, matar à fome é que não. Apesar de, inicialmente, tudo apontasse para que fosse judeu, afinal não sou.

No Velho Testamento Deus é o juiz, no Novo Cristo é misericordioso. Promete! Mas, na realidade o Novo Testamento é mais cruel que o Antigo. Senão vejamos, o Antigo não tem a ameaça do sofrimento eterno, a vingança terminava na sepúltura do homem (parece quase poético). No Novo Testamento a morte não é o fim, mas o início da punição que não tem fim (todos nós estamos a lembrarmo-nos de alguém, mas talvez não mereça tanto, afinal só não nos cumprimentou daquela vez). “Parti vós, malditos, para o fogo eterno, preparado para o demónio e seus anjos”, proferiu Deus. Eu não tenho imaginação para imaginar (sim, está certo!) tamanha tortura, ou contrariamente, felicidade etérea e despreocupada para o infinito. Contra Jesus nada tenho, foi um dos maiores filósofos da história da humanidade.

Já vai longo este capítulo da minha viagem. Continuo religioso natural, sem nada a acrescentar ao meu rótulo. Não sou nem Judeu nem Cristão, que Deus me perdoe e Cristo tenha misericórdia. Claro que continua, mentecapto(a)!

19 de Abril de 2004 (6) – Religião

Começo aqui, com todas as pessoas que perdem tempo a ler estas parvoíces, uma viagem que tenho evitado percorrer. Esta viagem é espiritual (não, o meu espírito não vai viajar nem pairar por aí). Todos nós, para simplificar as nossas vidas, temos de ter rótulos! É assim mais fácil, quando vamos falar com alguém, dar-lhe rótulos: é divorciada, mãe solteira, da classe média média (nem baixa nem alta), cristã... e por aí fora. As nuances complicam a vida e, como todos sabem, eu gosto de complicar a vida de todo o mundo, incluíndo a minha. Então (só para contradizer-me novamente e simplificar-vos a vida) não vou à procura das nuances mas dos rótulos das minhas crenças como se elas tivessem obrigatoriamente de caber em qualquer lado.

A primeira questão é se os rótulos são exclusivos entre si. Não faço a mais pequena ideia. Poderei ser rotulado de pertencer a várias formas de crenças? Que interessa, que se lixe esta reflexão. Vou partir para uma viagem que vai mudar a minha vida e estas gorduras de pensamento têm de ser eliminadas antes de começar. Que se lixem as exclusividades, não sou exclusivo de nada. Ou talvez até seja...

Antes de mais queria afirmar que não sou um homem religioso. Mentira, acabei de descobrir que sou. Senão vejamos, por religião positiva ou revelada entende-se aquela em que os dados dos sentidos e da razão são completados e confirmados pelos da revelação. De revelações não percebo nada, muito menos das espirituais. Já religião natural é a que assenta apenas nos dados do sentimento e da razão, sem recurso a revelação divina. Fixe! Encontrei o meu primeiro rótulo, afinal sou um religioso natural. A minha viagem começou ainda agora e já estou rotulado, mas ainda duma maneira bastante superficial. Quero mais!

Claro que continua, estupído(a)!

P.S. Serei Judeu ou Cristão? Ateu, Agnóstico ou Laico? Budista? Muçulmano? A procura de rótulos continua...

19 de Abril de 2004 (5) – A Mentalidade Portuguesa (2)


É um programa semanal da SIC Notícias, já se chamou de Conversas Afiadas, agora não passam de Outras Conversas. A convidada do programa apresentado pela Maria João Avillez (que realmente já foi mais afiada) chama-se (e vamos esquecer os títulos) Maria Filomena Mónica. Numa pacata conversa sobre um sem número de generalidades, a certo ponto, discutiu-se Portugal. Esta sociológica falou na falta de brio e de capacidade de trabalho dos Portugueses. Afirmou que têm pouca mobilidade interna e só quando a miséria as empurra é que aventuram-se no estrangeiro. Falou ainda da ignorância e impreparação técnica dos seus alunos universitários, onde era preciso estar constantemente a negociar para interessarem-se em aprender. Mas, adiantou, nem tudo é mau em Portugal porque a melhoria do Bem Estar Material e a política do betão retirou aos Portugueses a preocupação com a fome e, eventualmente, fará desviar as suas atenções para a leitura e o conhecimento. Como sempre eu não discordo nem concordo, porque cada um reflecte da maneira que quer e opina quando lhe apetece. Viva a liberdade e a democracia onde cada afirmação só responsabiliza a pessoa que a profere, com todas as vantagens e desvantagens que daí surgem.

Porém uma ideia interessante destacou-se (do meu ponto de vista, que é a única coisa que ofereço). Não se pode, nem é preciso, ser-se tudo... é preciso escolher!... e tentar ser bom em qualquer coisa, por mais pequena que seja! Uma vida sem escolhas (ou concessões) é uma vida paralisada, a busca da perfeição deve levar-nos à aceitação das nossas maravilhosas imperfeições! Ou então não...

domingo, abril 18, 2004

18 de Abril de 2004 (4) – Quando a Terra não era redonda


Como todos estamos fartos de saber houve tempos (não me recordo deles mas que existiram não tenho dúvidas... e raramente me engano) em que a Terra não era redonda. Segundo me contam eram bons tempos, mais simples. Não havia o incómodo da gravidade (pelo menos como a conhecemos hoje onde a complexidade de nos manter com os pés no chão num mundo redondo era enorme), éramos o centro do Universo! Depois tudo complicou-se, sem misericórdia!

O longo do tempo, homens poderosos foram mudando as leis da física. Em 1473 nasce Nicolau Copérnico que podia ter sido um excelente médico, filósofo, ou até carpinteiro (quem sabe...), mas não!, resolveu inventar, do nada é preciso referir, o sistema heliocêntrico. Este polaco resolveu colocar o Sol no centro do Universo... quem diria que alguém ia ter ideia tão malévola e perturbadora. A verdade é que subjugamo-nos ao Sol quando podíamos pô-lo a andar à nossa volta... que estupidez! Já estou a ver a maravilha que era na campanha para as eleições americanas os candidatos prometerem dar diferentes ordens ao Sol (sim, porque já fomos, em tempos longíquos, o centro do Universo), transformando o dia em noite e a noite em dia. Seriam tempos memoráveis mas Copérnico estragou tudo, o sacana!

O pior, porém, estava para vir. Galileu Galilei nasce em Itália em 1564. Descobriu (novamente do nada e tal como um ditador militar impôs a sua descoberta ao mundo sem ter, pelo menos, pedido a aopinião do mundo sobre queria ou não mudar) a balança hidrostática que originou (também do nada concerteza) o relógio do pêndulo. Não sei qual a novidade, balanças e relógios já existiam mas este deu-lhes novas funções (como se já não estivessem sobrecarregados). Galileu construiu o seu telescópio sem nunca ter visto um sendo uma nova prova que mudou tudo à sua imagem. Insistiu que a Terra andava à volta do Sol mas acabou por negar tudo em tribunal. Mas o mal estava feito! A Terra mudou, perdeu relevo, ganhou espessura filosófica senão, vejamos, tivemos de rever toda a história da criação da vida até então tão bem documentada.

Que trabalho inglório, descobrir o sentido da vida para alguém, porque lhe apetece, muda tudo! Aí chegamos aos dias de hoje onde temos dificuldade em perceber qual o sentido da vida porque alguém mudou tudo e, apesar de ter negado tudo posteriormente, manteve tudo inalterado. Hoje em dia, deixo um conselho, quando descobrirem o sentido da vida ignorem quando a Terra muda, é um velhaco à procura do seu. Tudo complicou-se, ninguém sabe donde veio e para onde vai. Tenho de abordar, num destes dias, a teoria da sobrevivência da espécie, essa sim, dá um sentido maravilhoso à vida. É lógico afirmar, à luz desta teoria, foder sempre que der jeito para salvar a vida... da espécie. Porque não?

Ao ouvir o veredicto Galileu deixou uma profecia, “eppur si muove”! E, no entanto, ela se move!

sábado, abril 17, 2004

17 de Abril de 2004 (3) – Negócios


A inevitável pergunta: haverá alguma coisa inegociável? Ouço alguém responder a vida. Reajo violentamente contra essa pessoa, que ignorância... ao longo do tempo o que mais se negoceia é a vida, principalmente a dos outros mas também, ocasionalmente, a nossa. Quando o mundo dito rico manda ajudas a países do Terceiro Mundo está a escolher uns em detrimento de outros, fazendo escolhas, negociando vidas e contrapartidas. Todas as negociações de guerra e paz também negoceiam vidas. Quando fumamos estamos a negociar a nossa vida por prazer (por pequeno que seja, subjugado à tirania da nicotina). Ouço outra pessoa a dizer que seria incapaz de negociar uma parte de seu corpo. Pode até ser mas há quem negoceie um membro ou vários pela sua vida ou a dos seus familiares (como acontece na Sierra Leone). Será tudo um negócio? E será tudo negociável? Até a alma é tantas vezes vendida ao diabo e, por favor, não se refiram à consciência, tantas vezes em saldos nos dias de hoje.

Quando eu descobrir algo inegociável eu aviso! Esperem... já sei! Não, esqueçam, acabei de o negociar para comprar roupa de marca. Talvez reste o conforto que algumas coisas são inegociáveis em determinados momentos do tempo até, em momento posterior, nos lembrarmos que também são negociáveis.

17 de Abril de 2004 (2) – A Roupa

Para que serve, afinal, a roupa? Ocorre-me, num pensamento menos socializado, que serve unicamente para proteger o nosso corpo do meio ambiente e suas bruscas mudanças e para permitir ao homem percorrer maiores distâncias (como as ferraduras nos cavalos). Mas talvez tenha outras utilidades porque o homem e a mulher vestem-se de maneiras muito diferentes e parece-me que a anatomia não explica tudo. Dir-me-ia a lógica que o vestuário da mulher e do homem estariam adaptados ao conforto de cada um. Porém, a experiência desafia a minha lógica porque ainda não encontrei uma utilidade óvia no uso dos saltos altos e das gravatas. Também, olhando para a questão duma maneira unicamente utilitarista, pode parecer um contra senso peças de vestuário semelhantes em quase tudo (no corte, no tipo de tecido, etc.) terem variações enormes no seu preço porque têm uma combinação original de cores, que por vezes formam palavras a que designamos de marca.

É melhor voltar a socializar a minha mente e dizer o óbvio: é tudo uma questão de imagem! Confortáveis para quê? Adaptados ao meio ambiente sim, mas subjugados a interesses porventura mais edificantes: criar uma imagem, atrair o sexo oposto à originalidade e singularidade do gosto, criar um impacto inicial que descreva a peronalidade antes de iniciar uma conversa. É claro que a roupa de Inverno é diferente da de Verão que por sua vez é diferente das outras estações, há, por isso, uma adaptação ao meio ambiente e a moda o que faz é criar tendências nas diversas estações, reinventar-se, procurar ser aceita, ser cool para o seu mercado alvo e, ao mesmo tempo, ajudar-nos a andar melhor e não termos tanto frio (não incluo o calor, porque para isso havia uma solução bem mais simples, não usar nada... ok.... está certo... as queimaduras solares).

Voltando ao exemplo do Brasil (não, não é um fetiche), como é que um país tão preocupado com a imagem tem hábitos de vestuário tão curiosos? Por exemplo não é incomum ver os estudantes universitários estarem todos nas suas respectivas faculdades de calções, T-Shirts e chinelos. Deixo a minha opinião: talvez seja o calor e a imagem vem depois. Como gosto de ser advogado do diabo de mim mesmo digo então, talvez o culto do corpo deixe a roupa para segundo plano. Mas, para contradizer-me um pouco mais porque unanimismos de opinião não devem existir (mesmo numa só pessoa), digo: não é nada disso porque o Brasil é dos sítios do mundo onde as próprias pessoas mais alteram as T-Shirts colocando um sem número de originalidades. Conclusão final: nenhuma, como sempre!

17 de Abril de 2004 – A Mentalidade Portuguesa

Haverá ainda lógica em falar em mentalidades quando já poucos sabem definir quem representam os nossos orgãos de soberania. Representam os emigrantes ou não, só os das primeiras gerações ou não, os imigrantes ou não, mesmo os ilegais ou não, os de dupla nacionalidade mas nascidos em território Português ou não, os de dupla nacionalidade mas nascidos no estrangeiro, nos PALOP, na Europa ou no Resto do Mundo ou não. Enfim, a questão de fundo é que as populações são cada vez mais, resultado da Globalização e da consequente abertura do Mundo, diversificadas em mentalidade. Se são ou não cada vez mais homogéneas em pensamento ou hábitos de consumo é uma questão para outro dia.

Tenho, assim, dificuldade em definir quem são os verdadeiros guardiões da nossa cultura e mentalidade, se sequer existem! De qualquer forma o que não deixa de ser curioso, para mim, é porquê que temos tanta dificuldade em sermos felizes, abertos e expansivos. Pode até ser um problema mundial mas talvez seja mais visível em Portugal. Os europeus em geral nunca conseguiram ultrapassar um certo moralismo resultante da Idade Média, nunca completamente erradicado. É perceptível, em Portugal, esse moralismo na inveja, no seguidismo cego à Igreja (não confundir com fé e real necessidade de acreditar em algo), na pequena intriga, no paternalismo, e outros hábitos herdados de séculos de história. Somos muito reservados, demasiado nostálgicos e demasiado presos a coisas que a ninguém interessa. Parece que a vida não é curta, que vamos reencarnar sucessivamente e numa dessas vidas, aí sim!, vamos ter oportunidade de sermos completamente felizes. Aviso todo a gente: é um risco grande demais pensar assim, podemos só ter uma vida, e é lógico que assim seja.

Realmente é, assim, fácil compreender como um regime como o de Salazar resistiu tanto tempo, porque se formos analisá-lo bem não era um regime nem demasiado opressivo, nem contundentemente assassino. Era um regime de moralidades falsas, de perseguições intelectuais, de denúncias... Sem as constantes denúncias de amigos e familiares não duraria tanto tempo, com certeza. Para quando o Portugal moderno, generoso culturalmente, evoluído nas mentalidades. Temo que quando esse Portugal aparecer vai ser no dia em que não temos identidade, porque os países, actualmente, só sobrevivem graças à sua forte cultura e, para nós sobrevivermos, temo que temos de continuar, na essência, como somos, com os nossos defeitos mas também, reconheço, com as nossas singulares virtudes. No dia que mudarmos, por dentro, deixamos de ser indivíduos diferentes, fomos absorvidos por outras culturas. A questão, sem resposta para já, é se conseguiremos mudar a nossa mentalidade e, ao mesmo tempo, continuarmos a ser Portugal. Como eu gosto de dizer uma coisa e o seu contrário, acho que sim.

Para finalizar não deixa de ser curioso deixar duas notas. Os Portugueses, digamos, nascidos em Angola e Moçambique, têm uma mentalidade totalmente diferente dos nascidos em Portugal (estas generalizações são sempre perigosas mas, em média, talvez sejam verdadeiras). São mais expansivos, alegres, despreocupados apesar da curta duração da sua vida lá. Os brasileiros, por exemplo, têm uma concepção de vida totalmente diferente da nossa (acho mesmo que de irmãos só têm a língua e a simpatia mútua). O culto do corpo, o ritmo, a sensualidade são talvez herança da cultura africana, e não da portuguesa ou espanhola (se retirarmos outros factores como o clima e a localização, ie, o meio ambiente). Talvez sejam mais felizes mas o estilo de vida reflecte-se na organização da sociedade e, inevitavelmente, na qualidade de vida. Por qualidade de vida não me refiro a quantos bens conseguimos comprar e consumir mas sim em segurança, protecção social, apoio nos diferentes ciclos da vida, uma sociedade humanista e atenta, entre outros factores que os Brasileiros não dispõem na quantidade necessária.

Qual o melhor caminho, não sei nem ninguém sabe! Deixo apenas uma opinião, não uma verdade absoluta, lembremo-nos todos que a vida é curta e para ser vivida com intensidade.