O
INE publicou recentemente (2004) um estudo interessante de nome
“Sistema Urbano: áreas de influência e marginilidade funcional”. O objectivo do estudo é fazer uma hierarquia das
funções chamadas
centrais (reflexo da raridade dessas funções como, por exemplo, um stand de automóveis, pela sua raridade, é hierarquicamente superior a uma mercearia), calcular o
Índice de Centralidade dos centros urbanos (ponderação das funções e as suas ocorrências) e, por fim, delimitar as
áreas de influência dos centros urbanos (capacidade de atrair população à volta).
A hierarquia dos
Índices de Centralidade apresenta dados curiosos. Lisboa, como seria de esperar, aparece destacada mas
em segundo lugar aparece Vila Nova de Gaia relegando a cidade do Porto ao terceiro posto. Vamos analisar esta conclusão com cuidado, sem precipitações.
Em primeiro lugar dando destaque a algumas curiosidades. Dos quinze centros mais altos todos pertencem à
Área Metropolitana de Lisboa e Porto (e nas proximidades deste) com excepção de
Coimbra e
Funchal. Após Lisboa é no Norte que se encontram os cinco centros com maior Índice de Centralidade (Gaia, Porto, Braga, Santa Maria da Feira e Guimarães).
Posto isto convém analisar com mais rigor o porquê de Gaia estar à frente do Porto nesta hierarquia. Em primeiro lugar
este estudo não contém funções ligadas á cultura nem alguns serviços às empresas. Depois se combinarmos esta análise com o estudo das
áreas de influência verificamos que a de
Gaia, apesar do segundo lugar,
é local, isto é, existe para servir a população local. Já o
Porto tem uma
área de influência mais fragmentada servindo, nas funções mais especializadas, 20% da Região Norte.
O fenómeno Gaia é um fenómeno comum a Cascais, natural duma cidade periférica duma área metropolitana com uma cidade polarizadora como o Porto. Tende a servir a população local com um grande peso das funções menos especializadas. Bastava estudar o impacto dos Hipermercados para as conclusões ficarem mais claras.
Mas ao contrário de
Lisboa e
Cascais onde a diferença continua abismal a relação entre o Porto e Gaia já pode ser considerada mais equivalente. E basta morar numa destas cidades para perceber a vitalidade duma e a estagnação da outra.Talvez o que acontece no Porto esteja também a ser agravado por políticos inconsequentes, sem visão estratégica além doutros factores de natural mobilidade geográfica de pessoas e serviços. Falta ao Porto dinamismo em todas as áreas, das comerciais às culturais. Uma coisa os políticos não podem, felizmente, alterar numa geração no Porto. Falo da sua incomparável beleza arquitectónica e natural. Mas estão a fazer um grande esforço nesse sentido e
eu, como cidadão, apenas posso tentar ser mais exigente!