476. A Idade da Reforma
Pelo aspecto da carne espero que seja para animais! Será uma profissão de desgaste rápido?
Lá vou eu ser acusado novamente de ser capitalista e liberal! Mas vou correr esse risco...
As greves e protestos acumulam-se pelas mais variadas razões! Surgem várias perguntas: O Governo está a beliscar direitos adquiridos? E é justo que o faça? Acredito sinceramente que "sim" é a resposta às duas questões! O que não consigo perceber é porque é que há tanta contestação por tão pouco. Manter um Estado Social bastante acima da nossa produtividade é um ciclo vicioso insustentável que cada vez liberta menos recursos para o investimento. Daqui a pouco, se nada fôr feito do lado das despesas, íamos ter défices de 15% com o IVA a 30%!
Uma das formas que o Governo arranjou para sustentar o Estado Social foi aumentar a idade da reforma em algumas profissões, ou melhor, foi equilibrar as várias profissões com a idade de reforma praticada no sector privado. Podemos criticar o Governo por não ter incentivado o contrário, isto é, que os privados passassem a reformar-se mais cedo. Mas seria isso viável? O que não percebo é o porquê de tanto frenesim à volta dum conceito de elementar justiça: equiparar a função pública à privada!
Podemos discutir a idade de reforma ideal que sustente o sistema mas não acho correcto contestar a equiparação. Ou então podíamos optar por uma solução diferente. Era feito um estudo de viabilidade da Segurança Social conforme cada idade de reforma. Depois dávamos a escolher entre as várias idades de reforma. Cada funcionário teria uma percentagem diferente do salário em reforma conforme a idade que escolhesse reformar-se. Não foi esse o caminho mas não discordo da medida de fundo...
Agora todas as profissões escudam-se nas especificidades das profissões. Os enfermeiros não conseguem carregar doentes a partir de certa idade, os professores não têm capacidade mental para os alunos, os polícias já não conseguem perseguir os ladrões com a mesma energia, os informáticos já não se conseguem adaptar às novas tecnologias e têm dores crónicas de esforços repetitivos...
Mas que profissão não é desgastante? Duma forma ou doutra? E porque é que a mesma profissão no sector privado deixa de ser desgastante?
O que o Governo ainda tem que explicar é como vai tornar estas pessoas úteis numa idade em que já não podem desempenhar as mesmas funções do passado. É claro que os professores vão ter que fazer trabalho de secretariado em substituição duma carga tão grande de aulas, é claro que os polícias não vão andar a patrulhar mas a coordenar, e por aí fora. É preciso acautelar esta nova realidade! Não podemos é entrar na demagogia que a situação actual é sustentável!
Eu acho que as greves devem ser feitas para demonstrar que os trabalhadores não vão aceitar qualquer medida sem fundamento nem critério mas espero que todos nós tenhamos consciência que estas medidas são a ponta do icebergue e são de elementar justiça. Não é justo esta geração estar a suportar regalias que vão ser insustentáveis no futuro para eles próprios. É puro egoísmo exigir que algumas regalias não acabem!