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Está na moda cirticar a Globalização como a fonte de todos os nossos males. Este raciocínio pode ter consequências perversas.
Antes de explorar melhor esta ideia vamos analisar melhor o conceito. Desagrada a alguém a ideia da aldeia global? Desagrada a alguém o livre acesso a mercados e locais? Desagrada a alguém o quebrar de barreiras? E mais, alguém conhece alguma forma de resolver os problemas cruciais do planeta sem uma convergência global de interesses (como é o caso do ambiente e do terrorismo)? Pessoalmente não tenho desagrado por nenhuma destas noções e muito menos pelas novas soluções que nos oferece como humanidade.
O problema que se coloca ao mundo não é a Globalização em si mas sim a forma como esta é desvirtuada pelos blocos com influência mundial para obterem vantagens comparativas. Veja-se os EUA que pressionam a OMC criticando o proteccionismo europeu e defendendo uma nova forma de liberalismo à escala global e que, ao mesmo tempo, utilizam políticas proteccionistas e interventivas no seu mercado. E veja-se a UE que trava o crescimento chinês através da imposição, também via OMC, de critérios de concorrência mínimos (que a China ainda não cumpre). O problema da Globalização está no próprio desequilíbrio do mundo que não tem capacidade ou vontade de regular eficazmente e com igualdade as relações entre países. Só um pequeno conjunto de líderes tem capacidade para fazer cumprir o Direito Internacional mas excluem-se do seu cumprimento, desvalorizando o papel das instituições internacionais se estas não estiverem sobre o seu directo controlo ou influência.
A questão central da Globalização é se consegue ou não integrar o terceiro mundo nas novas oportunidades de desenvolvimento. Parece intuitivo que há uma enorme resistência em aceitar o terceiro mundo no mercado global e essa resistência não é só motivada pelos Governos “Ocidentais” mas também pelos seus habitantes, relutantes em dar uma oportunidade aos mais pobres porque, no fundo, receiam perder regalias. Por isso há, dentro do movimento anti Globalização, muitas motivações não altruístas em que nem a esquerda dita preocupada com os fenómenos de pobreza escapa.
Experimentem perguntar aos que são anti Globalização as razões porque são contra e a resposta mais comum vai ser porque aumenta o fosso entre os ricos e pobres. Mas se perguntarem se aceitam a deslocalização duma empresa de Portugal para Moçambique vão afirmar com a mesma convicção que não! Em que ficamos? É óbvio que países como Portugal têm muito a perder com estes fenómenos mas poderemos negar a nós próprios este enorme desafio global que ainda está a dar os primeiros passos (não sei é se na direcção correcta)?
Quem critica a Globalização como conceito também tem que estar disposto a perder a sua televisão Sony a baixo custo na cozinha ou a prescindir do seu iPod. E a isso poucos estão dispostos. Mas, mesmo assim, criticam a tendência natural do homem em partilhar produtos e conhecimentos, tarefa que já teve início há milénios e não há décadas. Ninguém obriga o consumidor a comer um hambúrguer em vez duma alheira, logo se se comem mais hambúrgueres é porque o consumidor o quer fazer. Podemos lamentar as opções de consumo mas não podemos impor o raio das alheiras. Podemos apelar à tradição e defender as vantagens e qualidades da nossa cultura ou até colocar um laço na alheira mas não podemos obrigar ninguém a comê-la! A cultura dum povo deve ser defendida, não imposta!
A Globalização, quer se queira ou não, também está interligada à democratização do mundo. Os novos desafios do comércio e as novas oportunidades de investimento têm vindo a obrigar todos os países a seguirem a via democrática e a respeitarem os direitos humanos pois é uma condição essencial para competir livremente no mercado internacional. É certo que o motor dessa Democratização é o dinheiro mas e depois, qual é o problema disso?
Por tudo isto não sou contra a Globalização nem quero resistir a ela mas quero que ganhe outro figurino. Porque uma Globalização condicionada aos interesses dos blocos comerciais do Ocidente e do Hemisfério Norte está a resultar em desequilíbrios ainda maiores. Os avisos de Porto Alegre são claros e muitas vezes a maior crítica é ao crescente liberalismo sem regulamentação supra nacional do que uma crítica aos movimentos de Globalização em si. Não quero um Estado Mundial mas um conjunto de instituições internacionais com capacidade de regulação
e isenção mas que cedam ao liberalismo num ponto, isto é, que sejam capazes de não criar burocracias excessivas.
Mas acima de tudo o que eu não quero é o regresso aos nacionalismos demagógicos e a um constrangimento no movimento de pessoas e bens. Porque isso é estarmos a condicionar o nosso espaço a uma região ou país e a Terra já é pequena demais para estarmos fechados nos nossos quartos!